quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Diretor aproxima pais da escola e melhora aprendizado

Daniel Quaresma, gestor de escola em São Paulo, afirma que o segredo é “não procurar culpados pelos problemas”

Todos Pela Educação
Um laço estreito entre as famílias e as escolas, com responsáveis engajados com a Educação de seus filhos, é uma das estratégias estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) na busca da universalização do Ensino Fundamental II. Apesar de ter avançado muito nesse sentido nos últimos anos, o Brasil ainda tem cerca de 430 mil crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos fora da escola. As circunstâncias são diversas, mas pesquisas mostram que a distância entre pais de alunos e equipe pedagógica pode ser superada por meio do diálogo e da gestão democrática.
Daniel Quaresma, diretor pedagógico da Escola Estadual Professor Ayres de Moura, acredita nisso. Ele trabalha na unidade desde 2013 e, quando assumiu a direção, encontrou uma escola distante das famílias e com alunos com baixa autoestima quanto à sua própria capacidade de aprender. “As famílias ouviam dos professores que os filhos eram ociosos e não aprendiam e, por causa disso, elas evitavam o contato com a escola”, explica o diretor da instituição localizada na Vila Jaguara, na zona oeste da capital paulista.
Com 24 anos de experiência na Educação, o diretor acredita que a proximidade dos pais com a escola é fundamental para a aprendizagem. Ele decidiu aceitar o desafio de atuar na EE Professor Ayres por acreditar na proposta de Ensino Integral. “Embarquei porque não era uma política de governo – com o risco de ser aplicada e interrompida. Era uma política de Estado”, afirma.
Plano de ação
Em uma de suas primeiras ações frente à unidade, em 2013, Daniel se reuniu com os professores para enfrentar as lacunas de aprendizagem. Duas frentes de atuação foram feitas para enfrentar os índices insatisfatórios: acompanhamento do desempenho e a conquista das famílias. A equipe pedagógica criou planilhas e gráficos das notas por turma para identificar o desempenho.  
Quanto às famílias, o educador apostou na convocação de assembléias participativas com as famílias de alunos de cada período a fim de discutir formas de melhorar a escola e procurar resolver os problemas encontrados. Na primeira reunião, houve cerca de 70 pessoas do período da manhã. “Nós [da equipe gestora] não ficamos querendo achar os culpados pela má aprendizagem dos alunos. Não atacamos as famílias, e sim procuramos debater o ensino no contexto da comunidade.”
Recebendo as reuniões de forma positiva, a própria comunidade divulgou a atividade. Segundo o diretor, mesmo que o efeito inicial no aprendizado tenha sido tímido, a segunda assembléia do período matutino foi mais disputada, com 280 participantes. “Os alunos perguntavam para nós porque tínhamos essa postura de diálogo. O objetivo era mostrar respeito e o significado da Educação para vida deles”, lembra Daniel.
Para o diretor, a escola deve cumprir o seu papel social, fazendo com que o conhecimento obtido dentro dela tenha aplicação fora da escola. “O pai tem que entender e mostrar para o filho que a matemática tem importância, por exemplo, na economia da casa. Os alunos podem também aplicar o conhecimento da língua portuguesa para compreender a música que ouvem”, exemplifica.
Desafios e resultados
Mas, de acordo com o diretor, essa parceria frutífera entre família e escola pode ser perder  se as sugestões dos pais não forem bem acolhidas e gerenciadas pela equipe pedagógica. Daniel aponta a necessidade de haver conhecimento prévio das necessidades da comunidade: “Os alunos devem ser preparados para participar e os professores precisam saber do que a comunidade escolar precisa. Eles devem entender o contexto da escola.”
Além disso, ele também enfatiza que o diretor precisa se responsabilizar pelo resultado pedagógico da escola. “A direção precisa trabalhar ombro-a-ombro com os professores e a comunidade para garantir que os alunos aprendam. Somos funcionários públicos e não estamos fazendo um favor à escola [com a iniciativa]; estamos trabalhando e devemos fazer o nosso trabalho bem feito”.
Aos poucos, os resultados da gestão começaram a aparecer: o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) da unidade, índice estadual semelhante ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), saiu de 2,29, em 2012, para 3,26, em 2016.
Em 2018, ao chegar ao 6° ano de gestão na unidade, o diretor identifica mudanças importantes no cenário da escola. “Não há mais depredação do patrimônio, porque os estudantes gostam do ambiente escolar. A quadra, por exemplo, é cheia de alunos jogando bola e já vi criança que não queria sair porque gostava das aulas. O nosso movimento é para criar uma cultura de participação pedagógica.”
A experiência na nova escola levou Daniel à busca por mais especialização. Sua dissertação de mestrado foi defendida em 2015 na PUC-SP, tratando dos limites e das possibilidades da gestão democráticas na escolas de Ensino Integral. O estudo, que contém um relato sobre o trabalho desenvolvido na E.E. Ayres de Brito, está disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da PUC-SP.

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