quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Alunos de áreas mais carentes são atendidos por professores com piores colocações em concursos


Escola da Vida - Antônio Gois


A conclusão é resultado de um estudo do pesquisador brasileiro Leonardo Rosa, da Universidade de Stanford. O levantamento mostra que os profissionais que ocupam as primeiras colocações nas seleções escolhem trabalhar perto de casa ou em áreas onde a população tem renda maior.

sábado, 26 de agosto de 2017

O Perfil dos professores do Ensino Básico no Brasil e o PNE

"É preciso reconhecer a necessidade de avançar em estudos mais detalhados para poder formular políticas públicas de Educação com foco nas condições de vida e trabalho dos educadores", afirma Milko Matijascic, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


Todos Pela Educação
Plano Nacional de Educação (PNE) foi aprovado em 2014. Caso sejam cumpridas as suas vinte metas, ocorrerá uma transformação decisiva para a melhoria no atendimento e, sobretudo, na qualidade da Educação brasileira. A avaliação conjunta de todas essas metas e respectivas estratégias é uma tarefa de grande porte que já vem sendo empreendida por instituições de peso como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Todos Pela Educação, a quem agradeço a concessão deste importante espaço para divulgar os esforços de pesquisa.
O presente artigo tem por objetivo sintetizar os principais resultados da pesquisa que focalizou as grandes regiões geográficas brasileiras e apresentou detalhes das situações de domicílio metropolitanas, urbanas não metropolitanas e rurais. Como a quantidade de informações é muito grande, nosso objetivo no presente contexto enfoca o Brasil segundo a situação de domicílio. Os resultados mais precisos e análises mais detalhadas podem ser encontrados no Texto para Discussão (TD) 2304 do IPEA.
O foco do TD 2304 do Ipea foi verificar as condições de vida, inserção no mercado de trabalho e a remuneração dos professores da Educação Básica a partir dos dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A opção pela Pnad teve por objetivo verificar as condições gerais para todos os professores do Brasil em temas que somente essa fonte ou o Censo Demográfico, já um tanto defasado, podem realizar. Mais importante: a Pnad serviu de opção para o próprio PNE para verificar a evolução dos salários dos professores, sendo possível também medir o seu nível de formação. Os resultados obtidos para o Brasil contam com indicadores importantes que devem estar na mira dos formuladores de políticas públicas, uma vez que o estudo abordou temas relativos às metas 1516 e, sobretudo, 17 do PNE.
Os resultados mostram que existe uma inserção preponderante de mulheres enquanto professoras, com uma maior participação das que são brancas. No entanto, homens e mulheres negros ganham mais importância nas regiões urbanas não metropolitanas e, sobretudo, nas rurais. Os professores possuem uma participação menor na condição de pessoa de referência no domicílio e também um menor número de filhos em relação aos demais ocupados. Além disso, a inserção de professores em domicílios com renda inferior à linha de pobreza (abaixo de meio salário mínimo per capita) ou de indigência (com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo) é bem menor que nas demais ocupações, mas pode atingir um total de 14,7% em áreas rurais ou de 4,4% nas urbanas. Ou seja: isso requer atenção para poder atingir as metas propostas pelo PNE.
Quando o tema é a posição na ocupação, os professores da Educação Básica são quase que exclusivamente assalariados, pois 99,1% deles estão nessa condição. Os dados também revelam que 94,1% deles contribuem para a previdência, o que é notável em relação aos demais trabalhadores onde esse patamar é inferior a 60%. Outra característica importante é que os professores da Educação Básica empregados pelo setor público federal representam um contingente marginal. Já as demais formas de emprego, ou seja, o setor público estadual ou municipal e o setor privado, contam com um número de empregados similar nas regiões metropolitanas. No entanto, nas áreas urbanas não metropolitanas e, principalmente, rurais, é o setor público municipal o principal empregador.
Mais de 10% dos professores de escolas públicas estaduais e municipais possuem mais de uma atividade docente, com uma incidência um pouco menor nas áreas rurais. Esses resultados representam o dobro do obtido nas demais ocupações. O número mais modesto para a iniciativa privada revela que a maioria professores que também atuam no setor público consideram ser este o seu emprego principal. Esses resultados também são válidos para mais de uma atividade, não se detendo apenas nas docentes, mas, nesse caso, os indicadores se aproximam de 20% para os professores de escolas estaduais, 15% nas municipais e oscila entre 10% e 20% nas privadas metropolitanas e urbanas não metropolitanas, respectivamente. Esses patamares são elevados e requerem atenção, pois a maioria das escolas com bom desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) contam com professores que possuem dedicação exclusiva a apenas uma escola.
A escolaridade dos professores é uma questão importante. Em escolas estaduais, cerca de 11% dos professores em áreas urbanas não possuem Ensino Superior. Nas escolas municipais, esse patamar oscila entre 16 e 21% e nas privadas, entre 25 e 28% para regiões metropolitanas e nas demais urbanas. Para as escolas rurais esse patamar é sempre superior a 30%. Fica claro, portanto, onde deve se concentrar o esforço para qualificar os professores.
O número de professores com Pós-graduação ainda é muito reduzido no Brasil e será um grande desafio atingir um contingente de 50% estabelecido pelo PNE para 2024, quando se encerra a sua vigência.
Em matéria de remuneração, os professores em áreas metropolitanas auferem salários maiores que os de outras áreas urbanas e estes, por sua vez, possuem remunerações bem superior à dos colegas nas áreas rurais. Professores empregados no serviço público recebem salários maiores que os da iniciativa privada. No âmbito do setor público, os professores federais recebem os salários mais elevados, ultrapassando, em muitas regiões, a média salarial para profissionais com nível superior. Os professores da rede estadual, por sua vez, recebem salários menores que os da esfera federal, mas superiores aos da municipal – sendo que os últimos concentram o maior número de docentes da Educação Básica no Brasil.
Por fim, é possível verificar que os professores com mais de uma ocupação recebem remunerações maiores em relação àqueles que possuem um único emprego. Quando os professores atuam em atividades secundárias não docentes, suas remunerações, não raro, são maiores nessa atividade. Isso poderia se explicar pelo fato de existirem professores que atuam no mercado de trabalho devido ao conhecimento profissional que possuem, ajudando a formar as gerações mais novas. Por outro lado, se a adoção de outra atividade visa apenas a complementação de renda, esse é um fator negativo, pois os professores deveriam receber bons salários que permitissem o sustento de sua família. Isso reforça a necessidade de elevação dos salários docentes com um meio eficaz para melhorar a qualidade da Educação, conforme preconiza o PNE.
Diante do exposto, é preciso reconhecer a necessidade de avançar em estudos mais detalhados, com bases de dados que atinjam os municípios e cada uma das escolas existentes, para poder formular políticas públicas de Educação com foco nas condições de vida e trabalho dos professores. Esse é um aspecto muito relevante para promover a retomada do desenvolvimento do País em bases sustentáveis.
*Milko Matijascic é técnico de Planejamento e Pesquisa pelo Ipea. Doutor em Economia pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas desde 2002 – e Bachelier en Sciences Économiques et Sociales pela Academia de Poitiers (França, 1983). Integra, desde 2008, o comitê Científico da AISS – Associação Internacional de Seguridade Social – e da Revista Internacional de Seguridade Social.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Afinal, dinheiro traz, ou não, felicidade?

