sexta-feira, 30 de junho de 2017

Definir parâmetros de qualidade e avançar na devolutiva das avaliações é fundamental para melhorar a qualidade do ensino

Os Anos Finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio não só não cumprem as metas como já estão muito abaixo do que era esperado. Ernesto Martins Faria, gerente de projetos da Fundação Lemann

Ernesto Martins Faria é gerente de projetos da Fundação Lemann, organização parceira do movimento Todos Pela Educação no Observatório do PNE.
Todos Pela Educação


O cenário apontado pelos dados em relação à meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE) é de preocupação. Embora os indicadores educacionais – dentre eles o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), medida oficial do governo federal para monitorar a qualidade do Ensino – apontem avanços significativos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os anos finais dessa etapa e o Ensino Médio não só ficam aquém das metas estipuladas como estão já muito abaixo do que era esperado.
O avanço nos indicadores dos anos iniciais não está tendo impacto nas outras etapas de ensino, como era esperado. O fluxo evolui pouco e segue sendo uma grande dor a partir do segundo ciclo do Ensino Fundamental – ainda temos altas taxas de abandono escolar e reprovação, que começam a crescer de forma bem mais acentuada a partir do 6º ano dessa etapa e causam um cenário em que apenas pouco mais da metade dos jovens (58,5%) concluem o Ensino Médio com até um ano de atraso e, dentre aqueles que conseguem chegar até o último ano da etapa, segundo critérios do movimento Todos Pela Educação, apenas 7% apresentam a proficiência adequada em Matemática e 27,2%, em Língua Portuguesa, de acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
É importante destacar esforços importantes que ocorreram na divulgação dos resultados: o país conta hoje com uma gama significativa de indicadores educacionais e iniciativas para aprimorar a forma de divulgação desses dados – como indicadores de contexto criados pelo Inep e a plataforma Devolutivas Pedagógicas (devolutivas.inep.gov.br), desenvolvida em parceria com organizações da sociedade civil. No entanto, apesar desses esforços, a divulgação dos dados não tem contribuído de forma efetiva na prática pedagógica e é fundamental seguir avançando nas devolutivas, de forma a dar sentido e utilidade aos resultados das avaliações externas.
Além disso, uma das estratégias definidas no PNE para o atingimento da meta 7 é a definição de “parâmetros mínimos de qualidade dos serviços da educação básica, a serem utilizados como referência para infraestrutura das escolas, recursos pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem como instrumento para adoção de medidas para a melhoria da qualidade do ensino”. Essa estratégia tinha como prazo 2016, mas pouco se avançou no sentido de concretizá-la, devido ao posicionamento do Ministério da Educação de aguardar a homologação da Base Nacional Comum para avançar na agenda do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb). Nessa agenda, é de grande importância não perder o histórico de aprendizados e indicadores da Prova Brasil e do Ideb e trazer novas dimensões para as avaliações, tanto em relação a insumos como em relação a resultados.
Diante desse cenário, espera-se que a Base Nacional Comum de fato ajude a orientar a discussão sobre a aprendizagem dos alunos e oriente um sistema de avaliação e de indicadores que nos ajude a ter bons diagnósticos e a atacar os principais problemas. Outras medidas estruturantes também são fundamentais, como investir em formação de professores, na elaboração de bons materiais didáticos e no acompanhamento pedagógico. Também é fundamental seguir avançando nas devolutivas das avaliações, de forma a dar sentido e utilidade aos resultados das avaliações externas. A aprendizagem do Brasil avança lentamente e é de grande importância medidas para reverter essa tendência.

Não é o foco, bobo. É a coragem!

Foco, foco, foco, exortam a plenos pulmões gurus de autoajuda, gerentes, tutores, treinadores, bloggers e youtubers. Estão errados


Ricardo Neves
Ricardo Neves É empreendedor, consultor, autor de seis livros sobre estratégia, usados em workshops e atividades in-company. Entre eles, destaca-se Tempo de pensar fora da caixa. Adora conversar sobre inovação e mudança. www.ricardoneves.com.br
Foco, foco, foco, ecoam todos aqueles que buscam caminhos e inspiração para deslanchar na vida e realizar seus sonhos, seja para passar em concurso público, ascender na empresa, realizar um projeto importante, ganhar uma medalha olímpica. Alegro ma non troppo, pessoal!
Cuidado com essa zoeira toda. O segredo da vida não está nessa obcecada, excessiva e mágica pontualização da atenção que faz com que transformemos foco na quintessência das virtudes. Isso pode acabar sendo um tiro no pé.
Foco excessivo pode representar riscos catastróficos, em primeiro lugar pela perda de visão lateral e em segundo lugar pela redução da capacidade de olhar prospectivamente, isto é, contemplar horizontes de médio e longo prazo.
Todos somos parte de um ecossistema complexo, dinâmico, de conexões e entrelaçamentos múltiplos, e nesse contexto o foco em excesso pode nos alienar da compreensão mais holística e criativa dessa realidade.
A turma que adora gritar “foco, foco, foco!” gosta igualmente de apregoar que quem deseja algo muito intensamente faz o Universo conspirar a seu favor. A verdade é que o Universo tem mais coisas urgentes e prioritárias a fazer do que ficar conspirando em favor dos sonhos de 7,5 bilhões de seres humanos.
Além disso, quem tem foco excessivo tem dificuldade em pivotar, isto é, de mudar de planos e igualmente de saber a hora de recuar, jogar a toalha, abandonar o navio, quando isso é a coisa mais sensata a fazer.
“Qualquer batalha se desenrola bem diversamente da maneira planejada pelos seus diretores. Esse é um fato capital”, como muito propriamente ponderou Tolstói em seu épico Guerra e paz, em seu relato da desastrosa campanha em que Napoleão, exemplo paradigmático de foco, arrastou para a morte um exército de mais de 400 mil soldados na invasão da Rússia em 1812.
Sabe o que faz mesmo a diferença, mais que o foco? Coragem!
Coragem torna os homens diferentes dos meninos, isto é, dos adultos que, por medo e conformismo, acreditam ser possível se esquivar das batalhas ininterruptas que surgem em nosso caminho do nascimento até a morte.
Coragem é o que a vida pede da gente, dizia Guimarães Rosa. Coragem é a primeira de todas as qualidades do ser humano, sustentava Winston Churchill.
É ótimo manter o foco, mas, como tudo na vida, tem uma medida certa. Mas não sejamos uns foco-bobalhões, repetindo como papagaio essa arenga que ninguém aguenta mais.

