terça-feira, 4 de outubro de 2016

Atualidades - Desigualdade não cai com tecnologia, diz pesquisador

Em estudo, o pesquisador Soumitra Dutta, da universidade de Corneel (EUA), concluiu que só os que tiveram maior acesso a educação e os mais ricos estão conseguindo tirar proveito completo do que a tecnologia oferece

Por Gustavo Brigatto 

O uso de tecnologia é comumente citado como um fator nivelador entre países e classes sociais, ao facilitar o acesso a informações e, assim, promover o desenvolvimento de novos negócios. Mas o que está acontecendo no mundo, na prática, não é isso. Segundo Soumitra Dutta, pesquisador da universidade americana Cornell, só os que tiveram maior acesso à educação e os mais ricos estão conseguindo tirar proveito completo do que a tecnologia oferece. 

"Só porque as pessoas têm acesso a celulares, não significa que elas têm conhecimento suficiente para usar os aplicativos, ou o acesso em banda larga para tirar proveito de todos os recursos que eles oferecem, disse Dutta, durante palestra no WCIT, congresso de tecnologia que acontece até quarta ­feira em Brasília. De acordo com ele, o fato de a tecnologia evoluir muito rápido faz com que haja uma lacuna entre os investimentos feitos por países mais ricos e os mais pobres. 

Na avaliação do pesquisador, a facilidade de fazer negócios em escala global também é um fator que cria desigualdade, já que as companhias com mais recursos conseguem ser mais competitivas que os concorrentes locais, o que lhes dá vantagens.

 "Se você não tem boa educação, não tem boa infraestrutura, mesmo que eu te dê tecnologia, você não vai conseguir tirar o proveito total disso", disse. 

Na avaliação de Dutta, só sete países têm tirado proveito do impacto econômico trazido pelo uso da tecnologia: Finlândia, Suíça, Suécia, Israel, Cingapura, Holanda e Estados Unidos. O avanço econômico proporcionado pelo uso da tecnologia só é possível, segundo o pesquisador, quando há uma visão clara da importância estratégica desse assunto para o país. 

Ele comparou o processo ao que o executivo ­chefe da GE está tentando fazer com a companhia, ao encaixar o gigante industrial em um mercado em que a geração e a análise de dados vale tanto quanto a venda de um produto físico. "Isso exige tempo e dedicação. Veja o caso de Cingapura, eles estão fazendo isso há mais de 20 anos. E são pequenos. 

O Brasil só vem tentando fazer isso há cinco anos. A consistência também é muito importante", disse. Para Dutta, o Brasil tem uma mentalidade muito mais industrial do que digital, o que é um problema. O país, segundo ele, deveria aproveitar sua vocação no setor agrícola para desenvolver tecnologias avançadas nessa área, com uso de análise de dados e dispositivos conectados (IOT). "Como Israel, que desenvolveu uma indústria de alta tecnologia", disse. 

Durante o congresso, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal, a Terracap, anunciou a criação do Bio TIC, um parque tecnológico que será instalado em Brasília com capacidade para abrigar 1,2 mil empresas. A expectativa é gerar até 25 mil empregos diretos em áreas como biotecnologia, nanotecnologia, saúde, cosméticos, entre outros segmentos, segundo Julio César Reis, presidente da Terracap. A construção do parque será financiada por meio de um fundo de investimento em participações (FIP) criado especificamente para esse fim. De acordo com Reis, o FIP terá R$ 3 bilhões em recursos. Deste total, R$ 1,4 bilhão será aportado pela própria Terracap na forma de um terreno de 90 hectares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário