quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Ensino fundamental perde 1,8 milhão de matrículas em 5 anos no Brasil

Dados são do Censo Escolar 2017, apresentado hoje pelo Ministério da Educação; também houve queda no ensino médio, mas alta no ensino infantil


Leonêncio Nossa, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O número de crianças e adolescentes nas escolas públicas e privadas brasileiras caiu nos últimos cinco anos. Dados do Censo Escolar 2017, apresentado hoje pelo Ministério da Educação, mostram uma queda global de 45 milhões para 43,7 milhões de matrículas, na comparação com 2013.
As reduções ocorreram no ensino fundamental (queda de 1,8 milhão de matrículas) e no ensino médio (383 mil). Só ocorreu expansão de matrículas nos estabelecimentos infantis, que registraram um aumento de 902 mil matrículas, chegando a 8,5 milhões no ano passado.  A evolução reflete uma mudança na legislação em 2016, que tornou obrigatória a presença de 100% das crianças de 4 e 5 anos em escolas.
Os números do Censo Escolar repassados à imprensa pela manhã indicam que a estrutura física é um dos gargalos da educação. Um percentual de 61,1% das creches não têm banheiro adequado à educação infantil. No ensino fundamental, o levantamento registrou escolas sem vasos sanitários (8,2%), salas de leitura e bibliotecas (45,7%) e laboratórios de ciências (88,5%). 
Os problemas de estrutura ocorrem também no ensino médio. Nessa etapa, há escolas sem água da rede pública (10,7%), biblioteca (12%), banheiro adequado para estudantes com deficiência ou mobilidade reduzida (37,%) e laboratórios de ciências (54,6%). 
Uma análise dos dados indica que há deficiências tanto na rede pública quanto na privada. Os problemas de estrutura são mais acentuados nas escolas municipais. Na questão da falta de biblioteca no ensino fundamental, por exemplo, as escolas federais estão em melhor situação (95,7% têm salas de livros) – as escolas particulares aparecem com 82,2%, seguidas das estaduais (81,1%) e das municipais (38,9%).

Ensino médio perde alunos e acumula 1,5 milhão de jovens fora da escola


As matrículas do ensino médio tiveram queda em 2017, no momento em que se esperava um movimento contrário, de inclusão, já que há cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola. Essa etapa de ensino é considerada um dos principais gargalos da educação básica.

Dados do Censo da Educação Básica de 2017, divulgadas pelo MEC (Ministério da Educação) nesta quarta-feira (31), mostram que o país tem 48,6 milhões de alunos. Eles estão matriculados em 184,1 mil escolas (83% são públicas), da educação infantil ao ensino médio.

O total de matrículas vem caindo ao longo dos anos. A queda é impulsionada, sobretudo, por dois movimentos: a melhora no fluxo escolar (com taxas mais positivas de aprovação) e uma redução no número de crianças no país. A despeito do quadro geral, ainda são altos os índices de reprovação e abandono nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio.

O país registrou 7.930.384 alunos no ensino médio em 2017. O número representa uma queda de 2,5% com relação às matrículas do ano passado. Do total desses alunos, 84,8% estão em escolas estaduais.

"A matrícula do ensino médio segue a tendência de queda observada nos últimos anos que se deve tanto a uma redução da entrada proveniente do ensino fundamental", ressaltou o MEC na divulgação dos dados, "quanto pela melhoria no fluxo no ensino médio". Enquanto a matrícula do 9º ano teve queda de 14,2% entre 2013 e 2017, a taxa de aprovação do ensino médio subiu 2,8 pontos percentuais no mesmo período.

A estagnação das matrículas no médio indica, também, que o país não têm conseguido incluir os cerca de 1,5 milhão de jovens que abandonaram as salas de aula antes de terminar a educação básica. Esse contingente equivale a 15% do total de jovens de 15 a 17 anos, faixa etária ideal para o nível médio.

Estudo recente coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros mostra que, mantido o ritmo de expansão da escolaridade dos últimos 15 anos, o país levaria 200 anos para universalizar o atendimento.


Federal
396.482
16.222.814
Estadual
23.101.736
Municipal
8.887.061
Privada
396.482
Federal


Por outro lado, o ensino médio em tempo integral teve alta. O volume de matrículas nessa modalidade representou 8,4% do total de alunos em 2017. Eram 6,7% no ano anterior. A modalidade é uma das apostas do governo Michel Temer para alavancar a qualidade da etapa, mas há estudos que indicam que o acesso é desigual –as escolas com maior carga horária atendem aos alunos com melhor situação socioeconômica.

Já as matrículas de ensino médio integrado ao ensino profissional, outra aposta do governo para a etapa, ficaram praticamente estagnadas. Se em 2017 elas eram 6,54% do total de alunos, em 2017 esse índice passou a 6,99% –o que significa 554.319 alunos. A educação profissional é uma das linhas de aprofundamento previstas com a reforma do ensino médio realizada pela equipe de Temer.

EDUCAÇÃO INFANTIL

O número de alunos em creche (0 a 3 anos) cresceu, chegando a 3.406.796 alunos. É 5% superior ao ano passado. Na pré-escola (4 e 5 anos), o avanço foi mais tímido, de 1,2% no período, totalizando 5.101.935 alunos.

O Brasil tem a meta, prevista no PNE (Plano Nacional de Educação), de matricular ao menos 50% das crianças de 0 a 3 anos em creche até 2024. Todas as crianças na idade de pré-escola deveriam estar na escola desde 2016, segundo o PNE e emenda constitucional aprovada em 2009. Em todo país, o atendimento na creche é de 30,4% e na pré-escola, de 90,5%, segundo o Observatório do PNE, do Movimento Todos Pela Educação.

A qualidade desse atendimento também é deficiente. Um terço dos professores que atuam na educação infantil não têm diploma de ensino superior. No ensino médio esse índice é de 6,5% e no fundamental, de 14,7%.

O país tinha 27.348.080 alunos no ensino fundamental em 2017. São 1,8 milhão de alunos a menos do que em 2013, tendência explicada pela melhoria do fluxo e redução no número de crianças.

As redes municipais concentram a maioria dos alunos do fundamental. Condições de precariedade persistem, segundo o Censo da Educação Básica. Pouco mais de 6% das escolas não possuem sistema de esgoto sanitário, mais da metade não dispõe de laboratório de informática e 45,7 não tem sala de leitura ou biblioteca. 

sábado, 27 de janeiro de 2018

Mundo Corporativo: indústria 4.0 exigirá mudança na educação de profissionais, diz Gustavo Leal, do Senai

'Mudanças tecnológicas criam um círculo virtuoso de crescimento para a economia'






“A inovação aumenta a produtividade, que aumenta a renda, que aumenta os negócios, que aumenta os investimentos, que gera mais emprego: agora, os empregos mudam e vão mudar profundamente e vão estar muito mais assentados em competências que exijam uma educação mais elaborada, mais trabalhada, daí a importância do país se dedicar a projetos educacionais”.

