quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Escolas que fazem a diferença

Ana Maria Diniz

BLOGS
Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena

Dez instituições brasileiras estão entre as finalistas do desafio internacional Edumission, que elegerá, no início do ano que vem, as escolas mais inovadoras do mundo
Ranking após ranking, nos deparamos com o que há de pior na nossa Educação: alfabetização sofrível, níveis estratosféricos de evasão, professores despreparados e escolas presas a um sistema que as torna chatas, desinteressantes e ineficientes. As constatações sobre a precariedade do nosso ensino são tantas e tão recorrentes que nos impedem de enxergar experiências que, longe dos holofotes, têm contribuído para repensar e renovar a Educação dentro e fora do país.
Mas o que é exatamente uma escola inovadora? É uma escola que olha para o aluno de forma única e acredita de verdade que todos podem aprender, no seu ritmo e do seu jeito; que adota estratégias diferenciadas para explicar os fenômenos do mundo e enxerga a criança como um ser em formação com mente, corpo e espírito, que precisa conhecer a si próprio para crescer e ser bem-sucedido.
Essa escola pode estar numa área rural, e usar a natureza como meio de aguçar o interesse do aluno em entender como tudo na vida é cíclico e interdependente, ou na cidade, e se apropriar da tecnologia para ajudá-lo a lidar com a complexidade da vida urbana e aprender com ela. No fundo, interessa menos em que local ela se encontra e quais ferramentas utiliza, pois a abordagem diferenciada é desenvolver em cada criança a curiosidade e a paixão pelo saber.
O Brasil tem mostrado que é capaz de inovar, como mostram os resultados preliminares do desafio global Edumission, que está selecionando as escolas mais inovadoras do mundo para dar início a uma rede de colaboração e troca de conhecimento educacional de excelência: das 24  finalistas, 10 são brasileiras, entre as quais a Escola da Toca, uma iniciativa do Instituto Península, braço social da minha família, e a Wish Bilingual School, da qual sou sócia.
São dois projetos diferenciados e consistentes, que merecem este reconhecimento. Localizada em Itirapina, interior de São Paulo, a Escola da Toca foi criada em 2009 em caráter experimental para atuar por meio de uma abordagem focada em alfabetização ecológica, com base em três princípios: a inspiração na natureza, o respeito e a apreciação da cultura da infância e o desenvolvimento integral.
Já a Wish fica no Jardim Anália Franco, zona leste de São Paulo. A escola nasceu tradicional – era como todas as outras em termos de currículo, espaço e divisão de classes–, mas passou por uma reviravolta em 2012, quando adotou a Educação Holística como estratégia central de seu projeto pedagógico. Hoje, a escola não tem provas, as turmas são multietárias e o aprendizado se dá por meio de projetos. Em breve, as paredes que delimitam as salas de aula serão derrubadas.
A finalistas desta primeira edição do Edumission foram selecionadas a partir de vários critérios, entre os quais comprometimento, diferencial pedagógico e potencial para escalonar a experiência. A seleção foi feita por especialistas de renome mundial, como o consultor britânico Ken Robinson, o professor indiano Sugata Mitra, o psicólogo americano Peter Gray, o educador israelense Yaacov Hecht e a brasileira Helena Singer, assessora especial do MEC, e também por voto popular. As vencedoras do desafio serão anunciadas no início de 2018.
Estou muito feliz por ter entre os finalistas dois projetos aos quais estou ligada!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

'A expansão do ensino superior no Brasil não veio acompanhada da qualidade necessária', avalia

Escola da Vida - Teodoro Zanardi
Como escolher o colégio de seus filhos, a importância da formação dos professores, bullying e tudo mais que envolve a educação.

'A expansão do ensino superior no Brasil não veio acompanhada da qualidade necessária', avalia

Dos cursos superiores avaliados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira em 2016, 50,5% obtiveram nota 3, numa escala que vai de 1 a 5. Cerca de 300 cursos - 7,4% deles - foram reprovados, com notas 1 e 2 na avaliação.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

'Evito as redes sociais pela mesma razão que evito as drogas', diz o criador da realidade virtual


BBC

Jaron Lanier é uma das vozes mais respeitadas do mundo tecnológico. Um visionário, ele ajudou a criar nosso futuro digital e cunhou o termo realidade virtual, nos idos dos anos 1980. Além de ser um filósofo da internet, Lanier é um músico clássico, que tem uma coleção de mais de mil instrumentos.
A despeito do visual alternativo - com longos dreads nos cabelos que lembram o estilo rastafari - e de se comportar como um hippie, Lanier nunca usou drogas. Nem quando era amigo de Timothy Leary, o pioneiro do alucinógeno sintético LSD. Leary o chamava de "grupo de controle", por sua rejeição a químicos.
Lanier é autor de vários livros sobre o impacto da tecnologia nos indivíduos e no comportamento coletivo. Neste mês, lançou The Dawn of the New Eveything ("O Despertar de Todas as Novas Coisas", em tradução livre).
O título se refere ao momento em que o autor colocou, pela primeira vez, um desses capacetes que nos levam ao mundo da realidade virtual - momento que descreve como "transformador" e como a "abertura de um novo plano de experiência".
Ele foi um dos primeiros a desenvolver produtos voltados à realidade virtual, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990.
Mas, embora seja um dos protagonistas da história do Vale do Silício, é um crítico dos valores propagados por empresas como o Facebook e o Google, além de dizer que evita as redes sociais.
"Evito as redes pela mesma razão que evito as drogas - sinto que podem me fazer mal," diz.
Lanier manifesta preocupação com o efeito "psicológico" do Facebook sobre os jovens, especialmente na formação da personalidades dos adolescentes e na construção de relacionamentos.
"As pessoas mais velhas, que já têm vários amigos e perderam contato com eles, podem usar o Facebook para se reconectar com uma vida já vivida. Mas se você é um adolescente e está construindo relacionamentos pelo Facebook, você precisa fazer a sua vida funcionar de acordo com as categorias que o Facebook impõe. Você precisa estar num relacionamento ou solteiro, tem que clicar numa das alternativas apresentadas", explica.
"Isso de se conformar a um modelo digital limita as pessoas, limita sua habilidade de se inventar, de criar categorias que melhor se ajustem a você mesmo."
Ele também critica a forma como Facebook, Google, Twitter e outros sites utilizam os dados de usuários.


