Ana Carla Bermúdez Do UOL, em São Paulo
Mais da metade dos alunos de oito anos das escolas públicas no Brasil tem conhecimento
insuficiente em leitura e matemática, segundo dados da ANA (Avaliação Nacional da
Alfabetização) 2016, divulgados nesta quarta (25) pelo MEC (Ministério da Educação).
Os números mostram que 54,73% dos alunos têm problemas de leitura --eles não conseguem,
por exemplo, interpretar e localizar informações específicas em textos científicos ou de gêneros
como lenda e cantiga folclórica. Além disso, eles têm dificuldade para reconhecer a linguagem
figurada em poemas e tirinhas.
Esses resultados estão estagnados desde 2014, quando 56,17% dos alunos tiveram desempenho
insuficiente na habilidade de leitura.
A ANA foi aplicada para mais de 2 milhões de crianças em novembro de 2016, quando 90% dos
estudantes avaliados possuíam oito anos ou mais.
Já 54,46% dos alunos têm problemas para fazer contas de adição, subtração, multiplicação e
divisão, além de não conseguir interpretar gráficos de colunas, por exemplo. Em 2014, esse
número foi de 57,07%.
A escrita apresenta índices menos críticos, mas ainda preocupantes: cerca de 34% dos
estudantes apresentam desempenho insuficiente --em geral, os alunos têm problemas de grafia e
para escrever um texto narrativo coeso.
Hoje, pelo Pnaic (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), espera-se que até os oito
anos, no fim do 3º ano do ensino fundamental, as crianças estejam alfabetizadas tanto em língua
portuguesa como em matemática.
Desigualdades regionais
As regiões Norte e Nordeste apresentam o pior desempenho em todas as habilidades avaliadas.
Na região Norte, 70,21% dos alunos têm desempenho insuficiente em leitura, 49,39% em escrita e
70,84% em matemática. No Nordeste, 69,15% têm problemas para ler, 47,44% para escrever e
69,46% em matemática.
Na região Sudeste, 43,69% dos alunos tiveram desempenho insuficiente em leitura, 20,29% em
escrita e 42,71% em matemática.
Antecipação da alfabetização
Para a ministra substituta da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, os dados mostram a
necessidade de se antecipar a alfabetização do 3º para o 2º ano do ensino fundamental.
A proposta vem sendo debatida desde abril, quando o MEC incluiu na BNCC (Base Nacional
Comum Curricular) a definição de que as crianças saibam ler e escrever aos sete anos. Há
um impasse, no entanto, com o CNE (Conselho Nacional de Educação) –conselheiros têm
defendido que a alfabetização continue sendo realizada até o 3º ano do ensino fundamental.
O Secretário de Educação Básica, Rossieli Soares da Silva, destacou que o CNE ainda não tomou
nenhuma decisão oficial em relação a esse impasse. "Temos uma série de discussões dentro do
CNE, mas não há absolutamente nenhuma manifestação do conselho a respeito disso", disse.
Professores assistentes de alfabetização
O MEC anunciou ainda a criação do Programa Mais Alfabetização, que prevê a presença de
professores assistentes de alfabetização em sala de aula. Segundo a pasta, os professores
assistentes trabalharão em conjunto com os docentes regulares nas salas de aula do 1º e 2º anos
do ensino fundamental.
"Cada professor assistente deverá apoiar durante 5 horas por semana a turma que ele for
responsável. A distribuição dessas 5 horas poderá ser feita de diferentes formas, conforme
desenhado pela rede de ensino", explicou o secretário Rossieli.
De acordo com o MEC, o investimento no Mais Alfabetização será de R$ 523 milhões até o fim de
2018, e a expectativa é que sejam atendidos 4,6 milhões de alunos
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