A afirmação é de Gustavo Leal, diretor de operações do Senai Nacional, em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da CBN.

Leal falou dos impactos das tecnologias digitais a medida que forem implantadas pela indústria brasileira. Entre essas novas tecnologias estão a Internet das Coisas, a Inteligência Artificial, a Impressão 3D e o Big Data, que serão fundamentais para a competitividade das empresas.

O dirigente do Senai defende a ideia de que os profissionais continuarão sendo necessários para o andamento dos processos: “o trabalho humano não é substituído por essas novas tecnologias, por esses novos paradigmas; ele tem de se adaptar a isso”.

Analfabetismo no século 21

Maioria dos brasileiros é privada dos benefícios da escrita por incapacidade dos nossos governantes


João Batista Araujo e Oliveira, O Estado de S.Paulo
Presidente do Instituto Alfa e Beto

Nos 200 anos da Independência do Brasil ainda seremos um país com quase 12 milhões de analfabetos com carteirinha expedida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – algo em torno de 7,2% da população com 15 anos ou mais. Em mais duas décadas esse número vai sofrer uma redução significativa, porque a maioria dos integrantes desse grupo se encontra entre a população mais idosa. Mas o buraco é mais embaixo.
O conceito de analfabeto vem da década de 1950: o IBGE pergunta se a pessoa sabe ler e escrever o nome. No século 21, isso ajuda pouco. Esta é uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o problema da alfabetização.
No Brasil, o termo e o tema da alfabetização provocam batalhas ideológicas campais, mas pouca ação efetiva. Neste artigo, trato de três aspectos do tema: o sentido original do termo “alfabetizar”, o fenômeno brasileiro do analfabetismo escolar e as consequências de ser alfabetizado. Usaremos os dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) como pano de fundo.
“Alfabetizar” refere-se à capacidade de usar o código alfabético para ler e escrever. Essa é uma habilidade que, na maioria dos países e línguas, se ensina e se aprende no primeiro ano da escola formal. No Brasil, isso não é entendido nem reconhecido pelas autoridades educacionais. O resultado é desastroso.
Num teste aplicado recentemente a alunos dos três primeiros anos de um município com cerca de 150 mil habitantes e nota média na Prova Brasil, apenas 22%, 56% e 78% dos alunos foram capazes de fazer um ditado e escrever frases simples ao final do primeiro, do segundo e do terceiro anos, respectivamente. Não houve consistência alguma nos resultados dentro das escolas ou entre escolas, o que mostra as consequências de deixar a responsabilidade pelo assunto a critério de cada secretaria, escola ou professor.
A depender da nova a Base Nacional Curricular Comum, isso só vai piorar.
Alfabetização funcional é um segundo conceito importante. Mas seu significado varia em cada contexto. Um aluno pode ser considerado “analfabeto funcional” se não for capaz de copiar rápida e corretamente um texto do quadro ao iniciar o segundo ano escolar. Um cidadão comum é considerado analfabeto funcional se não entender o que lê na coluna de pequenos anúncios de um jornal. Por este último critério, quase 70% dos brasileiros com mais de 15 anos são analfabetos funcionais e os menores de 15 anos são analfabetos escolarizados – um neologismo genuinamente nacional.
O terceiro conceito é fornecido pelo Pisa, que distingue oito níveis de compreensão de leitura. Os quatro primeiros níveis do Pisa (1, 1A, 1B, 2) significam que o aluno não é capaz de fazer sentido elementar a partir do que lê. No melhor caso, foi apenas alfabetizado. Em média, 20% dos alunos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) encontram-se nesse nível ou abaixo dele. O índice do Brasil em 2015 era de 58%. Ou seja, esses brasileiros – e milhões de outros que concluem o ensino médio a cada ano – serão analfabetos funcionais pelo resto de sua vida.
É pouco provável que uma sociedade que não consegue alfabetizar adequadamente os alunos dentro da escola, ao longo de mais de dez anos de vida escolar, seja capaz de fazê-lo em programas emergenciais ou arranjos com alto teor de demagogia. A outra ponta dos dados do Pisa revela que apenas 8% dos brasileiros escolarizados se encontram no nível 4 ou acima, quer dizer, têm condições básicas para compreender o que leem e exercitar algum grau de raciocínio crítico.
Nos últimos dias que precederam a aprovação da Base Nacional Curricular Comum, um grupo de pesquisadores brasileiros especialistas no tema dirigiu um apelo ao Ministério da Educação (MEC) e ao Conselho Nacional de Educação (CNE) para que revissem pelo menos os capítulos referentes à alfabetização. O MEC enviou-lhes obliquamente uma nota redigida pelos consultores responsáveis na qual se limitam a repetir a litania que o País vem ouvindo sobre o tema há mais de 30 anos. O CNE, que também se negou a ouvir o grupo, enviou, por intermédio de seus membros uma nota dizendo que “será preciso definir exatamente o sentido do conceito de sistema de escrita alfabética (...) e que (...) isso deverá ser feito nos diferentes sistemas de ensino e mesmo nas escolas (...)”.
Esse é o Brasil. Independentemente da definição de alfabetização adotada, são poucos os cidadãos preparados para ler, entender o sentido do que leem e, a partir daí, exercitar o espírito crítico. José Morais, um dos mais notáveis especialistas no tema, observa que o termo “literacia”, usado em Portugal, designa um conceito duplo: a capacidade de leitura e escrita, mas também o que essa capacidade produz. Nessa acepção, a expressão “mente letrada” refere-se ao conjunto das capacidades mentais influenciadas pelas atividades de leitura e escrita. Por exemplo, a fala do letrado, seu raciocínio crítico e argumentativo e até sua criatividade são muito superiores aos da mente iletrada e têm um poder de ação e transformação da realidade muito maior. Ser alfabetizado é condição necessária, mas não suficiente para ser letrado. Alfabetização é a porta de entrada para o mundo letrado.
A escrita foi inventada há pouco mais de 4 mil anos e o seu domínio traz grandes benefícios. A grande maioria dos brasileiros é e continuará a ser privada dos benefícios dessa grande invenção em razão da incapacidade de nossos governantes de arbitrar entre ciência e ideologia, entre o que as evidências científicas dizem a respeito de alfabetização (e sobre como alfabetizar) e os decibéis dos ruídos daqueles que se fazem ouvir em Brasília. As pessoas, os grupos e as ONGs que ficam indignados com os números do IBGE são incapazes de se manifestar e se mobilizar diante do genocídio mental que representa o analfabetismo escolar.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O que os pais podem fazer para evitar que os filhos se envolvam com as drogas?


Papo Livre - Jairo Bouer
As dúvidas de pais e filhos sobre diversos temas que geram debates e discussões no caminho para escola, no banco de trás do carro, no café da manhã em família, vão virar objeto desse papo. Sexo, contracepção, relacionamentos, tecnologia: tudo é assunto para um dos mais conceituados especialistas em comportamento do País.


