domingo, 30 de abril de 2017

Valores éticos são a gramática da convivência, diz Eduardo Giannetti

WALTER PORTO
DE SÃO PAULO

Você já deve ter ouvido, mesmo que à boca miúda: se alguém tem uma conduta reprovável, é porque não aprendeu bons valores em casa.
Ética, respeito e honestidade são qualidades enaltecidas e alvo de preocupação de pais e escolas, mas desvios são tão frequentes que levam à pergunta: é possível ensinar princípios a outra pessoa?

O economista e ensaísta Eduardo Giannetti compara a assimilação de valores ao aprendizado da linguagem. É difícil dizer quem nos ensinou a falar, mas ninguém nasceu sabendo e todos aprenderam.

"Valores éticos são uma espécie de gramática da convivência. Sem a gramática, não há língua, do mesmo modo como a virtude dá o estilo do convívio", diz Giannetti.

Ele lembra o diálogo entre Platão e Protágoras, no qual esse último argumenta que a consciência e a noção de justiça são traços conquistados a duras penas pela humanidade, que devem ser reaprendidos a cada geração; o ensino começa no colo das mães, passa pela escola e continua por toda a vida em comunidade, com a ajuda da punição dos transgressores.

O educador Mario Sergio Cortella aponta a exemplaridade como melhor maneira de ensinar ética. "É claro que valores podem ser transmitidos pelos pais, mas não com a automaticidade que alguns desejam. Até porque parte da força de uma nova geração vem da oposição à anterior."

Giannetti afirma que a adesão às normas depende de internalização: é preciso entender por si mesmo que a regra é importante para a vida em sociedade, e não ser coagido por castigos ou vergonha.

"Passa por uma educação formal, que ajude a entender a existência de normas não para tolher pessoas, mas permitir que compartilhem o espaço de forma harmoniosa."

Luciene Tognetta, da Unesp, coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, que reúne membros de várias universidades atentos ao ensino da ética nas escolas. Pesquisa do grupo analisou projetos de educação moral de 1.100 escolas públicas e considerou só 2% completos, já que a maioria se resumia em preleções verbais, tarefas e iniciativas isoladas de professores.

No aconselhamento que o grupo promove em colégios, a instrução é criar um ambiente que estimule a autonomia e a autorregulação. "O professor deve dar às crianças condições de resolver problemas pela conversa, deixar que, num conflito, saiam de seu ponto de vista e percebam o do outro. Só assim se desenvolve a autonomia do dever moral", diz a professora.

O colégio Bandeirantes, de São Paulo, dá curso de formação em ética para professores e funcionários e, nas salas de aula, mantém a disciplina Convivência em Processo de Grupo, que ocupa uma hora por semana do sexto ano ao fim do ensino médio, apresentando dilemas morais.

"A ideia é, sem mencionar a palavra ética ou moral, permitir que problemas relacionados apareçam naturalmente", diz a coordenadora, Maria Estela Zanini.

Também para Giselle Magnossão, diretora do Albert Sabin, o ambiente é mais importante do que a aula expositiva para o estímulo da ética. No currículo, há momentos em que alunos são convidados a sustentar posições. "Não é preleção sobre respeito, mas um debate em que o aluno reflete e argumenta."
É
 possível expandir para toda a comunidade a noção de que o ambiente é peça-chave na formação da moral.

Mesmo rechaçando a máxima de que o homem é produto do meio, Cortella diz que a conduta resulta em boa parte do sistema de valores vigente, a que a pessoa adere "para não se sentir excluída".

Microcosmos como o trânsito oferecem tubos de ensaio, afirma Giannetti. "Se você pegar um motorista carioca e levar a Zurique, em pouco tempo ele estará dirigindo como o suíço, e vice-versa".

Mas o contrato social que rege a vida é mais quebradiço do que se pensa. Na Nova York de 1977, bastou um apagão de pouco mais de 24 horas, entre 13 e 14 de julho, para haver explosão no número de crimes: 1.600 lojas danificadas e mil incêndios foram reportados, levando a mais de 3.000 detenções.

Não é preciso ir tão longe em tempo e espaço: todo brasileiro deve se lembrar da greve de policiais militares no Espírito Santo, em fevereiro, que deixou 198 mortos em três semanas.

"Mesmo em sociedades avançadas, quando há o colapso da dimensão da submissão, rapidamente descamba-se para uma situação de guerra de todos contra todos", afirma Giannetti. "E você percebe como é frágil esse acordo da ética cívica."


Um mundo de tulipas e de espinhos 1

COLUNISTA

Leandro Karnal


Se os holandeses tivessem vencido em Guararapes, seríamos um país desenvolvido?

Estou na Holanda, quase voltando ao Brasil. Ao passear por ruas limpas, canteiros de tulipas no Keukenhof, clima ameno de primavera, arquivos e bibliotecas organizados, vem ao cérebro de um brasileiro a ideia de como a história batava resultou no que contemplo e, quase por antítese, como a história brasileira nos conduziu até aqui. 
É um tema que apaixonava pessoas no passado: explicar as diferenças nacionais e sociais e, principalmente, o motivo de um “atraso” brasileiro. O devir nacional, como tema da História, tratava do nosso “atraso” comparativo. O problema do subdesenvolvimento deu lugar ao da desigualdade. Este, rapidamente, cedeu terreno às discussões sobre nossa corrupção aparentemente genética.
Para entender por que éramos subdesenvolvidos, invocamos, no passado, questões raciais. Foi assim no século 19 e no início do 20 (e talvez até hoje no inconsciente social). Sílvio Romero, por exemplo, esperava pouco de um país que teria misturado o pior de tudo na sua mentalidade: portugueses, africanos e indígenas. Determinações racistas já foram defendidas em livros e universidades. Um efeito colateral desse viés é pensar: e se os holandeses tivessem vencido em Guararapes, seríamos um país desenvolvido? Bem, a colônia holandesa da Indonésia seria uma boa resposta. 
Determinismos geográficos e climáticos também já foram hipótese. O Brasil é tropical: sol e calor, impeditivos da disciplina do trabalho. O frio estimularia a poupança e o pensamento estratégico. Se eu não guardar alimentos, estocar conservas ou lenha, morrerei. Rigores climáticos seriam aliados de desenvolvimento. Num país tropical, como o em que eu moro, “abençoado por Deus e bonito por natureza”, eu seria feliz sempre, rico nunca. Se isso fosse correto, economias mediterrâneas, a Austrália e a Califórnia seriam terras paupérrimas.
No cadinho dos preconceitos, já colocamos raça e clima. Falta o toque supremo, a explicação de cunho histórico: a colonização portuguesa. Catolicismo, aversão ao mundo do trabalho árduo, visão estatista do mundo, rejeição do pensamento crítico e racional: tudo isso veio no pacote lusitano. Como ser uma potência se nosso progenitor, Portugal, não o é? O que geraria um país pequeno e pobre da Europa? Um país grande e pobre na América. Essa explicação omite muito: Portugal foi uma potência nos séculos 15 e 16; o Brasil está longe de ser pobre... 
Quase toda discussão em torno do tema desenvolvimento pátrio e suas inviabilidades termina com uma tautologia: “Isso é o Brasil”! Assim sendo, pelo destino, pela natureza, pela história e pelas pessoas, somos, como no filme de Sérgio Bianchi: cronicamente inviáveis. Nossa sociedade repetiria, incessantemente, o mantra inevitável de desordem, caos, ineficácia, corrupção, atrasos, caráter predatório dos agentes econômicos e um estatismo gigantesco. O Brasil sempre seria o Brasil e todo Mauá fracassaria aqui, porque o empreendedorismo encontraria, na zona tupiniquim, seu túmulo perfeito. 
No contexto do quarto centenário de São Paulo, meu conterrâneo, Vianna Moog, pensou na comparação entre os bandeirantes do Brasil e os pioneiros dos EUA. Seu raciocínio passa pelas considerações geográficas e inclui a questão do calvinismo. O enfoque weberiano associa ao sucesso econômico a religião do trabalho, da condenação do ócio e da predestinação. Não existe país calvinista pobre. Em passagem interessante, Moog firma que, optando por fazer uma refeição pesada na metade do dia de trabalho, nosso almoço, escolhemos sabotar o restante do dia. Americanos comem mais no café da manhã e no jantar e consomem algo leve para o meio do dia. Menos lido hoje, o livro Bandeirantes e Pioneiros ainda traz questões pouco trabalhadas. 
A partir da influência de pensadores marxistas como Caio Prado Jr., a economia de um sistema colonial e de uma elite predatória e pouco adepta de um verdadeiro projeto nacional seria o vetor que nos acorrentava ao subdesenvolvimento. Eliminado o modelo de exportação de produtos de baixo valor agregado e instituída nova elite que pensasse o Brasil, teríamos um futuro brilhante. Esse pensamento está na base do nacional-desenvolvimentismo e de muitos projetos revolucionários surgidos ao longo da história recente. Geralmente, os projetos ligados ao pensamento conservador idealizam o passado: tudo era melhor antes, todos eram mais respeitosos, precisamos restaurar aquele amor ao país que existia outrora. Em contrapartida, a esquerda idealiza o futuro: tudo será bom se eliminar o ponto X ou Y e substituirmos essa prática por outra. O paraíso pretérito ou futuro é um divisor de águas no pensamento brasileiro.
O tema merece mais análise, claro. Interrompo aqui (voltarei depois) com um questionamento de um português muito culto. Quando pensávamos uma exposição em Portugal, uma parte do grupo repetia o mantra: somos pobres por causa de Portugal. O ilustrado lusitano ouviu muito os meus colegas e, após algumas reuniões, soltou essa: “Sim, a colonização é sempre predatória; vocês estão independentes há quase 200 anos. Não daria para ter feito algo?”. Os críticos ficaram em silêncio. A história como esconderijo é uma zona confortável. Bom domingo a todos vocês. 