"Existem dois tipos de informações: dados a que todas as pessoas têm acesso e dados a que as pessoas não têm acesso. O segundo tipo é que é valioso, porque esses dados são usados para vender acesso a você. Vão para terceiros, para propaganda. E o problema é que você não sabe das suas próprias informações mais."

Busca por um mundo alternativo?

Lanier entrou pela primeira vez em contato com a ideia de realidade virtual na década de 1980. A empresa dele, a VPL, criada em 1985, foi pioneira em "capacetes com tela", desenvolvidos para mostrar mundos gerados por computadores que enganam o cérebro.
D"O Despertar de todas as novas coisas" conta a história do surgimento da realidade virtual. Mas também é uma autobiografia de um homem cujos primeiros anos de vida foram absurdamente fora do comum, marcados pela tragédia, a extravagância e o perigo.
A mãe dele, nascida em Viena (Áustria), havia sobrevivido a um campo de concentração e ganhava a vida fazendo, remotamente - da casa da família no Novo México (EUA) - apostas na bolsa de valores de Nova York.
Para atender a uma inesperada ganância, ela comprou um automóvel novo da cor que Lanier escolheu. Mas, no dia em que foi aprovada no exame de direção, morreu num acidente que, depois se saberia, foi causado por uma falha mecânica daquele modelo de carro.esde o primeiro momento, Lanier reconheceu que a realidade virtual teria duas "faces"- uma com "potencial para o belo" e outra "vulnerável ao horripilante".
"Choramos durante anos", escreveu Lanier sobre sua própria reação e a do pai. A tristeza foi agravada pelo antissemitismo e a intimidação de vizinhos e colegas de classe. Um professor disse que a mãe dele "merecia" o que aconteceu, por ser judia.
Depois que sua casa ardeu em chamas por um incêndio criminosamente provocado, foram viver em uma tenda de acampamento até que o pai sugeriu que ele desenhasse uma casa para os dois.
"Estava convencido de que nosso lar deveria ser feito de estruturas esféricas similares as que encontramos nas plantas", conta, no livro.
Ele recorda que projetou modelos com cigarros, seu pai obteve permissão das autoridades para construir e, juntos, montaram uma edificação com formato de bola de golfe.
O pai de Lanier viveu naquela casa durante 30 anos. Um ano depois da construção, quando tinha 13 anos, Lanier foi à universidade local fazer um curso de verão de química.
Quando terminou, continuou assistindo às aulas durante o semestre, até que os professores não tiveram outra escolha senão aceitá-lo como estudante universitário. Ele aprendeu a fazer queijo de cabra para vender e pagar os custos com sua educação, e costurava suas próprias roupas.

Realidade alternativa

Seria natural pensar que, depois de tudo o que viveu, Lanier quisesse se dedicar a criar realidades alternativas, com cálculos e pixels no Vale do Silício.
Mas, ele nega que o objetivo tenha sido fugir do mundo real. Para Lanier, "a maior virtude da realidade virtual é que, quando você regressa, de repente percebe a realidade com frescor, como se fosse nova".
"Em vez de conceber a realidade virtual como um lugar a que se vai para deixar algo para trás, a mim me parece que ela está subordinada à realidade", explicou à BBC.

Ser lagosta

Enquanto estudava informática, leu o trabalho de Ivan Sutherland, que, na década de 1960, foi uma das primeiras pessoas a criar um capacete com tela que permitia a uma pessoa ver um mundo digital por meio de programas de computador.
Depois de uma temporada em Nova York, Lanier se mudou para a Califórnia e se uniu à incipiente indústria dos videogames. Com o dinheiro que ganhava, financiava experimentos de realidade virtual com outros matemáticos - junto com alguns deles fundou a empresa VPL.
Numa ocasião, Lanier e sua equipe ficaram obcecadas com a criação de avatares não humanos.
As lagostas representavam um grande desafio, pela quantidade de extremidades, mas eles descobriram que o cérebro humano se adapta a usar apêndices (como antenas, patas e garras) com muita rapidez.

Um futuro virtualmente real

A empresa de realidade virtual de Lanier durou somente cinco anos, mas o legado dessa tecnologia se evidencia em cada vez mais áreas.
Por causa do alto custo, a realidade virtual não se desenvolveu de forma massiva. No entanto, fabricantes de automóveis e aviões (para provar novos desenhos de cabines), os médicos (para treinamento e tratamentos, como terapia para transtorno de stress pós-traumático), e os militares, continuam a usar a essa tecnologia.
Mas, para Lanier, a realidade virtual ainda está "presa ao passado" e não se desenvolveu plenamente.
"O que a maioria tem visto é uma versão de videogame ou um filme (com tecnologia de realidade virtual). Isso é típico de novos meios. No início, o cinema se parecia com uma peça de teatro. A realidade virtual ainda não teve a oportunidade de se libertar e ser o que é."
O filósofo da internet também faz projeções preocupantes sobre o futuro, com o crescimento da automação e o desaparecimento de empregos.
Para ele, é preciso mudar o modo como a economia está organizada, para evitar que a robótica crie uma massa de pessoas com fome e sem ocupação.
"Uma ideia é criar um contrato social, pelo qual pagamos uns aos outros por coisas que nos interessam online. O objetivo é garantir o sustento das pessoas quando as máquinas forem boas o suficiente para dirigir os onibus e caminhões", sugere.
"Ou nós monetarizamos o que as pessoas fazem ou adotamos o socialismo... Ou deixamos um monte de gente passar fome, porque não achamos que elas servem mais. A terceira opção parece ser a que está sendo adotada, pelo menos nos Estados Unidos."