Não existe fórmula pronta para evitar influencia dos colegas e curiosidade. Estudos indicam que o mais importante é que os pais estejam presentes e consigam impor limites. Pais que estão sempre de olho nos filhos, mas também são afetivos, são os mais bem-sucedidos em evitar o consumo de álcool e drogas.



http://download.sgr.globo.com/audios/encodeds/3/2018/01/25/155391_20180125.mp3

Mundo avança na inovação, e o Brasil continua no século passado

pedro luiz passos
Pedro Luiz Passos
É empresário e conselheiro da Natura.

Mais que quaisquer dos muitos problemas enfrentados pelo Brasil, a maturidade das inovações tecnológicas que já afrontam mundo afora empresas de todo tamanho e impactam a ordem política e o cotidiano das pessoas não é apenas mais um, mas um dos nossos maiores desafios.

A ruptura de velhos paradigmas fervilha nos EUA, na China, na Índia, em parte da Europa e nos pegou de calças curtas, agarrados a um sistema produtivo sem dinamismo para enfrentar a concorrência externa e com a educação, celeiro das inovações, despreparada para formar o que se requer.

É impossível ficar indiferente às inovações disruptivas no mundo, que levam a modelos de negócios ágeis e flexíveis. Elas chegam aos poucos, como chegaram a internet e as redes sociais. Quando nos demos conta, já estávamos todos conectados.

Tal fenômeno se repete dos transportes aos serviços bancários, da medicina à geração de energia; do agronegócio ao ensino à distância. Até moedas convencionais enfrentam rivais. São as criptomoedas, em que o bitcoin é a mais conhecida.

Essa questão se impõe ao Brasil, que continua travado por debates econômicos e políticos que já deveriam estar superados, sobretudo diante de movimentos a passos céleres das duas potências tecnológicas (EUA e China) e de vários países emergentes.

"America First" do governo Trump concorre com o "Made in China 2025", programa do líder Xi Jinping para as empresas chinesas alcançarem liderança mundial em manufatura inteligente, robótica e semicondutores. A capacidade de criar artefatos providos de inteligência artificial é o que está em disputa.

Onde estamos nessa corrida? Não há nada sistemático em formulação, à exceção de esforços isolados. No geral, paira a incômoda sensação de que os governantes nem sabem do que se trata. É temerário. Nesse novo mundo não há "direito adquirido". Tudo é virado do avesso.

Não se fala mais se, mas sim quando, por exemplo, o carro elétrico substituirá o motor a combustão, enquanto ainda discutimos um plano de incentivo ao setor automotivo baseado em combustíveis convencionais.

Petroleiras, como a Shell, parecem antecipar-se ao fim do reinado do petróleo, atacado pela energia eólica e solar e pelo anúncio em série de veículos elétricos por Volkswagen, BMW, Renault. A Shell vem instalando pontos de recarga de baterias em postos na Europa.

Os bancos centrais também estão perplexos com a popularização das moedas digitais emitidas por softwares e distribuídas por uma rede difusa de computadores, que atestam e validam as operações. Chamada blockchain, a inovação é um repto às bases de dados centralizados.

Mais: milhares de fintechs despontam no mundo disputando o mercado de crédito e de capitais com os bancos, que se veem forçados a se reinventar para evitar o que a Apple fez com a indústria do disco. E as câmeras digitais, com as máquinas fotográficas analógicas.

Tudo é recente e avança com rapidez e mesmo à revelia de governos, desafiando fronteiras geográficas e o mercado de trabalho.

Estudo da McKinsey estima em 40% os empregos ameaçados pela automação. A consultoria International Data Corporation, IDC, prevê que em 2020 mais de 75% do valor das empresas nos EUA virá de ativos intangíveis como plataformas digitais.

É a economia dos algoritmos emergindo. Incerto é apenas o alcance das transformações. Não há tempo a perder.

A nova onda do progresso passa por inteligência artificial, modelos de negócios inovadores e tecnologias conexas —e nós, no Brasil, nem começamos a discutir por onde começar. 

Transformar realidades nocivas com boas políticas públicas

claudia costin
Cláudia Costin
É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração

Estamos em ano eleitoral e, para além de sensibilidades exacerbadas e debates estéreis, começam a aparecer propostas concretas de mudanças de práticas e políticas públicas no Brasil. E neste momento tendem a prosperar tanto populismos, com fórmulas mágicas de transformação de uma realidade percebida como inaceitável, como ideias inovadoras, embora muitas vezes de difícil implementação.

Na verdade, precisamos, sim, de propostas ousadas e de líderes que as implementem. Mas o central nessa discussão é se os eleitos terão equipes com solidez técnica e política para mudar a realidade e não apenas boas ideias.
Uma realidade indesejável se transforma com boas políticas públicas e é importante que elas sejam explicitadas nos programas dos candidatos. Mas a transformação requer também disposição de comprar as brigas necessárias, já que, dada a fragmentação de interesses instalada, há sempre algum grupo que se beneficia com o status quo e que se sentirá ferido com a mudança.

Carlos Matus, especialista chileno de planejamento governamental, preconizava em seu livro "O líder sem Estado-Maior" que presidentes dispusessem de uma equipe competente em processamento técnico e político das questões mais relevantes. Não basta ter boas propostas técnicas e monitorá-las, é fundamental, ao buscar o interesse coletivo, elaborar uma teoria da mudança em que se mapeiem eventuais opositores e se identifiquem coalizões passíveis de serem construídas para a implantação.

A política educacional, nesse caso, tem um desafio adicional: ela não gera resultados de curto prazo e torna pouco visíveis ações de governantes para aprimorá-la, especialmente neste momento em que o problema brasileiro está mais concentrado na qualidade do que apenas no acesso. A ênfase em currículo, atratividade da carreira, formação inicial e continuada de professores e equidade, questões particularmente urgentes para a melhoria do ensino, por envolver ações menos tangíveis, não permite a governantes a organização de eventos que deixem evidente sua marca política.