Cuca Legal - Ricardo Teixeira

Pesquisa realizada nos EUA, na década de 1960 apontou que o padrão de vida material, seguido por uma vida familiar feliz e o estado de saúde pessoal e dos familiares podem refletir a tal felicidade.


http://download.sgr.globo.com/audios/encodeds/3/2017/08/23/114335_20170823.mp3

Como a Inteligência Artificial já está mudando salas de aula no Brasil e no mundo.

BBC
Paula Adamo Idoeta - @paulaidoeta - Da BBC Brasil em São Paulo 

Quando o estudante Anderson dos Santos Andrade, 16, faz o login na plataforma virtual da escola, tem diante de si seu plano de estudos: faltam seis vídeos de biologia para assistir e, depois, completar os exercícios online. Um dos questionários vem com a hashtag #cainaprova, então Anderson sabe que aquele conteúdo ajudará a garantir pontos na nota do bimestre. 

A interface mostra também que ele já completou - e acertou - as dez questões de funções trigonométricas da aula mais recente de matemática. 

Aluno do 2º ano do ensino médio do Centro Educacional Sesi 415, em Artur Alvim, zona leste de São Paulo, ele e seus 995 colegas de escola usam a plataforma virtual para fazer as atividades indicadas pelos professores, acompanhar o próprio desempenho em cada matéria e classificar os conteúdos pelo seu grau de dificuldade: de "tô de boa" a "não estou entendendo nada". 

À medida que Anderson completa as atividades, o sistema identifica, via algoritmos, o quanto ele entendeu de cada matéria - e indica quais aulas deve assistir para sanar suas dúvidas. 

Na outra ponta, os professores do Sesi 415 medem o aprendizado de cada aluno e cada turma, passam aulas complementares e fazem a correção automática dos exercícios. 

A experiência da escola paulistana é um exemplo de como a Inteligência Artificial pode ser aplicada na educação - uma tendência mundial ainda repleta de desafios e oportunidades. 

"Conforme os alunos usam a ferramenta, assistem às aulas e respondem as questões, recebemos os dados e os comparamos a modelos, para entender o que eles aprenderam e quais suas dificuldades", explica à BBC Brasil Leonardo Carvalho, cofundador da Geekie, empresa que é a provedora da plataforma usada pelo Sesi. 

Em uma aula de História do Brasil, por exemplo, o professor pode selecionar online as questões que quer desenvolver em classe; pede aos alunos que assistam aos vídeos para se prepararem para a aula e, depois dela, completem os exercícios também via internet. 

O professor e seus coordenadores recebem, depois, gráficos indicando o nível de entendimento da turma: qual porcentagem completou os exercícios corretamente e quais foram as principais falhas.

 "A Inteligência Artificial no fundo é um conjunto de ferramentas estatísticas que cria mais conhecimento quanto mais os alunos (a utilizarem)", prossegue Carvalho. 

"Em uma sala com 50 alunos, o professor não consegue ver (a dúvida exata) de cada um. O programa faz isso de modo escalonado." 

O Geekie fornece o sistema atualmente para 600 escolas privadas brasileiras, além da rede Sesi e para algumas escolas públicas, via patrocínio de empresas. A empresa também ofereceu, na rede pública, um game de simulado do Enem, para ajudar os alunos a identificar suas lacunas de aprendizado para o exame vestibular. 

"Para essa nova geração, que não tem a cultura da paciência, é útil ver seus resultados rapidamente e saber o que precisa corrigir (no aprendizado)", explica Ana Maria Machado Tonon, diretora do Sesi 415. 

"E para nós (professores) é um termômetro sobre o que precisa ser aprimorado ou corrigido no conteúdo, sobre quais alunos fizeram ou não os exercícios. Antes, a gente gastava muito tempo tentando identificar o que estava indo errado." 

Experimentos globais 

Ao redor do mundo, diferentes projetos estão aplicando a tecnologia e a Inteligência Artificial em busca de avanços no processo de aprendizado. 

Na Califórnia, a AltSchool também usa uma plataforma adaptada de ensino para cada aluno, que tem sua "playlist" de vídeos, textos e exames elaborada conforme suas preferências e suas deficiências de ensino. 

Na Índia, o programa Mindspark criou um banco de dados ao longo de dez anos, a partir de milhões de avaliações educacionais, para ajudar professores a identificar com precisão - em vez de pela intuição - quais são as necessidades dos alunos. 

E, no Reino Unido, a empresa Third Space Learning, em parceria com a Universidade College London, tenta melhorar o aprendizado da matemática com uma tutoria virtual adaptada para cada criança, com base na análise de milhares de horas de aulas prévias. 

De softwares inovadores a tablets, muito se tentou em termos de tecnologia em sala de aula, nem sempre com impactos significativos no aprendizado. Agora, com o avanço da Inteligência Artificial, é possível motivar alunos - sobretudo os que têm mais dificuldades - desde que as ferramentas não sirvam de muleta (ou seja, ensinem a criança a andar com as próprias pernas) e desde que não sejam usadas de modo aleatório, diz à BBC Brasil a professora Rose Luckin, que pesquisa o tema na College London e acompanha o Third Space Learning. 

"O mais importante é identificar bem qual o problema que a escola está tentando resolver com a tecnologia, e daí usar a Inteligência Artificial no que ela é útil e manter o (ensino) humano no que ele é útil", explica ela. 

Computadores, explica ela, são eficazes em analisar dados e identificar padrões - por exemplo, de erros e acertos dos alunos. "Mas não são bons, por exemplo, em entender emoções ou replicar o intelecto e o instinto de um bom professor." 

Essa acaba sendo uma questão crucial: segundo Luckin, o ideal é que a tecnologia não substitua o professor, mas sim ajude-o a aperfeiçoar e otimizar suas aulas. 

"Pode ser que no futuro haja pressão comercial para substituí-los, mas acho que esse caminho seria equivocado. O ideal é combinar interação humana à tecnológica (na sala de aula)."

 No Brasil, o Geekie explica que um dos desafios iniciais foi justamente convencer os professores de que a plataforma não tem a intenção de tomar o lugar do docente. 

"É para ajudar o professor e ser um facilitador do aprendizado, que é impossível de ser mecanizado", diz Leonardo Carvalho. "A ideia é dar mais ferramentas para auxiliar a parte que só o professor consegue fazer." 

Desafio: capacitar professores

Reside aí, então, o primeiro grande desafio da Inteligência Artificial na educação: a formação de bons professores, capazes de utilizar a tecnologia a seu favor para melhorar a sala de aula. 

"A tecnologia não dispensa o professor, mas ele deixa de ser o dono do saber e se torna um mediador", opina Aníbal dos Santos Peça, coordenador pedagógico do Sesi 415. "Seu papel passa a ser ensinar o aluno a ser um bom pesquisador." 

Esse pode ser um entrave significativo no Brasil, onde a formação de professores é tida por especialistas como excessivamente teórica e deficitária. 