Garotas sedentárias. Estudo apresentado pela Universidade de Bristol revela que já aos 9 anos duas em cada três meninas abandonam a atividade física diária

COLUNISTA

Jairo Bouer


Por que as garotas adolescentes são mais sedentárias que os garotos? Quando essa diferença de comportamento começa a aparecer? Novo estudo revela que já aos 9 anos duas em cada três meninas abandonam a atividade física diária, enquanto entre os meninos um em cada três está inativo.
O trabalho da Universidade de Bristol, no Reino Unido, financiado pela Fundação Britânica do Coração, avaliou 1.300 crianças aos 6 e aos 9 anos. Nesse intervalo de tempo, as meninas aumentaram em 23% seu tempo de vida sedentária. Aos 9, o número de garotas que fazia uma hora de atividade física diária era a metade do número dos meninos.
Para os especialistas, à medida que as garotas crescem, elas passam a se sentir menos confortáveis com seu corpo e aparência e menos confiantes em praticar uma atividade física. Os esportes coletivos, por exemplo, se tornam mais populares entre os garotos, o que afasta muitas meninas dessa importante forma de socialização. Os resultados foram publicados no periódico Journal of Behavioural Nutrition and Physical Activity e divulgados pelo jornal Daily Mail.
Quais seriam as saídas? Para os pesquisadores, na escola, seria importante pensar a atividade física de uma forma mais lúdica e prazerosa e, por tabela, menos competitiva, o que poderia atrair mais a população feminina para sua prática. No fim de semana, os pais também teriam de se esforçar ainda mais para convencer as filhas a deixar o sofá e as convidativas “telas” da tecnologia para passar mais tempo se mexendo fora de casa. 
Diabete tipo 2. Crianças menos ativas têm maior risco de desenvolver sobrepeso e obesidade, que são a origem do aumento do número de casos de doenças metabólicas que vem sendo detectado nessa faixa de idade, em todo mundo ocidental. Novo levantamento do King’s College London mostra que, nos últimos 20 anos, o número de crianças com diabete tipo 2 aumentou cinco vezes no Reino Unido. Além dos casos diagnosticados na infância, uma criança obesa tem, também, quatro vezes mais chance de desenvolver essa condição no início da vida adulta.
Nesse tipo de diabete, a insulina produzida pelo pâncreas enfrenta maior resistência em facilitar a entrada da glicose nas células. Os pesquisadores analisaram dados de 370 mil crianças entre 2 e 15 anos de idade e publicaram os resultados no Journal of the Endocrine Society. 
Obesidade e morte. Na mesma semana, outro estudo, da Cleveland Clinic e da New York University School of Medicine, nos EUA, apontou que obesidade é hoje a principal causa de mortes prematuras naquele país. Foram avaliados dados de 2014 que mostraram que a obesidade foi responsável por 47% mais anos de vida perdidos do que o cigarro ou a pressão elevada.
Os especialistas afirmam que as campanhas contra o cigarro fizeram com que esse fator de risco tivesse hoje um peso menor nas causas de morte precoce. Para eles, seria urgente seguir o mesmo tipo de abordagem com a obesidade. Para isso, seria essencial alterar o estilo de vida de parte da população, com mudanças no peso, atividade física e alimentação saudável.
Brasil. No País, dados do Vigitel 2016 (Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco por Inquérito Telefônico), divulgados no início de abril, sinalizam que quase 20% da população está obesa e metade do País está acima do peso. Nos últimos dez anos, a obesidade saltou de 11,8% para 18,9%, enquanto o sobrepeso passou de 42,6% para 53,8%. 
Bom lembrar que há dois anos o Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte) já revelava que quase a metade da população brasileira de 14 a 75 anos estava sedentária. As mulheres e as pessoas mais velhas eram as que menos se movimentavam, principalmente nas regiões mais urbanizadas. Entre os jovens de 15 a 19 anos, um terço “não se mexia”. Como se vê, por aqui, os problemas são bem parecidos! 

sábado, 29 de abril de 2017

Sobrepeso e magreza podem ser sinais de desnutrição infantil


ANANDA PORTELA* - O ESTADO DE S.PAULO


A desnutrição nada mais é do que a ingestão incorreta de nutrientes importantes que colaboram no desenvolvimento intelectual e corporal de uma criança. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), 7% das crianças brasileiras menores de cinco anos apresentam desnutrição, enquanto 4,1% das crianças de cinco a nove anos sofrem do mesmo problema. Quanto ao excesso de peso, um terço das crianças de cinco a nove anos sofrem com o problema.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o excesso de peso - e não só a magreza - também é sinal de desnutrição. “Primeiro, temos que desmistificar que quando a criança é ‘fortinha’, ‘fofinha’, é bem nutrida. Tanto o sobrepeso quanto a magreza são sinais de que a criança pode estar desnutrida”, afirma Joanna Lima, nutricionista da Nova Nutrii, especializada em nutrição clínica.
O desmame precoce, uma dieta carente em proteínas, vitaminas e minerais e a higiene precária dos alimentos são as principais causas da desnutrição. A manutenção dessas atitudes pode provocar problemas graves ao longo da vida de uma pessoa, como comprometimento do desenvolvimento físico e mental, dificuldade na calcificação dos ossos e deficiência na aprendizagem, por exemplo. No entanto, esses problemas podem ser combatidos no início da vida com um ingrediente muito importante: o leite materno.
Nos seis primeiros meses de vida do bebê, os médicos indicam apenas o leite materno como fonte exclusiva de nutrientes essenciais ao crescimento. “A amamentação é fundamental para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança. A composição do leite materno é capaz de fornecer todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento do bebê”, explica a nutricionista Aricia Motta, membro da Academia Brasileira de Saúde.
Os hábitos alimentares adquiridos na infância são determinantes para a definição da alimentação na vida adulta. “A escolha dos alimentos, a frequência das refeições, a quantidade consumida, o modo de preparo e a higiene dedicada nesse processo são fundamentais”, completa Joanna Lima. Para que as crianças cresçam de maneira saudável, os alimentos coloridos e saudáveis são a melhor opção, além da introdução de pequenos lanches ao longo do dia. 
Confira cinco dicas abaixo para melhorar a alimentação das crianças:
Respeite o apetite da criança
Nos primeiros anos de vida, a criança possui uma capacidade maior de percepção da saciedade, por conta do leite materno, que estimula o desenvolvimento desse controle psicológico. Por isso, respeite o intervalo entre as refeições, pois o volume de comida ingerido depende do período que a criança passar sem se alimentar. Se por um acaso ela estiver doente, estimule a alimentação! Opte por alimentos saudáveis, mas que sejam mais facilmente aceitos pelos pequenos. “Fazer com que a criança participe do processo da montagem do prato, colocar o arroz nas forminhas, realizar o dia da cozinha em casa, mostrar que a alimentação natural é prazerosa", afirma a nutricionista Joanna Lima
Mantenha boas práticas de higienização
A higiene é extremamente importante no manuseio, preparo e armazenamento dos alimentos, tanto durante a lavagem e o cozimento correto dos ingredientes, como também na higienização dos utensílios utilizados durante os processos.  
Estimule a alimentação, mas com cuidado!
É importante lembrar que as crianças e os adultos têm ritmos muito diferentes, e que acelerar a refeição dos mais novos é muito prejudicial. A nutricionista Aricia Motta indica que os pais devem esperar a criança prestar atenção a cada colherada do alimento oferecido, deixem que ela toque o alimento e, principalmente, o prato e a colher. É muito importante que os pequenos reconheçam os alimentos consumidos
Combine carboidratos, proteínas e alimentos energéticos
É muito importante incentivar o consumo de alimentos variados. "Alimentos ricos em proteínas não podem faltar no cardápio diário. Outro grupo alimentar essencial é o dos carboidratos, que fornecem energia necessária para a realização de todos os processos metabólicos do corpo", explica a nutricionista Joanna Lima 
 Atente-se ao possível uso de suplementos
Algumas carências nutricionais não podem ser solucionadas apenas com a alimentação, como nos casos de problemas metabólicos ou falta de apetite. A partir do diagnóstico de alguma dessas alterações, o suplemento infantil é recomendado como forma de corrigir esses problemas e auxiliar na ingestão de vitaminas e nutrientes que o corpo necessita. Mas, lembre-se: não medique as crianças intuitivamente. O pediatra vai saber como melhor orientar sobre o uso desses produtos 
A ingestão de alimentos ricos em açúcar e gorduras, principalmente, auxiliam no ganho de peso. Além disso, algumas crianças já nascem com tendência a apresentar obesidade. “É muito importante a mamãe procurar orientação de um profissional capacitado para que a gestação seja dentro do planejado em relação ao ganho de peso estipulado”, atenta Joanna. O abuso da ingestão de carboidratos durante a gravidez pode fazer com que a mãe adquira diabetes gestacional, que pode afetar a vida do bebê dentro e fora do útero.
Os sintomas tanto da magreza excessiva quanto da obesidade têm certa semelhança: diarreia frequente, pele apática, cansaço, tristeza, falta de apetite, queda de cabelo, dificuldade de concentração, irritabilidade. Quando esses sintomas forem diagnosticados em casa, é muito importante que um profissional seja consultado.
O tratamento se dá a partir de uma dieta balanceada combinada a alguns exercícios indicados pelo especialista. Em algumas ocasiões, a suplementação é indicada, uma vez ela que auxilia na inserção de nutrientes que a criança não aceita, seja por conta da alimentação ou por problemas de absorção. Mas lembre-se: só um profissional especialista pode indicar um suplemento alimentar ou definir uma dieta!

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Um ano após a vigência da lei de bullying nas escolas, instituições de ensino não estão preparadas para lidar com o efeito devastador das redes sociais e assistem passivas ao número de casos aumentar

Fabíola Perez

Há algum tempo, o pátio da escola deixou de ser o lugar mais comum para o agressor que decide perseguir a vítima de bullying. Agora, a discriminação ganhou uma dimensão ainda mais assustadora, com as redes sociais. Os dispositivos móveis conseguem escancarar tipos de humilhação e exposição dos mais perigosos possíveis. E as instituições de ensino ainda não estão preparadas para enfrentar o problema. “Enquanto o bullying tradicional envolve agressão física, verbal, provocações, ameaças e exclusão social no ambiente escolar, no cyberbullying a vítima se sente ameaçada dentro de casa, ao acessar o celular, e em todas as esferas da vida”, diz Marina Bialer, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo. “Para piorar, temos uma geração analógica que ainda não compreendeu essa forma de violência”, afirma Ana Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita, advogada especialista em direito digital. O mais grave é que esse cenário vem à tona no mês em que se completa um ano da lei que combate a intimidação sistemática no ambiente escolar. Pela legislação, escolas públicas e privadas seriam obrigadas a criar ações de prevenção, como capacitar professores e orientar pais e produzir relatórios mensais dos casos. No entanto, não é essa a realidade que se apresenta. “As campanhas são genéricas, faltam treinamentos para os funcionários e muitos professores promovem a violência sistemática nas redes sociais. Há uma omissão das escolas no combate à prática.”
Silêncio
O principal problema das instituições de ensino é que muitos coordenadores ainda vivem o mesmo contexto da década de 1990, quando o bullying era mais facilmente exposto. O boom de smartphones criou novas formas de humilhação, que raramente são flagradas. No ano passado, houve um aumento expressivo nos casos de discriminação por razões políticas. “Se os jovens tivessem uma posição contrária à maioria e a manifestasse, já seriam alvo de perseguição e acusados de discórdia”, diz a advogada. Para se ter ideia da tendência de aumento no número de casos, o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) verificou que 46,6% de adolescentes entre 13 e 17 anos declararam ter sofrido algum tipo de intimidação sistemática em 2015. Em 2012, o índice era de 35%. Os números, porém, são subestimados, já que muitos evitam tocar no assunto. Além dos impactos psicológicos, o bullying tem desdobramentos jurídicos. “Trata-se de um crime, um ato contra a honra, injúria, difamação e ameaça”, afirma Ana Paula.
Um dos pontos incentivados pela lei é a busca da conciliação entre as partes envolvidas. Para quebrar o paradigma de “fazer justiça” com o próprio celular, a legislação incentiva a conversa entre os pais da vítima e os do agressor, além do apoio jurídico, psicológico e psiquiátrico. Foi o caso da estudante Mel Swioklo, de 12 anos. Após mudar de escola, a mãe Mirela Swioklo notou que a garota, então com 8 anos, passava grande parte do tempo sozinha. “Ela dizia que não se sentia bem e que um menino a chamava de tóxica. Um dia, quando ela se aproximou, ele deu um soco na barriga dela.” Após o episódio de violência, a escola buscou a conciliação, além de dar uma advertência ao aluno. “A mãe do garoto ficou arrasada, nos procurou para pedir desculpas e a instituição indicou um terapeuta”, afirma. “Os pais precisam ficar atentos, têm a obrigação de olhar o celular e não apenas terceirizar a responsabilidade.”
Caso a instituição de ensino não tenha políticas para coibir a prática de violência física ou psicológica, ela poderá ser responsabilizada pelos crimes e pela omissão. “Normalmente os programas são efêmeros e falta consistência. Como é possível fazer um relatório das ocorrências se ninguém acompanha?”, afirma a advogada. Quando nada é feito, as consequências são as piores possíveis. “Diminuição do desempenho escolar, falta de vontade de interagir com outros colegas, aumento da ansiedade, depressão e até idealização do suicídio”, afirma Marina. Se os casos continuarem aumentando, outras tragédias como a que deu origem à lei podem voltar a acontecer. No dia 7 de abril de 2011, 12 crianças foram assassinadas a tiros na Escola Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, ex-aluno e autor do crime, foi vítima de perseguição e discriminação na escola. Apesar da lei, pouca coisa mudou.
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A Lei do Bullying
O que é
Todo ato de violência ou psicológica, intencional e repetido, que ocorra sem motivação evidente praticado por um indivíduo com o objetivo de intimar ou agredir, causando dor e angustia à vítima
Ações de combate
• Capacitar professores e profissionais de educação para atuar na parte preventiva
• Oferecer apoio à vítima, à família da vítima e ao agressor
• Evitar a penalização do agressor, privilegiando a mudança de comportamento
• Produzir relatórios com ocorrências de bullying nos estados e municípios