Por outro lado, a educação, como política pública, faz parte do legado de uma administração. Trata-se da base da construção de uma sociedade mais educada e preparada para os desafios do século 21, inclusive maior empregabilidade, em um contexto em que se projeta a extinção de cerca de 16 milhões de postos de trabalho até 2030, no Brasil, por automação. E o político que investir com seriedade na melhoria da educação básica será lembrado, se não por seus contemporâneos certamente pela história, como construtor de um país mais justo, menos desigual e mais competitivo.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Alunos “especiais”

POR JAIRO MARQUES

Cada vez mais, as crianças têm chegado às salas de aula com recomendações de diagnósticos médicos debaixo do braço. São hiperativas, possuem algum grau de autismo, possuem transtornos que afetam a concentração ou parte do aprendizado ou mesmo são pequenos que possuem algum nível de deficiência física ou sensorial.
Na Europa e nos EUA já se trabalha até com detecção de casos de estudantes que são considerados muito “sensíveis”: indivíduos com os sentidos bastante aguçados em relação aos estímulos sonoros, táteis, olfativos ou mesmo que possuem grande retração para interagir ou para participar de atividades coletivas, por exemplo.
De um lado, um diagnóstico pode facilitar a criação de estratégias pelo professor e pela escola para melhor atender o aluno, por outro, ele pode criar subgrupos escolares que caminham rapidamente rumo ao estigma. Há escolas que os tratam como alunos “especiais” e outras como “alunos de inclusão”.
É sem dúvidas um avanço a molecada ter precocemente a chance de ser inserida no ambiente escolar já se levando em consideração suas peculiaridades. Isso ajuda a ela ser melhor observada e entendida naquilo que a difere.
O que pode desvirtuar-se muito facilmente diante disso é o papel da criança como aluno. Ter uma característica diferente não pode ser, de maneira nenhuma, razão que a isole, que a torne um bibelô intocável e ou um ser problemático para o ambiente de ensino.
Uma coisa é dar mais tempo de prova para um pequeno que tenha paralisia cerebral e vai escrever devagarinho ou que se evite expor uma criança com autismo a um ambiente com diversos estímulos desconhecidos por ele. Outra coisa é excluir o estudante de participar de uma atividade ou “poupá-lo” de uma situação corriqueira em sala de aula porque ele é “especial” e alguém julga à revelia que seria melhor evitar sua exposição.
Importante pontuar também que ter uma deficiência ou diagnóstico de alguma particularidade não pode ser jamais um escudo para que o aluno se afugente de ser cobrado, de ser atuante em classe ou extraclasse. Cabe ao professor desconsiderar essa desculpa como instrumento para aliviar pressões naturais que todo estudante precisa ter.
Aos pais é fundamental saber dividir bem o que é ter cuidado com o filho e com suas demandas específicas, cobrando um bom programa educacional, com preceitos inclusivos de verdade, e o que é superproteção que o fará menos apto não só durante a vida escolar, mas por todo o seu futuro.
Quando se mistura a necessidade pontual de adotar novas táticas metodológicas ou de interação para que um aluno tenha um aprendizado digno e pleno com o medo de dialogar com essa criança, com uma barreira imaginária que a difere das outras pelo simples fato de não seguir um padrão, o princípio da inclusão não se estabelece.
Todos ganham com a exploração daquilo que é diverso e é esse um caminho seguro chamar à participação os tais “alunos especiais”. Educar é permanente processo de reaprender, de rever e de buscar maneiras de compreensão e colaboração.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A urgência da educação. Para o País se desenvolver, é preciso oferecer uma educação transformadora




O Estado de S.Paulo
Apesar de a economia mundial estar em franca recuperação, o Banco Mundial indica uma maior lentidão do crescimento das economias dos países emergentes e em desenvolvimento. Estima-se que, nos próximos dez anos, a taxa potencial de crescimento desses países será de 4,3%. No período anterior, entre 2006 e 2017, a taxa foi de 5,2%. Entre outros fatores, essa diminuição no ritmo de crescimento é consequência de significativa mudança demográfica, com o envelhecimento da população. O fenômeno conhecido como bônus demográfico – alto porcentual de gente jovem, economicamente ativa, em relação à totalidade da população – é cada vez mais raro, em função do aumento da expectativa de vida e da diminuição da taxa de natalidade.
Essa configuração social de mais idosos e menos jovens é tema de constante preocupação nas economias avançadas, já que isso afeta diretamente a riqueza per capita, com consequências diretas sobre a produtividade e a previdência. O equilíbrio do passado já não é mais sustentável. Se os países ricos precisam se debruçar sobre essa questão, muito maior necessidade têm os países emergentes e em desenvolvimento, pois neles a situação é ainda mais dramática. Suas populações envelheceram antes de eles terem alcançado um patamar razoável de desenvolvimento econômico e social.
Diante desse quadro social, as estimativas do Banco Mundial sobre a diminuição da taxa potencial de crescimento dos países emergentes e em desenvolvimento são um alerta para a necessidade de mudança de rumo. Com urgência, é preciso um aumento significativo da produtividade nacional. Caso contrário, a vida das pessoas tende apenas a piorar.
Vários são os fatores que contribuem para a produtividade de um país, como, por exemplo, saudável ambiente de negócios, infraestrutura de produção e logística adequada, abertura comercial, livre concorrência, segurança jurídica, burocracia estatal não sufocante, baixos níveis de corrupção. Todas essas condições são importantes e devem ser buscadas ativamente. Há, no entanto, um fator decisivo, cuja ausência pode pôr a perder a eficácia de qualquer esforço para aumentar a produtividade: a educação.
Esse fator vai muito além da mera escolaridade formal. No Brasil, como também em outros países emergentes e em desenvolvimento, houve, nas últimas décadas, um aumento do nível de educação formal. Ou seja, cresceu o porcentual da população que teve acesso aos vários níveis de ensino: fundamental, médio, técnico e superior. No entanto, esse aumento não é suficiente por si só para gerar uma maior capacidade de trabalho individual. Um diploma que não está acompanhado de um acréscimo efetivo de conhecimento e de habilidades não agrega melhores resultados no trabalho.
Tal realidade foi confirmada, no final do ano passado, por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Eles constataram que, a despeito do aumento do número de anos de estudos ocorrido no Brasil, não se verificou um aumento da produtividade do País. Era mais uma evidência das deficiências do ensino oferecido no País. Aumentou-se a quantidade dos anos que o aluno passa em sala de aula, mas isso não proporcionou uma melhora de fato da educação.
Para o País se desenvolver econômica e socialmente, o caminho é oferecer aos jovens uma educação realmente transformadora, que os capacite para o desempenho competente de uma atividade profissional. É urgente, portanto, não se discutir apenas o volume de verbas públicas destinadas à educação, como se fosse o elemento decisivo da questão. Antes, é preciso atuar nas causas dos sofríveis níveis de aprendizado – a qualidade dos cursos de pedagogia, os incentivos e a valorização da carreira docente, a participação e a responsabilidade das famílias na educação das crianças, a atualização dos currículos escolares para as demandas contemporâneas, uma cultura escolar de respeito ao outro e infraestrutura adequada nos colégios.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Cotas não resolvem, mas ajudam

marcelo viana
Marcelo Viana
Matemático e diretor-geral do Impa, é ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France. Aqui, mostra como a matemática pode transformar vidas e ser divertida.

Levantamento feito pela Folha ao final de 2017 mostrou que, em boa parte dos cursos universitários, alunos que ingressam por meio de cotas se formam com notas próximas dos demais. O estudo usou os resultados de mais de 250 mil estudantes nas três últimas edições do Enade e constatou que alunos cotistas chegam a ter notas melhores que os outros, por exemplo, em odontologia.