E, em segundo lugar, existe o obstáculo da infraestrutura. O Sesi 415 só conseguiu usar plenamente as ferramentas de Inteligência Artificial no início do ano, quando a região de Artur Alvim, afastada do centro da cidade, finalmente recebeu rede de fibra ótica para internet rápida. 

"Há até pouco tempo, algumas de nossas escolas só tinham internet discada", diz Karina de Paula Vezzaro, analista técnico-educacional do Sesi em São Paulo. "Isso impacta muito. A internet no Brasil é cara e ruim." 

Segundo dados do Censo Educacional 2016 do Ministério da Educação tabulados pela plataforma QEdu, 68% das 183,3 mil escolas básicas do Brasil têm internet. A banda larga está disponível em 56% delas. 

"A má qualidade da internet móvel ainda é gritante. Mas pouco a pouco a tendência é que esses gargalos sejam superados", opina Ricardo Azambuja Silveira, professor associado do Departamento de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina e estudioso da Inteligência Artificial. 

Para ele, a tendência é de que a tecnologia ajude a democratizar o ensino, mesmo que seu uso seja mais sutil do que imaginemos. "Às vezes, são tecnologias um pouco invisíveis para usuários finais e que vão sendo incorporadas na rotina (da educação)", diz à BBC Brasil. "Há desde o ensino adaptativo (moldado para cada estudante) até sistemas capazes de recomendar sites confiáveis para estudantes de determinadas áreas. Os moocs (cursos abertos e gratuitos online) também começam a incorporar a análise dos dados de seus usuários (...) para identificar as deficiências dos alunos." 

Desafio da democratização 

Para Luckin, da Universidade College London, a democratização - ou não - do ensino com a tecnologia é a "pergunta de um milhão de dólares". 

"Acho que isso vai depender das escolhas feitas pelos humanos", diz ela. "Temos um deficit mundial de 69 milhões de professores, e a Inteligência Artificial pode ajudar nisso - não substituindo-os, mas provendo tutores e melhorando os professores existentes. Mas ainda temo que os (alunos) mais ricos consigam adquirir essa tecnologia antes e que isso aumente a distância (deles em relação aos mais pobres).

 Para Carvalho, do Geekie, um dos potenciais da tecnologia é permitir ao aluno não depender tanto da disponibilidade física do professor. "(O sistema) não é equivalente a ter um professor particular, mas emula esse professor a um custo mais baixo." 

É preciso levar em conta, também, os limites da tecnologia - a qual, pelo menos por enquanto, é pouco eficiente em avaliar nuances, como a inteligência emocional dos alunos ou sua capacidade de escrever uma redação. 

Tanto que, no Geekie, as redações dos simulados do Enem foram corrigidas manualmente por professores. 

"A parte de competências emocionais ainda é uma área inexplorada", explica Carvalho, que também almeja, no futuro, desenvolver sistemas capazes de integrar os diferentes campos de conhecimento do currículo escolar, em vez de apenas analisar os alunos de modo compartimentalizado - em matemática, português, física e assim por diante. 

À medida que crescem as possibilidades, será necessário aumentar, também, o discernimento de professores e agentes políticos, opina Rose Luckin. 

"A sala de aula mudará drasticamente, e todos precisarão aprender a lidar com isso", diz ela. "Professores terão que ser treinados para decidir quais produtos serão mais eficientes para suas necessidades, e políticos sem informação suficiente podem comprar tecnologias achando que elas resolverão determinados problemas, e talvez elas não resolvam." 

De volta ao Sesi 415, na zona leste de São Paulo, a tecnologia tem sido encarada como uma ferramenta para dar mais subsídios aos professores e mais protagonismo aos alunos. 

"Não é um remédio (para os problemas do ensino)", diz o coordenador Aníbal Peça. "Ela não soluciona tudo, mas dá velocidade às soluções."

Exemplo dos EUA mostra que só lidar com acesso à universidade não basta. Pela equidade, deve-se atuar desde a pré-escola

O buraco é mais embaixo

Hélio Schwartsman 
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.

SÃO PAULO - Nos últimos anos, o Brasil abraçou com gosto as políticas de ação afirmativa. Não sou um grande fã das cotas raciais em universidades, mas entendo os argumentos dos que as defendem. A educação superior é a principal via de ascensão social; como grupos mais discriminados já iniciam sua trajetória escolar em desvantagem, estabelecer uma regra de acesso à universidade igual para todos praticamente os condena à imobilidade.

Como somos neófitos nessa matéria, convém olhar para a experiência dos países que começaram antes de nós para aprimorar nosso sistema. "The New York Times" acaba de publicar balanço de 35 anos de ações afirmativas em universidades nos EUA. A principal conclusão é que, embora negros e hispânicos tenham ganhado terreno em instituições menos seletivas, as políticas não foram tão eficientes quando o universo considerado é o das 100 escolas de elite (públicas e privadas). Na verdade, nessas instituições, embora a proporção de negros e hispânicos tenha crescido, a sub-representação desses grupos em relação à população em idade universitária aumentou quando comparada aos anos 80. Os brancos e asiáticos, que já estavam super-representados em 1980, ficaram ainda mais.

Na elite da elite (as oito escolas da Ivy League), a proporção de brancos matriculados caiu e a de asiáticos disparou. E provavelmente teria disparado mais, não fossem ações afirmativas. Um grupo de alunos asiáticos está processando Harvard, acusando-a de discriminá-los para beneficiar membros de outras etnias.

A questão central, porém, é outra. Por que 35 anos de ações afirmativas não foram suficientes para produzir uma paisagem de equilíbrio? Para especialistas, a persistência da sub-representação indica que apenas lidar com o acesso à universidade não basta. Para realmente promover a equidade, é preciso atuar no nível da pré-escola e do ensino fundamental. 

