terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

60% dos jovens aprendem profissão que deixará de existir


Luis Rasquilha | CBN Profissional do Futuro

Artigo diz que ensinamos a pessoas que vão durar cem anos coisas que não existirão mais.

De todas as disciplinas, a Matemática é a mais cercada de preconceitos e estereótipos


Ilona Becskeházy e Paula Louzano | Missão Aluno

Muita gente acredita que a área, dominada por orientais, é mais masculina do que feminina, entre outros preceitos. Essa resistência gera um afastamento da disciplina, tão importante para a formação relacionada à tecnologia atualmente. Nos EUA, negros e hispânicos são os grupos que menos se interessam pela matéria, segundo pesquisa recente.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

'Velocidade com que consumimos informação começa a ficar lenta'

ronaldo lemos
Ronaldo Lemos
É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil.

No dia 12, a popular série "The Walking Dead" voltou ao ar com episódios inéditos. Para atiçar os fãs, a Fox resolver fazer uma das experiências mais curiosas da história recente da televisão. O canal decidiu exibir duas temporadas e meia da série em 24 horas. Com um pequeno detalhe: o tempo de todos os episódios somados dá mais de 34 horas. Como resolver? Acelerando em 30% a velocidade de transmissão. Desse modo foi possível "comprimir" mais conteúdo no mesmo espaço de tempo.

O que parece excentricidade tem se tornado prática cada vez mais comum. Vivemos num mundo tão acelerado (e ansioso) que a velocidade usual com que consumimos informação começa a ficar lenta demais.

Um exemplo é o aplicativo para ouvir podcasts chamado Overcast. Ele vem com uma função chamada "smart speed", que acelera em 1,5 vez a velocidade do áudio.

Mais que isso, o aplicativo corta todas as pausas entre as palavras, colando-as umas às outras. Para completar, à medida que vai sendo usado nessa modalidade, o aplicativo vai informando "quantas horas de vida você economizou" graças à aceleração. A empresa informa que 50% dos usuários optam pela velocidade acelerada como padrão.

A tendência vale não só para conteúdo de entretenimento mas também para conteúdos acadêmicos. O escritor Clive Thompson, da revista "Wired", informa que 10% dos usuários dos vídeos educacionais da Khan Academy os assistem em velocidade mais rápida que o normal.

Para radicalizar ainda mais, um jovem programador norte-americano criou um aplicativo chamado Rightspeed (velocidade certa). Ele promete "treinar seu cérebro para ouvir audiolivros em velocidades ridículas". Por "ridículas" entenda-se até dez vezes a velocidade normal (a maior parte dos usuários, no entanto, estaciona em quatro vezes).

O que a ciência tem a dizer sobre isso? Um dos melhores trabalhos sobre o tema é o estudo "Usando Compressão Temporal para Tornar o Aprendizado Multimídia Mais Eficiente", dos pesquisadores Ray Pastore e Alfred Ritzhaupt. Analisando estudos desde a década 1950, eles afirmam que acelerar conteúdos multimídia em até 1,8 vez não prejudica o aprendizado. No entanto, eles fazem algumas recomendações. Por exemplo, que os conteúdos sejam acompanhados de imagens; que as palavras mais importantes apareçam visualmente na tela para ênfase; e que o usuário tenha a possibilidade de ouvir de novo ou alterar a velocidade quando quiser.

Segundo os autores, essa aceleração traz efeitos positivos. Por exemplo, permite comprimir mais propagandas em menor tempo em vídeos on-line. Ou, ainda, poupar o tempo de empresas com relação a programas de capacitação de funcionários. Se a tendência pegar, quem insistir em consumir informações no ritmo "normal" poderá ser visto como uma espécie de zumbi cognitivo. Tal como aqueles que habitam o universo da série "The Walking Dead". 