É refrescante dispormos de dados objetivos sobre um assunto tantas vezes poluído por ideologias. É inegável que ações afirmativas, como as cotas, são importantes mecanismos de justiça social em um país tão profundamente injusto como o nosso. E as conclusões do levantamento indicam que tais ferramentas são válidas também no plano acadêmico: não se confirmam os prognósticos de que o ingresso de alunos cotistas resultaria em degradação da qualidade dos cursos.

O perigo é alguém acreditar que cotas resolvem alguma coisa no médio prazo. 
Nosso sistema educacional está doente, e cotas são como um antitérmico, que reduz o desconforto do paciente, mas não ataca as causas da febre. O que precisamos é que a escola pública, democrática e gratuita, ofereça formação de qualidade, para que as cotas se tornem desnecessárias. Não é uma utopia: acontece em muitos outros países, inclusive mais pobres que o Brasil.

Ações afirmativas não podem servir de álibi para continuarmos oferecendo formação inferior aos filhos das classes mais desfavorecidas. Até porque propiciar acesso à universidade a alguns desses jovens deixa muita coisa por resolver. A mesma reportagem da Folha mostra que as notas de cotistas são sim inferiores à média nos cursos de exatas, possivelmente os mais críticos para o desenvolvimento do país.

Não é difícil aventar uma explicação. Em matemática, cada etapa prepara a seguinte, não é possível pular. Quem não aprendeu multiplicação, não vai nunca entender frações. Se a matemática não é ensinada na escola, na faculdade é simplesmente tarde demais. E aí os benefícios da ação afirmativa foram desperdiçados.

Na virada do ano, outra notícia alvissareira: a Unicamp, talvez a mais inovadora de nossas universidades, aprovou a criação de até 10% de vagas extras em seus cursos para candidatos premiados em competições escolares, como as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e Física. Uma espécie de "cotas por mérito".

Como todas as ideias inteligentes e com potencial para fazer diferença, essa também desperta oposição. Inclusive de setores que advogam as cotas sociais, o que talvez não seja surpreendente, mas é certamente lamentável. Tomara que a inteligência prevaleça.

'Queremos que crianças aprendam desde cedo que vão viver muito e devem se conscientizar'

  50 Mais CBN

 com Alexandre Kalache e Debora Freitas

Ana Maria Diniz conversou com Débora Freitas no estúdio da CBN. Foto: Gabriel Medina/CBN (Crédito: )
Ana Maria Diniz conversou com Débora Freitas no estúdio da CBN. Foto: Gabriel Medina/CBN



Débora Freitas e Alexandre Kalache conversaram com Ana Maria Diniz, presidente do Conselho do Instituto Península. Para ela, a construção do capital para a velhice deve começar ainda na sala de aula.


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Porque os professores da educação infantil ganham menos se essa fase é tão importante?

Escola da Vida - Antônio Gois

A pré-escola de qualidade tem efeitos que duram por muito tempo e passam da questão das notas, mas têm reflexo na vida como: aumento das chances de entrar em universidades, redução de casos de gravidez na adolescência e de envolvimento com o crime.


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Diretor aproxima pais da escola e melhora aprendizado

Daniel Quaresma, gestor de escola em São Paulo, afirma que o segredo é “não procurar culpados pelos problemas”

Todos Pela Educação
Um laço estreito entre as famílias e as escolas, com responsáveis engajados com a Educação de seus filhos, é uma das estratégias estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) na busca da universalização do Ensino Fundamental II. Apesar de ter avançado muito nesse sentido nos últimos anos, o Brasil ainda tem cerca de 430 mil crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos fora da escola. As circunstâncias são diversas, mas pesquisas mostram que a distância entre pais de alunos e equipe pedagógica pode ser superada por meio do diálogo e da gestão democrática.
Daniel Quaresma, diretor pedagógico da Escola Estadual Professor Ayres de Moura, acredita nisso. Ele trabalha na unidade desde 2013 e, quando assumiu a direção, encontrou uma escola distante das famílias e com alunos com baixa autoestima quanto à sua própria capacidade de aprender. “As famílias ouviam dos professores que os filhos eram ociosos e não aprendiam e, por causa disso, elas evitavam o contato com a escola”, explica o diretor da instituição localizada na Vila Jaguara, na zona oeste da capital paulista.
Com 24 anos de experiência na Educação, o diretor acredita que a proximidade dos pais com a escola é fundamental para a aprendizagem. Ele decidiu aceitar o desafio de atuar na EE Professor Ayres por acreditar na proposta de Ensino Integral. “Embarquei porque não era uma política de governo – com o risco de ser aplicada e interrompida. Era uma política de Estado”, afirma.
Plano de ação
Em uma de suas primeiras ações frente à unidade, em 2013, Daniel se reuniu com os professores para enfrentar as lacunas de aprendizagem. Duas frentes de atuação foram feitas para enfrentar os índices insatisfatórios: acompanhamento do desempenho e a conquista das famílias. A equipe pedagógica criou planilhas e gráficos das notas por turma para identificar o desempenho.  
Quanto às famílias, o educador apostou na convocação de assembléias participativas com as famílias de alunos de cada período a fim de discutir formas de melhorar a escola e procurar resolver os problemas encontrados. Na primeira reunião, houve cerca de 70 pessoas do período da manhã. “Nós [da equipe gestora] não ficamos querendo achar os culpados pela má aprendizagem dos alunos. Não atacamos as famílias, e sim procuramos debater o ensino no contexto da comunidade.”
Recebendo as reuniões de forma positiva, a própria comunidade divulgou a atividade. Segundo o diretor, mesmo que o efeito inicial no aprendizado tenha sido tímido, a segunda assembléia do período matutino foi mais disputada, com 280 participantes. “Os alunos perguntavam para nós porque tínhamos essa postura de diálogo. O objetivo era mostrar respeito e o significado da Educação para vida deles”, lembra Daniel.
Para o diretor, a escola deve cumprir o seu papel social, fazendo com que o conhecimento obtido dentro dela tenha aplicação fora da escola. “O pai tem que entender e mostrar para o filho que a matemática tem importância, por exemplo, na economia da casa. Os alunos podem também aplicar o conhecimento da língua portuguesa para compreender a música que ouvem”, exemplifica.
Desafios e resultados
Mas, de acordo com o diretor, essa parceria frutífera entre família e escola pode ser perder  se as sugestões dos pais não forem bem acolhidas e gerenciadas pela equipe pedagógica. Daniel aponta a necessidade de haver conhecimento prévio das necessidades da comunidade: “Os alunos devem ser preparados para participar e os professores precisam saber do que a comunidade escolar precisa. Eles devem entender o contexto da escola.”
Além disso, ele também enfatiza que o diretor precisa se responsabilizar pelo resultado pedagógico da escola. “A direção precisa trabalhar ombro-a-ombro com os professores e a comunidade para garantir que os alunos aprendam. Somos funcionários públicos e não estamos fazendo um favor à escola [com a iniciativa]; estamos trabalhando e devemos fazer o nosso trabalho bem feito”.
Aos poucos, os resultados da gestão começaram a aparecer: o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) da unidade, índice estadual semelhante ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), saiu de 2,29, em 2012, para 3,26, em 2016.
Em 2018, ao chegar ao 6° ano de gestão na unidade, o diretor identifica mudanças importantes no cenário da escola. “Não há mais depredação do patrimônio, porque os estudantes gostam do ambiente escolar. A quadra, por exemplo, é cheia de alunos jogando bola e já vi criança que não queria sair porque gostava das aulas. O nosso movimento é para criar uma cultura de participação pedagógica.”
A experiência na nova escola levou Daniel à busca por mais especialização. Sua dissertação de mestrado foi defendida em 2015 na PUC-SP, tratando dos limites e das possibilidades da gestão democráticas na escolas de Ensino Integral. O estudo, que contém um relato sobre o trabalho desenvolvido na E.E. Ayres de Brito, está disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da PUC-SP.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Parceria entre escola, família e sociedade desafia, mas é a chave para o desenvolvimento.