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Na Finlândia, alunos agora ensinam tecnologia para professores e idosos



No pouco ortodoxo modelo de ensino que levou a Finlândia ao topo dos rankings globais de educação, uma inovadora inversão de papéis começa a tomar corpo: alunos estão dando aulas aos professores, para ensinar os mestres a otimizar o uso de tecnologias de informação e comunicação nas escolas.
"Crianças e adolescentes aprendem a lidar com novas tecnologias e aplicativos de maneira muito mais rápida do que nós, adultos. E eles não têm medo de tentar coisas novas", disse à BBC Brasil Pasi Majasaari, diretor da escola Hämeenkylä, na cidade de Vantaa, próxima à capital Helsinki.
"É maravilhoso ter crianças de até dez anos de idade dando aulas de tecnologia aos nossos professores, e os resultados têm sido surpreendentes. Tanto para os estudantes como para os mestres", destacou.
O projeto OppilasAgentti ("Agentes Escolares", em tradução livre) está sendo conduzido em cerca de cem escolas finlandesas, e a ideia é levar a nova experiência a um número cada vez maior do universo de 3.450 instituições de ensino do país.
Trata-se de um modelo para desenvolver as competências tecnológicas não apenas dos professores, mas de toda a comunidade escolar - e também do seu entorno: os alunos da escola Hämeenkylä, por exemplo, também estão dando aulas aos idosos de um asilo local sobre como usar redes sociais, iPads e outros dispositivos.
"Acreditamos que é importante ensinar nossas crianças a descobrir seus potenciais e a desenvolver seus valores, e mostrar a elas o impacto positivo que cada indivíduo pode exercer na sociedade", observa Pasi Majasaari.
"É preciso compreender a realidade à sua volta, e por isso nossos alunos também cooperam com a igreja local em programas assistenciais para a alimentação dos mais pobres e menos favorecidos em nossa sociedade", acrescenta o diretor.
A escola tradicional, dizem os finlandeses, já não funciona mais.
"O modelo de educação da era industrial treinava crianças para ficarem sentadas, quietas e em silêncio, e executar tarefas repetitivas. As crianças de hoje não querem e não precisam mais ficar sentadas. Elas precisam exercitar sua criatividade, exercer um papel ativo e serem ensinadas a pensar por conta própria", diz Majasaari.

Constante evolução

A ideia de envolver os alunos na capacitação tecnológica dos mestres nasceu a partir de relatos de muitos professores, que diziam ter dificuldades em se manter atualizados com a constante evolução da era digital.
"Muitas inovações tecnológicas são compradas regularmente para equipar as escolas, como por exemplo novos aplicativos ou as imensas tevês inteligentes de tela plana que temos em nossos corredores. Mas vários professores ou não sabiam como usá-los em todo o seu potencial, ou não tinham tempo suficiente para se dedicar a essa tarefa", diz o diretor da escola Hämeenkylä.
Os alunos do projeto StudentAgents têm entre dez e 16 anos de idade. Pelo sistema, os estudantes interessados em participar se apresentam como voluntários, e relatam suas competências e habilidades em determinadas áreas. As escolas também oferecem treinamento aos alunos, em aulas ministradas por especialistas de diferentes empresas finlandesas que revendem soluções tecnológicas para o sistema de ensino do país.
A partir daí, os estudantes produzem um mapeamento das necessidades digitais da escola, sob a orientação de um professor. Eles fazem então um planejamento das atividades necessárias, e passam a atuar em três frentes.
Na sala dos professores, os alunos dão aulas ocasionais sobre como usar diferentes dispositivos e aplicativos. Professores também podem contatar os estudantes para pedir assistência individual, a fim de solucionar pequenos problemas. E os alunos-mestres também atuam como professores assistentes nas salas de aula, para prestar ajuda tanto aos professores quanto a outros colegas de classe quando determinada lição envolve o uso de tecnologia.
"Os alunos estão ajudando a implementar uma série de novas soluções digitais nas escolas, como a prestação de apoio técnico na introdução de sistemas", diz à BBC Brasil Risto Korhonen, da Ilona IT, uma das empresas finlandesas que vêm realizando treinamentos para os alunos do projeto StudentAgents.
As aulas de codificação são particularmente relevantes, ele diz:
"Grande parte dos professores possui um conhecimento limitado nessa área, e por isso os alunos desempenham um importante papel ao ensiná-los a lidar com dispositivos de codificação."
Os estudantes do projeto também realizam webinários (seminários transmitidos via internet) para ensinar colegas de outras escolas, além de treinar crianças menores em técnicas de edição e animação de vídeos.
"Nossos alunos estão ainda dando suporte técnico a uma série de atividades na escola. Por exemplo, eles desenvolvem os efeitos especiais e todo o sistema técnico para os concertos de música que realizamos", diz Pasi Majasaari.

