segunda-feira, 31 de outubro de 2016

'Livro amplia imensamente o universo de vocabulário das crianças'


Petria Chaves | Revista responde: como criar seus filhos

De acordo com a presidente do Laboratório da Educação e do Blog Toda Criança, Beatriz Cardoso, leitura deve ser feita desde bebê.


lique nos links abaixo para mais informações:

Atraso escolar ainda é um problema seríssimo no Brasil


Antônio Gois | Escola da Vida

Estudo feito pela pesquisadora Betina Fresneda afirma que taxas de atraso escolar ainda são muito altas no país. Entre os 20% mais pobres, o percentual de alunos com defasagem escolar caiu de 64% para 41% de 2005 para 2014. Número ainda é um absurdo.

Há uma diferença entre sonho e delírio


Mario Sergio Cortella | Escola da Vida

Sonho é aquele desejo que você conseguirá realizar, mesmo que demore. Delírio é aquele desejo que não tem como acontecer.

Uma das coisas mais importantes é estabelecer aquilo que é um sonho e tem possibilidade de realização. Se não tem, você gera uma decepção imensa consigo mesmo.
O planejamento na vida tem que ser olhado com aquilo que é nossa possibilidade, mesmo que seja difícil, porque o difícil não é impossível.

Modelo de educação finlandês quer abolir avaliações e aposta em escola com disciplinas flexíveis


Teodoro Zanardi | Escola da Vida

Apesar de estar no topo da lista de rankings internacionais sobre educação, país nórdico está disposto a mudar seus métodos de ensino e apostar na qualificação ainda maior de professores



Apesar de aumentar entrada em universidades, Fies ainda não resolve problemas no ensino superior


Teodoro Zanardi | Escola da Vida

Professor classifica como boa a notícia de liberação de recursos do programa de financiamento, mas ressalta que meta ter 33% dos jovens matriculados no ensino superior até 2024 ainda está distante


'Modelo de escolarização atual não atende às necessidades contemporâneas', afirma especialista


Teodoro Zanardi | Escola da Vida
Como escolher o colégio de seus filhos; a importância da formação dos professores; bullying ? tudo sobre educação no quadro 'Escola da Vida'.

Alimentar a curiosidade para a pesquisa é um dos caminhos para a construção do conhecimento




Gente 'cult' tende a ser chata e afetada em suas opiniões

luiz felipe pondé
Luiz Felipe Pondé
Filósofo, escritor e ensaísta, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, discute temas como comportamento, religião, ciência. Escreve às segundas.

O mundo pós-moderno em que vivemos é um prato cheio para frescuras. A palavra "frescura" pode soar um pouco estranha para quem não possui um repertório um pouco mais sofisticado em filosofia. Se isso acontece com "frescura", quanto mais com a palavra "desconstruído", que tem em sua história gente chiquérrima, como o filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Quanto a "pós-moderno", então, nem me fale. Nada é mais chique do que algo ser pós-moderno. Voltaremos já ao que seria "pós-moderno".

Vamos por partes. Dizer que algo é uma "frescura" implica dizer que ela tem um frescor que lhe é peculiar, um certo tom de "novo", "avantgardiste", diria alguém versado em teoria da arte moderna. Portanto, sua raiz está no âmbito da natureza e da arte, ao mesmo tempo! Talvez, lá atrás, encontremos algum fenômeno a ver com mudança de estação do ano. Tal conceito também afeta qualquer teoria da moda.

Um detalhe: "frescura" sempre carrega alguma nuance de afetação. Quando algo ou alguém é "fresco", quer dizer que ele ou ela é um tanto exagerado (afetado) nas suas ações. Os mais velhos diriam: uma nota acima do necessário.

Na sua evolução semântica ("evolução semântica" quer dizer mudança de significado de uma palavra ao longo do tempo), a palavra "frescura" acabou assumindo um sentido próximo a "wannabe". O que quer dizer isso? Simples: "(to) want to be", em inglês, significa "querer ser algo","wannabe" significa "querer ser algo chique que não se é de verdade". Tipo gente que queria ser culta e por isso frequenta lugares "cult" para todo mundo pensar que é culta. Sacou? Conhece alguém assim? Aposto que sim. Gente "cult" tende a ser chata e afetada em suas opiniões.

E "descontruída"? Essa tem a ver com nossa época pós-moderna. Filósofos franceses chiques do final do século 20 se puseram a dizer (Jean-François Lyotard entre eles) que nossa época havia se cansado de "grandes narrativas". Em língua dos mortais, isso quer dizer ficar de saco cheio de muita teoria complicada e que é preciso ler muito para entender e, por isso mesmo, gastar o cérebro demais. Para os pós-modernos tudo é relativo e Shakespeare é igual a alguém batendo tambor repetidas vezes em algum recanto perdido do mundo.

Os pós-modernos começam então a misturar coisas que normalmente não iriam juntas, como bolsa Prada com pijamas no Iguatemi, paletós caros com sandálias Havaianas no Copacabana Palace e, assim, desconstruir tudo o que foi tomado como evidência antes deles. Daí chegamos a "frescuras desconstruídas" de nossa conversa de hoje.

Uma coisa que se adora desconstruir hoje em dia é a comida. Quando todo mundo acha que pode fazer comida gourmet, é melhor você se ater à comida da sua avó. Vou dar um exemplo real que me foi contado por uma amiga, recentemente. Olha só que primor de frescura (comida fresca que quer parecer inteligente e chique).

Um restaurante "top" na França. Num dado momento, é servido a ela uma "espuminha" com uma coisa escura e dura no meio do prato, completamente indecifrável. Mulher educada e com trânsito no mundo sofisticado, fica perplexa diante da dificuldade de identificar tamanha "desconstrução" do que seria muito banal, como carne, peixe, salada ou algo semelhante. Na sua modéstia típica de quem é de fato elegante, pergunta para o inteligente chef o que viria a ser aquilo.

Surpresa! Você não imaginaria a resposta, assumindo que você não seja uma dessas pessoas frescas que acham que comida deve ser inteligente.