A reconstrução do Brasil e as novas lideranças

claudia costin
Claudia Costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

Chego a Harvard para dar um curso e encontro alguns alunos brasileiros que mentoreio. Essa é uma prática que tenho há algum tempo, seja profissionalmente, com secretários de Educação, ou de forma voluntária, na orientação de vida e carreira de jovens que pedem aconselhamento.

Saí do Brasil preocupada com a situação do país, que parece não apresentar solução fácil, dada a constatação de que faziam parte do processo de financiamento de campanha de praticamente todos os partidos métodos no mínimo heterodoxos. Que será do futuro da democracia brasileira, pela qual minha geração tanto lutou?

Situações como essas abrem o caminho para a ascensão de alternativas pretensamente apartadas da política, como Trump, aqui nos Estados Unidos, ou, em outros tempos, Benito Mussolini. A democracia e seus mecanismos lentos são apresentados, nesse processo perverso, como problemáticos, e parte da juventude ou se encanta com os novos líderes tidos como apolíticos ou se desinteressa da política e deixa que outros decidam por ela.

Foi com essas preocupações que os encontrei. E eis que mais um apareceu com um projeto que tem me impressionado ultimamente. Quer seguir carreira política. Já são mais de cinco que seguem a mesma direção. Estranho, pois nenhum deles é de família de políticos, todos querem fazer a diferença e sabem que o caminho será difícil.

Nenhum parece ter vocação para líder genial das massas ou parece ligado a modelos antigos, de um lado ou de outro da divisão que se estabeleceu no Brasil. 

O que os motiva? Não querem deixar o Brasil como está.
Para que gente como eles possa participar, uma reforma política importante precisa acontecer. Esses não são jovens que fecham os olhos a mecanismos esdrúxulos de financiamento, pensando que, afinal, as regras do jogo são essas. 

Mas não me parece que seja este Congresso que está aí que fará essas modificações, afinal, muitos dos congressistas se tornariam inviáveis com regras novas.

Parece urgente pensar num novo regramento político que nos coloque no século 21 e que não nos torne prisioneiros do que Daron Acemoglu e James Robinson chamaram, em seu livro "Por que as Nações Fracassam", de extrativismo político. Talvez faça mesmo sentido pensarmos em uma Assembleia Nacional Constituinte que crie novas regras do jogo, para as quais ninguém mais precise fechar os olhos.

Na falta de um mecanismo desse tipo, o atual Congresso, com todas as suas imperfeições, deveria reservar tempo e energia para permitir ao menos que os novos políticos possam nos ajudar a construir um Brasil diferente. A alternativa a essas duas opções é certamente muito pior!

Aprender a viver

Ana Maria Diniz
BLOG

Ana Maria Diniz


A educação que vale a pena


Para envelhecer bem, é necessário desenvolver desde cedo nas crianças e nos jovens uma forma nova de encarar a vida. Eles precisam saber o quanto antes que vão viver muito e que podem escolher se vão envelhecer com qualidade ou sem, dependendo dos hábitos que adotarem o longo da vida

Participei de um evento muito especial esta semana e me deu uma enorme vontade de compartilhá-lo com vocês, apesar de, a principio, não se tratar da Educação propriamente dita. O tema era Plenitude: Como atingir Longevidade com Qualidade.

O que Longevidade tem a ver com Educação? Tudo!
Começando pelo final, isto é, pela conclusão do evento, a mensagem principal é que, para se envelhecer com qualidade, deve-se investir desde a idade mais tenra da vida, a infância. É nela que vamos adquirir os hábitos saudáveis que vão nos condicionar e que serão repetidos a vida inteira, permitindo-nos chegar a idades avançadas com uma boa dose de qualidade.
Mas o que é qualidade na idade avançada? Segundo Alexandre Kalache, médico epidemiologista e gerontólogo, o importante é não ultrapassar o limiar da dependência. Manter-se independente e disposto é o que dá condições a um velho de ter uma vida digna e usufruir prazeres. Dessa forma, o importante é acumular, ao longo da vida, quatro tipos de capitais: saúde, conhecimento, relações e capital financeiro.
Para que isso ocorra, a revolução da Educação precisa acontecer!
As crianças e os jovens precisam desenvolver a consciência de que todo o investimento que fizerem em alimentação, e atividades físicas, em relacionamentos e na capacidade de usar a imaginação para transformar conhecimento em algo útil para si mesmos, será vital e fará toda a diferença!
Outro assunto importantíssimo é o sono. Se aprendermos cedo que dormir é muito mais do que uma atividade restaurativa diária – o sono é “a corrente de ouro que amarra nosso corpo à nossa alma”, segundo disse Russel Foster, professor de neurociência e especialista em sono da Universidade de Oxford – iremos tratá-lo com muito mais cuidado.
Como Russel nos ensina, é no sono que processamos informações e novas ideias. Também é nele que processamos as nossas emoções, além de restaurarmos o  metabolismo regulando o crescimento e desenvolvendo a nossa capacidade respiratória.
Outro ícone presente na conferência foi Tal Ben Shahar, escritor e papa da psicologia positiva na Universidade de Harvard. Ele nos falou algo que me marcou muito. Hoje, demonizamos o estresse, pois sabemos que ele é o responsável por uma grande gama de doenças crônicas e também por episódios fulminantes como, por exemplo, os enfartos.
Mas o estresse não é necessariamente ruim – na verdade, não é ele o problema. O problema é não haver pausa entre os momentos de estresse. A recuperação do estresse é vital. Isso pode acontecer em um fim de semana desplugado, numa viagem para um lugar paradisíaco ou em alguns minutos trancados no seu quarto, praticando um ritual que te deixe centrado e relaxado. Se um jovem aprender isso cedo na vida, poderá criar seus momentos de descompressão mais facilmente.
Ontem a minha neta mais velha fez 2 anos. Se ela se cuidar, poderá viver uns bons 140 anos com saúde e qualidade. Poderá conhecer seus tataranetos e, quem sabe, andar de bicicleta com eles, se quiser.
A minha neta nunca comeu doce até hoje. Minha filha conversou sobre isso com o Frederico Porto, psiquiatra e nutrólogo, responsável por nos passar alguns conceitos sobre alimentação saudável sem defender um alimento ou outro, nem recomendar dietas que tanto estão na moda.
Frederico aconselhou fortemente a minha filha a resistir o máximo possível para apresentar os doces à minha netinha. Quanto mais tarde ela puder ter essa referência, melhor. Os carboidratos, que se transformam facilmente em açúcar no nosso organismo, não devem ser banidos da nossa alimentação. Mas devem ser ingeridos com muita moderação, principalmente os de rápida absorção, como massas e pães brancos. As proteínas e gorduras são mais essenciais para nosso organismo, já que nosso corpo não as produz naturalmente.
A mensagem principal nessa área é comer pouco, nunca se empanturrar, pois isso é, de longe, o pior de tudo. Comemos muito mais do que precisamos para viver. O comer tem também um forte componente social. Cada vez mais as pessoas se definem pelo o que elas comem. “Você é vegetariano? Então deve ser zen. Você come muita gordura? Então não está nem aí para o corpo e provavelmente é boêmio”- e por aí afora. Sabemos que isso exige um equilíbrio tênue e uma boa dose de determinação. Nada melhor do que aprender a se manter balanceado o quanto antes na vida.
Por fim, minha neta e todas as crianças em geral terão que aprender muito sobre “geratividade” – uma palavra nova que eu também acabei anotar no caderninho. Trata-se da interatividade entre gerações, coisa que ela precisará demais para conviver comigo como avó, com minha mãe encantada em ser bisavó e com toda sua descendência, se Deus quiser.
Muitos outros ensinamentos foram passados em três dias de conferência, como mindfulness e o tema da complexidade, mas procurei selecionar aqui aquilo que mais conexão encontrei com o tema da Educação. A boa noticia é que o Plenitude ganhou vida e deve se transformar numa grande plataforma para disseminação de todo esse conhecimento em breve.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Alimentação é a chave para uma vida saudável, diz especialista

