quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Segurar a onda e celebrar a vida. A epifania que tive ao assistir a um espetáculo para enfrentar 2017

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É empreendedor, consultor, autor de seis livros sobre estratégia, usados em workshops e atividades in-company. Entre eles, destaca-se Tempo de pensar fora da caixa. Adora conversar sobre inovação e mudança. www.ricardoneves.com.br

Balé na Alemanha (Foto: Infra / cedida por Hessisches Staatsballett / Regina Brocke)
Apresentação do espetáculo Spiegelungen, na Alemanha (Foto: Infra / cedida por Hessisches Staatsballett / Regina Brocke)

Dezembro, 2016. Tive um mês inteiro dedicado a ver parentes e amigos no Brasil e exterior, um tempo maravilhoso dedicado exclusivamente a viagens de celebração da vida naquilo que ela tem de mais especial.

Entre variações extremas de climas e temperaturas – desde neve e praia tropical, sensação térmica que variou entre 15 graus célsius abaixo de zero e 49 graus célsius positivos e na sombra – levei meu mês de dezembro procurando focar mais as relações humanas do que prestar atenção nas notícias catastróficas ao final do ano sobre terrorismo e barbárie, além dos augúrios e prenúncios de mais demagogia, canalhice e truculência política para o ano que se inicia.

Minha atenção e meus sentimentos estiveram mais sintonizados aos reencontros com as pessoas que estão distantes no meu cotidiano. Conversas sem pressa, quase sempre à mesa, como convém com bebidas e comidas especiais.

Conheci novos bebês e tive notícias daqueles que estão a caminho, assim como estive com os nossos anciãos que requerem cuidados especiais; bem como tive de ir a enterros e velórios daqueles que respondiam a inexorável “chamada de turma” que o tempo faz sem perdão, pois afinal todo mundo chega um dia ao fim.

Nesse tempo fatiado que combinamos chamar de ano, a virada do final é sempre um momento para a gente desacelerar, refletir e cultivar aquilo que a pressa do dia a dia não permite. E nesse contexto dos reencontros uma coisa que notei, desta feita, foi a ausência de algo que tácita nas conversas, de uma quase absoluta evitação de assuntos controversos e capazes de dividir – que tal “divisivos”, como em inglês? – como política, religião e até mesmo futebol.

Foi um inesquecível intervalo de tempo no qual senti que atentar para e celebrar aquilo que fica mais abaixo da superfície representada pelo corre-corre da luta pela sobrevivência, é o momento em que nos sentimos mais humanos, mais civilizados em oposição à barbárie e à vulgaridade, mais sensíveis, mais próximos do divino.

Além dos reencontros tive ainda tempo para uma adorável agenda de espetáculos de diferentes gêneros em contraponto com contatos com artistas que seguem encasulados em suas criações cênicas e musicais como balé, ópera e música.

Em um contexto como esse é fácil, digamos assim, ter epifanias gratificantes – um amigo meu, noutro dia, me disse que epifania é uma palavra que eu adoro usar. É verdade! Expliquei que sentir a revelação, a compreensão súbita de algo elevado é um de meus maiores prazeres da vida. Pudesse eu, epifania seria um remédio para tomar de oito em oito horas!

Minha epifania favorita deste mês de férias veio durante um espetáculo da companhia de balé do estado de Hesse, na Alemanha, intitulado Spiegelungen, que em nossa língua poderia ser traduzido livremente como “olhada no espelho”.


O momento mais mágico nesse espetáculo foi o ato de uma delicadeza e sensibilidade infinitas criado pelo coreógrafo de dança contemporânea do Royal Ballet de Londres, Wayne McGregor. Intitulado simples e enigmaticamente de Infra, não tem nada a ver com infraestrutura, mas com interior, mais abaixo da superfície.

Em Infra o palco é dividido em dois planos: o superior, no qual bonequinhos de animação andam em fila e o inferior, no qual os bailarinos executam a coreografia.

É o plano inferior, isto é, no Infra, que está o próprio sentido da celebração da vida, digamos assim. Enquanto os bonequinhos de luz operam acima de forma praticamente automática, os bailarinos mais abaixo criam a verdadeira alma com sua dança. É no Infra que, no final das contas, nos diferenciamos dos zumbis, dos mortos-vivos correndo atrás de dinheiro, segurança e sobrevivência.

E assim, nesse momento epifânico, criei para mim e aqui compartilho com os leitores meu lema para enfrentar o ano duríssimo que temos pela frente: “Segurar a onda e celebrar a vida”.
As horas mais duras revelam também nossa bravura e coragem que fazem a diferença. Portanto, que venha 2017. A gente vai segurar a onda e celebrar a vida com mais intensidade ainda.

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