quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Por que os alunos mais pobres do Vietnã ganham da elite brasileira

Érica Fraga
Érica Fraga
É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação.


Fiz uma longa entrevista na semana passada com Andreas Schleicher, criador e coordenador do Pisa, o badalado teste internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
Schleicher tem uma visão privilegiada do que tem funcionado em educação nos mais diversos países e regiões do mundo porque dedica sua vida profissional a analisar os resultados do Pisa, a desenvolver modelos que ajudem a prevê-los e a aprimorar a forma como a aprendizagem dos adolescentes tem sido medida a cada três anos.
Andreas Schleicher, criador e coordenador do Pisa, o badalado teste internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)
Andreas Schleicher, criador e coordenador do Pisa, o badalado teste internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) - Bruno Coutier/AFP

Da troca de perguntas e respostas com ele falamos por email, saí com duas impressões. A primeira é que copiar a experiência de outros países não é nada trivial.
Questões culturais ajudam a explicar a disciplina e o foco dos asiáticos, que têm nadado de braçada no Pisa, deixando inclusive vários países ricos do Ocidente para trás.
Os pais chineses geralmente investem seu último dinheiro na educação de seus filhos, seu futuro. Os que se destacam são o tipo de país onde o foco de uma cidade pode ser uma escola bem equipada, em vez de um shopping center brilhante, diz Schleicher.
A segunda impressão foi que, se há uma política que por seus resultados positivos comprovados merece todo o esforço para ser emulada, ela passa pelo foco na qualidade do magistério.
A importância de bons professores foi um ponto recorrente nas respostas de Schleicher. Vou destacar alguns trechos:
A chave é priorizar o gasto de forma que ele possa aumentar a qualidade do magistério.
O Japão, por exemplo, coloca uma grande fatia de seus recursos em serviços educacionais básicos. Parte deles é usada para pagar os professores relativamente bem.
Empregar professores de baixo custo significa que você precisará de mais apoio em escritórios centrais e mais coordenadores.
Os professores desempenham um papel muito importante em melhorar o sucesso dos alunos em sala de aula.
Esses sistemas educacionais, especialmente a Finlândia, promovem políticas voltadas para melhorar a qualidade do magistério.
Schleicher citou ainda um dado impressionante: os alunos de 15 anos entre os 10% mais pobres do Vietnã têm ido tão bem no Pisa quanto os 10% mais ricos no Brasil.
O segredo do Vietnã? O modelo do país asiático tem algumas características, mas uma delas é o investimento elevado nos professores.
Assim como na Finlândia, o magistério no Vietnã é uma carreira respeitada por todos e bem remunerada. Os melhores professores são destacados para as escolas mais carentes e desafiadoras.
O número médio de alunos por docente que no Brasil beira 30, é quase metade disso no Vietnã.
Enquanto o país asiático é citado pela OCDE como exemplo de professores bem formados, o Brasil é mencionado como um caso onde o percentual de alunos em classes de professores com certificado da disciplina em lecionam é particularmente baixo.
Embora o Vietnã permaneça um país pobre, tem crescido a um ritmo de 6,4% ao ano desde o início da década de 1980. A taxa média de expansão do Brasil, no mesmo período, foi de 3%.
A educação pode não explicar todo o desempenho vietnamita —a proximidade com a China e uma agressiva abertura comercial são parte da história—, mas, sem dúvida, tem contribuído muito para esse resultado.

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