Anna Helena Altenfelder
ANNA HELENA ALTENFELDER Anna Helena Altenfelder é pedagoga, mestre e doutora em psicologia da educação e preside o conselho do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária). Já foi formadora de professores, autora de materiais de orientação, gerente de projetos e docente universitária  


"A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade". É o que o diz o artigo 205 da Constituição Federal , na abertura do belíssimo capítulo que trata da educação em nosso país. Além de nos lembrar que a educação é um direito social de todos os brasileiros, o texto afirma que ela deve ser promovida em parceria entre o Estado – materializado, entre outras, na instituição escolar – a família e a sociedade, com o objetivo de promover o "pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho", ainda conforme o texto de nossa lei maior. 

Trata-se de uma concepção de educação que abarca, mas vai muito além da instrução ou do domínio de conhecimentos científicos e técnicas em áreas específicas do conhecimento. Ela indica também a importância de se trabalhar habilidades e competências para o desenvolvimento integral. Ou seja, não basta ao estudante aprender português, matemática e ciências, é preciso conhecer a história e constituição social do país, sua diversidade regional, étnica e religiosa, entender sua organização política, seus direitos e deveres. Enfim, tudo o que é necessário para sua atuação na esfera pública como cidadão pleno, capaz de reconhecer e manejar saberes, práticas sociais e culturais de seu país. 

Diante desses objetivos da educação, fica a pergunta: o que caberia à escola, à família e à sociedade na garantia desse direito? De que forma essas instituições devem se complementar? As parcerias premiadas recentemente na 12ª edição do Prêmio Itaú-Unicef – iniciativa da Fundação Itaú Social e do UNICEF com coordenação técnica do CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – trazem alguns exemplos de como a sociedade pode colaborar com uma educação pública de qualidade. 

Em Major Sales (RN), o projeto "Circulando a Cultura na Escola", parceria entre a Associação Comunitária Sociocultural de Major Sales e a Escola Municipal Antônio José da Rocha, aposta na cultura popular como estratégia educativa. As diversas atividades desenvolvidas têm o intuito de promover e difundir as manifestações culturais tradicionais da comunidade. 

Já em Bragança (PA), 150 adolescentes são beneficiados pela parceria entre a Fundação Nossa Senhora do Rosário e a Escola Estadual de Ensino Fundamental do Rocha no projeto "Aluno Repórter – A Imprensa na Escola". Entre as ações desenvolvidas, profissionais de rádio e televisão ministram palestras e oficinas audiovisuais para todos os alunos participantes. 

Outra das parcerias premiadas, o "Projeto Olho Vivo", é fruto de parceria entre a Associação Experimental de Mídia Comunitária – Bem TV e a Escola Estadual Guilherme Briggs. Ela ajudou a formar crianças e adolescentes de Niterói (RJ) em comunicação e, assim, ampliar suas perspectivas para o futuro. A quarta iniciativa premiada, o projeto "Cultura, Esporte e Cidadania", de Criciúma (SC), realiza atividades que visam promover o exercício do protagonismo, da liberdade e da democracia com os alunos da Escola Estadual Padre Paulo Petruzzellis. 

Além dos exemplos citados, as mais de 1.650 iniciativas participantes desta edição do prêmio mostram como as organizações da sociedade civil podem atuar sem substituir o papel do Estado, mas numa perspectiva complementar à da escola. 

Família e escola 

A parceria entre família e escola, por sua vez, parece ser um debate ainda mais importante de se retomar diante de algumas iniciativas a que assistimos neste ano. A quem caberia, por exemplo, a discussão sobre temas como sexualidade, religião e política: à família ou a escola? 

Ainda que pareça fazer sentido que a chamada "educação moral" se dê no âmbito familiar, do ponto de vista pedagógico, é preciso lembrar que a diversidade de formas de vivenciar questões comportamentais constitutiva de nossa sociedade está presente no cotidiano de todos e também nas escolas. Ela se faz ainda mais presente nas escolas públicas, em que convivem filhos de pais com uma infinidade de arranjos familiares e, portanto, com vivências e formações diversas. 

Ao contrário do que apregoam os defensores do movimento Escola Sem Partido, com base no medo e na desinformação, a escola não pretende substituir o papel da família e nem ditar qual o padrão comportamental de seus alunos. Mas é também seu papel constitucional abordar essa realidade social e estimular o respeito e a tolerância para formar um cidadão ético. É disso que se trata, por exemplo, quando se pretende que a escola aborde questões de gênero e sexualidade: apresentar a diversidade e promover o respeito às diferenças como valores humanos. 

 É claro que a família pode e deve participar dessa discussão e existem mecanismo legais para isso: os conselhos municipais e estaduais de educação, da merenda e do Fundeb; os conselhos de escola; as associações de pais e mestres; os projetos políticos-pedagógicos participativos, entre outros. Todos ganham quando família e escola conseguem estabelecer um diálogo efetivo, quando os pais conhecem os currículos, quando professores e responsáveis atuam juntos para acompanhar e apoiar o desenvolvimento de todos os estudantes em suas dimensões cogniivas, físicas, afetivas, intelectuais, éticas e sociais. 

Não faltam exemplos de como o diálogo tende a ser mais efetivo do que a desconfiança ou a tentativa de judicialização. São justamente as escolas que se abriram à participação dos pais e da comunidade as que mais têm se destacado como exemplo de qualidade nas redes públicas de ensino do país. Sei que a construção de parcerias entre escolas, famílias e sociedade desafia, mas é também a chave para o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens. Por isso, gostaria de deixar aqui o meu apelo para que, em 2018, o diálogo possa a ser a tônica da relação entre diretores, professores, alunos, pais e a sociedade como um todo. 