A centralidade política da educação

Uma abordagem realista sugerirá que o caminho para mudar está nas mãos de poucos

PRISCILA CRUZ, OLAVO NOGUEIRA E GABRIEL CORREA*, O Estado de S.Paulo
25 Agosto 2017 | 03h00
A educação brasileira permanece vítima da lógica curto-prazista de governar. As decisões (ou a falta delas) se dão em sintonia com a eterna campanha em que vivem os políticos em seus mandatos de quatro anos – e o tempo de construção de medidas estruturantes se desencontra do tempo político-eleitoral. A pergunta que fica é: se as evidências já indicam com bastante clareza que educação pública de qualidade é condição necessária para permitir um futuro com mais crescimento econômico e melhor distribuição de renda, democracia fortalecida, mais segurança pública e menos homicídios, mais proteção à vida e à saúde e mais renda e emprego, por que raramente ela é prioridade dos governos?
Alguns dirão que o problema é a falta de valorização da educação pela sociedade. Não é, entretanto, o que dizem as pesquisas, tanto as de opinião quanto as acadêmicas. O professor de Economia da USP Renato Colistete mostrou em sua pesquisa de livre docência que a demanda das famílias por educação vem desde muito antes da República, pois elas tinham a certeza de que esse acesso promoveria um futuro melhor para seus filhos. Não gera surpresa, portanto, que vários políticos tentem passar publicamente a imagem de que são “pró-educação” – basta dar uma olhada rápida em seus perfis em redes sociais.
Não obstante, apesar da valorização por grande parte da população, sabemos que ela pouco se reflete em pressão nas urnas. É difícil para o eleitor perceber e avaliar melhoras na qualidade da educação, assim como associar fracassos ou sucessos educacionais aos gestores efetivamente responsáveis. Isso se dá em parte pela falta de parâmetros comparativos – muitos pais dos atuais estudantes brasileiros tiveram pouco acesso à escola – e também porque muitas políticas educacionais que podem de fato melhorar a aprendizagem dos alunos são pouco tangíveis – como a formação de professores –, fazendo com que pareçam menos urgentes se comparadas a outras políticas sociais. Essa situação acaba gerando desincentivos aos governantes: se o custo político de não mexer com a educação é baixo e o benefício de promover mudanças estruturantes não é garantia de frutos eleitorais, o ato de priorizar a educação fica dependente da tão rara visão estadista de um político.
Diante desse cenário, uma abordagem realista sugerirá que o caminho para a mudança está, ao menos no curto prazo, nas mãos de poucos: caberá a quem pensa o País e é ouvido, aos maiores influenciadores do debate público, aos formadores de opinião em diversas áreas e a todos aqueles que estão imbuídos da tarefa de mudar a trajetória histórica de crise após crise garantir que a educação seja prioridade na pauta dos governantes brasileiros.
Para tanto, é preciso que cada um desses atores ponha o tema em sua pauta de atuação, seja ela qual for – no meio acadêmico, empresarial, governamental, profissional. Esses grandes influenciadores do debate nacional têm papel central. A omissão dessa elite – não só econômica – nos custa muito caro. Cobrar benefícios apenas para seus setores, áreas e negócios é uma atitude míope. As empresas, os governos, as universidades, os trabalhadores, as famílias e, especialmente, as crianças e os jovens, todos ganham com a oferta de educação pública de qualidade.
É essencial que esses atores usem sua influência ativamente para conferir maior centralidade da educação no dia a dia dos políticos, pressionando-os vigorosa e incessantemente para a efetivação de medidas e atitudes que algumas experiências de sucesso em solo brasileiro, ainda que em quantidade pequena, já iluminam: exigir foco nas práticas validadas pelas pesquisas; dar continuidade e progressividade aos bons programas da gestão anterior; blindar a gestão central, regional e das escolas contra interferências político-partidárias; dar respaldo ao dirigente educacional mesmo quando medidas corretas são tidas como impopulares no começo; e cobrar obstinadamente a busca por melhores resultados.
Muitos desses formadores de opinião estão, inclusive, na mídia. Jornalistas e comunicadores podem aumentar o custo da má gestão ou do descaso com a educação por meio de uma cobertura mais crítica. Por outro lado, quem faz e demonstra resultados deve ser devidamente reconhecido, dando, assim, mais luz àqueles que promovem ações alicerçadas nas melhores práticas. Se, por um lado, nenhum político quer ser exposto publicamente como inimigo da educação, principalmente em épocas eleitorais, que incentivo há quando boas iniciativas são emplacadas sem que haja nenhum ou pouco reconhecimento público de tal esforço?
A causa da educação tem o potencial de unir pessoas de diferentes posicionamentos político-ideológicos, de diversas áreas, setores, regiões. Num país assolado pela corrupção, pela violência, pelo precário atendimento à saúde, pelo enfraquecimento da democracia e pelo acirramento da intolerância, temos o imperativo – moral, de justiça social e de estratégia de desenvolvimento humano e econômico – de superar o descaso histórico com a educação.
Com gestões municipais ainda em seu primeiro ano e com novos governos nacional e estaduais se aproximando, o momento é de educação já! Pois, se hoje temos abundância de diagnóstico, de evidências sobre práticas que trazem bons resultados e temos instrumentos institucionais para colocar a educação num patamar mais alto, a equação a ser resolvida é menos técnica e muito mais de centralidade política, de real compromisso com a escola pública. Essa, sim, é a escolha que nos permitirá, a médio prazo, sair da crise estruturante em que nos encontramos. Essa, sim, é a escolha que vai legar um país melhor para todos.
* PRISCILA CRUZ, OLAVO NOGUEIRA E GABRIEL CORREA SÃO, RESPECTIVAMENTE, MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PELA HARVARD KENNEDY SCHOOL, PRESIDENTE EXECUTIVA DO TODOS PELA EDUCAÇÃO; PÓS-GRADUADO EM GESTÃO PÚBLICA PELO CENTRO DE LIDERANÇA PÚBLICA E GERENTE DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO TODOS PELA EDUCAÇÃO; E MESTRE EM ECONOMIA (USP) E GERENTE DE PROJETOS DO TODOS PELA EDUCAÇÃO

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

DECIFRA-NOS OU TE DEVORAMOS


IMATURO, ENGAJADO, INGÊNUO, IDEALISTA. AS EMPRESAS PENAM PARA ENTENDER OS JOVENS, SEUS FUTUROS FUNCIONÁRIOS E CONSUMIDORES. UMA PESQUISA INÉDITA TENTA AJUDAR. E O PSICANALISTA PEDRO DE SANTI COMENTA


NAYARA FRAGA

Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota”, disse o escritor Nelson Rodrigues em uma entrevista, em 1969. Um conservador político de raiz, Nelson se referia à insensatez de rapazes e moças que, na ebulição dos anos 60, escreviam nas paredes que era “proibido proibir” mas incensavam Lenin e Fidel. “Jovens, envelheçam”, ele tripudiava também, com a voz pastosa e debochada. O olhar rabugento do dramaturgo é compreensível. Chegar à vida adulta sempre leva à conclusão de que antes, “na minha época”, tudo fazia mais sentido: as manifestações políticas eram mais inteligentes, as relações afetivas eram mais profundas, o consumo era menos desenfreado. Sensações falsas, sabemos. A novidade é que essas sensações, nos nossos tempos acelerados de redes sociais e de streaming até do lanchinho feito na padaria, causam ainda mais desorientação, em especial nas empresas. Ávidos para entender e seduzir esse novo consumidor/trabalhador, os executivos se perguntam: quem exatamente é o jovem atual?

Para tentar responder a essa questão, a agência de publicidade Talent Marcel fez uma pesquisa com mais de 500 jovens brasileiros, ouviu 21 especialistas no tema, de psicólogos a cientistas políticos, e produziu o documentário Mind the Gap – Desmistificando Nosso Olhar Sobre o Jovem. A resposta é que não há resposta. No ponto de vista da agência, o jovem continua o mesmo, um conservador, e não há por que se preocupar tanto em entender esse ser estranho. “O revolucionário, o rebelde que quer mudar o mundo, que é a imagem que vem à cabeça quando a gente pensa em jovem, representa só 1% do total”, diz a diretora de planejamento da Talent, Camila Massari. Deus e Jesus Cristo, por exemplo, ocupam o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, no top 10 de ídolos da moçada. Che Guevara? Mandela? Gandhi? Luther King? Esqueça. O recomendável, defende o documentário, seria que as empresas se concentrassem mais na forma (como e por quais canais o jovem se expressa hoje) do que no conteúdo (quem ele é).