A revelação máxima: a coisa escura era uma pedra. Pedra com espuminha. A desconstrução máxima do que seria comida: uma pedra. Nenhum animal come pedra. Mas humanos desconstruídos, sim. Hoje em dia está na moda fazer espuminha de tudo na comida. De todas as cores: vermelho, amarelo, azul, verde, marrom...

A ideia dessa comida desconstruída é que você chupe a pedra molhando ela na espuminha até secar o prato e a pedra. Alguém poderia se perguntar qual o limite da desconstrução gourmet. Que tal baratas africanas com espuminha de fezes seca? 

Viúva luta por 'escola de ricos para pobres' no interior do Paraná

Cultura 'egoísta'

 "Víamos que os americanos têm essa iniciativa da ajuda. Nos hospitais existem alas inteiras que foram doadas por famílias ricas. E a gente imaginava que nossa sociedade, também chamada a contribuir, daria um maior retorno. Mas não foi bem assim", lamenta.



Camilla Costa
Da BBC Brasil em São Paulo 31/10/201608h03

"Uma escola de rico para os pobres" era o lema de Thereza Elizabeth Castor, de 68 anos, e de seu marido, Belmiro Castor, quando decidiram usar o tempo livre para criar uma instituição de ensino gratuita para crianças da cidadezinha de Piraquara, na zona rural de Curitiba, no Paraná.
"Queríamos uma escola que tivesse todo o aparelhamento e o atendimento das escolas particulares - que atendem ao nível alto da nossa sociedade - para atender crianças necessitadas", diz dona Elizabeth, como é conhecida, à BBC Brasil.
O ano era 2007, e a primeira decisão do casal foi que a escola deveria ser completamente independente da administração pública, mantida por doações de pessoas ou empresas interessadas em projetos beneficentes.
"Como meu marido foi secretário de Educação do Estado, ele teve a experiência de que a parte educacional fica muito sujeita às vontades dos políticos, que ficam pedindo remanejamento de alunos e professores para agradar o eleitorado. Por isso não quisemos nenhum vínculo com a classe política."
"Além disso, queremos ajudar o poder público na educação. Não faria sentido a escola ser custeada por ele", afirma.
O Centro Educacional João Paulo 2º, começou a funcionar em 2010, financiado por um grupo de amigos do casal. Até o espaço físico da escola foi projetado, voluntariamente, pelo renomado arquiteto Manoel Coelho - autor do projeto da PUC-PR e do mobiliário urbano de Curitiba.
O ensino infantil em período integral, para crianças de 3 a 5 anos, é reconhecido pela secretaria de educação. Dos 6 aos 14 anos, elas vão para lá depois da escola regular e têm aulas de reforço de português, matemática e literatura, além de teatro, caratê, futebol, artes, música e dança.
As quase 300 crianças atendidas pelo Centro João Paulo 2º, no entanto, são um número pequeno perto da mudança que Elizabeth e Belmiro queriam começar. Ver o modelo da escola copiado e reproduzido, diz ela, é o que realmente falta para realizar o sonho.
"Sabemos que só uma escola funcionando dessa forma ajuda um grupo de pessoas, mas acreditávamos que o projeto pudesse servir como um piloto para incentivar outros núcleos da sociedade a repetir isso, até em outras cidades", diz ela.
"Infelizmente, ainda não aconteceu."

Impacto

As histórias colecionadas ao longo dos seis anos de funcionamento do João Paulo 2º, segundo Elizabeth, comprovam o impacto do projeto nas famílias mais pobres da região.
"Uma dessas famílias veio nos agradecer depois de um tempo dos filhos deles conosco. A esposa conseguiu começar a trabalhar e estudar porque eles passavam o dia aqui. A visão de futuro deles passou a ser outra."
"Muitas das crianças não conheciam nem hábitos de higiene. Uma delas veio contar que o pai estava muito feliz porque descobriram, com ela, que tinham que escovar os dentes todos os dias. A família tinha só uma escova na casa que todos usavam de vez em quando, até que a menina começou a fazer o que aprendeu aqui", conta.
Julio Bueno de 10 anos, chegou no João Paulo 2º aos três, com sérias dificuldades de aprendizado, mesmo tendo passado por uma escola pública.
"A gente não conseguia se comunicar com ele porque ele tinha uma fala muito enrolada, trocando ou omitindo letras. Até certo ponto isso é normal nessa fase, mas a dificuldade dele era grande", diz a professora Andressa Moro, de 34 anos, que recebeu o garoto em sua sala de aula.
"No começo, precisávamos falar por gestos, que era como os pais faziam porque também não entendiam a fala dele."
A timidez causada pela dificuldade também impedia que Julio fizesse novos amigos. Esta, aliás, é uma das poucas memórias que ele ainda tem daquela idade.
"Era muito difícil pra mim, a professora pedia pra soletrar e eu não conseguia. Eu via que os outros alunos conseguiam, mas eu não", disse à BBC Brasil.
"Eu brincava menos porque tinha vergonha de errar as palavras. Eu tinha quase dois amigos na outra escola, e agora nem sei dizer quantos tenho. Todo mundo me ajudou aqui"
A escola também recebe casos mais difíceis - como os de crianças que são vítimas de abuso -, mas, com o orçamento apertando, ainda não conseguiu contratar um psicólogo para lidar com elas. A maioria das situações, segundo Elizabeth, precisam da atenção contínua dos professores.
"É uma necessidade urgente ter uma pessoa que faça esse trabalho. Atualmente, a enfermeira que trabalha aqui faz um pouco. Tentamos conseguir uma estagiária de psicologia com a universidade, mas não deu certo."