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Desenvolvimento de habilidades socioemocionais é tão importante quanto ensino tradicional


Bruna Ribeiro
BRUNA RIBEIRO  é jornalista e especialista em Direito Internacional. Trabalhou em Veja São Paulo, no Estadão e no Jornal da Tarde. Escreve para o projeto Chega de Trabalho Infantil.
Direitos da criança e do adolescente

Na hora de escolher uma escola para os filhos, não é incomum encontrar pais preocupados com a colocação da instituição no ranking do Enem, assim como o desempenho nas tradicionais disciplinas, como português e matemática. Mas quem pensa na educação de forma mais ampla já ressalta a importância do desenvolvimento de habilidades socioemocionais entre as crianças.
Em constante transformação, o mundo de novas tecnologias levantou um debate a respeito das habilidades para o século XXI. A educação para a vida leva em conta o desenvolvimento integral das pessoas, pelos domínios cognitivo, intrapessoal e interpessoal. Saber se expressar, se relacionar, tomar decisões e ter autocontrole e empatia são inteligências prioritárias em um mundo que disponibiliza informação em apenas um clique.
O Programa Semente, criado pelos educadores Celso Lopes de Souza e Eduardo Calbucci, propõe às escolas um espaço para esse exercício. Elas recebem um livro com diversas atividades, utilizado em sala de aula pelo professor e pelos alunos. Após passarem pela formação do programa, educadores apresentam aulas semanais ou quinzenais, onde é incentivado o debate.
O projeto também investiu em uma plataforma digital e também pesquisa novas tecnologias, como gamificação, realidade virtual e aumentada. A convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas já está mudando a nossa forma de viver, inclusive propondo novas profissões.
Se muitos das futuras profissões de nossas crianças e adolescentes sequer ainda existem, como não mudar a forma de ensinar e aprender? Se características como criatividade e pensamento crítico vão pesar tanto quanto as competências técnicas, fica um alerta: é preciso rever a educação, dentro das expectativas do século XXI.

EXAME 50 Anos – A economia na visão de Eduardo Giannetti

André Lahóz Mendonça de Barros entrevista o economista Eduardo Giannetti, um dos pensadores mais respeitados do país

André Lahóz Mendonça de Barros, diretor editorial de EXAME, entrevista o economista Eduardo Giannetti, um dos pensadores mais respeitados do país. Giannetti analisa a trajetória no país nos últimos 50 anos dividindo-a em três períodos: o “milagre econômico” dos anos 70; a chamada década perdida, nos anos 80, marcada por inflação altíssima; e o período posterior ao Plano Real, de 1994. A entrevista é parte de uma série que comemora os 50 anos da revista EXAME.

https://exame.abril.com.br/videos/revista-exame/exame-50-anos-a-economia-na-visao-de-eduardo-giannetti/

No Brasil, se mantém diferencial de quem consegue concluir Ensino Superior

Escola da Vida - Antônio Gois

No Brasil, se mantém diferencial de quem consegue concluir Ensino Superior

Por outro lado, ao longo dos anos, caiu a diferença entre os terminaram apenas o Ensino Fundamental e os que terminaram só o Ensino Médio.



Nunca mais

claudia costin
Cláudia Costin
É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.


Em 1987, ao elaborarmos a nova Constituição, o espírito de época estava associado à expressão "nunca mais". Que nunca mais houvesse censura, as pessoas pudessem expressar livremente suas ideias, que amarras legais evitassem corrupção e clientelismo e que os mais pobres não fossem mais excluídos do acesso à saúde ou à educação.

O constituinte parece ter redigido a Carta olhando para trás. Houve avanços importantes, especialmente em direitos sociais, mas em alguns temas pensamos mais em evitar problemas passados e menos em construir o futuro, era mais importante garantir o combate à corrupção (que não ocorreu, pois a norma não aprisiona, só por ser editada, uma cultura prevalente) do que dotar a máquina pública de boas condições de prestação de serviços de qualidade.

Ao longo dos anos, a Constituição foi sendo emendada, para permitir pouco mais de flexibilidade e controle social sobre a Administração Pública, mas ainda temos uma máquina pouco azeitada e com enormes dificuldades para uma gestão eficiente. A corrupção, no entanto, parece ter se profissionalizado: quanto mais difícil a operação dados os entraves normativos, mais ela prospera.

Vivemos agora um risco parecido com o "Zeitgeist" de 1987. Preparamo-nos para uma nova eleição e parece que novamente olhamos para trás, para o "nunca mais". Nunca mais corrupção (como desde a campanha da "vassourinha" clamamos, sem perceber que os mesmos políticos que gritam contra a prática são os que mais a praticam), nunca mais fisiologismo ou acertos na calada da noite.
Sim, precisamos promover ética e transparência na política, mas isso é precondição, não realização de governo. É fundamental saber que políticas públicas cada candidato a cargo executivo ou legislativo propõe para o País.

No livro em que analisa sua campanha (inclusive seus erros), Hillary Clinton mostra como os debates eleitorais da época foram centrados sobretudo na discussão dos e-mails enviados de seu endereço eletrônico pessoal. O presidente eleito dos Estados Unidos praticamente não discutiu suas propostas de políticas públicas: o que pretendia fazer com a Educação ou que tipo de estratégia adotaria para diminuir a gritante desigualdade social do país.

No caso brasileiro, será decisivo saber o que pensam os candidatos sobre a urgência de melhorar a qualidade da educação brasileira, de garantir maior competitividade para a economia, apoiar a pesquisa aplicada, diminuir a desigualdade social (sem o que não haverá política de segurança pública sustentável) e, finalmente, permitir que entremos todos (sem exclusões) no século 21. Olhar para a frente, afinal temos um país a construir!

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Pais potentes lidando com o impossível

vera iaconelli
Vera Iaconelli
Psicanalista, fala sobre relações entre pais e filhos, as mudanças de costumes e as novas famílias do século 21

Quem passou o fim de ano na praia deve ter visto bebês que mal sabem andarseguirem hipnotizados pelo movimento do mar, como tartaruguinhas recém-nascidas. Deve ter visto também pais (pais/mães) se revezando incansáveis de olho nos pequenos. Confesso que poder ler, caminhar e conversar na praia é um alívio que só quem já tem filhos grandes pode apreciar totalmente. Ver os pais na lida com seus filhos pequenos me encanta tanto mais quando não sou eu que tenho que ficar o tempo todo na função. Já fiz essa parte. Então, desobrigada de olhar crianças, penso nos filhos crescidos e nas funções que me restam e que não são poucas, embora impliquem outros malabarismos.

Entendo que pais de jovens tenham que abster-se, ao mesmo tempo em que deixam o caminho livre para o diálogo com eles. Distância difícil de precisar, que implica estar ao alcance dos filhos, ao mesmo tempo que deixemos que façam suas escolhas e assumam as consequências dessas escolhas. Ditar regras, nessa altura do campeonato, pode sair pela culatra.

Os jovens querem provar que não são como seus pais e continuar ditando regras pode servir para os filhos como manual do que não fazer. Se os pais querem um filho médico, por exemplo, ele poderá prestar vestibular para medicina para agradá-los ou não prestar para desagradá-los. São desejos alienados ao desejo dos pais (fazer ou não fazer o que os adultos supostamente querem). A separação e o desejo singular aparecem quando a escolha deixa de se referida ao outro. Escolho ou não medicina, independentemente do que esperam de mim.

