domingo, 2 de abril de 2017

Disparam as mortes por overdose



COLUNISTA

Jairo Bouer

Entre 2000 e 2015, mais de meio milhão de americanos morreram nos EUA
Novo relatório divulgado na última semana revela um aumento impressionante no número de mortes por overdose entre adolescentes e adultos jovens nos EUA nos últimos 15 anos.
O trabalho, realizado pela Fundação Robert Wood Johnson, aponta que essa “epidemia” está longe de ser controlada. Mais de meio milhão de norte-americanos morreram por overdose entre 2000 e 2015, a maioria deles (55%) a partir de 2009. As cidades médias do interior do país são as áreas em que esse aumento foi mais significativo. Os dados foram divulgados pelos jornais USA Today e Daily Mailre.
Por causa do pico entre 2014 e 2015, a overdose passou a ser a principal causa de morte prematura entre adultos jovens. O número de anos potenciais de vida perdidos a cada 100 mil habitantes superou o de mortes pelas demais causas externas (homicídio, acidentes e suicídio). Mas em termos de número total de mortes, entre 15 e 24 anos, os três fatores juntos ainda superam em três vezes as mortes por overdose de drogas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia feito um alerta na reunião da Comissão de Narcóticos da ONU, em Viena, no início de fevereiro, apontando pelo menos 500 mil mortes a cada ano no mundo por causa das drogas, principalmente por overdose. Para a OMS, encarar a questão como problema de saúde pública daria muito mais resultado do que insistir na penalização do usuário. O objetivo deveria ser focado em salvar vidas e reduzir danos sociais e não processar, julgar e prender parte da população. As informações são da agência de notícias EFE.
Outros trabalhos recentes dão algumas pistas sobre as causas do aumento de mortes por overdose entre os mais jovens. A própria OMS divulgou relatório na última semana apontando um aumento de 20% nos casos de depressão em dez anos. A doença é um conhecido fator de risco para o uso de drogas. Além disso, é a principal causa dos 800 mil casos de suicídio (um a cada quatro segundos) que acontecem todos os anos no mundo. Os dados são da agência de notícias AFP. Em parte desses casos de suicídio, a overdose é a forma escolhida para acabar com a vida.
Ao se analisar mais a fundo os dados do estudo da Fundação Robert Wood Johnson, percebe-se que, em 2015, o uso de armas de fogo e o sufocamento foram as principais formas de suicídio entre os jovens de 15 a 24 anos, e a overdose foi responsável por 7% dessas mortes intencionais. Já entre as causas de morte precoce não intencional, a overdose respondeu por 31%, quase um terço delas. O número elevado aponta, possivelmente, um desconhecimento de parte desses jovens sobre os riscos presentes no uso das drogas.
Em verdade, se assistiu nos últimos anos a um verdadeiro “boom” de novas drogas sintéticas, com procedência, potência, interações e efeitos indesejáveis que não são bem conhecidos. Compradas na clandestinidade, sem garantias ou controles sobre seu processo de produção, elas carregam perigos que muitos jovens não estão familiarizados. A associação com o álcool e uma possível potencialização dos efeitos e riscos é um deles.
Além disso, na juventude, a combinação da inexperiência com as drogas e a impulsividade na busca de novas sensações pode fazer com que exageros sejam cometidos com maior frequência. Pressa e impaciência pelos efeitos desejados fazem com que muita gente exagere na dose, enfrentando, assim, mais problemas.
Ainda segundo o relatório, 1 em cada 8 norte-americanos entre os 15 e 24 anos está fora da escola e do trabalho. Esse jovem “desconectado”, com mais tempo ocioso e menos estímulos para estruturar um projeto de vida, ficaria mais vulnerável ao uso de substâncias que podem colocar sua vida em risco.
Pensar em politicas públicas que foquem mais na questão da saúde e comportamento (incluindo um novo modelo de lei), buscar maior inserção do jovem no mercado de trabalho, investir em um projeto de educação nas escolas que trabalhe de forma mais atual a questão das drogas e criar estratégias de redução de danos (com maior segurança para o possível usuário) são algumas dessas possibilidades.
JAIRO BOUER É PSIQUIATRA

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