Aprender a lutar contra a paralisia

claudia costin
Cláudia Costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

Não é infrequente um aluno alegar dificuldades para não realizar tarefas escolares. Houve um problema em casa, o bairro ficou alagado, a comunidade foi invadida. Frente a esses problemas, verdadeiros e desafiadores, bons professores procuram apoiar o aluno, mas não isentá-lo de atividades que o farão desenvolver competências das quais ele precisa para construir seu futuro.

As condições do aluno em situação de vulnerabilidade não são as ideais, mas nem por isso cabe uma atitude de falsa piedade que o impeça de aprender. Acomodações e estratégias diferentes devem ser adotadas, mas nunca a visão demagógica de que, para esse aluno, é melhor não demandar muito e oferecer educação de segunda classe.

O mesmo se passa com os professores: as condições de trabalho do professor no Brasil estão longe das ideais. O salário não atrai para a profissão, o reconhecimento social é pequeno, por vezes ele é tratado como vítima e não como um profissional, a infraestrutura das escolas é precária, a formação inicial é insuficiente e os materiais instrucionais são inadequados.

Nesse contexto, podemos ser levados à paralisia: já que as condições são desfavoráveis, não cabe nenhuma melhora na educação antes que elas sejam modificadas. Ao contrário, é justamente porque são ruins que cabe a transformação, com as devidas acomodações dado o contexto em que se atua.

Da mesma maneira que ajustes podem ser feitos para que o aluno mais vulnerável possa ter a mesma educação de qualidade que seus colegas com menores desafios, o professor pode adaptar sua forma de atuar, embora com resultados não ideais, a contextos de trabalho eventualmente inadequados e, ao mesmo tempo, cobrar melhorias.

Transformações em educação só funcionam bem se forem sistêmicas. Há que atuar em diferentes áreas da política educacional ao mesmo tempo e não é possível esperar as condições evoluírem substancialmente numa área antes de abordar gargalos existentes em outra. É importante adotar uma Base que norteie os currículos, preparar materiais instrucionais e capacitar docentes com base neles, enquanto se busca melhorar a atratividade da profissão (aí incluídos salários, carreiras e condições de trabalho) e mudar a formação inicial do professor.

É uma tarefa gigante que demandará muitos anos, mas, enquanto ela se desenvolve, a presente coorte de alunos está na escola e precisa aprender, mesmo que em condições subótimas. Cabe a cada professor, gestor de sistema e diretor de escola se empenhar para garantir o direito de aprender de cada criança e jovem; cabe igualmente aos governantes não destruírem os sonhos de futuro das novas gerações de seu país. 

quinta-feira, 29 de junho de 2017




QUARTA, 28/06/2017, 13:32Escola da Vida - Teodoro Zanardi

'Professores da rede pública ou privada são desvalorizados da mesma maneira'

O professor Teodoro Zanardi fala sobre estudo mostra que o professor de Educação Básica da rede pública ganha mais, em média, que um da rede privada. A diferença é de R$ 736. Dentro da rede pública, a menor média salarial é das escolas municipais, que pagam R$ 3.116 para os docentes. O valor corresponde a menos da metade do salário de um professor da rede federal

Aumenta o abandono de alunos no Ensino Médio no Rio de Janeiro




O dado faz parte de pesquisa do Inep, órgão do Ministério da Educação. A taxa estaá em queda no estado desde 2008. Em 2015, o índice atingiu o menor patamar. De 2015 para 2016, o número passou de 4,5 para 8,5%. O problema não é o aumento da taxa, mas o que isso representa.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Universalização da Pré-escola não está distante, mas cumprimento da meta enfrenta desafios

"É responsabilidade do poder público estimular a frequência à Educação Infantil das crianças em situação de maior vulnerabilidade", afirma Cisele Ortiz, do Instituto Avisa Lá