Sobrevivência

Sem apoio financeiro de governos municipal, estadual ou federal, a escola conta com parcerias para economizar nas despesas mensais - que, atualmente, são de R$ 120 mil. ONGs, fundações e instituições como o Sesi são as responsáveis, por exemplo, pela contratação dos professores que dão aulas de artes e esportes.
Belmiro administrava a escola e cuidava da captação de recursos até sua morte, em 2014. Elizabeth supervisionava os funcionários e o atendimento às crianças. Ao ficar viúva, encarou o desafio de assumir completamente o comando, quando as doações pararam de chegar.
"Chegamos a pensar em fechar a escola, porque era ele quem fazia os contatos, e não conseguiríamos ter dinheiro até o final do ano. Por sorte, houve uma mobilização muito grande da mídia e as doações voltaram a aumentar", relembra.
Após a crise, Elizabeth aceitou que o conselho criado para fazer a auditoria das contas do centro - também formado por voluntários - fizesse também a captação e administração dos recursos.
"Esse ano, temos caixa para levar a escola até o final do ano. Mas ano que vem começamos de novo. Tem sido assim", afirma.
"Eu acho que o nosso projeto é de muito sucesso, mas gostaria que não tivéssemos que lutar tanto pela sobrevivência dele."

Cultura 'egoísta'

A inspiração para a escola, segundo Elizabeth, veio quando o casal morou nos Estados Unidos, nos primeiros anos de casamento. "Víamos que os americanos têm essa iniciativa da ajuda. Nos hospitais existem alas inteiras que foram doadas por famílias ricas. E a gente imaginava que nossa sociedade, também chamada a contribuir, daria um maior retorno. Mas não foi bem assim", lamenta.
Atualmente, é possível doar dinheiro de quatro maneiras diferentes pelo site da escola. Pessoas físicas podem comprometer-se a uma doação mensal, para a qual se recebe um boleto bancário; cadastrar-se para doar um valor fixo pago junto com a conta de luz ou fazer uma doação livre.
Empresas podem obter abatimento no imposto de renda ao fazer uma contribuição direcionada para o colégio no Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Piraquara - fruto de uma parceria com a prefeitura.
Mas desde o início do seu funcionamento, o João Paulo 2º contou muito mais com as doações empresariais.
"Especialmente depois da crise as doações de pessoas físicas ficaram bem menos volumosas. Se dependêssemos só delas, a gente não sobreviveria", afirma Elizabeth.
"Lá (nos EUA) existe, há anos e anos, essa cultura de colaboração com a sociedade. Mas é algo que vem com o tempo, não surge de uma hora para outra. Aqui, as pessoas mais prósperas não têm o hábito de colaborar com a sociedade em geral. Ainda são muito egoístas."

domingo, 30 de outubro de 2016

Devo mudar meu filho de escola? Entenda quando a troca é necessária

Antes de correr atrás de um novo colégio, certifique-se de que precisa mesmo tomar essa atitude; conversas com a escola e com seu filho podem resolver o problema

Júlia Marques,
O Estado de S. Paulo

No fim do ano letivo, são feitas as avaliações mais importantes - na escola e em casa. Enquanto o filho resolve as últimas provas, os pais também podem estar debruçados sobre outra questão delicada: mudá-lo ou não de colégio. Se a criança tirou notas baixas, está desanimada ou tem dificuldade de se enturmar, aumentam as dúvidas. Para especialistas, o momento pede calma e diálogo.
Antes de tomar qualquer decisão, é importante que os pais ouçam a escola. “A primeira medida, com qualquer tipo de problema, é sempre conversar para buscar uma solução conjunta e evitar essa atitude mais radical que envolve uma adaptação muito maior”, defende a professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Colello.
Mesmo em caso de baixo desempenho escolar, em que a criança ficou de recuperação ou não conseguiu nota suficiente para passar de ano, permanecer no colégio pode ser a melhor opção, desde que o aluno seja acompanhado mais de perto pelos pais e professores no ano seguinte.
“É possível manter a criança na escola, mas com um olhar diferente para ela, mais acolhedor. Isso mostra que ela tem de tentar”, diz Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem e membro do conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Explicar a matéria de um jeito diferente ou passar exercícios extras, segundo ela, podem ajudar o aluno a ganhar destreza e, dessa forma, melhorar o desempenho.
No entanto, se a metodologia do colégio não é adequada à forma de aprender do estudante, a mudança pode ser necessária. Para avaliar isso, os pais contam com a ajuda de profissionais da própria escola ou de especialistas de fora. O cuidado, nesses casos, deve ser redobrado para que a troca não passe uma mensagem ao filho de que ele não é capaz.
Persistência. Para Sandra Braga, orientadora educacional do Colégio Pio XII, na zona sul de São Paulo, independentemente de trocar ou não de colégio, é importante que os pais ajudem os filhos a lidar com os fracassos. “Não é só mudar de lugar. Em relação à criança que tem baixo rendimento, a família deve ser orientada o ano inteiro.” Além de seguir de perto os estudantes com dificuldade de desempenho, a escola também trabalha na prevenção ao bullying, outro motivo que pode levar os pais a trocar de colégio.
“A gente acredita que o afetivo leva ao sucesso do cognitivo. O mais importante no olhar do aluno é se sentir bem e pertencer a um grupo”, diz Sandra. Para ajudar na adaptação dos estudantes, o colégio faz um trabalho de tutoria, em que colegas da mesma faixa etária apresentam a escola a alunos novatos e os ajudam a se enturmar.
No caso de Luísa Barberio, de 13 anos, as “tutoras” se tornaram suas melhores amigas em um momento decisivo de adaptação à nova escola. A menina deixou, no segundo semestre, o colégio onde estudou desde o 1.º ano do fundamental. “As pessoas da minha antiga escola não eram muito legais e aqui me acolhem bem. Mudar de colégio não é muito fácil, mas elas vieram na porta me receber, foram super simpáticas, me apresentaram aos professores.”
Para Maria Beatriz Barberio, mãe de Luísa, a decisão de trocar de escola veio após um acúmulo de insatisfações com o colégio anterior, uma instituição italiana. “O colégio parou de me agradar na parte pedagógica, tinha uma estrutura muito precária e um preço muito alto para o que estava oferecendo”, afirma a publicitária. O projeto de socialização oferecido pelo Pio XII, segundo ela, ajudou a família a ter mais tranquilidade na transição.
Falta de motivação. A troca de escola também pode ser positiva quando a instituição não oferece mais incentivos para o estudante, levando ao desinteresse. “Na escola anterior, eu sentia falta de um estímulo. Nunca tive nota baixa e sentia que estava tudo bem, mas precisava sair da zona de conforto”, conta o estudante Enzo Fantini, de 16 anos, que cursa o 2.º ano do ensino médio no Colégio Etapa.
Para Edmilson Motta, coordenador-geral da escola, é natural que os colégios deem mais atenção a alunos que estão com mais dificuldades. “Mas a escola não pode fazer com que essa preocupação ofusque a que ela deve ter com aqueles que estão conseguindo levar bem e precisam ter um desafio maior, uma palavra de apoio, um reconhecimento.”
Para Enzo, a mudança de escola significou também uma troca de cidade, do interior de São Paulo para a capital, e dedicação exclusiva ao estudo, longe da família e dos amigos. Mas o estudante não se arrepende e conta animado: “Hoje faço provas todos os dias e também participo de olimpíadas de Química”.
A mudança também incentivou a aluna Beatriz Krause, de 14 anos, que pedia a troca à mãe em busca de uma experiência mais “renovadora”. Fã de História e Português, a menina encontrou no novo colégio mais espaço para desenvolver suas habilidades com texto. “A gente tem aula de Leitura e Interpretação, de Redação, e lê um livro por período”, conta a aluna, que cursa o 9.º ano do Colégio Anglo 21, na zona sul de São Paulo.
O QUE FAZER ANTES DE DECIDIR TROCAR DE COLÉGIO
1) Ouça seu filho
Quando a criança é pequena, ela pode não conseguir se expressar claramente com as palavras, mas é possível perceber se não está feliz pelo desinteresse que ela manifesta pela escola ou por seus colegas. Se a criança for maior, pergunte a ela
2) Entenda o problema
Veja se o caso é pontual (com uma matéria ou um professor, por exemplo) ou se é crônico (dificuldade de adaptação ou bullying)
3) Tente resolver com o colégio
Se existir um problema de fato, aproxime-se da escola para buscar uma solução. Converse com professores, diretores e até pais de colegas. Em relação a notas baixas, é possível que o colégio tenha um plano de acompanhamento mais individualizado
4) Veja a troca como positiva
Se a opção for mesmo pela troca de escola, garanta que o processo seja feito com diálogo e tome cuidado para não passar a mensagem de fracasso (acadêmico ou de relacionamento) para a criança. Fale dessa experiência como uma nova oportunidade.

