"Temos um ensino médio não só totalmente desastroso, mas que não melhora"
Por Ligia Guimarães
Polêmica e com falhas que precisam ser aprimoradas, a reforma proposta do ensino médio pelo governo mantém aspectos
positivos e deveria ser encarada como oportunidade para sair da situação de "desastre", afirma Simon Schwartzman,
pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets). "Temos um ensino médio não só totalmente
desastroso, mas que não melhora", diz.
"O principal pecado do MEC, a meu ver, foi não ter explicado antes. Em qualquer país, se o governo decide lançar uma
mudança importante ele tem que explicar. Tem que lançar um documento, para que possa ser discutido", afirmou
sociólogo, expresidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1994 e 1998.
"O MEC não fez essa discussão, simplesmente lançou uma MP em 'jurisdiquês', difícil de interpretar, em um contexto
politico conturbado. Isso prejudicou muito", disse Schwartzman, que participou do debate "Qual modelo de educação o
Brasil necessita"?, promovido pelo Instituto Millenium e o Centro de Crescimento e Desenvolvimento da Fundação
Getulio Vargas.
Entre os aspectos positivos e "aproveitáveis" da MP que recebeu, até o fim de setembro, 567 sugestões de mudanças no
texto original , Schwartzman destacou que a proposta "reduz o volume de cargas obrigatórias; dá opção aos alunos;
devolve autonomia aos Estados, que são os responsável pelo ensino médio, e garante a parte comum que será definida na
Base Nacional Curricular Comum ", diz.
A Base Nacional Comum Curricular é um documento em elaboração desde o ano passado com objetivo de definir o
conteúdo que todos os alunos deveriam aprender a cada etapa de ensino. A base específica para o ensino médio, prevê o
ministério, deverá ficar pronta em 2017. Depende dela, portanto, que seja possível implementar a reforma. Outro aspecto
que agradou Schwartzman na MP foi a inclusão do ensino técnico como alternativa aos estudantes. "No Brasil, em vez de
ser uma opção de formação, o ensino técnico é tratado como suplemento. Isso não acontece em nenhum lugar do mundo",
diz o pesquisador, que destaca que o acesso à formação profissional é bem mais amplo em países desenvolvidos, como
Alemanha Bélgica e Finlândia, onde 47%, 60% e 70% dos alunos do ensino médio, respectivamente, estão em cursos de
ensino médio técnico.
Na visão do especialista, os cursos de formação profissional dão acesso imediato dos alunos ao mercado de trabalho e
podem ser mais acessíveis a alunos com deficiências de formação. Schwartzman criticou a ausência de medidas na
medida provisória contra o problema dos cursos noturnos, considerado gravíssimo pelo pesquisador. "Os alunos estudam
à noite porque não têm escolas. Se o ensino médio é um desastre, o noturno é um desastre maior", diz.
O ex presidente do IBGE também questionou o foco do governo no ensino integral, o que, na visão dele, reflete "interesse
particular do ministro da Educação". "No Brasil, 3% ou 4% dos alunos do ensino médio têm ensino integral, metade deles
em Pernambuco. E vão tentar dobrar, com ajuda do governo federal. Os Estados que se virem. É inviável", avalia
Schwartzman.
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