*Cisele Ortiz, coordenadora adjunta do Instituto Avisa Lá, organização parceira do movimento Todos Pela Educação no Observatório do PNE
Meta 1: Universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de Educação Infantil em Creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE.
Estratégia 1.4: Estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE, normas, procedimentos e prazos para definição de mecanismos de consulta pública da demanda das famílias por creches.
Estratégia 1.16: O Distrito Federal e os Municípios, com a colaboração da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada ano, levantamento da demanda manifesta por Educação Infantil em creches e pré-escolas, como forma de planejar e verificar o atendimento.
Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), que são de 2015, mostram que no Brasil a taxa de atendimento das crianças de 4 e 5 anos na Educação Infantil é de 90,5%. Esse percentual faz com que a universalização – que deveria ser garantida até 2016, segundo a Emenda Constitucional n° 59, de 2009 – não pareça distante para o País. Esses dados, porém, só poderão ser aferidos quando a Pnad 2016 for divulgada, provavelmente, no final de 2017.
Entretanto, é preciso ressaltar que esse percentual de 9,5% restante representa cerca de 500 mil crianças dessa faixa etária fora da escola. Além disso, as desigualdades entre as regiões, as diferentes faixas de renda e grupo étnicos no acesso são marcantes. É preciso salientar, ainda, que o foco não pode se restringir apenas à garantia de vagas, uma vez que é fundamental atentar para a qualidade do ensino para garantir que as crianças tenham, de fato, um bom ambiente para o seu pleno desenvolvimento.
É importante reconhecer o esforço dos municípios em ampliar a capacidade de atendimento em busca da universalização, porém, muitas vezes este esforço passa por estratégias que não priorizam a qualidade do atendimento, como algumas que cito abaixo:
– Atendimento por meio de convênios com escolas particulares: alguns modelos não permitem que as crianças sejam contabilizadas para o repasse do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), prejudicando o investimento nessa etapa, que depende de bons recursos para infraestrutura e formação docente, entre outros.
– Uma grande parte das escolas de Educação Infantil não têm infraestrutura mínima adequada para garantir sua saúde e bem-estar – 66,9% delas, por exemplo, não tem esgotamento sanitário público e 9,5% não têm água tratada, de acordo com o Censo Escolar 2016 – e o seu pleno desenvolvimento, como acesso a ambientes externos – 83% das escolas dessa etapa não tem quadras.
– Em alguns casos o atendimento na Educação Infantil está dentro de escolas de Ensino Fundamental, sem que haja uma infraestrutura específica para elas, e também sem a presença de um coordenador pedagógico específico para a etapa.
– Em todo o país, 70% do atendimento na Educação Infantil é feito em turnos de menos de 7 horas, o que em geral afeta mais as famílias dos grandes centros urbanos e as de menor renda. Além disso, como o projeto pedagógico precisa ser adequado ao tempo disponível, perde-se a oportunidade de ampliação cultural e social, principalmente para as crianças pertencentes às famílias menor nível socioeconômico, cujo acesso a essas experiências pode ser mais restrito.
Nesse sentido, é perigoso garantir o atendimento de forma apenas a cumprir numericamente a meta, sem a devida observância de qualidade – conforme preconizado nos próprios documentos do MEC –, pois isso pode ser prejudicial ao seu desenvolvimento e aprendizagem por toda a vida.
Já na etapa de 0 a 3 anos, equivalente à creche, o País ainda patina. O PNE anterior ao atual, que vigorou de 2001 a 2010 já estabelecia o atendimento de 50% de todas as crianças dessa faixa etária na Educação Infantil até 2005 – ano em que a taxa de atendimento chegou há apenas 16,7%, em um retrato da falta de adesão do PNE e da priorização da Educação no País. Com o plano atual (2014- 3 anos de Plano Nacional de Educação 30 2024), o mesmo percentual ganhou maior prazo para ser atingido – até o final da vigência do Plano, mas o avanço ainda é lento e desigual. Considerando a população de 0 a 3 anos atual (segundo a Pnad 2015), o Brasil precisaria incluir cerca de 2,3 milhões de crianças na creche. Soma-se ainda a esse desafio, a falta de dados mais precisos, que permitam planejar detalhadamente a expansão do atendimento, e de recursos para a expansão e garantia da qualidade.
É dever do poder público, especialmente dos municípios, prover vagas para esta etapa para todas as famílias que tiverem interesse em colocar seus filhos em creches. Do ponto de vista da garantia do direito de toda criança ao pleno desenvolvimento, é ainda responsabilidade do poder público estimular a frequência à Educação Infantil das crianças em situação de maior vulnerabilidade.
Independentemente da legislação é preciso considerar que a Educação Infantil como um todo, mas principalmente a creche de boa qualidade, tem um valor inestimável para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças nos três primeiros anos de vida – fato com vasta evidência em todo o mundo, mas que tem sido subestimado por boa parte do poder legislativo e executivo. Na busca da garantia da vaga para seus filhos, as famílias têm procurado o poder judiciário, que tem tido forte atuação nessa esfera, porém, sem condições, ainda de prezar pela qualidade.
A creche tem um objetivo claramente social pois é a instituição que, ao ficar com a criança durante o dia, permite que os familiares, e principalmente a mulher, possa participar do trabalho, da cultura, de sua própria Educação, da vida social e política.
Diretamente para as crianças, uma creche de qualidade pode proporcionar-lhes inúmeras aprendizagens voltadas ao seu desenvolvimento integral, quando focadas na sua constituição como sujeito humano, aliada a ampliação cultural, ao conhecimento e as aprendizagens importantes da coletiva, que anunciam a inserção na vida social e cidadã mais ampla. É nessa faixa etária que a criança ganha autonomia motora, constrói a linguagem e o pensamento, aprende a cuidar de si mesmo, e assim a cuidar do outro e do seu entorno, se interessa pelo universo a seu redor com curiosidade e alegria. Os três primeiros anos são a fase em que a formação da criança é mais intensa, por isso, garantir um entorno que possibilite seu pleno desenvolvimento, complementando a Educação familiar, é fundamental para um país mais desenvolvido social e economicamente.
Estratégia 1.4
É sabido que não há forma de alcançar a meta 1 do Plano Nacional de Educação sem ter um melhor diagnóstico da progressão da demanda. Em sua última edição, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad / IBGE), levantou algumas informações sobre a demanda das famílias por creche, mostrando que chega a 62% o percentual de crianças de 0 a 3 anos fora da escola cujos pais têm interesse em matriculá-las.
No entanto, para que as redes de ensino possam ter instrumentos para se planejar, não basta realizar um levantamento amostral pontual, ou ainda, uma consulta da taxa de natalidade – é preciso também fazer uma análise demográfica, considerando, entre outros dados populacionais, as migrações.
Da mesma forma, uma consulta pública da demanda não significa ter apenas um sistema na internet para cadastro e acompanhamento da fila. É fundamental criar mecanismos diversificados que possam aferir o interesse principalmente das famílias com maior vulnerabilidade, ou seja, aquelas que têm dificuldade em acessar o serviço público, que não se considera beneficiaria ou que já desistiu da sua vaga diante do longo tempo de espera.
Para que isso seja viável, é necessário articular especialistas em diferentes áreas, ações intersetoriais e recursos orçamentários. As secretarias de saúde e assistência social são parceiras essenciais nesse processo, pois são a porta de entrada das necessidades das crianças. Qualquer mecanismo criado tende a ser mais vantajoso se houver união de esforços na identificação do desejo das famílias em relação ao uso da creche. Os gestores podem, assim, planejar a partir da realidade.
A falta da definição de um mecanismo de consulta de demanda que leve em conta essas questões, compromete não apenas o cumprimento da estratégia 1.4 do PNE (já com dois anos de atraso), mas o próprio planejamento de abertura de vagas, que prejudica milhares de crianças e suas famílias.
Estratégia 1.16
Atualmente, é considerado como demanda manifesta os cadastros por meio dos quais as famílias se inscrevem para solicitar e aguardar vagas nas creches e pré-escolas em cada rede de ensino – lembrando, ainda, que cada rede adota um padrão para o acompanhamento dessa demanda, e não há informações que comprovem que todos eles se valem de cadastros ou ferramentas de controle. Há municípios que adotam uma fila única, em outros há uma fila em cada escola, e há ainda, gestões que estabelecem critérios de seleção, o que vai contra o que determina a legislação nacional sobre o atendimento a creche – tanto a Constituição Federal, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), determinam que todas as crianças têm direito a frequentar a Educação Infantil, e que é papel do Estado garantir esse atendimento. Por outro lado, há família que na busca pelo acesso, se inscrevem em várias escolas, há aquelas que buscam a defensoria pública, passando na frente de outras que aguardam há mais tempo, e há famílias que desistem e procuram soluções alternativas, mas que nem sempre garantem um ambiente adequado ao desenvolvimento da criança.
Para que essa estratégia seja alcançada, e colabore para o atingimento da Meta 1 do PNE, é necessário identificar e avaliar o que tem sido feito pelos municípios no sentido do acompanhamento da demanda e do planejamento, e orientá-los nas formas mais eficazes e eficientes de ter esse controle.
Além disso, é essencial que esse mecanismo gere dados públicos para que a sociedade possa exercer o seu papel no controle social, bem como o poder judiciário, diminuindo a necessidade de intervenção judicial para a garantia das vagas.