Depressão, um dos transtornos que mais crescem e mais afastam as pessoas do trabalho


Consultório CBN

Entre 2005 e 2015, o número de pessoas que sofrem com a doença aumentou 18%. A psicóloga e mestre em psicologia médica Thaís Rabanéa fala sobre o distúrbio, que envolve diversos aspectos.

No mundo das redes sociais, o relativismo virou 'matéria paga'

luiz felipe pondé
Luiz Felipe Pondé
Filósofo, escritor e ensaísta, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, discute temas como comportamento, religião, ciência.

Dizem que estamos na era da pós-verdade. Trump é um exemplo. O "brexit", outro. A extrema direita, outro. Enfim, só mente quem não faz parte do pacote ideológico dos bonzinhos.

Era da pós-verdade é a era em que sites e pessoas inventam mentiras contra candidatos, ideias ou pessoas famosas (ou não) para atingir uma meta específica, além, claro, de ganhar dinheiro com publicidade à base de cliques. Reputações podem ser destruídas por canalhas produtores de mentiras veiculadas nas mídias sociais.

Mas existe uma fundamentação filosófica para isso: o relativismo sofista e seus descendentes. Mesmo que nenhum filósofo relativista tenha proposto a mentira como conclusão da negação da verdade absoluta (o relativismo em si), qualquer pessoa normal (inclusive alunos quando estudam relativismo) toma a autorização para mentir como conclusão evidente da postura relativista. No mundo das redes sociais, o relativismo se transformou em matéria paga.

É tudo verdade: as plataformas de redes sociais acabaram por pulverizar algo que Platão sabia. No mundo retórico das opiniões, ninguém sabe onde a verdade está. Nas redes sociais, com sua economia dos cliques, ganha mais quem é mais acessado. A sustentabilidade econômica deita raízes nessa economia dos cliques.

Há um deficit de verdade na democracia contemporânea. A economia dos cliques é esse fato tornado mercado. Mas há outro fator, mais invisível para quem não é do ramo, e que figuras como Trump sacaram. Muitos dos que criticam a era da pós-verdade nas mídias ("fake news" ou "notícias falsas") têm uma agenda ideológica escondida, e essa agenda os desqualifica como críticos para grande parte da população que não frequentou as escolas da zona oeste de São Paulo ou cursos de ciências humanas de universidades de gente rica (mesmo que públicas). Você quer saber qual é essa agenda escondida?

A agenda escondida é a associação direta entre ser de esquerda e dizer a verdade. É a crença de que se você for verdadeiro concordará com a pauta do "New York Times" para o mundo. Ou com a do "Guardian". Ou do "Libération" (a imprensa brasileira é bem melhor nessa vocação descaradamente ideológica, pelo menos em política, em cultura peca com mais frequência).

Não tenho dúvida de que "haters" (odiadores) mintam. E de que muitos sejam mesmo idiotas de extrema direita. E de que Trump possa ser um sério problema para mundo. E de que Hilary era melhor, justamente porque é um nada que faria um governo pró-establishment.

Mas, o que precisa ser dito é que grande parte do "fake news" também é gerado pela moçada do bem. Quero ver o dia em que os bonzinhos vão confessar que xingam, mentem, fazem bullying virtual e destroem eventos com os quais discordam. A esquerda é tão canalha quanto a direita em matéria de era da pós-verdade.

Vejamos um exemplo. A maioria esmagadora da classe de produtores culturais partilha dessa agenda escondida. Critica tudo que não combine com um governo que estimule a cultura (leia-se "dê grana pra eles"). Consideram óbvio que se alguém dá grana para eles é porque esse alguém é legal e faz o bem.

Ainda teremos que voltar à vaidade como categoria de análise moral e política neste século se quisermos pensar a sério esse comportamento de artistas que se vendem como arautos da verdade moral e política. Pois bem. Esses artistas apoiam governos conhecidos pela incompetência econômica que destrói vidas (mas se estiverem financiando seus filmes, ok!), pela perseguição ideológica (dar exemplos disso até dá sono, não?). Artista sempre foi um bicho fácil de convencer.