Para os especialistas ouvidos no estudo, entretanto, o cenário não é tão simples. Segundo o psicanalista Pedro de Santi, cujos conselhos são frequentemente requisitados nas empresas que querem entender o mercado, achar que o jovem continua o mesmo de sempre é um erro. “Ele nunca é sempre novo e nunca é igual a ele mesmo”, diz. Quem é essa figura, afinal? Professor, líder de Humanidades e Direito da ESPM e autor de três livros sobre modernidade e consumo, nesta entrevista Santi ajuda a clarear o entendimento sobre a juventude. Uma dica antecipada ao adulto: você nunca vai entender completamente.


ÉPOCA NEGÓCIOS Os ídolos dos jovens brasileiros, segundo a pesquisa, são Deus, Jesus Cristo e Rihanna. Onde estão Gandhi, Mandela e Luther King?

Pedro de Santi Vivemos hoje em um mundo que funciona como uma máquina de produzir cínicos. Perdemos as referências simbólicas de autoridade. Todo mundo desautoriza todo mundo, um denuncia o outro e não há como saber o que é verdade ou não. Qual é o jornal que veicula informação consistente? Qual é o político correto? É difícil para todo mundo entender o que acontece agora. Para os jovens, então, que estão em um momento de formação, parece ainda mais complicado. A impressão é a de que tudo está nivelado por baixo. Compreensível, pois, que a reação a esse quadro seja conservadora ou vá na direção do célebre. O Ignácio de Loyola Brandão diz, no livro O Anônimo Célebre, que uma pessoa é famosa porque ela é famosa, assim como o livro se torna best-seller porque vende muito. É uma coisa circular e sem lastro. Para os jovens que responderam à pesquisa, de um lado, a religião aparece como lastro. Do outro, vem a celebridade, o reconhecimento social. No meio, o vazio: a falta de gente consistente que funcione como referência.

NEGÓCIOS Onde está o jovem revolucionário que habita o nosso imaginário?

Santi Todo mundo guarda na lembrança aquele adolescente que nasceu durante a Segunda Guerra Mundial. Era o jovem otimista que, nos anos 60, acreditava que a poesia ia mudar o mundo, que enfrentou exércitos e se posicionou contra regimes autoritários. Só que isso não bate muito com os anos 90 e 2000. As pesquisas mostram que o jovem de períodos recentes é conservador e tem dentro de si muito mais um sentimento de tédio e falta de tesão do que uma vontade de transformar o mundo. Um fator que contribui para isso é o acesso fácil às coisas: consumo, experiências, vida afetiva e sexual. Isso enfraquece o desejo. O jovem fica entediado.

A MAIOR DIFICULDADE DESSA GERAÇÃO MULTITELA NÃO É GOSTAR DE UM PROJETO, MAS RENUNCIAR AOS DEMAIS. O EXCESSO DE POSSIBILIDADES AFOGA

NEGÓCIOS O documentário feito a partir da pesquisa cita um patrão que se espanta com o trainee que não quer ser ele no futuro. Isso não significa que há um jovem mais idealista no ambiente de trabalho?

Santi Isso é ser eternamente adolescente. E adolescente é o jovem em um momento importante de negar o adulto, negar a autoridade. É aquele pensamento: “Eu não quero ser você. Você é um hipócrita. Eu sei que você não gosta do que faz”. Dizer não sistematicamente para o pai e para o patrão é uma etapa necessária mas insuficiente para se tornar adulto. Você começa dizendo não na tentativa de ser livre e de descobrir qual é a sua. Esse é o mesmo raciocínio do adolescente. Ok, estamos falando aqui de jovens adultos, mas eles estão retardados no processo de amadurecimento. Um sinal disso é que têm saído cada vez mais tarde de casa. Por quê? Cada casa é um condomínio, com academia, restaurante e roupa lavada. Ele vai largar isso? Claro que não. Assim, o dinheiro dele fica só para comprar ingresso do show do Paul McCartney. Ainda que haja essa “economia”, no entanto, está demorando cada vez mais para o jovem obter o padrão de vida que recebe dos pais. Então ele vai ficando...

NEGÓCIOS Muitos se movimentam hoje na direção do empreendedorismo, para criarem suas startup. Não seria um sinal de busca pela liberdade?

Santi É fato que tem surgido agora um jovem com mais vontade de empreender, e isso é importante. Mas precisamos perceber que há um lado negativo nesse desejo: ele não quer ter patrão. Isso é negativo, porque é uma ilusão. O jovem acha que não ter patrão é ser livre. Ele não sabe que patrão é o sujeito menos livre do planeta. Patrão não tem fim de semana, não tem noite, não tem salário garantido. Mas na cabeça do jovem é assim: “Em vez de receber ordens, eu vou dar ordens”. Ele quer ser cacique.


Jovens (Foto: )
ATRASO “O jovem atual acha que ser livre é não ter patrão”, diz o psicanalista Pedro de Santi. “Pura ilusão”

NEGÓCIOS Isso porque ele busca poder também?

Santi Porque há infantilidade mesmo. Lembra quando a gente tinha 18 anos e achava que quando ganhasse dinheiro ia ser só para comprar roupa, ir para a balada e viajar? A gente não sabia que ia pagar IPTU, IPVA, escola das crianças, asilo da vovó. Essa é a noção infantil e romântica da liberdade: imaginar que não haverá obrigações e deveres na condição de chefe. Ingenuidade. O mais próximo  que chegamos da liberdade é o “se vira, jovem, que as contas agora quem paga é você”.

NEGÓCIOS Diz o estudo que, patrão ou não, o jovem quer ser respeitado, enquanto a geração anterior tinha uma relação com o trabalho que se baseava no medo. Não é uma evolução?

Santi É o que o Pondé [o filósofo Luiz Felipe Pondé, também ouvido na pesquisa] diz: essa história de trabalhar com propósito é para quem é rico; para quem depende do trabalho, não tem essa, não. A gente vive décadas de patrão. Direitos trabalhistas conquistados no século 20, no mundo inteiro, não só no Brasil, estão regredindo. Então, todo mundo tem medo de perder o emprego. O jovem de classe média alta absorveu nas aulas da faculdade a ideia de que o bom é trabalhar com propósito: “Ah, eu quero trabalhar só para alguém cujos princípios batem com os meus”. Ok. Mas só pode se dar ao luxo da escolha um grupo bem restrito de jovens. E é esse indivíduo que chega ao trabalho e diz: “Eu estou aqui há um mês e não sou CEO ainda? Como assim, não me promoveram? Meu salário vai ser só isso mesmo?”.

NEGÓCIOS Por que ele se comporta dessa maneira?

