sábado, 26 de janeiro de 2019

Como a inteligência artificial afeta o mercado e a gestão de pessoas?

Adriano Lima, especialista em gestão de pessoas, foi o convidado desta semana do Mundo Corporativo para um bate-papo sobre o futuro do trabalho.
“O emprego será demitido pela automação mas trabalhadores serão contratados pela inovação, porém não os mesmos trabalhadores ou os trabalhadores com as mesmas competências” — Adriano Lima, gestão de pessoas

A chegada da tecnologia no seu ambiente de trabalho tem sido cada vez mais veloz e transformadora. E nós precisamos estar preparados para essas mudanças. Por isso, o Mundo Corporativo conversou com Adriano Lima, da LM+ e da PeopleTech e especialista em gestão de pessoas, que tem se dedicado a entender quais as competências que os novos empregos esperam de você:

Essas outras habilidades de relacionamento, de empatia, de criatividade, elas terão de ser mais trabalhadas e a gente sabe que isso não se ensina em curso, não se ensina em faculdade, é um processo de desenvolvimento nosso, da pessoa, do ser humano, através do seu autoconhecimento, do seu autodesenvolvimento que é o que a gente tem buscado investir cada vez mais nas empresas”

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

No Enem, 1 a cada 4 alunos de classe média triunfa. Pobres são 1 a cada 600

Levantamento mostra que só 293 estudantes nas piores condições socioeconômicas possíveis obtiveram notas semelhantes a de alunos de escolas de elite no maior exame do País. Conheça a história de alguns destes jovens

Texto: Luiz Fernando Toledo; Mílibi Arruda e Pedro Prata, especiais para o Estado / Infografia: Bruno Ponceano / Com base em estudo de Leonardo Sales
18 Janeiro 2019 | 01h00

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a principal porta de entrada para o ensino superiordo País. Todos os anos, milhões de candidatos participam da prova. Mas as condições de competição entre eles não são exatamente iguais
Antes de começarmos esta história, vamos explicar algumas coisas
Primeiro, já sabemos que quanto melhor acondição socioeconômica do estudante, maior sua nota no Enem tende a ser
Neste gráfico, com base nas notas de quem fez a prova em 2017, cada nova “onda” mostra um grupo de estudantes em uma condição socioeconômica melhor que a anterior
Assim, vemos que elas estão sempre se deslocando para a direita →, em direção às melhores notas da prova
Para entender por que este histograma é importante, vamos analisá-lo por partes…
Aqui temos a “onda” que representa todos os estudantes que fizeram a prova em 2017
Na prática, são 200 barras coladas uma na outra, cada uma representando uma faixa de nota. De 0 a 5, de 5 a 10 e assim por diante, até 1000. Quanto mais alta a barra, maior é a quantidade de alunos que tiraram aquela nota
O Enem traz um imenso desafio para todos. São 180 questões objetivas (de Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas), divididas em dois domingos, além de uma redação
Mas os obstáculos a serem superados para se dar bem na prova são muito diferentes para cada aluno
Vejamos o desempenho dos candidatos com as piores condições socioeconômicas possíveis
Condições como renda familiar do aluno, o tipo de escola – pública ou privada – em que estudou e até se ele tem ou não internet em casa estão, quase sempre, ligadas a ter um bom ou mau desempenho
Isto não significa que viver na pobreza ou na falta de estrutura é determinante. Mas que esses fatores – boa escola e boas condições familiares – são muito relevantes para o sucesso dos alunos
Este contraste é evidente quando incluímos os candidatos com as melhores condiçõessocioeconômicas possíveis
Sim, já sabíamos que este grupo está concentrado em notas mais altas…
Mas, para comparar melhor, destacamos os estudantes de cada grupo que tiveram pontuação entre as 5% melhores notas de toda a prova…

1 a cada 4

ALUNOS DO GRUPO COM MELHORES CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS ESTÁ NOS 5% MELHORES

1 a cada 600

ALUNOS DO GRUPO COM PIORES CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS ESTÁ NOS 5% MELHORES

Isto significa que alguns alunos, ainda que em condições socioeconômicas ruins e escolas sem a melhor infraestrutura, superaram barreiras e atingiram notas típicas de colégios de elite
Mas… Quantos?
Descobrimos um pequeno grupo de 293 alunosque estudaram em situações extremamente desfavoráveis e contrariaram estatísticas
Este resultado pode ser suficiente para o ingresso em diversos cursos em universidades públicas. A nota mais alta obtida por um aluno deste grupo foi de 737,5 – nota semelhante a de alunos dos colégios privados mais caros do País