Alunos felizes e orgulhosos

Os resultados positivos da experiência foram apresentados recentemente durante o evento que a Finlândia classificou como a maior reunião de pais e professores do mundo - uma conferência realizada simultaneamente, nas escolas de todo o país, para debater a agenda de reformas necessárias a fim de preservar o nível de excelência do ensino público finlandês nos próximos anos.
"Os alunos estão felizes, e orgulhosos de si mesmos. Alguns deles, que não eram bons alunos em determinadas matérias, adquiriram uma nova autoconfiança. Uma de nossas crianças apresentava problemas de concentração, mas floresceu de forma surpreendente quando demos a ela esta oportunidade de participar de maneira ativa e positiva na escola", conta Majasaari.
Os professores também têm aprovado os efeitos da inovação. É uma lógica natural, aponta o diretor da escola:
"Quando ajudamos as crianças a identificar seus talentos e suas forças, elas se comportam melhor, aprendem melhor e obtêm melhores resultados nas escolas."
Inverter o papel tradicional dos alunos nas escolas é mais um pensamento fora da caixa do celebrado sistema finlandês, que conquistou resultados invejáveis nos rankings mundiais de educação com um receituário que inclui menos horas de aulas, poucas lições de casa, férias mais longas e uma baixa frequência de provas.
Um dos principais pontos do novo currículo escolar, adotado em agosto do ano passado, é fazer com que as crianças se transformem em aprendizes ativos.
"É um novo conceito de aprendizado", diz o diretor Pasi Majasaari.
"Nossos alunos do ensino médio já não usam mais livros escolares. Nas aulas de História, por exemplo, os estudantes aprendem a trabalhar com chromebooks (computadores pessoais) que permitem a eles coletar informações, analisar dados e escrever seus próprios livros eletrônicos. Assim, eles aprendem ao mesmo tempo história e tecnologia", ressalta.
"Nossa missão é encontrar novas formas de aprimorar a escola e dar aos alunos a possibilidade de descobrir seus talentos, desenvolver sua autoestima e aprender coisas que serão importantes para suas vidas no futuro."

sábado, 25 de novembro de 2017

Somente 1,9% dos cursos tem nota máxima em avaliação do MEC

Dados divulgados pelo Ministério da Educação são referentes a 4,3 mil bacharelados e tecnológicos do País


Fabiana Cambricoli, O Estado de S.Paulo
25 Novembro 2017 | 04h00
SÃO PAULO - Só 1,9% das graduações avaliadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 2016 obtiveram nota máxima, segundo Conceito Preliminar de Curso (CPC). O indicador considera quatro critérios: nota no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), corpo docente, o que o curso agregou ao aluno e a percepção dele sobre as condições oferecidas para a formação, como infraestrutura, currículo e atividades extraclasse.
Os dados, divulgados nesta sexta-feira, 24, pelo MEC, são referentes a 4,3 mil cursos de bacharelado nas áreas de Saúde, Ciências Agrárias e afins e os tecnológicos das áreas de Ambiente e Saúde, Produção Alimentícia, Recursos Naturais, Militar e Segurança.
Entre os cursos, 0,4% teve conceito 1 e 7% ficaram com nota 2, consideradas insatisfatórias. Outros 50,5% registraram conceito 3 e 40,3% conseguiram nota 4, além de 1,9% que alcançou nota máxima (5).
Também foram divulgados resultados do Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC), que avalia as unidades de ensino. Só 1,5% delas teve nota 5 e 14,4% não alcançaram o conceito mínimo (3). 
O desempenho por curso e instituição será divulgado na próxima semana. Instituições e cursos que não tiverem nota satisfatória podem sofrer punições, como suspensão da seleção de novos alunos, proibição de abertura de vagas e até fechamento do curso. O resultado será divulgado em meio a críticas aos cursos de Medicina no País. Após pressão de entidades, o MEC quer suspender por cinco anos a abertura de novos cursos da área.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Em tempos de colaboração, resolvendo problemas juntos

claudia costin
Cláudia Costin
É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

Walter Isaacson, em seu livro "Os Inovadores", mostra-nos como a geração que nos permitiu ter acesso às tecnologias de informação e comunicação avançou sempre em projetos colaborativos, ou seja, não se tratava de talentos trabalhando solitariamente, e sim de equipes que compartilhavam esforços e contribuições de diferentes campos de atividades.

Em outra obra recente, a biografia de Leonardo da Vinci, o autor mostra evidências de que o maior gênio do Renascimento beneficiou-se igualmente de trabalhos em equipe que quebravam os muros que hoje separam diferentes disciplinas, como engenharia, artes e anatomia.

Essa prática vem ganhando hoje especial importância, seja na articulação de distintas políticas públicas, em pesquisas interdisciplinares ou em projetos inovadores no mundo do trabalho. Afinal, quem dividiu artificialmente a realidade em domínios de saber foi o ser humano, para facilitar a aprendizagem e o aprofundamento de algumas análises.

Em educação, a colaboração ganha particular relevância, dada a natureza da atividade. Assim como orquestras, o processo de ensino é essencialmente colaborativo: professores dependem do trabalho realizado por colegas em anos anteriores e em outras disciplinas, daí por que é tão fundamental ter tempo para cooperação entre docentes no próprio prédio escolar, como parte das tarefas da equipe.

Mais do que isso, Estados e municípios podem trabalhar juntos em educação, usando o instituto do regime de colaboração, e alguns já o estão fazendo. O regime de colaboração é um mecanismo para coordenação de políticas públicas por entes estatais, em que há ou alinhamento vertical, com o Estado apoiando municípios, ou horizontal, com municípios trabalhando conjuntamente.

Em educação isso tem sido feito pelo Ceará, inicialmente com a coordenação do programa para a alfabetização na idade correta, implantado em municípios de todo o Estado, em seguida ampliado para a primeira infância (inclusive com a elaboração de um currículo de educação infantil) e ações de apoio ao fundamental 2 (6º ao 9º ano). Alguns outros Estados vêm adotando a prática, entre eles o Maranhão e o Espírito Santo.