terça-feira, 27 de junho de 2017

O Brasil do futuro precisa investir agora na educação de seus jovens

Maria Alice Setubal
Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulnerávei

"Acho que [meus pais] nunca me sonharam sendo um psicólogo, nunca me sonharam um professor, nunca me sonharam sendo um médico. Nunca me sonharam. Eles não sonhavam e não me ensinaram a sonhar. Estou aprendendo a sonhar". A frase, do jovem Felipe Lima, é sem dúvida um dos depoimentos mais impactantes do documentário realizado pelo Instituto Unibanco. 

Nossos jovens, em sua maioria filhos de pais com baixa escolaridade, não só precisam como têm direito à educação de qualidade. É dever do Estado garantir uma escola que desperte o prazer pelo conhecimento, amplie o repertório cultural dos estudantes, reconheça os contextos no quais estão inseridos, possibilite acessar melhores oportunidades de trabalho e contribua para o exercício da cidadania. 

Porém, como nossos jovens podem escolher aquilo que não conhecem? Como almejar uma perspectiva de futuro melhor se suas famílias, seus professores e o próprio poder público não acreditam em seu potencial? Como seguir com os estudos após uma gravidez indesejada ou frente à necessidade de ingressar precocemente no mercado de trabalho para compor a renda familiar? Como concorrer a uma vaga na universidade sabendo da ampla concorrência e da baixa qualidade da educação pública, que atende 82% dos estudantes brasileiros?

 Estas são algumas das questões que nos obrigam a refletir sobre o tipo de escola que estamos oferecendo aos nossos jovens. Quantos dos mais de 8 milhões de estudantes matriculados no Ensino Médio passam pelas salas de aula e, ao contrário de Felipe, nunca aprenderam a sonhar? 

O Brasil está perdendo seus jovens. Somente em 2015, mais de 922 mil estudantes foram reprovados no Ensino Médio e mais de 545 mil abandonaram a escola. Além de garantir o acesso e a aprendizagem de todos e todas, precisamos também avançar na construção de políticas que levem em conta valores caros aos adolescentes e jovens, como reconhecimento, valorização do grupo, autonomia, protagonismo, autoria e o desenvolvimento de atividades que lhes permitam sentirem-se pertencentes à escola. 

É preciso ter clareza que grande parte das mazelas do Ensino Médio brasileiro tem sua origem nas etapas anteriores da Educação Básica, em especial nos anos finais do Ensino Fundamental que já registra altas taxas de reprovação e abandono. A Educação Infantil ainda é para poucos. Não alfabetizamos todas as crianças na idade esperada. 

As escolas não têm infraestrutura adequada. Os profissionais da educação carecem de formação inicial e continuada de qualidade e precisam urgentemente ser valorizados. Eles são a chave mestra para uma educação de qualidade e os jovens sabem disso. Eles reconhecem quando têm um bom professor ou diretor. 

Somente políticas de Estado sólidas podem reverter o quadro de naturalização das desigualdades educacionais, em que a educação e o acesso ao conhecimento seguem como um privilégio de poucos. Neste contexto, é preocupante o fato de não termos muito o que comemorar no aniversário do PNE (Plano Nacional de Educação), que acaba de completar três anos. 

Segundo levantamento do Observatório do PNE , que reúne diversas organizações que atuam na Educação, entre elas o Cenpec, apenas seis dos 30 dispositivos relacionados à Educação Básica que deveriam ter sido cumpridos até o ano de 2017 foram realizados. 

O não cumprimento do PNE significa que o país seguirá improvisando políticas e programas educacionais, sem uma visão de Estado e de longo prazo. Superar esta lógica significa realizar bons diagnósticos da realidade educacional, boa gestão e ampliação dos recursos investidos, além de avaliação consistente para aperfeiçoar as políticas. 

Para isto, é imprescindível olhar para os estudantes e compreender os desafios cotidianos que estes enfrentam em seus territórios, como a pobreza, a violência, a discriminação, a falta de acesso a equipamentos públicos de lazer e bens culturais, entre outros. Nossos jovens almejam romper o círculo vicioso da pobreza. E isto não é possível sem acessar o mundo do conhecimento desde a primeira infância. Querem que a escola seja realmente deles. Querem uma vida melhor. Querem aprender a sonhar. E mais: querem realizar sonhos.


domingo, 25 de junho de 2017

As Dez Estratégias de Manipulação das Massas de Noam Chomsky

Avram Noam Chomsky (Filadélfia7 de dezembro de 1928) é um linguistafilósofocientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna", também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica.
Chomsky é Professor Emérito em Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e teve seu nome associado à criação da gramática generativa transformacional. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais, tendo seu nome associado à chamada Hierarquia de Chomsky. Seus trabalhos, combinando uma abordagem matemática dos fenômenos da linguagem com uma crítica do behaviorismo, nos quais a linguagem é conceitualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para a formação da psicologia cognitiva, no domínio das ciências humanas.
Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário. Identifica-se com aquilo que é modernamente compreendido como "anarcossindicalismo", havendo também quem o associe ao anarcocomunismo ou ao comunismo de conselhos.[4][5][6]



Noam Chomsky: O Fim do Sonho Americano

Em uma série de entrevistas realizadas no período de quatro anos, o crítico social Noam Chomsky discute como a concentração de riqueza e poder entre uma pequena elite polarizou a sociedade americana e provocou o declínio da classe média.
O documentário mostra através do embasamento científico de Noam Chomsky, considerado o maior intelectual vivo do planeta, como se mantém a estrutura de poder e corrupção pelo mundo. Como uma minúscula oligarquia mundial, através de seu poderio, consegue sabotar qualquer sonho de democracia e bem-estar.
Chomsky dá uma autêntica aula sobre a economia, política e a sociedade do nosso tempo, baseando-se em 10 princípios da concentração de riqueza e poder: 
1. Reduzir a Democracia;
2. Moldar a ideologia;
3. Redesenhar a economia;
4. Deslocar o fardo de sustentar a sociedade para os pobres e classe média;
5. Atacar a solidariedade;
6. Controlar os reguladores;
7. Controlar as eleições;
8. Manter a ralé na linha;
9. Fabricar consensos e criar consumidores;
10. Marginalizar a população.
Assista ao vídeo completo:


Via de mão dupla


marcos lisboa
Marcos de Barros Lisboa, 52, é doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper.

