quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Uma em cada 5 escolas Top no Enem tem maioria de alunos 'importados', muitos tirados de outras escolas, têm sido a estratégia de algumas escolas para aparecer no topo do ranking.

PAULO SALDAÑA
DE SÃO PAULO

Escolas particulares pequenas, com alunos 'importados' de outras unidades, é o perfil majoritário das escolas no topo do ranking do Enem(Exame Nacional do Ensino Médio) de 2015.

Em 19 unidades das 100 melhores, ao menos 80% dos alunos não cursaram os três anos do ensino médio na escola –o que representa uma a cada cinco escolas da lista. No Enem 2014, eram 15 escolas com esse perfil entre as 100 primeiras.

A tendência é mais acentuada na ponta de cima do ranking. Das 10 escolas com maiores médias, 6 têm essa característica. Além disso, 42 escolas desse grupo têm até 60 alunos –sendo 17 com até 30 estudantes.

Criar escolas pequenas com os melhores alunos, muitos tirados de outras escolas, têm sido a estratégia de algumas escolas para aparecer no topo do ranking. O modelo já tem sido criticado em anos anteriores por especialistas por distorcer a realidade.

Essas unidades não representariam uma escola real, acessível às famílias. As escolas defendem que buscam criar condições específicas para alunos acima da média.

A primeira colocada nesta e nas últimas seis edições, o Objetivo Integrado, consta nos registros do Ministério da Educação como uma escola autônoma, mas só tem uma sala de 3º ano de ensino médio. O endereço é o mesmo do colégio Objetivo, na Avenida Paulista.

O Integrado forma duas salas de 1º ano de ensino médio, mas a partir do 2º ano reduz a apenas uma. Fica na "escola" quem tem notas maiores, segundo relatos de pais de alunos.

Vera Antunes, coordenadora do Objetivo Integrado, nega que a unidade exclua alunos com o objetivo de garantir bons resultados no ranking. Segundo ela, o Objetivo não tem condições de manter professores suficientemente qualificados para ter duas salas a partir do 2º ou 3º ano e, por isso, há a redução para uma turma após o 1º ano.

"Os alunos do Integrado são aqueles que pediram para ter um ensino mais aprofundado, eles passam no ITA [Instituto de Tecnologia e Aeronáutica], USP, Unicamp", diz. "São alunos excepcionais, não é possível misturá-los."

O filho de Renata Teixeira, 44, era aluno do Objetivo foi convidado a ingressar no Integrado quando chegou ao 1º ano. Ao passar para o 2º ano, entretanto, acabou retirado da escola no critério de nota e foi transferido para outra sala do colégio.

"Ele não aguentava mais a pressão psicológica, os alunos são cobrados a cumprir uma carga de estudo todos os dias", diz Teixeira, que também é professora. "Agora, no 3º ano, ele foi chamado para voltar ao Integrado, mas não quis".

Entre colégios de maior porte, com mais de 90 alunos, o Colégio Bernoulli, de Belo Horizonte, ficou em primeiro no país. Os alunos conseguiram uma média de 725,3 na prova objetiva e 845,9 na redação. Na sequência, aparece o Instituto Dom Barreto, do Piauí.

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