Sem estresse após troca de escola

Jessica Fogaça
Jéssica Fogaça orienta os pais a ouvir sobre as ansiedades dos filhos

Pais devem ser sinceros com crianças e ouvi-las para as deixarem mais confortáveis

Luiza Pollo, especial para o Estado

Decidir mudar as crianças de escola é um processo desgastante por si só. Mas o estresse normalmente não acaba com a escolha. Depois da decisão por um novo colégio, os pais ainda precisam lidar com a ansiedade dos filhos em relação ao desconhecido. Nesse momento, segundo a psicóloga infantil Jéssica Fogaça, é preciso ser bem sincero com a criança, deixar claro os motivos e os benefícios da mudança, ouvi-la e entender o que pode ser feito para deixá-la o mais confortável possível com a novidade.
Como os pais devem agir quando percebem que os filhos estão ansiosos com a mudança de escola?
As crianças sempre vão ficar ansiosas porque elas não conhecem o novo ambiente, não sabem se vão fazer amigos, se as pessoas vão gostar delas ou não. Elas sempre vão tentar insistir no “não”, a não ser, é claro, quando a mudança de escola ocorre por um problema de relacionamento no colégio anterior. Oriento os pais a perguntar para o filho quais são seus medos, o que ele acha que vai dar errado. Se mudar de escola não foi uma opção da criança, quando são os pais que querem um lugar melhor, precisam primeiro ouvir quais são os medos e direcionar as explicações. Mostrar o que a criança vai ganhar, por exemplo: “a escola é melhor”, “você pode fazer novos amigos”, “os professores são legais”. Outra coisa boa é mostrar fotografias dessa escola para a criança.
É importante levar a criança para visitar a nova escola e apresentar os futuros professores?
É bom agendar uma visita, para acabar com o mistério. Quando ela vai até lá e vê como é, se a escola é grande, pequena, se tem espaço para brincar, começa a perceber a realidade e a ter uma ideia melhor sobre o lugar para onde ela vai. É sempre importante ouvir o que ela está sinalizando. Se pede para ver os professores, manifesta alguma curiosidade, pode ser interessante. Mas não precisa oferecer. Para as menores de 5 anos, normalmente é legal mostrar alguns funcionários da escola com quem ela vai conviver.
Como agir quando a criança fica com medo de perder o contato com os amigos da escola antiga?
Uma coisa boa de se fazer é combinar com a criança e com os pais dos amiguinhos da escola antiga de ir em casa ou num parque, por exemplo. Se os pais já sinalizarem que existe essa possibilidade de continuar a encontrar os amigos em outro lugar, que não seja mais na escola, tende a acalmar a criança. Mas não podem prometer algo que não podem cumprir. É mais fácil dizer “olha, a gente pode convidar os coleguinhas para irem na nossa casa” ou então levar a criança na saída da escola antiga numa sexta-feira, com tempo, por exemplo. Explicar que não precisa perder esse contato, mas que não vai mais encontrar aqueles amigos todos os dias.
Em que idade é mais comum a resistência à mudança de escola?
Normalmente as que ficam mais ansiosas são as mais velhas, entre 8 e 10 anos. São as que entendem melhor que vão perder o contato diário com os amigos, que não conhecem quem são as pessoas do novo colégio e se perguntam se os outros vão gostar delas. São as que têm mais consciência do que é a rotina do ambiente escolar. Os pais precisam conversar com os filhos e lembrar que eles têm capacidade de fazer novos amigos, até porque as amizades atuais foram eles mesmos que fizeram. Também podem dar dicas de como a criança pode conversar com novos colegas. Por exemplo, perguntar para alguém que esteja sentado por perto do que ela gosta, como funciona a escola, para ela não ficar travada sem saber o que falar. Outra coisa importante é explicar que no começo é normal que ela fique meio tímida, “autorizar” o sentimento da criança em relação a isso, abrir a conversa e explicar que tentar é importante. Assim a criança sabe que os pais entendem que aquele é um período de adaptação, mas que não necessariamente ela vai mudar de escola por causa disso. Ela entende que vai sim precisar tentar algumas coisas novas.
Quanto tempo dura esse período de adaptação? Como é possível perceber que a nova escola “não deu certo”?
Com um mês de aula normalmente a gente já vê que a criança está adaptada, já tem amigos. O importante nesse primeiro momento é criar um vínculo com alguém. Ela se sente mais confiante, pois o novo amigo vai poder introduzi-la no novo ambiente escolar. Se os pais perceberem que já passou um mês e a criança está triste, irritada, não fala de nenhum amigo, ainda lancha sozinha, aí tem um problema. Nesses casos, os pais precisam ir à escola, conversar com a coordenação para que os profissionais também ajudem na adaptação.
Como tornar a mudança menos traumática para a criança?
O mais importante é que os pais sejam sinceros e ouçam o que as crianças têm a dizer. Se eles acham que ela precisa mudar de escola porque vai ganhar com isso, precisam deixar claro. Pode ser que a criança fique brava mesmo assim, mas os pais têm de explicar que gostariam que ela tentasse, mostrar que eles estão todos no mesmo barco. Principalmente as crianças mais velhas ficam com a sensação de que estão sendo desrespeitadas quando os pais não conversam sobre a mudança de escola. É preciso sempre focar nos aspectos positivos, falar de um jeito animado, perguntar o que os filhos querem saber e estar disposto a ajudar.