Revista CBN - Entrevista

Mohamad Barakat lançou o livro 'Pilares para uma vida saudável'. Foto: Divulgação / Facebook (Crédito: )

Apesar da importância do esporte e da medicina, é na cozinha que se encontra a chave para a saúde. É preciso desembrulhar menos e descascar mais. Mohamad Barakat lançou o livro ‘Pilares para uma vida saudável’, em que cita quatro chaves para uma vida melhor. Um dos segredos é respeitar o seu intestino. Ouça a entrevista:


As cores que a gente só encontra na passagem do tempo

Academia CBN - Mario Sergio Cortella

Mário Quintana escreveu: 'há uma cor que não vem nos dicionários, (...) essa indefinível cor é a cor do tempo'. O que o poeta quis dizer, na obra 'O sapato florido', é que, nem sempre notamos, mas o tempo, quando passa, deixa marcas que criam cores inéditas.

Suicídios adolescentes

contardo calligaris
Contardo Calligaris
Italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias).

"Você, que é terapeuta de adolescentes, por que não comenta a Baleia Azul?" Recebo essa pergunta a cada dia.

Baleia Azul é um jogo, na internet, que seduziria os adolescentes propondo-lhes desafios arriscados até um final em que, para "ganhar", o jogador deve se matar. Na Rússia, já seriam mais de cem mortos.

Acho bizarro que nenhum repórter consiga se inscrever, jogar e nos contar tudo. A Baleia me parece ser sobretudo um boato (veja-se snopes.com, que investiga espalhafatos, migre.me/wuZPH).

Que opinião temos dos nossos adolescentes para acreditarmos que eles sejam burros a ponto de se matar para terminar uma gincana? Se imaginamos que eles sejam presas fáceis para a Baleia, é porque nós mesmos talvez sejamos seduzidos pelo jogo: dispostos a qualquer besteira para animar a nossa vida e lhe dar algum sentido.

Junto com a Baleia, um seriado da Netflix, "13 Reasons Why", também preocupa os adultos. Nele, uma menina, para explicar seu suicídio, deixa 13 fitas gravadas, que circulam entre amigos e inimigos.

Quando eu era menino, sonhava estar presente no meu velório, para ver quem choraria e quem dançaria. O seriado, dando crédito a esse sonho (banal), poderia produzir uma epidemia de suicídios?

Reza a lenda que o romance de Goethe "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (1774) teria glamorizado o suicídio por amor e produzido suicídios em massa.
Logo o "Werther", que consegue a façanha de ser curto e chato e cujo maior mérito é de ter sido o pretexto para Roland Barthes escrever seus "Fragmentos de um Discurso Amoroso".

Enfim, "O Efeito Werther" é um livro de David Phillips (1982) que trata de verificar se há suicídios induzidos pelos relatos na mídia dos suicídios de pessoas famosas, de Marylin Monroe a Kurt Cobain. Resultado: o efeito, se existe, é mínimo.

Mas, por mínimo que seja, como evitá-lo? Plutarco (46 - 120 d.C.), em "As Virtudes das Mulheres", conta que, em Mileto, por alguma maldição divina, as mulheres foram tomadas pela vontade de se enforcar. Não havia palavras ou lágrimas que adiantassem: elas se matavam. Enfim, alguém propôs que os cadáveres nus das enforcadas fossem expostos na praça. E o que aconteceu?

Num delicioso livrinho, publicado em Paris em 1772 (ensaio sobre o caráter, os costumes e o espírito das mulheres nos diferentes séculos), Antoine Thomas conclui com Plutarco. Essas jovens encaravam a morte, mas nenhuma ousou encarar a vergonha depois da morte: os suicídios pararam.

Quanto às mulheres de Mileto, Thomas explica: elas deviam estar naquela idade em que a natureza, alimentando desejos inquietos e vagos, abala a imaginação e em que a alma, surpreendida por suas novas necessidades, sente que a melancolia será sucessora da calma dos jogos da infância. Difícil descrever melhor a desordem da adolescência.

E talvez haja mesmo, na adolescência, um interesse especial pelo suicídio. Para Durkheim, o suicídio pode ser atribuído a níveis excessivamente baixos ou altos de integração social. Integração baixa demais significa ter a impressão de não pertencer a nada, e integração alta demais significa descobrir que o custo da integração é excessivo: uma domesticação de nosso desejo. É um resumo do drama do adolescente.

Seja como for, o interesse do adolescente pelo suicídio é intolerável para nós –porque amamos o suicida e porque sua morte sancionaria nosso fracasso: o suicídio de um adolescente é a demonstração cabal de que nosso amor não é (não foi) uma razão suficiente para ele viver.

Mas atenção: Plutarco é uma leitura recomendada, porque ele lembra que de nada adiantam os encorajamentos a viver e as manifestações de carinho.

De fato, diante do propósito suicida, não há cura milagrosa, e o primeiro passo é reconhecer o desejo de se matar e levá-lo a sério –porque é um desejo sério, não menos fundamentado do que nossa posição em favor da vida.

Podemos discordar e nos opormos à vontade de se suicidar de alguém que nos importe, mas só seremos escutados se primeiro reconhecermos seu direito de querer morrer.