Outro exemplo: acadêmicos e "especialistas na verdade", normalmente todos, votariam na Hilary, ou seja, são de esquerda. A esquerda se sente tão confortável tendo o monopólio dos mecanismos de produção de conhecimento e cultura (por culpa mesmo da direita liberal que é tosca) que assume sem vergonha o lugar de oráculo da verdade.

Para quem conhece um pouquinho desse caminho da roça, tudo isso parece ópera-bufa. Você escuta as risadas dos palhaços?

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Jovens decidem sobre o que falam --e o que consomem-- os outros jovens

BBC

Nos primórdios da propaganda, grandes marcas pagavam celebridades para promover seus produtos. Mas, e se essas marcas pagassem os seus amigos - ou pessoas que parecem ser seus amigos, por exemplo, quem você segue no Twitter ou no Facebook - para promover produtos?
Agora, imagine se uma única companhia tivesse controle direto sobre centenas de contas de mídia social com grande número de seguidores jovens - e decidisse "vender" a grandes marcas globais o acesso privilegiado a esse grupo?
Pois essa companhia existe. Chama-se Social Chain.
Fundada em 2014, por dois jovens de vinte e poucos anos, ela tem sede em Manchester (Reino Unido) e filiais em cidades como Nova York e Berlim.
A empresa opera em um mercado bastante lucrativo. Hoje, metade do orçamento de publicidade no Reino Unido é gasto na internet. E segundo o Internet Advertising Bureau (IAB), órgão que representa o setor de propaganda digital no país, apenas em 2015, 1,25 bilhão de libras (R$ 5 bilhões) foram gastos com marketing em mídias sociais.
Entre os clientes da Social Chain estão marcas globais como Apple, McDonalds e Universal Studios, além de outras, que a empresa não divulga.
"Dizem por aí que a Social Chain é capaz de fazer qualquer coisa virar trending top ic (assunto popular de conversa no mundo digital) em menos de meia hora", diz à BBC um dos fundadores da empresa, Steve Bartlett, de 24 anos.
A empresa de Bartlett controla mais de 400 contas de mídia social. Juntas, essas contas acumulam mais de 300 milhões de seguidores - o equivalente à população dos Estados Unidos -, a grande maioria, jovens.
No escritório de Manchester trabalham hoje mais de 80 pessoas. A média de idade é 22 anos. A proporção de homens para mulheres é 9 para cada uma. Esses são os jovens que decidem sobre o que conversam - e, muitas vezes, o que consomem - os outros jovens.

Momento 'eureka'

Bartlett abandonou o curso de administração de empresas na universidade para fundar seu negócio. Ele tinha um site voltado para o público estudantil e procurava formas de usar as mídias sociais para gerar tráfego.
Um dia, se deu conta de que o "ouro" não estava no site e, sim, nas páginas de mídia social. Encontrou uma conta no Twitter que fazia sucesso com estudantes e convidou o dono para trabalhar com ele.
A conta, do estudante Dominic McGregor, chama-se Student Problems. Hoje, ela tem 170 mil seguidores.
"Dom (McGregor) publicava conteúdo de entretenimento e notícias locais, e tinha milhares de seguidores", diz Barlett à BBC.
"Entrei em contato com ele e começamos a conversar sobre como a página dele, e milhares de outras, poderiam ser utilizadas para conectar uma audiência a uma marca", acrescenta.
Assim, teve início a Social Chain. Mas por que as grandes marcas estão contratando os serviços dessa pequena empresa - e não os das agências globais de propaganda?
"A mídia social coloca você muito mais perto dos seguidores, em um plano muito mais pessoal", explica Bartlett.
"Quando um cliente nos procura, é como se um amigo estivesse dizendo a você para fazer algo. Nossa equipe de criação faz (os posts) de um jeito que parece que é um amigo que está falando com você", completa.

Como funciona?