Não tenho sido conhecido exatamente pelo meu otimismo. A meu ver, culpa mais das circunstâncias do que da personalidade. Afinal, ninguém escolhe ser diretor de escola a esta altura da vida se for incorrigivelmente pessimista.

Uma escola significa investir para que as novas gerações sejam melhores do que as anteriores. A convivência entre professores e alunos pode ser extremamente rica. Cabe aos mais velhos treinar os jovens nas técnicas e instrumentos analíticos.

Nestes novos tempos, porém, espera-se mais de uma escola. Deve-se atentar para o desenvolvimento de diversas competências, como a capacidade de pensamento crítico e de trabalho em equipe.

As técnicas atuais podem se tornar defasadas nos anos à frente e os alunos bem formados devem ser capazes de se atualizar por conta própria, o que requer "aprender a aprender", como se diz no nosso jargão.

A ênfase em educação é ainda mais urgente em decorrência da demografia. Desde 2005, temos o maior percentual de jovens terminando o ensino médio da nossa história. A partir do começo da próxima década, esse percentual irá se reduzir em um país que começa a envelhecer.

Quanto melhor o seu acesso à educação, maior serão a sua produtividade e a capacidade de geração de renda, para o bem de todos.

Uma escola também obriga os mais velhos a conviver com jovens que se tornam adultos em novos tempos e com novos valores.

Há muito de divertido nesse encontro. Surpreendem-me as muitas barbas e tatuagens, a mania de fotografar a comida e os seguidos selfies. A surpresa denuncia a minha idade tanto quanto o espelho.

Mais importante, a nova geração surpreende pelo seu compromisso com a construção de projetos relevantes. Alguns querem ser empreendedores, outros desejam colaborar com a política pública.

O traço dominante da minha geração foi o individualismo que descuidava da cooperação. Muitos dos jovens, por outro lado, combinam o seu interesse individual com a atenção a problemas que ultrapassam as relações de mercado.
Há uma bem-vinda preocupação com o meio ambiente, com a política pública e com o bem-estar dos demais, além do desejo de deixar um legado.

A política decepciona e os mais dos setores produtivos e das corporações reagem agressivamente à necessidade de aceitar sacrifícios para superar a grave crise. São poucas as vozes dissonantes entre os mais velhos.

Mas há muitas entre os mais jovens, ansiosos por contribuir para o debate, organizando-se em grupos de estudo, pedindo seminários à noite para entender os problemas e saber como podem colaborar para resolvê-los.

Em tempos difíceis, surpreende o silêncio público de muitos da minha geração.

sábado, 24 de junho de 2017

'Olhe para o futuro de forma positiva'

Mílton Jung | Mundo Corporativo
Nova Geração: “crie intimidade com o seu futuro”, diz Beia Carvalho

De acordo com a palestrante Beia Carvalho, dessa forma é possível ficar mais íntimo do que vai acontecer. Ela apresenta-se como “futurista”, criou empresa com o simbólico nome '5 Years From Now' e defende a ideia que devemos criar intimidade com aquilo que pode surgir na nossa carreira.


sexta-feira, 23 de junho de 2017

Educar melhor

claudia costin
Claudia Costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.


Nesta semana esteve no Brasil a educadora Joanne Weiss, que coordenou, no governo Obama, o esforço de elaboração de orientações curriculares da pré-escola ao último ano do ensino médio. O esforço foi apoiado por incentivos para Estados que a ele aderissem e envolveu mais do que apenas redigir o conjunto de competências que se esperava que os alunos alcançassem a cada ano de escolaridade. Incluiu capacitação de professores, modelos de avaliação e materiais de apoio aos docentes.

Ao ouvi-la falar sobre acertos e erros da estratégia americana, em que 46 Estados acabaram adotando o que ficou conhecido como Common Core, pensei na nossa realidade. Em meio à maior crise fiscal e institucional dos últimos anos, quando há poucas possibilidades de um diálogo equilibrado envolvendo interlocutores com visões políticas diferentes, uma iniciativa pública avança de forma consistente: a criação de uma Base Nacional Comum, prevista na Constituição de 1988, que deverá fixar o que os alunos devem aprender.

Diferentes ministros, desde 2015, participaram do esforço, e o documento, depois de ampla consulta e duas versões depois, está agora no Conselho Nacional de Educação (CNE) para ser analisado. Corretamente, o CNE decidiu realizar audiências públicas regionais para ouvir sugestões, antes da decisão final.

Mas, segundo Joanne, esta é a parte fácil do trabalho: redigir o que deve nortear o trabalho das escolas, estabelecendo direitos de aprendizagem dos alunos em termos de competências que se espera que desenvolvam. O difícil será a implementação, sem falar que ainda não estamos analisando a parte referente ao ensino médio, talvez a mais difícil e polêmica.

Não adianta ter uma Base apenas para mostrar aos visitantes. Ela precisa acontecer na sala de aula e isso requer envolver Estados, municípios e escolas na tradução da Base em currículos, preparar, com os professores, materiais instrucionais alinhados à Base, sejam livros, aulas digitais ou cadernos pedagógicos, e promover avaliações que forneçam informações aos docentes e aos gestores sobre a aprendizagem dos alunos.

No entanto teremos perdido uma grande oportunidade se não aproveitarmos este momento para rever a formação de professores no país. As licenciaturas estão ainda muito distantes da prática docente e não preparam para uma profissão, enquanto a formação continuada em serviço não valoriza a equipe de trabalho na escola e reforça o academicismo da formação inicial.