‘Bullying pode ser motivo para trocar criança de colégio’

‘Bullying pode ser motivo para trocar criança de colégio’
Sintonia. Pais devem ver escola que se ajusta melhor ao perfil da família

Professora da Faculdade de Educação da USP explica o que deve ser feito caso filho seja vítima de agressões na escola

Júlia Marques

Problemas graves na escola, como casos de bullying, podem justificar uma mudança de colégio, se a instituição não ajudar a contornar a questão. Em entrevista ao Estado, Silvia Colello, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), explica que aspectos justificam uma mudança de escola e destaca a importância da tentativa de diálogo antes de assumir posturas radicais.
O que pode ser feito antes de mudar de escola por nota baixa?
Pais e escolas sempre têm de estar muito próximos no acompanhamento da vida escolar, independentemente de qualquer coisa ou de casos extremos. Nota baixa é um aspecto, mas às vezes tem casos de bullying, de inadaptação social, ou a criança é muito tímida, fica isolada. Às vezes parece que está dando tudo certo, a criança tira notas boas, mas está infeliz na escola, não tem amigos.
A repetência é um motivo para sair ou isso pode ser contornado pelos pais?
A repetência é uma medida que deixa marcas, mas isso tem que ser avaliado caso a caso. Às vezes a criança está imatura, precisa de um tempo a mais. Se for essa a opção (tirar da escola), conversar muito com a criança para tentar minimizar os efeitos do sentimento de fracasso, de baixa autoestima. 
Alguns pais mudam de escola porque a metodologia não é adequada ao filho. Como perceber isso?
Muitos pais procuram a escola que frequentaram ou a escola que foi boa escola paro o irmão mais velho, por exemplo. E partem da ideia de que se já deu certo, vai dar de novo. E isso não é regra. Os pais têm de compreender que não existe escola perfeita, mas existem escolas com propostas educativas que podem se ajustar mais ou menos àquela criança.
Quando eu falo de ajustar, eu falo da metodologia que atende às expectativas, bate com a personalidade e o perfil da criança. Mas é também o ambiente da escola. Tem pais que são muito liberais e põem em uma escola muito rígida porque eles acham que, na média, vai dar certo. Isso não funciona bem porque a criança vive em um esquema de contradição. A proposta tem se aproximar do perfil da família. 
A escolha de uma escola que não estimula o aluno a estudar deve ser repensada pelos pais?
Deve. A escola tem que estimular o aluno. Não só garantir a aprendizagem, mas ensinar a estudar. Dar para o aluno a oportunidade de ele ser um pesquisador, um protagonista do seu processo de aprendizagem. Para te dar um exemplo: eu vejo muitos alunos meus na universidade que são bons alunos, mas não têm autonomia para aprender. Não sabem ir à biblioteca, fazer uma pesquisa. Porque a vida inteira receberam o conteúdo apostilado, mastigado.
Então, são escolas que garantem o conteúdo, mas não garantem a formação do estudante de forma mais ampla. Nem sempre os pais têm condição de ver isso. Às vezes eles estão tão preocupados com o vestibular, por exemplo, que não percebem que o projeto educativo é muito mais amplo. Envolve formar um sujeito com autonomia para a aprendizagem, que tenha liderança, valores, como respeito à diversidade, tolerância, que seja capaz de ter uma reflexão crítica. 
Insistir em uma escola onde a criança está sofrendo bullying ou tem dificuldades para se enturmar pode ser uma boa medida?
O bullying é uma prática que costuma deixar marcas muito profundas nas crianças e jovens. Então, em um primeiro momento, os pais têm que procurar a escola e cobrar iniciativas com relação ao bullying. Não é assim: começou o bullying, tira da escola. Em primeiro momento tem de conversar com a escola, mas se a coisa não se resolver, deve mudar de escola, sim. Se deixar uma criança por anos sofrendo bullying, é forte a probabilidade de ela levar isso para a vida inteira.
Eu lamento porque muitas escolas não conseguem lidar com isso, os professores não estão preparados e a escola finge que não vê. Tão importante quanto conteúdos é garantir a boa convivência respeito, tolerância, o atendimento à diversidade. Eu desconfiaria de uma escola que só trabalhe conteúdo e não se preocupe com essas questões.
Em relação a crianças mais novas, no Fundamental 1, por exemplo, quais os sinais de que a adaptação à escola não está indo bem?
Os pais me perguntam: como eu sei que a escola está sendo boa? É só olhar para o seu filho. A criança tem de dar mostras de estar bem. Ele vai feliz para o colégio, recebe amigos, é convidado para festas, participa das atividades extras da escola, dá conta das lições. Na infância, a escola é o eixo da vida da criança. Ou deveria ser. Se não for, é sinal de preocupação.
Na pré-adolescência, as coisas mudam um pouco. O jovem tende a bater um pouco de frente porque entram em seu circuito outras esferas de referência, para concorrer com a vida escolar. É comum que o jovem fale que não gosta da escola. Mas aí o canal é conversar. “O que está acontecendo? Por que você não gosta?” Às vezes o adolescente fala que não gosta de um professor ou porque no dia teve lição demais. Os pais têm de sentir se é um aspecto pontual, periférico ou um problema de fato. 

