sexta-feira, 22 de junho de 2018

Como formar pessoas à prova de robôs

Ana Maria Diniz

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Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena


Os desafios impostos pelo avanço tecnológico são enormes tanto no ensino básico como no superior, mas as faculdades e as universidades estão sendo mais lentas em reconhecê-los

Mães e pais ainda sonham em ver o filho entrar na faculdade, se formar, conseguir um bom emprego e ser bem sucedido – e não medem esforços, inclusive financeiros, para fazer isso acontecer. Mas o mundo mudou e os jovens já sabem disso, estão assustados. Muitos deles percebem que cursar uma universidade e ostentar um diploma não são mais garantias de um futuro estável e feliz como no passado recente. “Vivemos em tempos líquidos, nada é feito para durar”, alertou o filósofo polonês Zigmunt Bauman. Com as máquinas inteligentes ficando mais inteligentes, muitos dos trabalhos realizados por pessoas hoje vão desaparecer: estudos recentes sugerem que até o fim desta década 7,1 milhões de postos de trabalhos serão ceifados e 30% das profissões serão totalmente automatizadas até 2030.
As implicações disso na Educação são enormes. Sabemos que não podemos continuar educando e formando jovens para uma realidade que já não existe mais. No ensino básico, este é um assunto que vem sendo discutido há alguns anos, apesar de as transformações ainda não terem chegado às salas de aula de forma sistêmica. No entanto, muito pouco se fala do impacto dessa tsunami tecnológica no ensino superior. “As faculdades estão tão preocupadas com o avanço do aprendizado on-line que se esquecem de se preocupar com a questão fundamental: como podem preparar os estudantes para suas vidas profissionais quando as próprias profissões estão desaparecendo?
Joseph Aoun, presidente da Northeastern University, tem ao menos uma resposta registrada em seu livro Robot-Proof: Higher Education in the Age of Artificial Intelligence, lançado no final do ano passado nos Estados Unidos e ainda sem tradução para o português.
Nos Estados Unidos, metade das universidades corre o risco de fechar nas próximas décadas pela concorrência dos cursos à distância e também por estarem se tornando desinteressantes para os alunos, obsoletas e desnecessárias. Portanto, se quiserem sobreviver elas devem pensar além. Devem se tornar instituições que formam pessoas à prova de robôs, instituições flexíveis e ágeis, capazes de se reinventar o tempo todo, escreve Aoun. Para isso, só há um caminho, segundo o autor:  repensar o modelo educacional a partir de três novas dimensões:
– Um currículo “à prova de robôs”, que o autor batizou de Humanics, e que compreende três tipos de alfabetização: a técnica (entender as máquinas e como elas funcionam); a de dados (ler, trabalhar, analisar dados e formular argumentos a partir deles); e a humana (ter habilidades como criatividade, colaboração, empatia, empreendedorismo, etc.).
– Um aprendizado experimental, prático, desenvolvido em parceria com empresas e com o objetivo de preparar os alunos para os empregos que forem surgindo, em tempo quase real.
– O compromisso de fornecer aos alunos oportunidades para a aprendizagem ao longo da vida. Muitos empregadores adotaram a ideia de ajudar a estender a Educação muito além dos anos de graduação e Aoun acredita que as universidades deveriam fazer o mesmo.
A inteligência artificial está transformando radicalmente a indústria, os negócios, o trabalho e, consequentemente, a Educação. Os desafios são igualmente assustadores no ensino básico e no superior, mas as faculdades e as universidades estão sendo mais lentas em reconhecê-los.

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