Se não enfrentarmos essa questão com coragem, como fizeram os países que contam com bons sistemas educacionais, continuaremos patinando. Precisamos educar melhor as futuras gerações.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Educação: um bem global e de todos

Ana Maria Diniz

BLOGS
Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena

No século 21, a Educação deixa de ser um mero instrumento de transmissão de informação e passa a ter a a responsabilidade de fomentar valores e habilidades que assegurem um futuro melhor para as pessoas e para o planeta, diz a Unesco


Qual o real propósito da Educação?
Muito tem se falado, inclusive neste blog, sobre a urgência de se reinventar as escolas e o sistema de ensino, que estão obsoletos e desconectados da realidade. Mas não faz sentido pensar nisso se não respondermos a pergunta acima.
Temos que repensar a Educação e o seu papel no mundo atual. O que é de verdade a Educação do século 21? Por que ela precisa existir, qual o seu sentido?

Sem esse entendimento, podemos virar os prédios escolares do avesso e derrubar suas paredes, mas não estaremos atendendo às necessidades de formação que os seres humanos da nossa era precisam para serem felizes, realizados e capazes de construir um futuro melhor.
É exatamente disso que trata o documento da Unesco Repensar a Educação: rumo a um bem comum global?, lançado em 2015. Considerado um dos mais importantes já elaborados pela instituição, a publicação desvincula a ideia da Educação como mero instrumento de transmissão de conhecimento e formação profissional, pensada de forma isolada e a nível local. Pelo contrário, propõe uma nova percepção: a da Educação como um bem comum global, de interesse de todos e para todos, imprescindível para o bem-estar das pessoas e o futuro do planeta.
Pensar, agir e buscar soluções abrangentes e coletivas faz todo sentido no mundo atual –complexo, instável e em constante transformação, porém intrinsicamente interligado e interdependente. Nosso futuro é compartilhado, assim como nossos problemas e expectativas. Assim, tudo o que pudermos fazer para buscar pontos em comum entre nós, humanidade, é o que vai garantir nosso futuro coletivo e comum.
Nesse contexto, diz a Unesco, Educação tem o papel e a responsabilidade de fomentar valores e habilidades para um crescimento sustentável e inclusivo e para uma convivência pacífica. Trata-se de uma visão ambiciosa, mas totalmente plausível.
A Educação pode, sim, contribuir para a superação de enormes desafios sociais, econômicos e ambientais, pois leva a mais prosperidade, a mais saúde, a menos violência e a mais igualdade entre os sexos. Homens e mulheres mais educados têm mais consciência ambiental, são mais produtivos, politicamente engajados e têm controle sobre suas vidas.
Mas, para cumprir esse papel, a Educação tem que ter essa intenção como ponto central de seu propósito.
O relatório Educação para Pessoas e o Planeta: criar futuros sustentáveis para todos, também da Unesco, elenca dados e projeções que comprovam o poder da Educação como catalisadora do desenvolvimento sustentável. Eis alguns deles:
– A Educação é mais eficiente contra os efeitos da mudança climática do que o investimento em infraestrutura. Se o progresso educacional estagnar, as mortes relacionadas a desastres ambientais aumentariam cerca 20% por década.
– A Educação aumenta a resiliência das pessoas aos riscos relacionados ao clima, além de incentivar seu apoio e seu envolvimento em ações de mitigação.
– Em países de baixa renda, o aumento nos índices de conclusão do ensino médio aumentaria a renda per capita em 75% até 2050, o que representaria um avanço de 10 anos na erradicação da pobreza.
– As taxas de desemprego são mais baixas entre os mais educados. Em países da OCDE, 55% dos adultos entre 25 e 64 anos que não completaram o ensino médio estavam empregados em 2013, ante 73% dos completaram o segundo grau e 83% com curso superior.
– A Educação reduz a criminalidade. Nos Estados Unidos, investimentos em Educação na primeira infância promoveram efeitos de longo prazo para a diminuição do crime na vida adulta.
Vamos difundir essa visão. Ela é essencial para construir um futuro melhor para todos.

Após 3 anos, plano de educação tem apenas 20% das metas cumpridas

Chamado de PNE, o programa é uma lei federal, sancionada em 2014, que prevê metas para melhorar a qualidade do ensino brasileiro em um prazo de dez anos

Por Agência Brasil

Após três anos de vigência do Plano Nacional de Educação (PNE), apenas seis das 30 metas e estratégias que deveriam ter sido cumpridas até 2017 foram alcançadas total ou parcialmente.
O número representa 20% do total, o que significa que quatro em cada cinco metas não foram atingidas. O balanço é do Observatório do PNE (OPNE), uma plataforma formada por 24 organizações parceiras, coordenada pelo movimento Todos Pela Educação.
O PNE é uma lei federal, sancionada em 2014, que prevê metas para melhorar a qualidade do ensino brasileiro em um prazo de dez anos, desde a educação infantil até a pós-graduação. As estratégias preveem aumento do investimento, melhorias em infraestrutura e valorização do professor.
O texto estabelece 20 metas para serem cumpridas até 2024, das quais oito têm prazos intermediários, que já venceram. A lei também aponta 254 estratégias relacionadas a cada uma das metas e 14 artigos que definem ações a serem realizadas no país.
Na avaliação da presidente executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o principal entrave para o cumprimento do PNE é a falta de um plano estratégico que estabeleça uma ordem de execução das metas.
Para ela, os governos federal, estaduais e municipais deveriam ter traçado uma estratégia de execução para definir o que deve ser feito primeiro.
“O plano não coloca as metas e as estratégias em uma ordem para que a gente consiga fazer com que ele seja realmente executado e cumprido. Algumas metas são gargalos para outras, é preciso definir quais deveriam ser cumpridas antes para que outras avancem e quais metas vão impedir que as demais sejam cumpridas”, aponta.
Para a pedagoga Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), o balanço dos três anos do PNE é preocupante.
“Ainda mais se levarmos em consideração que as metas são articuladas e o sucesso de uma depende da execução da outra. Temos que pensar no plano como um todo”, diz.