Mas a colaboração mais importante para a aprendizagem ocorre entre os próprios alunos. Não é por acaso que a OCDE avalia na prova Pisa a competência dos sistemas educativos em promover solução colaborativa de problemas. Afinal, trata-se de algo muito demandado no mundo do trabalho no século 21: saber lidar, em equipes com talentos distintos, com as diferentes questões que emergem na realidade.

Tal como Leonardo ou os inovadores de tempos menos distantes faziam para trazer à luz o belo e o novo...

Como despertar o melhor em nossos jovens?

Ana Maria Diniz

BLOGS
Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena

Só 11% dos jovens de 30 países, incluindo o Brasil, experimentam altos níveis bem-estar e abundância de oportunidades individuais 

Tenho uma lembrança muito nítida dos meus 17, 18 anos. Como a maioria das pessoas nessa idade, sonhava em me formar, conseguir um bom emprego e construir uma carreira de sucesso. Mas tinha um problema: eu não tinha uma vocação muito nítida, nem um dom especial. Imagino que boa parte dos jovens, assim como eu, não consegue identificar esse talento tão precocemente. Decidi, então, prestar vestibular para Administração e para Jornalismo. Ao final, fiquei com a primeira opção, por grande influência do meu pai. Ele achava que se tratava de uma formação mais completa, que me permitiria pavimentar melhor a minha estrada para uma vida próspera e feliz.
Hoje, olhando para trás, percebo o quanto certas coisas foram fundamentais para que eu tivesse a força e a motivação necessárias para fazer as escolhas que fiz. O apoio da minha família foi uma delas e também ter uma base educacional sólida, uma alimentação e uma vida saudáveis, física e mentalmente falando, e principalmente, ter a percepção de que as oportunidades estavam ali, bem ao meu alcance, só tinha que me esforçar para fazer o melhor de mim.
Nós, como humanidade, nunca fomos tão jovens. Neste momento da nossa história, aproximadamente metade da população do planeta tem menos de 30 anos. Essa juventude não só enfrenta os mesmos dilemas que eu e todos nós enfrentamos no início de nossas vidas adultas, como o faz numa situação de vulnerabilidade, instabilidade, sem o apoio da família e num clima de extrema insegurança em relação ao futuro. Eles são jovens em meio a pior crise de desemprego de todos os tempos e, portanto, não fazem a menor ideia do que será desse mundo em transformação contínua e radical daqui cinco, dez ou vinte anos, quando estiverem no mercado de trabalho.
Claramente, não estamos oferecendo as condições necessárias para que esses jovens se desenvolvam e sejam pessoas realizadas e integradas a uma atividade que lhes dê dignidade e propósito de vida no futuro. É o que mostra o Índice Global de Bem-Estar Juvenil. O ranking, desenvolvido pela International Youth Foundation, avaliou os desafios e oportunidades de jovens de 30 países nas seguintes áreas: oportunidades econômicas, educação, saúde, gênero, cidadania, segurança, tecnologia e comunicação. A principal conclusão: só 11% dos jovens que participaram da pesquisa experimentam altos níveis bem-estar e abundância de oportunidades individuais.
O Brasil foi um dos países avaliados e aparece em 21ª colocação, no terço inferior do ranking, atrás de países como Quênia e Turquia. Segundo o relatório, o país apresenta índices contraditórios. Por um lado, o Brasil ocupa o 10º lugar entre os países com maior percentual de jovens (73%) que acreditam alcançar, num futuro próximo, uma situação econômica melhor do que a de seus pais. No entanto, o país figura em primeiro lugar entre as nações com maior percentual de jovens (93%) para quem seus governantes falham em garantir as condições mínimas (como educação, saúde, segurança, crescimento econômico) para que suas aspirações pessoais e profissionais se realizem.
Isso mostra que nossos jovens são eternos otimistas e têm esperança, o que é muito bom. Também revela outra coisa importantíssima: que eles têm total consciência do descompromisso das autoridades do país com a preparação de seus cidadãos e com a criação e manutenção de um ambiente propício para que surjam oportunidades consistentes para que eles de fato prosperem.
Eu tenho muita preocupação com os milhões de jovens que estão fora da escola ou desempregados. O Brasil tem cerca de dez milhões de brasileiros entre 15 a 29 anos nessa situação, o que representa 22,5% da população nessa faixa etária.  A proporção dos chamados “nem-nem” cresceu 2,5% em relação a 2014. Não podemos nos conformar com essa geração perdida. Acredito que as carreiras profissionalizantes agora contempladas pela reforma do ensino médio podem ser uma resposta para esse problema. Precisamos, agora, partir para concretizar isso.
A juventude é peça-chave da transformação que queremos viver como nação. São os jovens que vão protagonizar o nosso futuro. Um país que pretende ser um ator relevante no cenário mundial precisa olhar para a questão do jovem de frente e ter um plano para ele. Mais importante ainda: precisa ter uma estratégia boa e um foco na execução deste plano. Espero que nosso próximo presidente entenda a real dimensão deste problema e o transforme numa grande oportunidade de crescimento para o Brasil.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

OCDE mostra dificuldade dos alunos de trabalhar de forma colaborativa

Os desafios da educação no Rio de Janeiro e no Brasil.

