quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O DESASTRE DOS “PAIS HELICÓPTEROS” (Atualizado com Episodio de Os Simpsons dublado)

EXCESSO DE CONTROLE, MAS POUCA AFEIÇÃO, SÓ ATRAPALHA

PAULO EDUARDO NOGUEIRA

Atualmente, mães dedicam o dobro de seu tempo aos filhos e os pais passam quatro vezes mais tempo com eles, se comparados a dados de 50 anos atrás, segundo constatou estudo da Universidade da Califórnia em Irvine. Considerando que pais e mães desempenham um papel vital na formação de uma criança, esse fenômeno deve ser aplaudido... ou não? Para a ex-reitora da Universidade de Stanford Julie Lythcott-Haims, autora do livro Como Criar Um Adulto, a excessiva atenção aos filhos dada pelos “pais helicópteros”, monitorando-os o tempo todo, na verdade pode levar ao uso mais intensivo de medicamentos para ansiedade e depressão na juventude, além de aumentar o consumo de drogas “recreacionais” durante a faculdade.


A mera dedicação de tempo à criança não a faz se sentir mais amada, e sim controlada pelos pais, que a acompanham a todo lugar (com as melhores das intenções). E o crescente isolamento das famílias, que preferem ficar restritas à convivência entre quatro paredes e não em espaços comuns da comunidade, aumenta esse incômodo de controle. Pesquisa publicada pelo site TreeHugger, por exemplo, revela haver crianças que passam menos tempo fora de casa (cerca de 30 minutos diários) do que prisioneiros em cadeias de segurança máxima (2 horas diárias, por lei). Embora a maior convivência familiar, em si, seja positiva, a autora recomenda que esse relacionamento seja mais afetivo e menos controlador. E no futuro, já adultas, essas crianças terão uma carreira profissional mais promissora.


Os Simpsons - 20ª Temporada - Episodio 18 - Papai Sabe Nada





Pais helicópteros é um termo dado a pais super protetores e controladores. A designação apareceu em 1969 no livro “Between Parent and Teenager”, de Haim Ginott. Em 2000 popularizou-se nos Estados Unidos, sendo muito utilizada por administradores de escolas e pessoas ligadas ao ensino.

Quem trabalha com a clínica em saúde mental sabe, pela experiência ou pela teoria, que pais controladores podem fazer mal aos seus filhos. E recentemente a questão chegou também às pesquisas quantitativas.


Estudos mostram que pais excessivamente envolvidos nas vidas dos filhos podem gerar graus de ansiedade e depressão na criança, assim como induzir-lhes menor capacidade de perseverança. Crianças superprotegidas também tendem a se sentir menos competentes e menos aptas a lidar com a vida e seus estressores. Por outro lado, outras pesquisas no campo do desenvolvimento infantil mostram que mães muito participativas estão relacionadas a um desempenho acadêmico, emocional e social melhor.


Diante da discordância dos resultados, procurou-se entender como a superproteção ou o envolvimento excessivo dos pais poderia fazer mal aos filhos. De acordo com a teoria da autodeterminação, há três necessidades essenciais para o desenvolvimento e funcionamento saudável de um ser humano. A primeira e mais importante é a necessidade de autonomia, de se sentir livre para fazer as próprias escolhas. O segundo componente é a competência, sentir-se confiante com relação às suas habilidades e realizações. O terceiro elemento é o de pertencimento, o de se sentir parte de uma relação genuinamente afetiva.


Como o excesso de envolvimento pode atrapalhar a criança? Pesquisa realizada com 297 estudantes universitários mostrou que quando a presença excessiva dos pais na vida dos filhos envolve controle psicológico o resultado é negativo. Ou seja, a participação intensa na vida dos filhos pode ter bons resultados; mas quando esta presença envolve controle psicológico, surgem consequências ruins como depressão, ansiedade, insegurança e falta de proatividade. O controle psicológico mina a autonomia, atrapalha o sentimento de competência do indivíduo, e enfraquece uma relação afetiva genuína entre pais e filhos.


 A vida nas grandes cidades e as tecnologias, pondo cada vez mais à disposição uma quantidade crescente de informação às crianças, nos impõem a dura (e necessária) tarefa do controle sobre o comportamento de nossos filhos. O que estão vendo no tablet, o que estão acessando no smartphone, o que estão assistindo na televisão, se não estão falando com pessoas mal-intencionadas nas redes sociais. Não obstante, pais devem também fazer o delicado exercício de absterem-se de controlar psicologicamente seus filhos. Pelo contrário, devem estimulá-los a serem independentes e autônomos (por maior que seja o medo dos pais de verem seus filhos não mais dependerem deles).

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