terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O rumo da educação


Para diretor da OCDE, Brasil gasta de modo insuficiente e ineficiente no ensino

O diretor do departamento educacional da OCDE, Andreas Schleicher, durante evento, em 2016, em Paris; ele é um dos idealizadores do Pisa
O diretor do departamento educacional da OCDE, Andreas Schleicher, durante evento, em 2016, em Paris; ele é um dos idealizadores do Pisa - Bruno Coutier/AFP
Existem muitas métricas para medir o desempenho do sistema educacional brasileiro, do gasto proporcional ao rendimento de alunos em exames padronizados, porém é ilusão esperar que algum deles, de modo isolado, possa indicar como deixar o pântano de mediocridade que nos rodeia.
Para Andreas Schleicher, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil gasta de modo insuficiente e ineficiente no ensino.
Como se trata de um dos idealizadores do respeitado Pisa, exame que compara o aprendizado de estudantes entre dezenas de países, convém atentar para o que ele diz.
O primeiro ponto de sua assertiva suscita mais debate que o segundo. O país despende cerca de 5% de seu Produto Interno Bruto com educação pública, como a média dos países da OCDE, na maioria ricos. Mas, como há muitos jovens em sua população, o desembolso por aluno seria ainda pouco.
Este, considerando estudantes entre seis e 15 anos de idade, é de cerca de US$ 38 mil anuais (valor ponderado pelo poder de compra da moeda nacional). Segundo estudo da OCDE, um aumento para US$ 80 mil, como praticam outras nações, poderia trazer ganhos significativos de aprendizado.
Dadas as severas restrições orçamentárias de hoje, o valor não soa realista a curto prazo. É evidente, ademais, que as carências do país no setor nem de longe se limitam à escassez de verbas.
A parte a que menos se atenta, no debate nacional, compreende a necessidade de gastar melhor.
A revalorização da carreira de professor, por exemplo, não se esgota em pagar melhores proventos; exige também programas de qualificação técnica do corpo docente e no monitoramento dos resultados em cada classe, escola e região.
De pouco vale despejar recursos públicos no setor sem um projeto bem definido para chegar ao objetivo que todos concordam em alcançar: mudar o patamar de qualidade do ensino nacional, após a bem-sucedida inclusão de meio milhão de crianças e jovens ao sistema entre 2003 e 2015, como bem assinalou Schleicher.
Tal roteiro mal começou a ser definido com a homologação de uma Base Nacional Comum Curricular satisfatória para o ensino fundamental e com a recente reforma do ensino médio (que agora aguarda sua própria BNCC).
Mais persistência e empenho no rumo traçado e menos fé em verbas carimbadas, eis o caminho mais promissor para o ensino no Brasil.

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