A organização realiza exame que avalia educação de vários países e é criticada por vários educadores pelo estímulo à avaliação por meio de provas. Dessa vez, a pesquisa mostrou outro lado do perfil dos estudantes.


sábado, 18 de novembro de 2017

Educadoras discutem os desafios da profissão no Brasil para os próximos anos

SEXTA, 17/11/2017, 14:59CBN Gerações

Maria do Pilar Lacerda, de 61 anos, professora e diretora da Fundação SM Brasil, e Priscila Cruz, de 42, fundadora e presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, avaliam que as escolas precisam se afinar melhor com o público que recebem.

Automutilação digital: Cresce o número de jovens que postam agressões contra si mesmos online

BBC
De Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil

Uma nova tendência entre adolescentes americanos vem preocupando especialistas: a prática de postar, enviar ou compartilhar na internet mensagens abusivas sobre si mesmos, de forma anônima. 

Em um estudo recente com 5.593 estudantes do ensino fundamental e médio nos Estados Unidos, com idades de 12 a 17 anos, um em cada 20 revelou já ter praticado o chamado auto-cyberbullying, ou automutilação digital. 

A abrangência do problema surpreendeu os próprios autores do estudo. "Esperávamos algo em torno de 1%", diz à BBC Brasil o especialista em cyberbullying Justin Patchin, um dos autores. 

"Foi surpreendente descobrir que entre 5% e 6% dos participantes já haviam praticado automutilação digital", afirma Patchin, que é professor de Justiça Criminal da Universidade de Wisconsin-Eau Claire. 

Segundo especialistas, assim como em casos de automutilação física, em que muitas vítimas ferem o próprio corpo com cortes, arranhões ou queimaduras, a automutilação digital costuma indicar um pedido de ajuda. 

Entre os motivos citados pelos jovens entrevistados estavam baixa autoestima, busca por atenção, sintomas de depressão e o desejo de despertar uma reação nos outros. 

"Na maioria das vezes, estão à espera de uma reação, querem ver se alguém vai ajudá-los, como seus amigos vão responder. Eles apenas querem atenção de alguma maneira", observa Patchin. 

O estudo, publicado na revista científica "Journal of Adolescent Health", foi realizado em parceria com Sameer Hinduja, professor da Escola de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade Florida Atlantic.

Patchin e Hinduja dirigem o Cyberbullying Research Center, centro de pesquisas especializado em assédio virtual. 

Suicídio 

Casos de bullying cibernético em que agressor e vítima são a mesma pessoa ganharam atenção em 2013, com o suicídio da adolescente britânica Hannah Smith, de 14 anos. 

Segundo sua família, Smith era alvo de abuso na rede social ASKfm. O site alegava que a própria garota havia enviado várias das mensagens abusivas contra si mesma, de forma anônima. 

Após investigar o caso, a polícia concluiu haver evidências de que as mensagens realmente foram enviadas pela própria jovem. 

Patchin lembra de dois casos semelhantes nos Estados Unidos. "Em um deles, uma menina de 15 anos cometeu suicídio após sofrer bullying online e na escola. Depois, descobriu-se que muitas das mensagens abusivas haviam sido postadas por ela própria. Ela dizia que era feia e que deveria se matar", relata. 

Segundo Patchin, adolescentes vítimas de cyberbullying se mostraram oito vezes mais propensos a ter praticado automutilação digital. Vítimas de bullying na escola eram entre quatro e cinco vezes mais propensas. 

"Não sabemos o que veio primeiro, se ser vítima de cyberbullying o faz cometer automutilação digital ou se, como você pratica isso, faz com que outros também postem abusos contra você. Mas sabemos que há uma relação", observa. 

Patchin relata que, em alguns casos, os estudantes disseram estar postando de forma anônima o que já havia sido dito ou postado sobre eles de maneira privada. 

"Por exemplo, alguém está enviando mensagens cruéis e você está deletando, e ninguém mais vê essas mensagens, mas você quer tornar público o que está acontecendo. Então, posta os comentários você mesmo, de forma anônima, em uma página onde outros possam ver e, talvez, oferecer ajuda." 

Diferenças 

Mais da metade (51,3%) dos participantes que admitiram ter praticado automutilação digital disseram ter feito apenas uma vez. Outros 35,5% revelaram ter postado mensagens abusivas sobre si mesmos algumas vezes, e 13,2%, várias vezes. 

Jovens com histórico de uso de drogas, sintomas de depressão e automutilação física e aqueles que se identificaram como não heterossexuais se revelaram mais propensos a praticar automutilação digital. 

Os pesquisadores encontraram algumas diferenças entre meninos e meninas. Enquanto 7,1% dos garotos admitiram a prática, o índice entre elas foi menor, de 5,3%. 

Os motivos apresentados também revelaram diferenças: enquanto muitos dos meninos disseram que viam o comportamento como uma brincadeira e uma maneira de chamar a atenção, entre as garotas era mais comum citar depressão ou sofrimento emocional. 

Segundo a especialista em comportamento digital de adolescentes Meghan McCoy, coordenadora de programas do Massachusetts Aggression Reduction Center (Centro de Redução de Agressão de Massachusetts, em tradução livre), ligado à Universidade Bridgewater State, os resultados relatados por Patchin são consistentes com os observados em estudos realizados pelo centro. 

Em pesquisas realizadas pelo centro com estudantes recém-ingressados na universidade sobre seu comportamento enquanto ainda estavam no ensino médio, entre 10% e 15% revelam já ter praticado automutilação digital. 

"Observamos esse comportamento desde 2012. Os números se mantiveram estáveis nos últimos cinco anos, então não acho que estão aumentando. Acredito que seja algo sobre o que as pessoas só agora estão tomando conhecimento", disse McCoy à BBC Brasil. 

Assim como no estudo de Patchin e Hinduja, McCoy observa que entre os motivos citados pelos adolescentes entrevistados pelo centro está a busca por atenção e apoio. Ela também ressalta a forte relação entre automutilação digital e cyberbullying. 