Lembro do GP de Interlagos de 1991, quando (Ayrton) Senna venceu com apenas uma marcha funcionando. A distância percorrida foi a mesma para todos os pilotos, mas a ausência de recursos fez dele um herói. Assim como são estes 293 estudantes
Leonardo Sales, cientista de dados responsável pelo levantamento, em parceria com o Estado

Dentre os 293 estudantes, 63% deles são pardos, percentual similar ao total de alunos, também pardos, com piores condições (65%)
A situação se inverte quando são analisados os estudantes de melhor performance. Os pardos representam 19% contra 72% dos brancos
Já os pretos, tanto no recorte dos 293 alunos, como também no grupo de piores condições, estatisticamente apresentam os mesmos valores com 13,6% e 13,9%, respectivamente
Os dados mostram ainda que há uma concentração desses alunos no Estado do Ceará. Mais da metade deles – 154 – cursaram o ensino médio em escolas públicas do Estado
Esse número reflete uma série de programas que tornaram o ensino público cearense uma referência nacional, com medidas que incluem fazer as melhores escolas apoiarem aquelas que apresentam pior desempenho
Ao lado de São Paulo e Rondônia, o Ceará teve a 4ª melhor nota do ensino médio em 2017 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal medidor oficial de ensino no País
Em seguida, aparece o Pará, com 37 alunos, Minas, com 25, e Bahia, com 16

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A tragédia do ensino médio

Em 2018, segundo a pesquisa, quase 4 em cada 10 jovens na faixa etária de 19 anos não concluíram o ensino médio na idade considerada para esse ciclo educacional

O Estado de S.Paulo
Recente estudo sobre a evolução do acesso ao sistema de ensino e sobre sua qualidade, promovido pelo movimento Todos pela Educação, uma entidade sem fins lucrativos integrada por pedagogos, gestores escolares e representantes da iniciativa privada, mostra como a crise educacional do País vem sacrificando o futuro das novas gerações. 
Em 2018, segundo a pesquisa, quase 4 em cada 10 jovens na faixa etária de 19 anos não concluíram o ensino médio na idade considerada para esse ciclo educacional. E, do total de brasileiros nessa faixa etária, 62% já estão fora da escola e 55% pararam de estudar ainda no ensino fundamental. O estudo foi promovido com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Todos pela Educação definiu uma lista de cinco metas para o crescimento e modernização da educação brasileira até 2022 e, na pesquisa de 2018, constatou que o País continua longe de alcançá-las.
Uma das metas era fazer com que o Brasil tivesse, até o ano passado, mais de 90% dos jovens de 19 anos com o ensino médio completo. Em 2018, só 63,5% atingiram esse objetivo. E, como a qualidade desse ciclo educacional é ruim, entre os alunos que conseguem concluí-lo muitos apresentam conhecimento insuficiente em leitura, ciências e matemática, enfrentando problemas para ler palavras com mais de uma sílaba, identificar o assunto de um texto, reconhecer figuras geométricas e contar objetos. Na Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2017, o ensino médio alcançou o nível 2 de proficiência, numa escala de 0 a 9 – quanto mais baixo é o número, pior é a avaliação.
Com excesso de matérias, currículo desconectado da realidade socioeconômica e conteúdos ultrapassados, o ensino médio é considerado o mais problemático de todos os ciclos do sistema educacional. E é justamente por isso que ele se destaca por altas taxas de abandono e de reprovação.
“Falta muito para avançarmos e há um desafio para a educação básica como um todo. Muitos jovens estão fora da escola ou não se formam por causa da qualidade do ensino. Se o aluno avança de etapa sem uma base sólida e chega ao ensino médio com déficit, ele é quase induzido a sair do sistema de ensino”, afirma o diretor de políticas educacionais do Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho.
O desinteresse dos estudantes pode ser visto já na primeira das três séries do ensino médio, onde 23% dos alunos abandonam as salas de aula. E é justamente por isso que a taxa de crescimento de concluintes das três séries não tem a velocidade necessária para atingir a meta prevista para 2022, lembram os técnicos do Todos pela Educação.
Entre 2012 e 2018, o número de concluintes na faixa etária de 19 anos cresceu apenas 1,9% por ano, em média, quando seria necessário que aumentasse 7,2% anualmente, para que a meta pudesse ser atingida. “O crescimento é muito lento. Ainda estamos muito distantes para dizer que o País está a caminho da universalização do ensino básico”, diz o gerente de políticas educacionais da entidade, Gabriel Corrêa.
Na realidade, os problemas estruturais do ensino médio são antigos e a saída é conhecida. Em vez de concessões a modismos pedagógicos e políticas demagógicas, é preciso reduzir o número de matérias, rever os currículos e tornar os gastos no setor mais produtivos, mediante programas de aprimoramento da formação de professores, por exemplo. E tudo isso exige maior articulação entre o governo federal e as áreas educacionais dos Estados e municípios.
Sem fortalecer o ensino de disciplinas essenciais e sem motivar os alunos do ensino médio a concluir esse ciclo educacional, o Brasil continuará incapaz de formar mão de obra tão produtiva quanto a de outras economias emergentes. Não conseguirá formar o capital humano de que necessita para voltar a crescer de modo sustentado. E perpetuará as condições do atraso, da desigualdade e da pobreza, impedindo que as novas gerações se emancipem intelectual, social e economicamente. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Os cemitérios e o sentido da vida