Nota: logo nesses tempos de inquietudes pela Baleia e pelo seriado "13 Reasons Why", foi ao ar, pela HBO, a primeira história de "Psi" sobre o suicídio assistido de uma adolescente. A história, que resume minha atitude diante de um outro que prezo e que quer morrer, está agora na Net Now.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

A revolução silenciosa da Educação em Santa Catarina

Mozart Neves

Diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. Foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), secretário de Educação de Pernambuco (2003-2006) e presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação). Foi presidente executivo do Todos Pela Educação (2007-2010)

Há cinco anos, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) iniciou uma verdadeira “cruzada” pela Educação em todo o estado, por meio da criação do movimento “A Indústria pela Educação”. Mais recentemente, essa iniciativa tornou-se ainda maior, quando virou “Santa Catarina pela Educação”. Isso porque, à FIESC, juntaram-se o poder público da Educação (nas esferas estadual e municipal) e as federações do Comércio, dos Transportes e da Agricultura de Santa Catarina. Além disso, também se associaram ao movimento fundações do Terceiro Setor, como o Instituto Ayrton Senna e o Instituto Natura. Um belo exemplo de como colocar em prática o que traz o artigo 205 da Constituição Brasileira: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Ao longo de minha vida pública dedicada à Educação, aprendi que, quando a sociedade se organiza em prol desta causa, as chances de descontinuidade das políticas vinculadas à área tornam-se bem remotas, ao contrário do que ocorre quando são implementadas sem a participação da sociedade, ficando mais reféns das mudanças de governo. Além disso, Santa Catarina é de longe o estado da federação mais bem organizado territorialmente com base nos seus arranjos produtivos, sociais e culturais. Isso permite estruturar de forma mais sólida o chamado regime de colaboração, tão essencial para que os planos educacionais se materializem na prática.
Um dos primeiros exemplos dessa materialização pode ser verificado com a implementação de um projeto inovador que tem como objetivo maior desenvolver o pensamento crítico e a criatividade – habilidades essenciais para o século 21 – em alunos das escolas de Chapecó, nas redes municipal e estadual, e também naqueles matriculados nas escolas do SESI do município. Trata-se de um projeto envolvendo 15 países, liderado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cuja metodologia vem sendo desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com as secretarias de Educação.
Outro exemplo, mais recente, foi a implementação de escolas de ensino médio em tempo integral com educação integral em várias regiões de Santa Catarina, numa parceria com o Ministério da Educação (MEC), secretaria de Educação e o Instituto Ayrton Senna, contando com o apoio do Instituto Natura, do movimento Santa Catarina pela Educação, via SENAI, do Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID) e com grandes chances de também contar com o apoio da Capes/MEC, para dar escala ao modelo via modalidade on line para todo o estado. Segundo uma avaliação feita por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, escolas com esse modelo educacional podem levar o Brasil a dar um salto na Educação, tomando como referência o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) e os resultados alcançados em escolas similares implementadas nos estados de Pernambuco e do Rio de Janeiro.
Outro fato é que o estado de Santa Catarina, preocupado com o baixo percentual de jovens com formação profissional – um drama nacional e que se espera reverter com o novo ensino médio –, começa a implementar o ensino médio CONECTE, integrando o ensino regular com o técnico em “tempo real”, permitindo que após três anos de estudo o aluno saia com os dois certificados e bem preparado para o mundo do trabalho. Trata-se de uma iniciativa envolvendo a secretaria de Educação do estado e o SENAI/SC, com o apoio da Fundação Itaú BBA e do movimento Santa Catarina pela Educação.
No Brasil, há também outros exemplos a serem seguidos, como o ensino médio em tempo integral de Pernambuco, que inspirou o novo ensino médio; o bem-sucedido programa de alfabetização do Ceará, um exemplo para o país; e o modelo de ensino médio on line do Amazonas, que vem promovendo melhorias importantes nos resultados educacionais do estado, de tamanho continental. A grande diferença do que ocorre em Santa Catarina é na forma como todo o estado se mobiliza pela Educação, na articulação dos diversos setores locais e nacionais e na força da organização territorial. Tudo isso poderá, em breve, colocar Santa Catarina num patamar de liderança na Educação nacional. Não é à toa que lá se costuma dizer que “Educação é novo nome do desenvolvimento”.

Pela sobrevivência, estamos ora buscando a verdade, ora fugindo dela

francisco daudt
Francisco Daudt
Psicanalista e médico, é autor de 'Onde Foi Que Eu Acertei?', entre outros livros.

"A realidade pode ser incômoda, mas é o único lugar onde se consegue um bife decente", disse Woody Allen, resumindo a relação conflituosa que nossa espécie tem com a verdade. Precisamos dela, mas frequentemente a rejeitamos.

Tudo começou com a morte. Tão logo brotou no sapiens a percepção de que todos vão morrer –inclusive o próprio–, ele arranjou um jeito de dizer "não é bem assim, existe vida após a morte". E deixou o primeiro sinal de consciência registrado pela espécie, há cem mil anos: os ritos fúnebres.

Fato é que os dois instintos que nos movem –a sobrevivência pessoal e a da espécie–, fazem com que lidemos com a realidade, ora buscando a verdade, ora fugindo dela. Vejamos o sexo: um provérbio português dos anos 1600 dizia que "juras de foder não são para crer". Esse negócio de "eu vou casar com você amanhã" deve ser bem verificado pela moça, pois as chances de o rapaz estar em franco desapreço pela verdade são muito grandes.

No caso da sobrevivência pessoal, o processo de delação premiada é exemplar quanto ao jogo entre a verdade e o risco de mentir: o delator tem tudo a perder se estiver mentindo. Vai em cana, não ganha seu prêmio. Já o delatado tem tudo a ganhar, se sua mentira emplaca. É a velha questão do "cui prodest" (quem se beneficia?) latino, que serve de boa pista para se descobrir o culpado do crime. Ele se aplica à divisão política que o país vive: há um monte de gente com a postura de que "se os fatos contrariam as minhas crenças –ou meus interesses corporativos–, bem, danem-se os fatos".

Outro exemplo é o "me engana que eu gosto". Ninguém quer ser trapaceado; já docemente enganado, até contratualmente, nós todos adoramos: quando vamos ver um filme, aplicamos o "suspension of disbelief", um acordo de suspensão da desconfiança para poder embarcar na ficção. De modo que, se aparecer um centurião romano de relógio, vamos ficar muito aborrecidos com esse chamado da realidade.

E há o pensamento mágico: nossa sobrevivência pede um certo grau de controle (ou de ilusão de controle) sobre o mundo externo. É bom saber se vai chover na minha horta, e se eu puder controlar a chuva através de uma dança ritual (ou do cacique cobra-coral), eu a farei. Assisto passivo ao jogo de futebol, mas se pegar uma cerveja na geladeira pode ajudar o meu time a fazer gol (afinal, foi o que aconteceu no jogo passado), lá irei pegá-la.

Milênios se passaram até que alguém humildemente admitiu sua ignorância: "Não sei por que isso acontece. Mas quero saber". Foi o embrião da ciência. Não é um assombro pensar que tal postura –como tendência mundial– tem apenas 600 anos?

O que dizer das convicções dos filósofos realistas e idealistas frente a uma árvore que cai no meio do deserto sem testemunhas? Os realistas creem que a árvore faz barulho ao cair. Os idealistas, como julgam que a realidade só existe no mundo das ideias, creem que não, que ela cai em completo silêncio. Preciso dizer que sou realista?

Neste tempo de pós-verdade, de relativismo, de "verdade de cada um", deixo claro aqui que nunca entrarei num avião construído por um engenheiro pós-moderno.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Como identificar possíveis sinais de abuso sexual em crianças?

BBC

Casos de violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes são mais comuns do que se imagina ­ dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por exemplo, mostram que 70% das vítimas de estupro do país são menores de idade.