Para Patchin, é importante que pais, professores, e mesmo policiais investigando casos de cyberbullying mantenham a mente aberta sobre o que está ocorrendo e ofereçam apoio a quem está passando pela experiência, mesmo nos casos em que vítima e agressor são a mesma pessoa.

Desenvolvimento humano deve passar pelas áreas profissional, afetiva e financeira

Mundo Corporativo: perdão é um ato de inteligência que vai curar a sua vida, diz Heloísa Capelas


“Todas as pessoas valem a pena, todas as pessoas tem talento e luz, só que elas não sabem. E se eles não sabem, elas não usam”. A afirmação é de Heloísa Capelas, do Centro Hoffman no Brasil, especialista em mudança de comportamento. O conselho dele se volta aos líderes e gestores de empresas que têm a responsabilidade de descobrir os talentos que existem no seu negócio. Em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da rádio CBN, Capelas diz “você precisa olhar para as pessoas que estão à sua volta; e olhar significa dar para elas atenção, olha no olho e presta atenção no que elas estão falando, isso é liderança”.

Autora do livro “Perdão, a revolução que falta – o ato de inteligência que vai curar a sua vida” (Editora Gente), Caldeiras apresenta sugestões para quem tem acumulado desavenças no local de trabalho e na família: “o perdão nos traz auto responsabilidade; a vida é minha, a vida é problema meu, não é problema de ninguém, então se eu fracasso e se eu tenho sucesso, o problema é meu”.


'Todos nós temos a ânsia de dar significado para a vida'

SEXTA, 20/10/2017, 15:3250 mais CBN

'Todos nós temos a ânsia de dar significado para a vida'

O que é abordagem integral? Quem fala sobre o assunto é o presidente do Instituto Integral Brasil, Marcelo Cardoso. Segundo ele, a ideia é levar essa abordagem para as organizações e mostrar como elas podem cumprir um papel de transformar a sociedade.


QUINTA, 26/10/2017, 19:3950 mais CBN

‘A vitalidade comunitária é parte integrante da experiência humana’

Com a revolução industrial, o capitalismo e a globalização, nós perdemos essa vitalidade, e instrumentalizamos algo que é da natureza humana, que é a necessidade de conexão. O convidado deste sábado do 50 Mais CBN é Marcelo Cardoso, presidente do Instituto Integral Brasil, Marcelo Cardoso.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

5 jovens relatam por que abandonaram o ensino médio

De cada 4 adolescentes de 15 a 17 anos, um não está mais na escola. Nesse ritmo, Brasil vai demorar 200 anos para universalizar o ensino médio

Por Talita Abrantes

São Paulo – Quase 3 milhões de adolescentes entre 15 e 17 anos devem abandonar a escola ou reprovar a série letiva até o final deste ano, segundo dados compilados pelo economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto Ayrton Senna,  em relatório divulgado pela plataforma Gesta (Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas), lançada recentemente pela Fundação Brava.
Isso significa que apenas 60% dos jovens nessa faixa etária conseguem terminar o ensino médio com no máximo um ano de atraso. No atual ritmo, segundo o estudo, o Brasil deve demorar cerca de 200 anos para fechar essa lacuna na educação formal de seus jovens.
A lista de causas para a evasão escolar na adolescência é extensa (de acordo com o levantamento bibliográfico, são 14 itens) e engloba problemas que vão desde fatores externos, como uso de drogas, até questões ainda não resolvidas pelos gestores de educação, como a qualidade do ensino.
“Eles não estão saindo da escola por causa de uma decisão irracional, os jovens também estão saindo por uma decisão racional e podem estar corretos em pensar que a escola não vale a pena”, afirma Marina Gattás, coordenadora de projetos da Fundação Brava. 
Na próxima semana, o Gesta lança uma série de vídeos com depoimentos de jovens que abandonaram a escola. Você vê alguns desses relatos em primeira mão em EXAME.com:


“Eu sempre chegava atrasado na escola porque eu trabalhava longe daqui e dormia na hora da aula. Ir para a escola para ficar dormindo? Melhor sair da escola. Melhor para a escola e melhor para mim” 


Segundo levantamento bibliográfico do relatório, 60% dos jovens apontam a necessidade de trabalhar como um fator relevante para o abandono da escola. No entanto, geralmente, essa não é a causa determinante para desistir dos estudos. Só que, uma vez desmotivado por outra questão, o jovem tende a priorizar o trabalho  — se os estudos forem um empecilho, a opção é deixar a escola.
Como resolver? “Disponibilizar horários alternativos para o ensino e proporcionar condições para uma transição gradual da escola para o mundo do trabalho são medidas que podem auxiliar na resolução desta questão”, exemplifica a pesquisa. 

“Se eu tivesse como associar um horário entre escola, trabalho e as responsabilidades de casa ia ser perfeito para não deixar o estudo de lado. Mas como não tinha essa facilidade do horário, comecei a priorizar o que era mais importante”


O estudo aponta que a grade curricular escolar muitas vezes é incompatível com a carga de responsabilidades  que os adolescentes podem assumir conforme os anos passam ou com o ritmo de vida deles.
Logo, “uma escola rígida, por melhor que seja naquilo que oferece, irá atender aos interesses de apenas uma fração dos jovens”, diz o estudo.  “Quanto mais flexível for a escola, mais fácil é a adequação desta aos interesses e às motivações de seus alunos”.
Uma das propostas apresentadas pela pesquisa, por exemplo, é mudar a lógica de avaliação nas escolas para um modelo trimestral ou semestral, que facilitaria a adaptação do aluno em seus diferentes contextos de vida. Outra sugestão é proporcionar a opção dos próprios alunos montarem sua grade de aulas.
Esse tipo de abordagem beneficiaria, por exemplo, o grupo de adolescentes que engravidam. Mais de meio milhões de meninas entre 10 e 19 anos se tornaram mães em 2015, segundo dados preliminares divulgados em maio pelo Ministério da Saúde.
O relatório lembra que a maternidade nesta faixa etária acaba ocupando muito do tempo da jovem mãe e isso demanda uma série de ações específicas da escola para permitir a continuidade dos estudos, como reprogramação das obrigações escolares e até a possibilidade dos filhos serem trazidos para a escola.