Santi Porque os pais mimam, querem que o filho seja feliz. Só que a função dos pais não é fazer o filho feliz. É preparar o filho para viver sem eles. No entanto, o filho é paparicado com consumo, experiências, recursos. Se está a ponto de ser reprovado na escola, faz prova para entrar em outra e, de repente, consegue passar de ano, porque a escola tem medo de perder o cliente. Quando vira universitário, a faculdade faz o mesmo, pois também tem medo de perder o cliente. Assim, ninguém faz o trabalho de educador: nem o pai, nem a escola, nem a faculdade. O pai não quer perder o amor do filho e as escolas não querem perder o cliente. Isso significa que esse jovem chega aos 21 anos sem ter tomado “carcada” de ninguém. Trata-se, aliás, de um grande drama para as faculdades, que começam a receber o seguinte retorno das empresas que contratam seus estudantes para estágio ou trainee: “Escuta, que tipo de gente vocês estão educando aí? Bando de mimados”. O jovem entra no emprego, desaparece e nem avisa que não vai retornar. Volta para casa, mancando, e diz: “Papai, carcaram eu, disseram que fiz tudo errado”. Aí o pai pergunta: “Quanto você ganha mesmo?”. Como o filho recebe R$ 1,5 mil por mês, o mesmo valor da conta do almoço da família num restaurante fino de São Paulo, ele diz: “Fica em casa que eu te dou esse dinheiro, filho”.  

Jovens (Foto: )
Fonte: pesquisa \'mind the gap\'/talent marcel, com 500 jovens no Brasil entre 15 e 24 anos

NEGÓCIOS Como as empresas devem olhar para esse jovem?

Santi No caso do jovem funcionário, a empresa, sabendo dessa imaturidade, precisa criar condições progressivas de exposição à realidade. Não dá certo continuar mimando e também não dá certo fazer o sujeito cair na real de um dia para o outro. Jogar às feras de uma vez pode traumatizar. Os chefes podem introduzir responsabilidades progressivas no dia a dia, para trabalhar o amadurecimento e a autonomia do jovem. É algo que a família e a escola deveriam ter feito. Mas hoje o empregador acaba precisando assumir essa tarefa também. No caso do jovem na condição de consumidor, a empresa percebe que ele se torna consumidor cada vez mais cedo. Aliás, a sociedade incentiva que a criança tenha direito de escolha bem precocemente. Aos 4 anos, geralmente já exposta aos tais influenciadores digitais mirins – youtubers de 8 anos que tiram produtos das caixas e promovem suas qualidades –, ela já escolhe a roupa que quer usar. Não é preciso julgar negativamente. Para as empresas que vendem produtos, isso é bom. A reflexão deve ser de quem educa. É preciso haver uma educação para o consumo desde muito cedo.

NEGÓCIOS As empresas buscam empregados jovens mais maduros?

Santi Sim. Mais maduros, menos técnicos e com maior capacidade de aguentar o tranco. Falo da capacidade de levar bronca, levantar e aprender. É a capacidade de viver no mundo adulto. É isso que faz falta e tem sido valorizado. É a maturidade pessoal, emocional. Nesse sentido, tem havido um renascimento da valorização das matérias de humanidades. Não falo de saber as teorias de Max Weber e Pierre Bourdieu, grandes sociólogos. Falo de aprender a aprender.

AS EMPRESAS BUSCAM JOVENS FUNCIONÁRIOS MAIS MADUROS, MENOS TÉCNICOS E COM MAIOR CAPACIDADE DE AGUENTAR O TRANCO: DE CAIR, LEVANTAR E APRENDER"


NEGÓCIOS O documentário sugere que o jovem está meio perdido hoje em razão do fácil acesso a tudo. Como resolver isso?

Santi Esse é o grande drama da geração que cresce com iPad na mão. É a tal geração multitela, que alguns caem na tentação de associar com DDA (distúrbio de déficit de atenção). Não é nada disso. Trata-se de alguém que nasceu com várias telas à sua frente, do celular, do tablet, do computador. Qual é a grande dificuldade desse cara? Renunciar. O problema não é gostar de um projeto. É renunciar aos outros. O excesso de possibilidades o afoga. Realizar algo no tempo necessário requer muita capacidade de renúncia aos outros prazeres que o chamam. Por que eu vou levar um namoro a longo termo se eu tenho o Tinder e o Happn no meu telefone? Como o [filósofo e também entrevistado no estudo] Clóvis de Barros diz, é como se precisássemos de um “programa redutor de alternativas existenciais” para diminuir a angústia. Qual é a resposta do mercado para isso? Reduzir as opções de escolha. Veja quantos modelos de telefone tem a Apple. É só o iPhone.

NEGÓCIOS Ter opções de escolha demais faz, dessa maneira, o jovem ser menos livre do que ele acha que é?

Santi Para mim, que sou psicanalista, não somos livres em momento nenhum. Alguém que estuda ciências humanas não acredita quase nada em liberdade. Livre talvez se considerem aqueles que não pensam a respeito. Quem adora falar de liberdade é quem menos acredita nela: a publicidade. Mercadologia à parte, eu acho que nunca o jovem teve tanto acesso a tanta coisa. Isso não é exatamente liberdade. São portas de angústia. Mas é claro que é preferível ter mais acesso do que pouco acesso. A gente que aprenda a gerenciar essa massa de informações e opções que vem, sobretudo, via novas tecnologias.

Jovens (Foto: )
BRASIL Ranking de ídolos dos jovens do país começa com Deus (1º), Jesus (2º), Não tenho ídolo (3º) e Rihanna (4º)

NEGÓCIOS Também graças à tecnologia há jovens se reunindo em torno de causas, fazendo muito ativismo. Um bom sinal?

Santi Esses jovens compõem um grupo importante que se constituiu de 2000 para cá e que dá cara ao que chamamos de ativismo do século 21. São os coletivos de gênero, etnia etc. Eles têm voz importantíssima. Mas tudo é ambivalente. Os coletivos que dão voz a causas relacionadas a minorias são uma reação de individualismo também. Eles também são conservadores, portanto. É uma armadilha. É comum ouvir que homens não devem defender causas feministas porque isso tiraria o protagonismo das mulheres: “Só mulheres podem defender mulheres”. Leve isso ao extremo e vira cada um por si. O politicamente correto levado a ferro e fogo cria um universo de autistas. Ouvimos por aí: “Ah, a minha liberdade acaba quando começa a do outro”. Não. A gente é misturado. Eu não começo aqui e você começa lá. Estamos conversando, somos uma comunidade linguística. Meu espaço não acaba quando o seu começa. Estamos no mesmo espaço. A gente se esbarra, se toca, é tangente.

NEGÓCIOS Você é otimista ou pessimista em relação aos jovens?

Santi Cada geração acha que a seguinte é louca. Seu pai achou isso de você e você vai achar isso dos seus filhos. Você vai olhar para os seus valores, não vai reconhecê-los na geração seguinte e vai dizer: “São insensatos. No meu tempo era melhor”. A gente sempre tende a ter um olhar decadentista quando fala do presente. Analisamos os jovens sob o prisma da negatividade. Eu acho que eu sou ambivalente nessa análise. Vejo uma superficialidade na juventude, mas acredito que há potenciais que eu ainda não reconheço simplesmente porque sou velho. Ou seja, sou otimista porque não sou só pessimista. É que cada geração se constitui num certo ambiente simbólico. O que eu entendia como namoro quando eu era jovem não é o que a minha filha entende como namoro hoje. Quando eu, com os meus valores, olho para um código novo, ele me parece totalmente sem sentido. Parece que o mundo está acabando, que está tudo louco.