Segundo dados do Disque 100 (Disque Direitos Humanos) e do Sistema Único de Saúde, mais de 120 mil casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes foram registrados no país entre 2012 e 2015 ­ o equivalente a pelo menos três ataques por hora.

Mas como identificar abuso sofrido por uma criança próxima? O caso do uruguaio Felipe Romero, que teria sido vítima de seu técnico de futebol, chamou a atenção dos leitores da BBC Brasil, que pediram esclarecimentos sobre quais são, afinal, esses sinais.

Com base em informações de sites especializados e entrevistas com profissionais da área, a BBC Brasil elaborou o guia abaixo.

"Geralmente, nao é um sinal só, mas um conjunto de indicadores. É importante ressaltar que a criança deve ser levada para avaliação de especialista caso apresente alguns desses sinais", diz Heloísa Ribeiro, diretora executiva da ONG Childhood Brasil, de defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

1) Mudança de comportamento 

O primeiro sinal a ser observado é uma possível mudança no padrão de comportamento das crianças. Segundo Ribeiro, esse é um fator facilmente perceptível, pois costuma ocorrer de maneira repentina e brusca.

"Por exemplo, se a criança nunca agiu de determinada forma e, de repente, passa a agir. Se começa a apresentar medos que não tinha antes ­ do escuro, de ficar sozinha ou perto de determinadas pessoas. Ou então mudanças extremas no humor: a criança era superextrovertida e passa a ser muito introvertida. Era supercalma e passa a ser agressiva", afirmou.

A mudança de comportamento também pode se apresentar com relação a uma pessoa específica, o possível abusador.
"Como a maioria dos abusos acontece com pessoas da família, às vezes a criança apresenta rejeição a essa pessoa, fica em pânico quando está perto dela. E a família estranha: 'Por que você não vai cumprimentar fulano? Vá lá!'. São formas que as crianças encontram para pedir socorro, e a família tem que tentar identificar isso", afirma a educadora sexual Maria Helena Vilela, do Instituto Kaplan.
Em outros casos, a rejeição não se dá em relação a uma pessoa específica, mas a uma atividade. A criança não quer ir a uma atividade extracurricular, visitar um parente ou vizinho ou mesmo voltar para casa depois da escola.

2) Proximidade excessiva

Apesar de, em muitos casos, a criança demonstrar rejeição em relação ao abusador, é preciso usar o bom senso para identificar quando uma proximidade excessiva também pode ser um sinal.

Teria sido o caso, por exemplo, do técnico de futebol Fernando Sierra, que tinha uma relação quase paternal com o garoto Felipe Romero. O treinador buscou o menino na escola, desapareceu e ambos foram encontrados mortos dois dias depois.

A hipótese principal é que o treinador tenha atirado no menino e, em seguida, cometido suicídio por não aceitar um pedido da mãe para que se afastasse da criança. Laudo preliminar da autópsia indicou que o garoto vinha sendo vítima de abusos sexuais.

Importante notar, no entanto, que o papel do desconhecido como estuprador aumenta conforme a idade da vítima ­ ou seja, no abuso de menores de idade, a violência costuma ser praticada por pessoas da família na maioria dos casos.

Se, ao chegar à casa de tios, por exemplo, a criança desaparece por horas brincando com um primo mais velho ou se é alvo de um interesse incomum de membros mais velhos da família em situações em que ficam sozinhos sem supervisão, é preciso estar atento ao que possa estar ocorrendo nessa relação.

Segundo o NHS, o SUS britânico, 40% dos abusos no Reino Unido são cometidos por outros menores de idade, muitas vezes da mesma família. Também segundo os dados britânicos, 90% dos abusadores fazem parte da família da vítima.

No Brasil, 95% dos casos desse tipo de violência contra menores são praticados por pessoas conhecidas das crianças, e em 65% deles há participação de pessoas do próprio grupo familiar.

Nessas relações, muitas vezes, o abusador manipula emocionalmente a vítima que nem sequer percebe estar sendo vítima naquela etapa da vida, o que pode levar ao silêncio por sensação de culpa. 

Essa culpa pode se manifestar em comportamentos graves no futuro como a autoflagelação e até tentativas de suicídio.

"As pessoas acham que o abusador será um desconhecido, que não faz parte dessa vida da criança. 

Mas é justamente o contrário, na grande maioria dos casos são pessoas próximas, por quem a criança tem um afeto. O abusador vai envolvendo a criança pra ganhar confiança e fazer com que ela nao conte", afirmou Ribeiro, da ONG Childhood Brasil.

"A violência sexual é muito frequente dentro de casa, ambiente em que a criança deveria se sentir protegida. É um espaço privado, de segredo familiar e é muito comum que aconteça e seja mantido em segredo."

3) Regressão

Outro indicativo apontado pelas especialistas é o de recorrer a comportamentos infantis, que a criança já tinha abandonado, mas volta a apresentar de repente. Coisas simples, como fazer xixi na cama ou voltar a chupar o dedo. Ou ainda começar a chorar sem motivo aparente.

"É possível observar também as características de relacionamento social dessa criança. Se, de repente, ela passa a apresentar esses comportamentos infantis. Ou se ela passa a querer ficar isolada, não ficar perto dos amigos, não confiar em ninguém. Ou se fugir de qualquer contato físico. A criança e o adolescente sempre avisam, mas na maioria das vezes não de maneira verbal", considera Ribeiro.

A diretora da ONG Childhood Brasil alerta, porém, que é importante procurar avaliação especializada que possa indicar se eventuais mudanças de comportamento são apenas parte do desenvolvimento da criança ou indicativos de vulnerabilidade.

"É importante lembrar que o ser humano é complexo, então esses comportamentos podem aparecer sem estarem ligados a abuso."

4) Segredos

Para manter o silêncio da vítima, o abusador pode fazer ameaças de violência física e promover chantagens para não expor fotos ou segredos compartilhados pela vítima.

É comum também que usem presentes, dinheiro ou outro tipo de benefício material para construir a relação com a vítima. É preciso também explicar para a criança que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que não possam ser compartilhados com adultos de confiança, como a mãe ou o pai.

5) Hábitos

Uma criança vítima de abuso também apresenta alterações de hábito repentinas. Pode ser desde uma mudança na escola, como falta de concentração ou uma recusa a participar de atividades, até mudanças na alimentação e no modo de se vestir.

"Às vezes de repente a criança começa a ter uma aparência mais descuidada, não quer trocar de roupa. Outras passam a não comer direito. Ou passam a comer demais", pontuou Ribeiro.

A mudança na aparência pode ser também uma forma de proteção encontrada pela criança. Em entrevista à BBC Brasil no ano passado, a nadadora Joanna Maranhão, que foi vítima de abuso sexual por seu técnico quando tinha nove anos, revelou que se vestia como um menino na adolescência para fugir de possíveis violências.

Ribeiro cita também mudanças no padrão de sono da criança como indicativo de que algo não anda bem. "Se ela começa a sofrer com pesadelos frequentes, ou se tem medo de dormir ou medo de ficar sozinha."

6) Questões de sexualidade


Um desenho, uma "brincadeira" ou um comportamento mais envergonhado podem ser sinais de que uma criança esteja passando por uma situação de abuso. "Quando uma criança que, por exemplo, nunca falou de sexualidade começa a fazer desenhos em que aparecem genitais, isso pode ser um indicador", apontou Maria Helena Vilela.

"Pode vir em forma de brincadeira também. Ela chama os amiguinhos para brincadeiras que têm algum cunho sexual ou algo do tipo", observou Henrique Costa Brojato, psicólogo e especialista psicossocial. Podem, inclusive, reproduzir o comportamento do abusador em outras crianças.