Valorização dos professores

Entre as metas consideradas fundamentais para o avanço da educação no país e que não foram cumpridas, algumas dizem respeito à valorização dos professores, considerada um dos gargalos para o avanço do ensino.
A meta 18, por exemplo, estabelece que devem ser assegurados planos de carreira para os profissionais da educação básica e superior públicas, tomando como referência o piso salarial nacional. Segundo o Observatório, não há iniciativas em curso em âmbito federal.
“Com um bom professor, em uma escola com um bom diretor e bem gerida, com infraestrutura adequada, você consegue andar com várias metas [previstas no plano]”, diz Priscila.
Ela também cita como exemplo a meta que prevê a melhoria do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador criado pelo Ministério da Educação (MEC) para medir a qualidade do ensino em diferentes etapas. A avaliação do Observatório é que apenas a meta do 5º ano do ensino fundamental foi cumprida, enquanto os anos finais dessa etapa e o ensino médio ainda estão em um patamar muito baixo.
“Essa meta do Ideb não vai acontecer se não melhorarmos a formação dos professores. O maior determinante para a aprendizagem de alunos é a qualidade do professor”, diz.
A valorização da carreira docente também é apontada pela superintendente do Cenpec como fundamental para o sucesso do restante do plano.
“Se queremos uma educação de qualidade, não se pode pensar nisso sem a valorização da carreira docente, que passa pelas condições de trabalho, pela carreira do professor e pela formação”, diz Anna Helena.

Educação infantil

Uma das metas do PNE determina que todas as crianças de 4 a 5 anos deveriam estar matriculadas na escola até 2016. Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), que são de 2015, mostram que a taxa de atendimento nessa faixa etária é de 90,5%.
O cumprimento real da meta só poderá ser aferido quando a Pnad 2016 for divulgada, mas o relatório da Observatório destaca que o percentual de 9,5% restante representa cerca de 500 mil crianças dessa faixa etária fora da escola.
“Se a criança não entrou na educação infantil, ela vai ter mais dificuldades de se alfabetizar. Não se alfabetizando, ela não vai conseguir aprender tudo aquilo que ela deveria. Não aprendendo, ela vai abandonar a escola antes do tempo. É uma reação em cadeia”, explica Priscila Cruz.
No Brasil, a educação infantil é responsabilidade dos municípios. Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Aléssio Costa Lima, a garantia da matrícula de todas as crianças nesta etapa de ensino depende de políticas públicas de inclusão social, uma vez que quem está fora da escola nessa faixa etária são moradores de periferias de centros urbanos ou de lugares distantes, com difícil acesso. “Teremos que ter um conjunto de políticas articuladas que venham a garantir a questão da inclusão”, diz o secretário.
O PNE prevê também que o investimento público em educação deve ser ampliado para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2019 e para 10% até 2024.
O presidente da Undime destaca que a ampliação de recursos para a educação é fundamental para o cumprimento das metas restantes.
Para ele, o modelo atual de financiamento, que ocorre principalmente por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), não é suficiente para atender as necessidades do setor.
“É preciso assegurar novas fontes de investimentos porque a melhoria da qualidade e a ampliação da oferta, como está colocado em muitas metas, isso não se faz sem acréscimo de investimentos”, diz o secretário.

Expectativa

Entre as metas que já foram cumpridas no PNE estão a formação de um fórum permanente para acompanhar o piso salarial do magistério público na educação básica e a divulgação de resultados pedagógicos de indicadores educacionais.
Outra meta alcançada, embora com atraso, foi a que estabeleceu o encaminhamento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A proposta foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) em abril deste ano, quando o prazo inicial era até 2016.
Também foi considerada cumprida parcialmente a meta que determina que os estados e municípios deverão elaborar seus planos de educação, com metas próprias para seus sistemas. Apenas dois estados e 14 municípios ainda não sancionaram seus planos.
A Agência Brasil procurou o MEC para um posicionamento sobre o cumprimento das metas do PNE, mas a pasta ainda não respondeu às perguntas da reportagem, e informou que irá se manifestar nos próximos dias.
Com o avanço ainda lento do plano, a presidente do Todos pela Educação diz que tem uma perspectiva pessimista quanto ao cumprimento da lei até 2024. “A gente já perdeu muito tempo. A falta desse planejamento estratégico fez com que a gente não conseguisse dar uma certa ordem na execução do plano. Então ficamos sem prioridade nenhuma”, diz Priscila, embora reconheça que dificilmente planos de metas são cumpridos em sua totalidade.
Para Anna Helena, é preciso uma ampla mobilização da sociedade para que o país avance no cumprimento das metas. “O PNE deve ser uma discussão de todos, não só das áreas especializadas. Ele precisa ser discutido nas escolas, pelos alunos, pelos professores, pelas famílias, pela sociedade como um todo, porque o plano fala sobre a escolha que estamos fazendo para o futuro do nosso país”.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Combate à evasão escolar pode evitar homicídio, diz pesquisadora

FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO

A pesquisadora Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé
A pesquisadora Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé

RAIO-X
NASCIMENTO
Nova Friburgo (RJ), 1978

FORMAÇÃO
Mestre em Estudos de Conflito e Paz pela Universidade de Uppsala (Suécia), especialista em Desenvolvimento Internacional pela Universidade de Oslo (Noruega)

CARREIRA
Foi secretária-executiva da Comissão Global de Políticas sobre Drogas (2011-16) e pesquisadora e co-roteirista do documentário "Quebrando o Tabu". É autora do livro "Drogas: As Histórias que Não te Contaram" (ed Zahar)

Com 8% da população mundial, a América Latina concentra 38% dos assassinatos globais. O problema se concentra em sete países: Brasil, Colômbia, El Salvador, Honduras, Guatemala, México e Venezuela. Só o Brasil responde por pouco mais de 10% dos assassinatos do planeta.

Foi a partir da eloquência desses dados que se articulou a campanha Instinto de 
Vida, que reúne 32 organizações latino-americanas e com um cardápio de políticas públicas baseadas em evidências para se reduzir em 50% os homicídios nos próximos dez anos.

Entre elas está o investimento em famílias vulneráveis e na redução da evasão escolar. "Investir na primeira infância tem relação custo-benefício altíssima, assim como a busca ativa de jovens que abandonaram a escola, porque é ali que começa o problema", diz Ilona Szabó de Carvalho, 39, que abandonou o mercado financeiro para se especializar em segurança pública e política de drogas.

Ela é diretora do Instituto Igarapé, que lidera a campanha no Brasil ao lado de entidades como Anistia Internacional Brasil, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Instituto Sou da Paz, Nossas e Observatório de Favelas.