NEGÓCIOS A juventude atual é louca?

Santi Não. Eu é que me acho burro. Eu me acho ignorante. Eu não tenho o código. O problema é meu, não da geração. E eu não transfiro a minha ignorância para o jovem. O que um analista tem de fazer é igualzinho ao que o mercado tem de fazer: aprender a ouvir. Assim, não se acionam preconceitos. Isso vale para uma clínica de psicoterapia, para uma pesquisa de mercado ou para uma empresa. Não dá para achar que jovem é tudo igual e que o jovem de hoje é o mesmo de ontem. Quem fizer isso vai dançar. Adolescente nunca é sempre novo e nunca é sempre igual a ele mesmo. Haverá sempre uma tensão entre identidade e diferença. A sugestão é: suspenda o que você pensa que sabe e ouça de novo.

Em turmas com mais repetentes, alunos têm desempenho pior

Estudo com dados da Prova Brasil mostra que, em salas com estudantes atrasados, notas dos que estão na idade adequada são até 20 pontos mais baixas

http://veja.abril.com.br/educacao/em-turmas-com-mais-repetentes-alunos-tem-desempenho-pior/

Estudantes em turmas com grande proporção de repetentes tendem a ter desempenho pior, mostra levantamento feito pela consultoria IDados, com informações da Prova Brasil 2015. Segundo o relatório, nessas turmas, todos os alunos têm notas mais baixas – mas o impacto é mais sentido por aqueles que estão na idade adequada, que podem ter notas até 20 pontos menores.
Na análise das notas de escolas de ensino fundamental, a pesquisa mostrou que alunos na idade correta, no 5º ano, tiram em média 217,1 em matemática quando estão em uma turma com grande proporção de repetentes. Em turmas com poucos alunos atrasados, a nota é 235,5, diferença de 18 pontos, número bastante elevado de acordo com a escala do exame. A desvantagem é menor para alunos atrasados com pares também atrasados: a nota cai, em média, 7,6 pontos.
Estudo anterior, feito com dados 426 escolas municipais do país, já havia mostrado que turmas com baixos resultados na Prova Brasil tendem a ter uma parcela muito elevada de alunos repetentes: 31,8%. Classes de alto desempenho costumam apresentar, em média, até 12% de alunos atrasados.
“No Brasil a repetência nas escolas públicas é um fenômeno de massa, diferente do que ocorre em países desenvolvidos, em que o atraso é um evento raro e ocasional. Aqui, a proporção de alunos repetentes é tão elevada que forma um grupo grande dentro de sala de aula com incidência maior de dificuldades, o que acaba alterando o posicionamento de todos os alunos”, explica João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, organização não governamental que promove a alfabetização em redes públicas de ensino.

Baixo desempenho

Uma das principais razões para o baixo desempenho é que a reprovação, nas escolas públicas brasileiras, faz com que o aluno que não aprendeu e, por esse motivo, não passou de ano, reveja o mesmo conteúdo, com a mesma metodologia de ensino e cobrança da matéria. Ou seja, se o estudante não aprendeu, seja por falta de conhecimentos anteriores, seja porque está exposto a um ensino ruim, não terá alternativa para aprender de outra forma.
Sistemas de ensino avançados costumam lidar com a reprovação de outras maneiras. O atraso no ano escolar é decidido em conjunto com a família e, no ano seguinte, o estudante é submetido a programas de reforço ou outras opções para seguir com o aprendizado.
“No Brasil, a reprovação penaliza fortemente o estudante, mas, o sistema de ensino, em si, não sofre com isso. Somos muito bons em avaliar o nível de conhecimento do estudante, mas não sabemos o que fazer quando esse nível é baixo”, diz Oliveira.

Melhores notas

Estudos indicam que a melhor opção para lidar com a reprovação é evitá-la, promovendo um ensino de qualidade desde as séries iniciais. Nesse período, professores experientes e bem preparados para as disciplinas de língua portuguesa, matemática e ciências costumam evitar que os alunos repitam de ano ao longo da vida estudantil. Outros mecanismos que impedem as reprovações são o acompanhamento sistemático dos estudantes e a recuperação paralela, com o apoio do corpo docente.
“Paliativos, como a promoção automática, que não puxa as médias para baixo, mas também não tem eficiência para o aprendizado, não resolve o problema. Existem diversas soluções para o problema, testadas em escolas ao redor do mundo, para evitar que o aluno assuma a culpa, sozinho, pelos maus resultados”, diz Oliveira.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Educação para a igualdade

"Diante de seu caráter basilar, a Educação é o principal canal para a superação das diferentes desigualdades", afirmam André Lázaro, da Fundação Santillana, e Caio Callegari, do Todos Pela Educação