As regras de boa convivência entre pessoas que dividem espaço e orçamento comum ainda valem, é claro. Os filhos têm demorado a sair de casa e cada família terá que assumir os efeitos de suas escolhas. Se você quer (e pode?!) oferecer a seu filho um "flat" dentro de casa (suíte, TV, frigobar, serviço de limpeza, supermercado, lavanderia e trânsito livre para visitas íntimas), fica difícil imaginar que ele fique ávido por encarar a realidade que um salário de iniciante pode bancar (casa compartilhada, longe do centro, sem serviços). Para que estudar e trabalhar de 20 a 30 anos para chegar aonde já se está de saída? Quando eles percebem o caráter imobilizante dessa sedução familiar, costuma ser tarde demais.

A difícil e libertadora realidade é que já deixamos em nossos filhos as marcas de nossa aposta em sua formação. Não as marcas que escrupulosamente gostaríamos de ter deixado, mas aquelas que desconhecemos e insistimos em negar –marcas de nossa ambivalência, de nossas fantasias e também de nosso amor.

Freud dizia que as três tarefas impossíveis são governar, educar e psicanalisar. Embora sigamos tentando, são impossíveis porque esbarram na singularidade do governado, do aluno e do paciente, que fará o que quiser/puder com nossas pífias intenções de exercer um poder. Além disso, pouco sabemos sobre nossas reais intenções, na maioria inconscientes, e tampouco temos garantia sobre os resultados.

Resta-nos assumir os limites de nossa função parental, que esbarra em algo da ordem do impossível. A boa notícia é que ao assumir o impossível, podemos encontrar nossa real potência como pais e ajudar nossos filhos a encontrarem a sua. 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

‘Só o acesso à educação infantil não é suficiente', diz pesquisadora

Qualidade do ensino é fundamental para o desenvolvimento das crianças, defende pesquisadora de Harvard

Entrevista com Dana McCoy*

Estudo
Bom ensino tem reflexo na vida adulta, diz Dana

*É professora assistente da Escola de Graduação em Educação da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. É pós-doutora em Psicologia Aplicada, e seu trabalho visa a entender como as condições socioeconômicas afetam o desenvolvimento cognitivo e socioemocional na primeira infância. Além do cenário americano, sua pesquisa inclui contextos de outros países, como Brasil, Gana, Tanzânia e Zâmbia. 



Isabela Palhares, O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Pesquisadores de cinco universidades americanas acreditam que chegaram à resposta final para uma pergunta que há anos é debatida no meio acadêmico: educação infantil realmente funciona? Eles analisaram 22 estudos publicados entre 1960 e 2016, e concluíram que, sim, pode ser benéfica e seus impactos durarem por toda a vida escolar da criança. No entanto, o benefício depende da qualidade da educação ofertada. Dana McCoy, professora da Escola de Educação da Universidade Harvard, liderou a pesquisa que identificou que crianças com acesso à educação infantil de qualidade tiveram menos necessidade de reforço escolar, menor índice de repetência e mais chances de se formarem no ensino médio. Ela conversou com o Estado sobre esses desafios.
Quais os benefícios já comprovados da educação infantil? Uma educação infantil de qualidade permite que as crianças desenvolvam habilidades sociais, emocionais e cognitivas que as ajudam a ter mais sucesso na vida escolar. Um exemplo são projetos pedagógicos que trabalham foco e atenção para que elas convivam melhor com os colegas e controlem seus impulsos. São habilidades centrais para ter sucesso na vida adulta.
A escola desenvolve mais e melhor algumas habilidades do que em casa?
Em um cenário ideal, as crianças vão desenvolver habilidades em casa e na escola e esses dois ambientes vão se reforçar positivamente. Para famílias com severos problemas de adversidade, como violência e pobreza, promover um ambiente doméstico positivo pode ser difícil. Nesses casos, uma educação infantil de qualidade pode ter um papel de proteção, ajudando as crianças a desenvolverem habilidades para lidar com o estresse do ambiente familiar.
O que é preciso para garantir qualidade na educação infantil?
Há vários elementos centrais para uma educação infantil de qualidade. De um lado, as escolas devem assegurar que seu ambiente físico é seguro e envolvente para as crianças. É um requisito básico. Além disso, as escolas devem ter professores capazes de promover interações afetuosas e estimulantes com as crianças, que são centrais para seu aprendizado e desenvolvimento. Estudos já comprovaram que oferecer aos professores oportunidades de formação, salários adequados e práticas pedagógicas baseadas em evidência podem ajudá-los a ofertar essas interações na sala de aula. Menos alunos por professor também é importante para assegurar que cada criança receba a atenção individualizada que precisam.
Uma educação infantil de má qualidade pode trazer impactos negativos?
Não é suficiente só oferecer o acesso à educação infantil. A qualidade do ensino é absolutamente crítica.
A criança aprende a desenvolver diferentes formas de afeto quando vai para a creche?
Interações positivas entre crianças e adultos são absolutamente críticas para o desenvolvimento afetivo. Em geral, os pais exercem o papel primário de cuidado, mas as crianças se beneficiam muito quando os cuidados de acolhimento e carinho são oferecidos também por outros adultos, como professores, educadores, pais e outros membros da família. No Brasil, algumas escolas privadas oferecem períodos escolares de até 12 horas para crianças a partir dos seis meses, currículo bilíngue, atividades esportivas e artísticas.
É preciso cuidado com o excesso de estímulo?
Crianças pequenas estão constantemente aprendendo, mesmo com as interações mais básicas. Apesar de atividades estruturais serem benéficas, é importante que as crianças possam brincar livremente e explorar de forma independente ou com outras crianças da sua idade. É por meio da brincadeira livre que elas desenvolvem criatividade, aprendem como o mundo funciona e começam a estabelecer boas relações com seus pares.
Um grande desafio no Brasil é ainda o acesso à creche por famílias mais pobres. Os governos estão dando a devida importância para os investimentos na educação infantil?
Governos em todo o mundo estão enfrentando desafios similares com a expansão da educação infantil. Há um grande entusiasmo com programas de desenvolvimento da primeira infância, mas também o reconhecimento de que essas ações precisam de qualidade para ser bem sucedidas. Balancear acesso e qualidade é um desafio.
As conexões neurológicas desenvolvidas na primeira infância são preservadas ao longo da vida?
Evidências iniciais sugerem que a exposição a adversidades nos anos iniciais da vida tem um impacto negativo no cérebro décadas depois. Não vemos esses mesmos impactos quando eventos adversos acontecem mais tarde na vida. Isso sugere que a primeira infância é um período particularmente sensível para o desenvolvimento do cérebro e reforça a importância de protegermos as crianças de adversidades nesses primeiros anos.