Claudia Costin
Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Nossa passagem na Terra é rápida, e o tempo fará com que tudo nos diga 'é tarde demais'

Desde que se enterram os mortos em cemitérios, estes locais viraram espaços de práticas religiosas, de distinção social —dadas as diferentes localizações e arquiteturas dos túmulos— e de lembrança dos que nos são caros ou dos que desempenharam papel relevante na história.  
Mas, mais do que tudo, a presença de um campo santo numa cidade, para além de organizar a memória de um povo, serve para nos lembrar da finitude da vida.
A passagem nossa na Terra é rápida, e o tempo, “jogador ávido que ganha sem roubar”, fará com que dentro em pouco tudo nos diga “é tarde demais”, nas palavras de Baudelaire. Em outros termos, os cemitérios nos lembram do sentido da existência.
Viktor Frankl, médico e psicólogo austríaco deportado para campos de concentração na Segunda Guerra, onde perdeu sua família, escreveu um texto belíssimo sobre o tema, “A Busca do Homem por Sentido”. 
Nele mostra como a construção de significado mobilizou ele e alguns que passaram pela mesma experiência na possibilidade de sobrevivência e no que ele chama de “dizer sim à vida”.
E isso inclui não se vitimizar ou ter pena de si próprio, dada a profundidade do sofrimento vivido. É fácil usar a dor como desculpa para não se desafiar a ir mais adiante e ousar gastar tempo sendo empático com os outros ou construindo uma. 
Lembrei-me do texto ao ler a biografia de Michelle Obama. Em muitos momentos de sua trajetória, ela resistiu à tentação de ir pelo caminho mais fácil, como quando contrariando a recomendação de sua mentora de sua escola de ensino médio se candidatou à Universidade de Princeton e fez seu mestrado em direito em Harvard. 
Ou mesmo quando abandonou uma carreira bem remunerada num escritório de advocacia (onde foi supervisora de estágio de Obama) para atuar em desenvolvimento comunitário, algo que lhe dava mais sentido à vida.
Ao falar de suas escolhas, Michelle se refere a um discurso de Jesse Jackson, parceiro de Martin Luther King, em que ele pregava que jovens alunos negros deveriam se concentrar nos seus estudos com muito mais garra que os demais, para poderem depois ajudar na emancipação de seus pares. 
Outra influência veio do próprio Obama, quando ela constata que ele era um homem com uma visão e que lhe cabia apoiá-lo, sem perder a luz própria.
E construiu o sentido de sua vida dedicando-se à educação das meninas, lutando para que possam desenvolver seu potencial e empreender seus sonhos. Um dia um cemitério a acolherá, como a todos nós, mas seu trabalho ficará como registro de sua passagem pelo planeta. 
Afinal, prossegue Baudelaire, é preciso lembrar-se.