A partir de quando a criança pode efetivamente opinar sobre a mudança de escola?
Participar sempre e se responsabilizar pela mudança progressivamente, cada vez mais a partir da pré-adolescência. A partir de uns 10 anos, a escolha tem de ser cada vez mais dividida com o jovem. Na adolescência, se você  contraria o jovem nessa escolha, a chance de dar errado é muito grande. Mas, ao mesmo tempo, você não pode falar: “veja a escola que você quer”. O jovem tem que ser corresponsável por essa mudança, principalmente quando existe uma situação de fracasso.
Então, às vezes mudar de escola pode ser visto como uma segunda chance: “olha, naquela escola você não foi responsável, não fez a lição, provocou todo mundo, não obedeceu. Nós vamos mudar você de escola e você vai entrar ‘zerado’ na outra. Ninguém te conhece e você faz uma nova história”. A mudança às vezes é muito boa como forma de recomeçar porque na escola anterior aquele aluno já estava marcado. Que a mudança seja um rito de retomada, de mudança de postura. 

Criança deve participar de escolha do novo colégio, dizem especialistas

Opinião dos filhos sobre onde preferem estudar deve ser ouvida, mas decisão é responsabilidade dos pais

Júlia Marques,
O Estado de S. Paulo

No fim de 2015, Isabella Guarnieri começou a pesquisar um novo colégio - para ela mesma. A estudante, de 16 anos, foi atrás da opinião de amigos, fez buscas na internet e assistiu a vídeos antes de apresentar a proposta ao pai. “Foi importante opinar, ver uma escola legal, porque sou eu quem está estudando”, conta a aluna do 1.º ano do ensino médio no Colégio Oswald de Andrade, na zona oeste de São Paulo.
A adolescente, que também trabalha como dubladora desde os 8 anos, não estava feliz com a turma e queria um colégio que incentivasse o desenvolvimento artístico. “A escola era boa, mas os colegas eram muito infantis. (O lado artístico) passava batido. A escola tentava ter essa proposta, mas não ia adiante.” Segundo o pai, que também é dublador, o foco do colégio nas Artes pesou na decisão, apesar de ser mais caro e mais distante da casa da família. “A Isabella acabou me convencendo”, conta Tatá Guarnieri.
Comportamento. Para especialistas, é importante que os pais fiquem atentos aos sinais de que o filho não está bem adaptado. “Antes dos 10 anos, a tendência é a criança adorar ir para a escola e contar para os pais. Se isso começa a mudar, é um sinal claro de que algo está acontecendo. Mas, antes de tirar, é bom falar com os professores e até com os pais dos amiguinhos”, explica Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem e membro do conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Crianças mais velhas e adolescentes já conseguem expressar melhor o que gostam ou não no colégio, mas os pais devem verificar se o motivo é realmente suficiente para justificar uma troca ou, ao contrário, se pode ser superado. “Se a criança só não gosta de Matemática na escola, não é razão para tirar. Mas, quando é algo generalizado, sim. Não é por uma coisa pequenininha que você vai sair correndo.”
De acordo com Irene, se a decisão for por mudar o filho de escola, os pais devem fazer uma triagem prévia de novas opções, sozinhos, para depois questionar a criança sobre suas preferências. “Recomendo que os pais procurem três ou quatro escolas e vejam todos os critérios, como preço, currículo dos professores, questões disciplinares, se o método é o mesmo a que seu filho está acostumado. Selecionem duas instituições e depois levem a criança só a essas.” 
O QUE FAZER ANTES DE DECIDIR TROCAR DE COLÉGIO
Ouça seu filho
Quando a criança é pequena, ela pode não conseguir se expressar claramente com as palavras, mas é possível perceber se não está feliz pelo desinteresse que ela manifesta pela escola ou por seus colegas. Se a criança for maior, pergunte a ela
Entenda o problema
Veja se o caso é pontual (com uma matéria ou um professor, por exemplo) ou se é crônico (dificuldade de adaptação ou bullying)
Tente resolver com o colégio
Se existir um problema de fato, aproxime-se da escola para buscar uma solução. Converse com professores, diretores e até pais de colegas. Em relação a notas baixas, é possível que o colégio tenha um plano de acompanhamento mais individualizado
Veja a troca como positiva
Se a opção for mesmo pela troca de escola, garanta que o processo seja feito com diálogo e tome cuidado para não passar a mensagem de fracasso (acadêmico ou de relacionamento) para a criança. Fale dessa experiência como uma nova oportunidade.

Intuição dos pais é crucial na hora de achar a melhor terapia antiautismo

Theo, que tem autismo, e sua mãe, Andréa Werner, que descobriu na prática a melhor forma de interagir com o filho
Theo, que tem autismo, e sua mãe, Andréa Werner

GABRIEL ALVES
DE SÃO PAULO

Suspeitar que o filho ou a filha tem autismo e receber o diagnóstico definitivo nunca é fácil para os pais. Depois do baque, inicia-se uma saga em busca das melhores abordagens terapêuticas e atividades para permitir que a criança se desenvolva da melhor maneira possível. O problema é saber de antemão o que vai funcionar em cada caso.

Desde a década de 1940 os cientistas buscam entender o transtorno crônico, que altera o funcionamento normal do sistema nervoso e o comportamento, afetando habilidades sociais e de comunicação. Hoje, o autismo faz parte de um grupo maior de doenças conhecido como transtornos do espectro autista (TEA).

