Em estudo, o pesquisador Soumitra Dutta, da universidade de Corneel (EUA), concluiu que só os que tiveram maior acesso a educação e os mais ricos estão conseguindo tirar proveito completo do que a tecnologia oferece
Por Gustavo Brigatto
O uso de
tecnologia é
comumente
citado
como um
fator
nivelador
entre países
e classes sociais, ao facilitar o acesso a informações e, assim, promover o desenvolvimento de novos negócios. Mas o que
está acontecendo no mundo, na prática, não é isso. Segundo Soumitra Dutta, pesquisador da universidade americana Cornell, só os que tiveram maior acesso à educação e os
mais ricos estão conseguindo tirar proveito completo do que a tecnologia oferece.
"Só porque as pessoas têm acesso a
celulares, não significa que elas têm conhecimento suficiente para usar os aplicativos, ou o acesso em banda larga para
tirar proveito de todos os recursos que eles oferecem, disse Dutta, durante palestra no WCIT, congresso de tecnologia que
acontece até quarta feira em Brasília.
De acordo com ele, o fato de a tecnologia evoluir muito rápido faz com que haja uma lacuna entre os investimentos feitos
por países mais ricos e os mais pobres.
Na avaliação do pesquisador, a facilidade de fazer negócios em escala global
também é um fator que cria desigualdade, já que as companhias com mais recursos conseguem ser mais competitivas que
os concorrentes locais, o que lhes dá vantagens.
"Se você não tem boa educação, não tem boa infraestrutura, mesmo que eu
te dê tecnologia, você não vai conseguir tirar o proveito total disso", disse.
Na avaliação de Dutta, só sete países têm tirado proveito do impacto econômico trazido pelo uso da tecnologia: Finlândia,
Suíça, Suécia, Israel, Cingapura, Holanda e Estados Unidos. O avanço econômico proporcionado pelo uso da tecnologia
só é possível, segundo o pesquisador, quando há uma visão clara da importância estratégica desse assunto para o país.
Ele comparou o processo ao que o executivo chefe da GE está tentando fazer com a companhia, ao encaixar o gigante
industrial em um mercado em que a geração e a análise de dados vale tanto quanto a venda de um produto físico. "Isso
exige tempo e dedicação. Veja o caso de Cingapura, eles estão fazendo isso há mais de 20 anos. E são pequenos.
O Brasil
só vem tentando fazer isso há cinco anos. A consistência também é muito importante", disse.
Para Dutta, o Brasil tem uma mentalidade muito mais industrial do que digital, o que é um problema. O país, segundo
ele, deveria aproveitar sua vocação no setor agrícola para desenvolver tecnologias avançadas nessa área, com uso de
análise de dados e dispositivos conectados (IOT). "Como Israel, que desenvolveu uma indústria de alta tecnologia", disse.
Durante o congresso, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal, a Terracap, anunciou a criação do Bio TIC, um
parque tecnológico que será instalado em Brasília com capacidade para abrigar 1,2 mil empresas. A expectativa é gerar até
25 mil empregos diretos em áreas como biotecnologia, nanotecnologia, saúde, cosméticos, entre outros segmentos,
segundo Julio César Reis, presidente da Terracap.
A construção do parque será financiada por meio de um fundo de investimento em participações (FIP) criado
especificamente para esse fim. De acordo com Reis, o FIP terá R$ 3 bilhões em recursos. Deste total, R$ 1,4 bilhão será
aportado pela própria Terracap na forma de um terreno de 90 hectares.
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