Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil
A secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães
de Castro, afirmou nesta segunda-feira (30) que o sistema de avaliação do ensino
superior do Brasil é falho. A funcionária da pasta foi uma das convidadas do
seminário internacional Avaliação da Educação Superior: características e
perspectivas, realizado em Brasília, em comemoração aos 80 anos do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
"Os processos avaliativos, ao invés de criar uma dinâmica formativa que pudesse
ajudar as instituições de menor qualidade a se desenvolver, acabou se
transformando em um processo burocrático, que gera uma tensão muito grande",
disse.
Para a secretária, o resultado da avaliação não é verdadeiramente aproveitado,
deixando, portanto, de se converter em uma adequação de currículo, de
metodologias e práticas adotadas pelas universidades, faculdade e centros
universitários.
"No ano passado, cerca de 5 mil visitas foram feitas pelo Inep. E os relatórios?
Milhares de relatórios. Quem tem tempo de analisá-los e de fato considerar os
resultados para poder influenciar em uma mudança futura?", questionou Maria
Helena.
Como sugestão, ela apontou "mecanismos de descentralização" e "liberar de
avaliações frequentes" as instituições que apresentam um bom desempenho.
Panorama global
Na opinião de Maria Helena, a educação superior do Brasil ainda se encontra na
contramão de tendências internacionais. Ela considera que a última mudança
expressiva do ensino superior brasileiro remonta a 1968, ano marcado pela ditadura
militar.
"O ensino superior no Brasil não está mudando, não tem dado a devida atenção às
novas grandes reformas do mundo. A Alemanha fez uma mudança gigantesca, a
França também. Os Estados Unidos têm um modelo que dá enorme liberdade para
que as instituições se diferenciem e se diversifiquem. Países como Portugal fizeram
mudanças profundas, e o Brasil se preocupou e se preocupa muito - e com razão -
com a educação básica, entendendo que o ensino superior está resolvido, mas ele
precisa mudar, se renovar ", criticou.
De acordo com Maria Helena, 75% dos universitários brasileiros estudam em
instituições pagas . "A rede pública não dá conta porque pertence a esse modelo",
afirmou ela, fazendo alusão ao modelo que vigora desde o regime militar.
Após reconhecer que, entre 2003 e 2015, houve uma expansão do ensino superior
gratuito, em decorrência de iniciativas como Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies), política de cotas, Programa do Governo Federal de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras (Reuni) e
Programa Universidade para Todos (Prouni), a secretária executiva criticou a "falta
de monitoramento" observada em governos anteriores ao de Michel Temer, e
afirmou que o governo atual planeja reduzir a quantidade de vagas ociosas do
Prouni, que, atualmente, conforme revelou, representam 40% do total.
Brasil e EUA
Como desafios comuns aos Estados Unidos e ao Brasil, Michael James,
especialista em educação e desenvolvimento, elencou a dificuldade de
financiamento dos estudos e, ainda, o tratamento dispensado a estudantes
estrangeiros, que, em seu país, representam de 7% a 29% dos universitários.
Avesso a rankings de universidades, o norte-americano destacou no seminário que
a educação deve servir à formação de cidadãos globais. "Devemos questionar: 'Em
que medida a educação superior é um bem público ou um bem privado? Em que
medida nos vemos, não como competidores, mas como compartilhadores de
recursos?'", perguntou
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