Todos Pela Educação

Ilustração Vilmar Oliveira
O desafio da igualdade é reconhecido como a questão central para a América Latina e o Caribe mesmo após a chamada década dourada, a primeira do século 21. Documentos recentes da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) (2010, 2012 e 2014) e do Banco Mundial (2014 e 2016) destacam que a redução da desigualdade constatada no período recente não foi suficiente para romper as condições estruturais que perpetuam desníveis no acesso a direitos, bens e serviços por parte de distintos segmentos da população latino-americana e caribenha. Uma questão relevante para os que atuam em favor de sociedades democráticas, justas e sustentáveis é perguntar: o que pode a Educação face às desigualdades?
Os documentos informam que os processos de produção, reprodução e manutenção das desigualdades são múltiplos. Desigualdade não é apenas diferença entre extremos na escala de renda. Para a base da pirâmide social significa também precariedades cotidianas, fragilidades frente às intempéries, vulnerabilidade às oscilações da formalidade no trabalho, acesso precário a terra, água tratada, saneamento básico, segurança e futuro. Em momento de crise na economia brasileira, é possível perceber a gama de vetores que deterioram as perspectivas de vida dos mais pobres. Não há, portanto, uma única desigualdade, mas múltiplas; desigualdades que recaem cumulativamente sobre determinados segmentos da sociedade.
O desenvolvimento educacional de um país ou de uma comunidade faz rodar os motores de ciclos virtuosos da redução de desigualdades
– André Lázaro e Caio Callegari
Uma sociedade que tem a igualdade como valor deve expressar esse conceito através de um conjunto de direitos, dos mais individuais e elementares – como o direito à vida – aos mais complexos e coletivos – como os direitos a ambientes saudáveis, moradia adequada, trabalho decente e remuneração justa. A igualdade de direitos pela mera condição de pertencer à sociedade é, portanto, o ponto de partida.
No entanto, ter direito não significa desfrutar daquelas condições previstas na legislação, nem ter acesso ao bem ou à garantia do serviço. A transição entre promessa e igualdade material enfrenta obstáculos distintos em função de variáveis como nível de renda, cor, gênero, território, região. Nenhum desses fatores depende de escolha ou empenho das pessoas, são matrizes hereditárias da desigualdade no Brasil e na região. É nesse sentido que é preciso formular políticas orientadas pela equidade e pela justiça social, com a perspectiva de concretizar uma equidade de direitos e oportunidades.
Os documentos da CEPAL definem a igualdade de direitos como o eixo central da agenda em torno do qual se estruturam outras dimensões. Fazem parte dos inúmeros recortes possíveis as dimensões econômicacultural, de gênero, étnico-racial territorial. Há ainda a perspectiva da igualdade de capacidades, também ela vinculada à igualdade de direitos, entendida como a possibilidade de dotar indivíduos e grupos de habilidades e conhecimentos para realizar projetos de vida que consideram valiosos.
As imbricadas relações entre essas dimensões demandam respostas complexas e intersetoriais, e há pouca clareza sobre qual caminho de mudanças concretas pode ser seguido. É nesse sentido, diante de seu caráter basilar e de seu alto impacto nas demais temáticas da sociedade, que a Educação figura como o principal canal para a construção da igualdade em suas múltiplas formas – ou para a superação das diferentes desigualdades. Essa eficiente relação entre Educação e igualdade será abordada nesta terça, 22/08, no Seminário “Em Busca da Equidade Educacional: Construção de uma Agenda Nacional Urgente”, que acontece das 9h às 13h, na Faculdade de Direito da USP – Sala dos Estudantes. O evento será gratuito e é uma realização do movimento Todos Pela Educação e da Fundação Santillana.
O desenvolvimento educacional de um país ou de uma comunidade faz rodar os motores de ciclos virtuosos da redução de desigualdades. A concretização do direito à Educação para os diferentes grupos da população engendra o avanço na igualdade de capacidades – cognitivas e não-cognitivas – e dele decorre maior igualdade de oportunidades de inclusão social; por exemplo, acesso à cultura, ao lazer, à saúde e ao mercado de trabalho. A equalização de oportunidades para os diferentes gêneros, raças e territórios tem o potencial de promover a igualdade econômica, por meio das condições regulares de remuneração e da emancipação financeira.
Mas não é qualquer Educação que apoia a superação das desigualdades. O próprio sistema educacional tem de ser profundamente equitativo para não reproduzir desigualdades, o que tragicamente não ocorre hoje no Brasil. Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que no 3º ano do Ensino Fundamental os estudantes mais ricos da rede pública têm taxa de aprendizado adequado em matemática 5 vezes maior que os estudantes mais pobres; no 5º ano, a taxa dos mais ricos é 9 vezes maior; e, no 9º ano, o desempenho entre os mais favorecidos alcança um valor 22 vezes superior ao dos mais vulneráveis. Nosso sistema, dessa forma, está ampliando o abismo social e nos afastando da igualdade de oportunidades.
Atualmente, a agenda educacional brasileira está estruturada no Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, o qual contém um conjunto de metas e estratégias que orientam políticas de universalização e equidade – como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O PNE representa, portanto, um guia para a edificação de um novo capítulo na Educação nacional, o capítulo da equidade.
É preciso avançar na concretização das metas e estratégias do PNE e, nesse sentido, é fundamental que a construção das políticas públicas esteja baseada em evidências sólidas e experiências exitosas de redução de desigualdades. Só assim a Educação poderá cumprir seu papel estruturante na promoção da igualdade no Brasil.
*André Lázaro é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e Diretor da Fundação Santillana.
*Caio Callegari é economista e Coordenador de Projetos no movimento Todos Pela Educação


Bibliografia
CEPAL: La hora de la igualdad (2010), Cambio estructural para la igualdad (2012) y Pactos para la igualdad (2014), sintetizados em BÁRCENA, Alicia. El imperativo de la igualdad: Por un desarrollo sostenible en América Latina y el Caribe // Alicia Bárcena y Antonio Prado.- 1ª ed.- Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2016..
DE LA TORRE, Augusto; YEYATI, Eduardo Levy; BEYLIS, Guillermo; DIDIER, Tatiana; CASTELAN, Carlos Rodriguez; SCHMUKLER, Sergio. 2014. Informe Semestral – Oficina del Economista Jefe Regional, Octubre 2014: Desigualdad en una América Latina con Menor Crecimiento. Washington, DC: Banco Mundial. BANCO MUNDIALBrasil retomando o caminho: para a inclusão,o crescimento e a sustentabilidade. junho, 2016.
BÁRCENA, Alicia. El imperativo de la igualdad: Por un desarrollo sostenible en América Latina y el Caribe // AliciaBárcena y Antonio Prado.- 1ª ed.- Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2016. 248 p

domingo, 20 de agosto de 2017

O pioneiro da ‘sala de aula invertida’

Professor da Universidade do Colorado, Jonathan Bergmann defende método de ensino no qual alunos estudam conteúdo antes das aulas e apenas aprofundem tema e tirem dúvidas com os professores

Entrevista com

Jonathan Bergman, professor da Universidade do Colorado

Isabela Palhares, O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Antes de chegar à escola, os alunos já sabem e estudaram o conteúdo que vai ser abordado em sala de aula. Com o professor, a ideia é que eles aprofundem o tema, tirem dúvidas e façam exercícios. Esse é o princípio da Flipped Classroom – ou sala de aula invertida –, metodologia que propõe uma mudança na forma de ensinar e já é adotada em algumas universidades nos Estados Unidos.
É o caso de Harvard – na Medical School e no curso de Matemática – e da University of British Columbia. Um dos pioneiros no uso da sala de aula invertida, Jonathan Bergmann, professor da Universidade do Colorado, vem ao País no fim do mês e disse ao Estado que a metodologia pode ser usada desde o ensino fundamental até o superior.
Por que o senhor decidiu mudar a forma de dar aula?
Comecei a trabalhar com o Flipped Classroom entre 2006 e 2007. A ideia surgiu quando a filha de um amigo, que havia acabado de entrar na faculdade, disse adorar o fato de não ter obrigatoriedade de frequentar as aulas, de ter liberdade para estudar muita coisa sozinha e, com isso, desenvolver uma relação melhor com os professores. 
Por que o senhor acredita que esse método funciona melhor do que o tradicional?
Estimula a aprendizagem ativa. O professor grava o conteúdo principal da aula em vídeo e os estudantes o assistem antes de chegarem à aula. Quando estão em sala, só vão aprofundar o conhecimento de acordo com o seu nível de curiosidade e o que aprenderam com o vídeo. Cada um vai no seu ritmo. Outro motivo é que aumenta e melhora a qualidade da relação dos professores com os estudantes porque eles interagem muito mais. 
O que o professor precisa saber antes de dar uma aula usando esse método?
Esses alunos, essa geração de estudantes, já têm muito acesso à informação por internet, Google, YouTube, mas precisa dessa ajuda e guia do professor para processar os dados que vão contribuir mais para o seu aprendizado. Os alunos não vão procurar sozinhos a informação antes de ir para a aula. O professor é o curador dessa informação e depois ele vai aprofundar em sala.
Há espaço para esse tipo de metodologia em um país como o Brasil?
Tem muito interesse de professores e gestores. Mas ainda há muitos desafios, especialmente em um país como o Brasil, onde há muitas regiões em que os alunos não têm acesso à internet.