“Eu parei de estudar na época por que eu não estava tendo aula na escola. (…) Não ter a estrutura bem organizada afeta a vida dos alunos”


A percepção de que o ensino oferecido pela escola é de baixa qualidade é outro fator apontado pela pesquisa como relevante para a evasão escolar. “Afinal, porque um jovem iria se engajar numa atividade que não é capaz de efetivamente promover a transformação para a qual foi desenhada?”, questiona o estudo.

“O que a escola me oferecia, eu não utiliza durante meu trabalho. Era totalmente diferente da tatuagem. Aulas de arte mesmo eram somente teoria.”



Segundo estudos citados pelo relatório, metade dos jovens aponta a falta de interesse como a principal causa para o seu desengajamento com os estudos. E essa percepção, em certa medida, advém da ideia de que a educação formal tem um impacto menor para a vida adulta do que a gerações anteriores.
Nesse sentido, afirma o estudo,  o currículo escolar precisa fazer sentido para o projeto de vida de cada aluno. Um caminho para isso, diz a pesquisa, é oferecer trilhas curriculares que “acomodem a diversidade de interesses da juventude”.

“A escola é um ambiente um pouco opressor porque você não pode ser quem você é”


O clima do ambiente escolar também influencia a decisão do jovem de prosseguir ou não com seus estudos. “Quanto mais o jovem percebe que a escola e as atividades oferecidas ali foram idealizadas pensando nele e para ele e, no limite, entenda que a escola é dele, maior será sua motivação para se engajar e menores serão as chances de abandono e evasão”, afirma o relatório.
Outro aspecto que afeta a continuidade de um adolescente na escola é a violência dentro e fora de sala de aula. Segundo um levantamento recente do Instituto Locomotiva, 39% dos alunos da rede pública do estado de São Paulo já foram vítimas de alguma tipo de violência na escola. Tanto que cinco em cada dez  afirmam que não se sentem seguros dentro da instituição de ensino que frequentam.
De acordo com 27% dos alunos, a agressão verbal é o problema mais comum. Bullying (13%), agressão física (9%), furto e roubo (6%) e discriminação (3%) foram citados em sequência.
O Gesta calcula que o Brasil perde, por ano, o equivalente  a cerca de 100 bilhões de reais com a evasão escolar. O custo para resolver o problema seria menos  do que a metade disso: 33 bilhões de reais.


O futuro do trabalho e a universidade no Brasil

claudia costin
Cláudia Costin
É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

Foi anunciado, nesta semana, o nome do novo reitor da USP. Trata-se de informação relevante, já que, em boa parte dos rankings de ensino superior, a Universidade de São Paulo aparece como a melhor do Brasil. O novo reitor terá grandes desafios, entre eles o de manter as finanças da instituição saudáveis, ter um corpo de estudantes mais diverso e, ao mesmo tempo, preservar a qualidade de ensino e pesquisa.

Desafios ainda maiores terá, nos próximos anos, o ensino superior brasileiro. Apesar da contínua ampliação do acesso à universidade desde meados dos anos 1990, a despeito de uma recente desaceleração no crescimento de matrículas, permanece pequena a parcela de alunos que se matricula nos cursos e é menor ainda a que conclui, especialmente se compararmos com os índices da OCDE.

Mais desafiador, porém, é pensarmos no futuro da universidade, num contexto em que postos de trabalho e até setores inteiros de atividade humana tendem a desaparecer, com o processo de automação e robotização. Como promover excelência acadêmica e relevância dos currículos neste contexto?

O problema é que precisamos formar jovens capazes de atuar num cenário muito incerto, em que as características do mundo do trabalho estarão em permanente mudança. Assim, aprender meia dúzia de técnicas terá pouca utilidade se o futuro profissional não tiver capacidade de solucionar problemas, navegar entre disciplinas hoje artificialmente separadas e trabalhar em equipes que constantemente se modificam, combinando diferentes talentos e conhecimentos, de acordo com cada novo projeto que se necessita criar.

Ora, isso significa, de acordo com Sha Xin Wei, pesquisador da Universidade do Arizona, que formações estreitas não mais garantem o futuro, nem preparam os jovens para mudar quando seu emprego desaparece de repente. Envolve também um reposicionamento contínuo dos departamentos universitários, de acordo com os projetos e desafios que se quer enfrentar a cada momento.

Com tanta rigidez nas estruturas das universidades, hoje ainda muito centradas em saberes acumulados por uma geração de acadêmicos que ainda percebe, muitas vezes, as profissões de forma fragmentada e cartorial, a mudança não será tranquila. Afinal, posições e disputas de poder existem também na academia, que costuma, aliás, ser resistente a mudanças.

Mas a universidade prossegue se reinventando, especialmente em países mais avançados. Alternativas de qualidade à chamada Ivy League surgem ampliando o acesso a um número crescente de jovens que concluem o ensino médio. Projetos inovadores dentro das universidades de ponta vêm mostrando novo caminhos que certamente o Brasil poderá trilhar. O futuro já começou...