Para ela, além das linhas de prevenção e reabilitação, é imprescindível investigar a entrada de armas no país e todo o caminho dos recursos gerados pelo crime organizado.

Como chegamos até índices recordistas de homicídio?
A América Latina é uma das regiões mais desiguais do mundo. A população jovem é numerosa, desempregada e de baixa escolaridade. Temos baixa regulação de acesso a drogas, armas e álcool. Temos a negligência dos governos. As ditaduras também influíram porque fizemos a transição para a democracia sem discutir o novo papel da polícia.

Quais são os fatores de risco para homicídios?
Homicídios são multicausais e decorrem da acumulação de fatores de risco. Desigualdade social, desemprego e baixa escolaridade são alguns. A escola expulsa o jovem e isso é um divisor de águas: ele vai para o sistema de justiça juvenil e depois para o sistema prisional ou vira estatística de homicídio.
A exposição à violência é outro fator importante. Hoje sabemos que ela promove comportamentos violentos, inclusive a partir de mudanças no cérebro.
Há ainda a urbanização rápida e irregular. Estudos mostram que, em áreas urbanas que crescem acima de 4% ao ano, rompe-se o tecido social.
Por fim, há comportamentos de risco associados a álcool, drogas e armas, que funcionam como gatilhos. Na nossa região, soma-se a isso a questão da impunidade porque a taxa de elucidação de homicídio é muito baixa.

Prendemos muito, mas prendemos mal
Sim! Esse jargão é verdadeiro. A gente não prioriza crimes que de fato ameacem a sociedade. Os crimes contra o patrimônio continuam sendo privilegiados, assim como o tráfico de drogas, na figura, não do traficante homicida, mas do produtor, transportador ou pequeno vendedor.
O Judiciário não revisa suas políticas em termos do efeito da aplicação das leis. O impacto da morosidade da Justiça é brutal para os presos provisórios do país, que somam 40% da massa carcerária. Sabemos que eles não são separados por periculosidade e que, portanto, a pessoa sai do sistema mais perigosa do que entrou. Além disso, temos um Congresso que passa ou tenta passar antimedidas de segurança.

Quais?
O porte de armas para civis, por exemplo. No Brasil, as pessoas podem ter armas, mas não podem andar armadas na rua. E há sempre novas iniciativas para liberar isso.
Em momentos de crise, o discurso do medo atende ao desespero da população. É justamente essa política que nos trouxe onde estamos. Tivemos uma trajetória de achar que algumas vidas valem mais do que outras, dependendo do seu CEP e da sua cor.
No Rio, havia a chamada "gratificação faroeste", que dava bônus a policiais que matavam supostos bandidos. Como você acha que esse policial era recebido nas comunidades? Se o bandido sabe que o policial vai atirar antes de qualquer coisa, o que ele vai fazer? Atirar antes de qualquer coisa.

Como melhorar a atuação das polícias?
A estratégia número um é o policiamento de manchas criminais. São Paulo tem um sistema de dados, e a polícia militar coloca suas viaturas nas ruas baseada em informação de onde ocorrem mais crimes, de forma preventiva.
No Rio, conseguimos juntar empresários que doaram esse tipo de sistema ao Estado. Mas a maioria absoluta do território nacional não tem isso. Custa muito pouco: menos de R$ 1,5 milhão. Foi assim que Nova York diminuiu a violência.
Além disso, precisamos no Brasil de uma Lava Jato do tráfico de armas e da lavagem de dinheiro. Nunca usamos as técnicas que estão à serviço do combate à corrupção contra o crime organizado.


Quais outras políticas fazem parte da cartilha de redução de homicídios?
Políticas de prevenção e reabilitação, que são de âmbito local. Investimentos extra nas famílias mais vulneráveis. Investir na primeira infância tem relação custo-benefício altíssima, assim como a busca ativa de jovens que abandonaram a escola porque é ali que começa o problema. Criam-se comitês nas escolas para ir atrás deles, um a um.
Terapias cognitivo-comportamentais também têm funcionado nas periferias de grandes cidades norte-americanas tanto com egressos do sistema prisional quanto com jovens mais aguerridos, que são vistos como "problema", mas que podem ser "solução" porque são líderes. São técnicas de autocontrole e a designação de mentores que podem ser acionados em momentos críticos. O custo disso é mínimo, não tem de criar estrutura, construir presídio...

E do ponto de vista urbano?
Intervenção nos modelos de Medellín e Bogotá são essenciais porque promovem integração física e social de locais mais vulneráveis com o restante da cidade, criando espaços seguros de convivência.
Além disso, tem a regulação do álcool, que é tabu, apesar de sabermos que muitas manchas criminais estão no entorno de bares. Em Diadema, Bogotá e Medellín houve fechamento de bares mais cedo. À medida que os índices melhoraram, permitiram sua abertura até mais tarde.

Por que parece tão difícil ao Brasil implementar um plano de redução de homicídios?
Passa por não querer enfrentar questões estruturais. Estamos com um problema de grande proporção, e quem se envolver acha que o preço político pode ser muito alto. Há uma saga dos planos nacionais desde o governo passado [Dilma Rousseff], quando um plano foi anunciado mas nunca lançado. O primeiro ministro da Justiça de Temer fez outro pré-lançamento de um plano de redução de homicídios motivado pela crise carcerária, mas ele nunca saiu do papel.
É triste, porque o conhecimento dos institutos de pesquisa não está sendo acessado. O pedido é: governos, por favor, diante desta urgência, usem esse conhecimento para não insistirmos em políticas que não geram resultados.

Como a campanha pretende influir nesse processo?
Qualquer plano de segurança é uma política de Estado, não de governos. Criamos um cardápio de políticas e o submetemos a quatro consultas regionais –em Washington, Cidade do México, Bogotá e Rio de Janeiro– para que pudéssemos oferecer aos governos um guia robusto de elaboração de políticas.
A ideia é assessorarmos tecnicamente vários níveis de governos que queiram fazer planos de redução de homicídios e se comprometer com metas e políticas eficazes. Estamos dialogando com a Organização dos Estados Americanos (OEA) para que haja compromisso dos países com uma redução clara na taxa de homicídios.
E negociamos com o Banco Interamericano (BID) e a CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) para que coloquem indicadores de redução de violência como contrapartida de seus empréstimos e doações.