segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Imitação

Jair Barboza
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Jair Barboza

Crônicas filosóficas

JAIR BARBOZA é filósofo e tradutor. Entre as suas traduções destaca-se a da obra-prima de Schopenhauer O mundo como vontade e como representação (São Paulo: Ed. Unesp). Doutor em filosofia pela USP. Pós-doutorado pelas universidades de Frankfurt e Hamburgo.

O Brasil e os brasileiros gostam de imitar os norte-americanos, a começar por se referirem a eles como “americanos”, quando se sabe que todos somos americanos. Há americanos do sul, do centro e do norte.
Imita-se o gosto por hambúrgueres com batata frita, por hot dogs, por shopping centers, por cinema hollywoodiano, por baladas regadas a todo tipo de droga, e por aí vai.
De novo o tema das drogas, em que não sou especialista, todavia andei acompanhando o debate que se travou nos últimos dias sobre o tema, a reboque da explosão de violência nos presídios nacionais.
Li muito, assisti a muitos especialistas doutos falarem. Mas curioso, ninguém aborda que o Brasil está entre os maiores mercados consumidores de drogas recreativas do mundo, sobretudo a cocaína e o crack, ao lado de norte-americanos. É como se aqui não houvesse consumidor. Parece um tabu esta parte do problema e raramente se a coloca sobre a mesa dos debates.
Todavia, tem algo que desgraçadamente os brasileiros não gostam de imitar dos EUA. O valor que a educação tem por lá, que faz a sociedade norte-americana, com todos os seus defeitos, merecer os meus elogios. Lá, a educação é levada a sério, e os professores, respeitados.
A sociedade norte-americana tem por eixo a universidade. Esta, por sua vez, cria uma interessante rede de formação e distribuição de talentos, como, por exemplo, os atletas para os esportes que eles apaixonadamente acompanham: basquete e “futebol americano”.
Nenhum país tem mais prêmios Nobel. Em nenhum país a figura do “nerd” é mais, digamos, “sexy” que lá. Que o digam Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft), Mark Zuckerberg (Facebook), Jeff Bezos (Amazon). Aqui no Brasil, “sexy” parece ser o malandro, o bandido.
Claro, lá há detectores de metais em muitas escolas do equivalente ao nosso ensino médio. Porém, lá a sala de aula é do professor, conforme a disciplina, e cabe ao aluno mudar de sala para assistir a cada uma delas. Psicopedagogicamente isso faz muita diferença… o aluno vai ao professor, e não este àquele; o aluno vai em busca do saber, vai ao território do saber.
Já que imitamos tanto os norte-americanos, tá na hora de imitarmos as coisas boas de lá, não só as ruins… Mesmo por que, é em cima dessas coisas boas que a sociedade deles mantém-se de pé, na vanguarda do conhecimento e da economia.

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