"Espectro" não aparece aí por acaso –há uma miríade de combinações possíveis de sinais e sintomas e suas gravidades. Por exemplo, respostas a estímulos externos, como sons ou ao toque de diferentes materiais, podem ser exacerbadas em alguns e neutras em outros. Na prática, não há dois autismos iguais, segundo a sabedoria de pais e especialistas.

"A mãe acaba virando uma especialista no autismo do próprio filho", relata a psicopedagoga Fausta Cristina Reis, mãe de Milena, 13, que tem autismo.
Essa unicidade de cada paciente faz com que os pais ganhem um papel crucial para definir qual é a melhor estratégia para seu filho ou filha. No caso de Fausta e Milena, a estratégia passou do ABA (sigla em inglês para análise comportamental aplicada) para uma outra, conhecida como DIR Floortime.

O ABA é uma abordagem mais clássica e consiste na intervenção de uma terapeuta que, por meio de tarefas e perguntas, tenta encorajar comportamentos positivos (com recompensas e elogios, por exemplo) e desencorajar os negativos, de modo a obter melhora em uma série de habilidades, auxiliando a criança a fazer contas e ampliar o vocabulário, por exemplo. A grande vantagem é que o progresso pode ser mensurado ao longo do tempo.

Já outras abordagens, como aquelas conhecidas como interacionistas (como O DIR Floortime), são mais difíceis de ter seu impacto mensurado. O motivo é que elas se baseiam em características e interesses individuais –e não são direcionadas para objetivos estabelecidos a priori.

Se uma criança gosta, por exemplo, de rodar a roda de um carrinho de brinquedo, o pai ou terapeuta pode participar dessa atividade e sugerir incrementos para que a brincadeira fique mais rica –talvez a criança ache uma boa ideia brincar fazendo o carrinho andar, explica Fausta, que mantém o blog "Mundo da Mi"

TESTADA E APROVADA

Uma intervenção apelidada de Pact (sigla em inglês para terapia de comunicação social mediada pelos pais) que, como diz o nome, conta com os pais como agentes terapêuticos, teve sucesso em um teste de longo prazo –algo ainda raro nos casos das terapias para tratar crianças com autismo. O estudo saiu nesta semana na revista médica inglesa "The Lancet".

Após quase seis anos do treinamento dos responsáveis por crianças autistas, os benefícios comportamentais se mantiveram e foram superiores ao tratamento convencional. Houve melhora com relação à interação com os pais e na sociabilidade, ambos avaliados de forma cega, ou seja, sem o avaliador saber por qual tipo de intervenção a criança passou.

O Pact foi desenhado para ser usado em crianças de 2 a 4 anos e consiste em treinar os pais (ao longo de um ano) em como lidar com as particularidades de seus filhos.

Os pais já sabiam, de forma intuitiva, o que fazer, mas faltava testar a hipótese. Andréa Werner, mãe do Theo, de 8 anos, aprendeu "na raça" que o filho não era fã de brinquedos.

"Compramos trem elétrico, carrinho e um monte de coisas pensando que talvez o Theo gostasse. Depois de muita frustração, descobrimos que ele não gosta de brinquedo. Ele gosta de abraçar, de cócegas, de ser jogado para cima, de fazer cabaninha –e é aí que investimos o nosso tempo", explica.

Theo ainda não fala e isso acaba sendo mais um desafio e tanto para que os pais conheçam o mundo dele e possam avaliar a eficácia de abordagens terapêuticas. 

"Às vezes os pais vão deixando de falar com a criança porque ela não responde. Tem de haver esse esforço, mesmo que pareça que eu estou falando sozinha", diz Andréa.

Com a dificuldade natural para a linguagem simbólica, interagir com a criança é complicado. "Mas a formação de vínculo e afetividade é importante para o desenvolvimento de cada criança, inclusive do autista", diz Andréa, que escreveu o livro "Lagarta Vira Pupa" (CR8, 176 págs.), onde relata sua experiência no tema. 

Ela tem um blog com o mesmo nome.

Para ela, o maior desafio é conseguir ajustar as abordagens ao longo do tempo, de acordo com as necessidades de cada faixa etária. Atualmente Theo tem agenda cheia: ABA, natação, escola, fonoaudióloga... e brincar com a mãe.
DÚVIDAS E INCERTEZAS

Muitos pais, quando não sabem bem como lidar com o autismo de seus filhos, acabam recorrendo a fórmulas prontas, que funcionaram em outros casos.

Mas a imitação pode não dar certo, seja porque as estratégias não se adequam ao tipo de autismo ou porque simplesmente elas não têm respaldo racional ou empírico.

É o caso de algumas dietas sem leite ou glúten (quando não há alergia) ou que se valem de suplementação com aminoácidos, minerais e ou vitaminas.

"Tem gente usando câmara hiperbárica (alta pressão) e tentativas de quelação [remoção] de metais pesados, o que não faz sentido", diz a psiquiatra infantil Daniela Bordini, da Unifesp.

"Muitas pessoas prescrevem as suas intervenções com coisas que funcionaram para o seu filho, mas boa parte desses tratamentos não tem uma base conceitual sólida, muito menos dados empíricos ou ensaios controlados. Ou seja, virtualmente não é nada", diz Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da criança da USP.

Até mesmo para os tratamentos mais tradicionais e sabidamente efetivos é difícil fazer ensaios controlados (quando um grupo sofre a intervenção e outro, não). Isso faz com que haja poucos dados para um análise definitiva sobre o que auxilia no tratamento do autismo no longo prazo.

"Os efeitos das terapias não são tão grandes ou demoram para aparecer. Como é uma área que carece de evidências, ela fica aberta para opiniões pessoais e evidências particulares, o que pode trazer riscos significativos", diz Polanczyk.

Um exemplo clássico é a falaciosa correlação entre autismo e vacinação –já desmentida diversas vezes, mas cujo estrago provocado ainda pode ser observado sempre que a questão vem à tona.

