quinta-feira, 16 de março de 2017

Samba de uma nota só

Ana Maria Diniz
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Ana Maria Diniz


A educação que vale a pena


A valorização da carreira docente, incluindo mudanças na formação, melhor remuneração e maior reconhecimento por parte de toda a sociedade, é fundamental para o avanço do Brasil como um país desenvolvido e justo

Quem me conhece sabe que eu bato sempre na mesma tecla do quanto a valorização da carreira de professor e a melhora na formação docente são fundamentais para se construir um país melhor.
Sei que para elevar a qualidade da Educação no Brasil não existe uma única solução mágica – e não é apenas mexendo na alavanca de uma melhor formação e reconhecimento destes profissionais que vamos avançar.
Mas de todas as correções de rota que temos de fazer – e são várias – esta é, sem dúvida nenhuma, a mais importante. Nada impacta tanto a vida profissional de uma criança do que um bom professor.
Para chegar aonde queremos, precisamos, antes de mais nada, olhar para os problemas de forma mais detalhada, minuciosa. A própria valorização da docência tem vários “ingredientes” a serem examinados em profundidade.
Em primeiro lugar, precisamos transformar a docência num objeto de desejo. Isso, por si só, compreende inúmeros aspectos.
A remuneração é um componente importante. Quanto deveria ganhar um profissional-chave da nossa sociedade? Não temos essa resposta, mas podemos buscá-la na comparação com outros países onde os professores são, de fato, valorizados, como Canadá, Finlândia e Coreia. Outra possibilidade é compararmos os salários da categoria com a remuneração média de profissionais também considerados vitais para a sociedade, como médicos, advogados e engenheiros. De alguma forma, isso precisa ser definido.
Em complemento ao salário inicial, que deve ser atrativo, é necessário que o candidato à docência vislumbre uma oportunidade de evoluir, de progredir na carreira. Ele tem que poder ganhar mais de acordo com critérios pré-estabelecidos – e estes critérios devem ser condizentes com o seu desempenho no trabalho de ensinar.
Outro capítulo importantíssimo é o reconhecimento, a forma como o professor é visto pela sociedade. Os pais têm de começar a olhar para os professores de seus filhos como seus aliados, não como culpados pelo fato de o aluno não aprender. É legitimo os pais irem até a escola cobrar dos professores o porquê seu filho não aprende determinada matéria. Ou querer saber como seu filho está sendo tratado dentro e fora da sala de aula. Mas esses mesmos pais devem evitar conversas nas quais os professores são tachados de vilões ou de desqualificados.
Eu acredito que com a revisão destes dois aspectos já seria possível atrair para a carreira jovens com uma melhor escolaridade e com ambição de mudar o país por meio da Educação.
Hoje, a nossa realidade é triste. Dos ingressantes em Pedagogia, 20% não atingem o mínimo esperado para a certificação no Ensino Médio, segundo o ENEM. Só este efeito gera uma bola de neve negativa, pois, dificilmente, um aluno excepcional, mesmo que sinta interesse pelo magistério, ingressará num curso em que estará rodeado de colegas ruins. Além disso, qualquer curso de formação inicial, por melhor que seja, dificilmente conseguirá transpor o enorme desafio de preparar um profissional para uma carreira tão complexa se a matéria bruta for tão despreparada.
A imprensa, as novelas e as mídias sociais têm um papel gigantesco nessa mudança cultural de valorização dos professores. Isso deveria ser uma missão da sociedade.
Por uma conjugação de fatores, este é um movimento que eu sinto que esta prestes a acontecer. Apesar de a Educação aparecer em 8o lugar na pesquisa Ibope/CNI sobre as prioridades dos brasileiros para 2017 – e de ter figurado em 3o lugar no mesmo levantamento, em 2014 -, hoje há uma consciência muito maior sobre quanto um ensino de qualidade é importante para o avanço do Brasil como um país desenvolvido e justo.
No Singularidades, por exemplo, Faculdade de Pedagogia, Letras e Matemática, em São Paulo, mantida pelo Instituto Península, da minha família, detectamos, em 2016, um perfil de ingressantes na carreira bem diferente do nosso histórico de 15 anos. Pela primeira vez, metade dos nossos alunos proveio de boas escolas, todos com desempenho bem acima da média no ENEM. Também atraímos pessoas buscando uma segunda formação, um significado e um propósito em sua atividade profissional.
Há esperança no fim do túnel! E estamos começando a enxergar a luzinha!

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