Para Heloísa Ribeiro, o alerta deve ser dado especialmente para crianças que, ainda novas, passam a apresentar um "interesse público" por questões sexuais. "Quando ela, em vez de abraçar um familiar, dá beijo, acaricia onde não deveria, ou quando faz uma brincadeira muito para esse lado da sexualidade."

O uso de palavras diferentes das aprendidas em casa para se referir às partes íntimas também é motivo para se perguntar à criança onde ela aprendeu tal expressão.

7) Questões físicas 

Há também os sinais mais óbvios de violência sexual em menores ­ casos que deixam marcas físicas que, inclusive, podem ser usadas como provas à Justiça. Existem situações em que a criança acaba até mesmo contraindo doença sexualmente transmissível.

"Há casos de gravidez na adolescência, por exemplo, que é causada por abuso. É interessante ficar atento também a possíveis traumatismos físicos, lesões que possam aparecer, roxos ou dores e inchaços nas regiões genitais", observou a diretora da Childhood.

8) Negligência

Muitas vezes, o abuso sexual vem acompanhado de outros tipos de maus tratos que a vítima sofre em casa, como a negligência.

Uma criança que passa horas sem supervisão ou que não tem o apoio emocional da família, com o diálogo aberto com os pais, estará em situação de maior vulnerabilidade.

O que fazer Caso identifique um ou mais dos indicadores listados acima, o melhor a se fazer é, antes mesmo de conversar com a criança, procurar ajuda de um especialista que possa trazer a orientação correta para cada caso.

"Há muitas dessas características que são semelhantes às de um adolescente em desenvolvimento. Por isso que é importante ter avaliação de alguém que é especialista nisso. Um psicólogo, por exemplo. Se tiver dúvidas, a pessoa pode perguntar na escola, que costuma ter profissionais treinados pra identificar esses casos", disse Ribeiro.

"É sempre aconselhável também acionar o Sistema de Garantia de Direitos à criança e ao adolescente, um conselho tutorial ou uma Vara da Infância e da Juventude para encontrar caminhos para uma resposta mais adequada", afirmou Henrique Costa Brojato.

Muitas vezes por se sentir culpada, envergonhada ou acuada, a criança acaba não revelando verbalmente que está ou que viveu uma situação de abuso. Mas há situações também em que ela tenta contar para alguém e acaba não sendo ouvida. Por isso, o principal conselho dos especialistas é sempre confiar na palavra dela.

"Em primeiro lugar, é importante que quando a criança tentar falar alguma coisa, que ela se sinta ouvida e acolhida. Que nunca o adulto questione aquilo que ela está contando. Ou que tente responsabilizá­la pelo ocorrido", diz Ribeiro.

76% dos jovens adiariam faculdade por falta de dinheiro ou bolsa

Sete em cada dez alunos do ensino médio gostariam de ingressar no ensino superior, mostra pesquisa

O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Sete em cada dez estudantes gostariam de ingressar no ensino superior logo após concluir o ensino médio. No entanto, 76% deles afirmam que adiariam a entrada na faculdade por não ter condições de pagar (62%) ou não obter bolsa ou financiamento estudantil (14%).
Os dados são de uma pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) que entrevistou 1,2 mil pessoas - entre pais e estudantes do ensino médio - em São Paulo, Rio, Salvador e Porto Alegre. O levantamento foi divulgado nesta terça-feira, 25.
Já entre os pais, 78% gostariam que os filhos entrassem no ensino superior logo após terminarem o ensino médio, mas 62% dizem que eles podem adiar o ingresso por não conseguir a aprovação em uma instituição pública. Adiar o ensino superior por questões financeiras é a preocupação de 53% deles - 32% por não conseguir pagar o curso e 21% por não obter financiamento. 
Conseguir um bom emprego no futuro é apontado como a principal motivação para pais (67%) e filhos (66%). Eles também apontam que é uma exigência do mercado de trabalho - 39% para pais e 28% dos filhos. 
A pesquisa também mostrou que 60% dos jovens que estão no ensino médio já decidiram qual curso querem fazer. A preferência é pelas carreiras mais tradicionais. As cinco graduações mais citadas foram: Direito (7%), Engenharia (6%), Medicina (6%), Administração (5%) e Psicologia (3%).
Concluintes. A pesquisa também ouviu jovens que já concluíram o ensino médio e identificou que 62%, ao se formar, desejavam entrar em uma faculdade, mas 52% já desistiram do ensino superior. Não ter condições de pagar as mensalidades foi apontado por 70% deles como motivo para não dar continuidade aos estudos, 23% por não ter entrado em uma instituição pública e 21% por ter começado a trabalhar. 

Reforma que Portugal fez na educação tem muito a ensinar aos brasileiros


Ilona Becskeházy e Paula Louzano | Missão Aluno

Os portugueses se afastaram de modismos que não transformam o sistema nem geram melhorias estruturantes e concentraram esforços em questões básicas, com foco em disciplinas como a língua portuguesa e a matemática. Com as mudanças, o país saiu do ostracismo e ganhou posição de destaque na Europa.


Respirar fundo acalma o cérebro

suzana herculano-houzel
Suzana Herculano-Houzel
Carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha.

Nervoso? Ansioso? Respire fundo e devagar. A respiração lenta e controlada, integral à prática do yoga e da meditação e tão presente na psicologia popular, às vezes é menosprezada por quem recebe o conselho para ajudar a se acalmar. Mas um estudo mostra que existe de fato um circuito que liga a frequência da respiração ao nível de alerta do cérebro.

Respirar não é opcional: manter-se vivo requer inspirar e expirar, ciclicamente, do nascimento até a morte, cerca de 550 milhões de vezes em uma vida de 70 anos -sem precisar pensar no assunto. É ao mesmo tempo perturbador e libertador pensar que a função é desempenhada dia sim e dia também, esteja você acordado ou dormindo, por apenas alguns milhares de neurônios no bulbo cerebral, na base da sua cabeça.

No camundongo, uns três mil desses neurônios formam um núcleo chamado jocosamente de complexo pré-Bötzinger (o nome não é homenagem a ninguém, mas uma brincadeira com o fato de tantos outros serem), ou CpB para os íntimos. 

Da atividade auto-organizada por esses poucos milhares de neurônios surge o ritmo da inspiração, como crianças de mãos dadas brincando de senta-levanta seguindo ordens de ninguém em particular, mas de todos ao mesmo tempo (eu falei que era perturbador).

Dos 3 mil neurônios, 175 têm um papel particular, segundo um estudo americano: ativam o locus coeruleus, nome chique em latim para o "lugar azul" do cérebro devido à abundância de noradrenalina produzida ali, de coloração azulada, e despejada cérebro e medula afora.

É o locus coeruleus que nos deixa atentos e com músculos tensos, prontos para a ação. Quanto mais noradrenalina libera, mais ficamos alertas e crispados. Com atividade demais, o alerta é tanto que começa a ser contraproducente, chegando à angústia e dor muscular. Não é surpresa, a esta altura, descobrir que só adormecemos quando o locus coeruleus é completamente silenciado.

Esses 175 neurônios, portanto, atrelam o nível de alerta cerebral à respiração: qualquer acontecimento que acelere a respiração nos deixa automaticamente mais atentos e alertas, do exercício ao estresse. Ficou ofegante, ficou alerta também.

E é que o inverso também é verdade: respirar lentamente, reduzindo de 12 a 20 para talvez apenas entre cinco e seis o número de inspirações por minuto, é capaz de reduzir ao menos pela metade o estímulo que o locus coeruleus recebe do CpB, e assim acalmar corpo e mente. Não é mágica: é neurociência.