"Por enquanto, não há remédio. A medicação, quando receitada, é para sintomas-alvos como irritabilidade e insônia", explica Daniela.

A doença atinge cerca de 1 a cada 100 crianças e é de 4 a 5 vezes mais comum em meninos. 

sábado, 29 de outubro de 2016

Viver a vergonha sem vergonha de ter vergonha


Caminhos Alternativos  com Petria Chaves e Fabiola Cidral

A psicanalista Marina Bilenky fala sobre o tema. Segundo ela, o problema maior da vergonha é tomar a consciência de que, num momento de exposição, ficar preocupado com a crítica pode gerar mais vergonha do que se expor.

EDUCAÇÃO CURITIBA - Nas escolas tomadas no PR, uma guerra política

MBL e grupos ligados às ocupações passaram a disputar colégios ‘no braço’ na última semana

Pablo Pereira,
Enviado especial
29 Outubro 2016 | 03h00

CURITIBA - O clima de radicalização política entre grupos favoráveis à ocupação de escolas por estudantes secundaristas do Paraná e militantes do Movimento Brasil Livre (MBL), contrário à tomada dos colégios, se agravou durante a semana passada em Curitiba. Os dois lados passaram a disputar espaço “no braço”. 
Para o professor Hermes Silva Leão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), o acirramento das tensões políticas na área da Educação “é um reflexo do processo político polarizado que vivemos no País”. Segundo o sindicalista, “no Paraná isso está se agravando diante da tentativa de setores do governo de dar voz a grupos como o Desocupa Paraná, que quer criminalizar o movimento dos secundaristas”.
Acordo com líderes estudantis prevê desocupação de 500 colégios no PR
Justiça havia determinado a reintegração de 25 escolas da capital
Para o MBL, que organiza o “Desocupa”, a conversa é outra. Nas mobilizações via Facebook e nas manifestações diante das escolas tomadas, integrantes gritam que o APP-Sindicato estaria “usando alunos como massa de manobra” para a sustentação da greve de professores, que começou no último dia 17 no Estado.
Paraná
Estudantes controlam entrada no colégio contra o risco de invasão

Nos cercos aos colégios, o ex-candidato a vereador pelo PSC Eder Borges, que obteve cerca de 4 mil votos, mas não se elegeu na última eleição, acusou os sindicalistas de promoverem as ocupações como apoio à greve. Os professores reivindicam reposição salarial e a retirada pelo governo do desconto e falta pelo dia 29 de abril, quando fizeram um protesto para marcar a data do confronto com a Polícia Militar que deixou dezenas de feridos, em 2015. 
‘Baderneiros’. Nesta semana, o Desocupa Paraná mirou principalmente as escolas mais centrais da capital, depois de terem se reunido com representantes do governo no final de semana para reclamar de “morosidade” do Palácio Iguaçu no caso.
Com pais contrários às ocupações convocados via rede social, o MBL percorreu os colégios com manifestantes gritando palavras de ordem contra o APP-Sindicato e acusando os estudantes de “baderneiros” e “comunistas”. Eles ainda defendiam a volta imediata às aulas. Um dos principais alvos do grupo foi o Colégio Estadual Pedro Macedo, no bairro Portão.
Tensão. Os nervos ficavam à flor da pele quando esses grupos passaram a “tocar o terror” durante a noite nas ocupações. A cada cerco, alunos e integrantes das invasões que dormiam nos colégios corriam para convocar, via WhatsApp, o apoio de pais, professores e de militantes de partidos de esquerda, além dos voluntários universitários e ativistas de diversas correntes políticas - entre eles, os anarquistas e outros grupos libertários -, que se dizem solidários ao protesto.
“Agora eles estão ameaçando os meninos lá na frente do Pedro Macedo e do (Colégio Estadual) Lysímaco”, dizia um rapaz que se identificou como universitário e alertava colegas no pátio do Colégio Estadual do Paraná, o QG do movimento, já na chuvosa noite de segunda-feira.
À tarde, a notícia da morte do estudante Lucas Mota, de 16 anos, esfaqueado no interior da Escola Estadual Santa Felicidade, na zona norte da capital, chocara professores e lideranças dos estudantes e elevara a tensão e o medo dos confrontos e da convivência dos estudantes nas escolas fechadas.
A polícia disse que o crime, pelo qual foi detido um colega de Lucas, de 17 anos, não teria relação com o movimento dos secundaristas. Mas a afirmação do delegado Fabio Amaro, da Delegacia de Homicídios, de que a briga teria sido motivada por uso de drogas no interior da escola terminou por colocar ainda mais lenha na fogueira. Um professor, que estava no local acalmando os alunos, considerou “absurdo” o cerco às escolas. “A mobilização é um avanço dos estudantes do Paraná”, disse.
Na correria, o grupo de apoio às invasões se deslocou para o Colégio Lysímaco. Dois dias depois, o mesmo local voltaria a ser alvo do MBL. Lá, estudantes se preparavam para tentar resistir a uma eventual tentativa de entrada dos contrários.
Nas escolas tomadas no PR, uma guerra política
Na rua, grupo pede a volta às aulas
Confronto. O clima de confronto vinha se agravando desde o começo da semana também na periferia. Uma tentativa de retirada forçada de alunos da Escola Guido Arzua, no bairro Sítio Cercado, zona sul da capital, já anunciava a mudança no comportamento dos pais que querem a volta das aulas, pressionados pela proximidade do Enem. Convocados por carro de som que circulou na vila no domingo, eles foram à escola dispostos a abrir o colégio na marra. O portão foi arrombado e eles chegaram a dominar o pátio da escola por algumas horas, mas decidiram sair na madrugada, após a intervenção do Ministério Público e de representantes do Conselho Tutelar. No dia seguinte, grupos de universitários adultos foram enviados pelo “comando da paralisação” para ajudar na segurança da escola ocupada. “A gente vem aqui ajudar os secundaristas contra essas tentativas desocupação”, disse, na quarta-feira, uma estudante de Filosofia integrante da comissão de voluntários, sempre pronta para correr, a fim de reforçar a segurança do movimento.