Tome como exemplo a conta Student Problems (problemas de estudante, em tradução livre), extremamente útil para marcas que têm como alvo o público estudantil.
O suposto estudante por trás dos textos publicados na conta está passando pelos mesmos problemas enfrentados por estudantes em todo o Reino Unido.
Então, quando a conta sugere a seus "seguidores" que experimentem um aplicativo novo que os ajudará a incluir referências bibliográficas nas dissertações da faculdade, o leitor supõe que "o estudante" por trás do post realmente acha que o novo aplicativo é bom, explica Bartlett.
Mas o que existe de realmente novo na estratégia da Social Chain?
A partir de seus computadores, esses jovens criam o que no jargão publicitário é chamado "canal de comunicação mercadológica" (chanel to market, em inglês).
Nesse caso, o canal é uma pessoa que existe no Twitter ou no Facebook. Se essa "pessoa" ganha popularidade entre usuários de mídias sociais, seu criador vende a conta a empresas como a Social Chain.
A Social Chain, por sua vez, usa essa conta, junto com várias outras contas sob seu controle, para disseminar propaganda com alcance global.
Esse tipo de modelo de negócio é novo. E essa estratégia inovadora levou muitos na mídia especializada a citarem o caso da Social Chain como um exemplo de sucesso. Outros, no entanto, criticam o que consideram ser uma forma de "propaganda invisível".

O que é o Marketing de Influência?

- Técnica de marketing que identifica líderes de opinião (influenciadores)
- Conecta marcas com seu público de forma mais natural e espontânea
- Há diferentes tipos de influenciadores e de diferentes alcances: celebridades, youtubers, blogueiros, tuiteiros e amigos
- O marketing de influenciadores é usado para lançamentos, promoções e eventos

Advertência

Em 2016, a Social Chain recebeu uma advertência da Competition and Markets Authority (Autoridade de Competição e Mercados do governo britânico, CMA na sigla em inglês).
Uma investigação do órgão revelou que a empresa convidou grandes personalidades da mídia social a promover filmes, games, apps de namoro e de comida para viagem sem deixar claro que os endossos eram, na verdade, propaganda paga. Os anúncios foram postados no Twitter, YouTube e Instagram.
A investigação da CMA revelou também que a Social Chain havia organizado 19 campanhas de marketing com o uso de propaganda "invisível" - ou seja, propaganda disfarçada de postagem.
Talvez como consequência da advertência, Bartlett disse que, de um ano para cá, todos os anúncios que aparecem nas contas controladas pela Social Chain incluem hashtags que os identificam como propaganda.
"Legalmente, quando anunciamos, temos de incluir hashtag ad (do inglês ad, propaganda) e hashtag sp (do inglês sponsored post, ou postagem patrocinada)", ele disse.
Mas será que isso é suficiente?
A especialista em Estudos de Mídia Mara Einstein, da City University, em Nova York, acha que não.
"As pessoas que leem esses conteúdos não sabem que, além do rosto da pessoa que aparece no Twitter, existe alguém mais por trás daquele conteúdo", destaca ela.
E embora a indústria da propaganda tenha um código de conduta para anunciantes, o padrão varia muito entre os diferentes sites, acrescenta Mara.
"Alguns dizem (conteúdo) promocional, outros dizem (conteúdo) patrocinado, hashtag ad, hashtag sp, mas ninguém sabe o que essas coisas significam, não existe uniformidade, então o consumidor fica confuso", conclui.

Perigo à vista?

"Acho que (pessoas que criticam nossas práticas) estão subestimando o consumidor", rebate Bartlett.
"Eu não sou estúpido o suficiente para não saber que os jogadores de futebol e as celebridades estão sendo pagos", opina.
Ético ou não, até agora, as gigantes da propaganda não conseguiram replicar o modelo inovador que a pequena empresa inglesa, financiada com capital próprio, criou.
Ainda assim, a turma da Social Chain deveria ficar esperta, aconselha Alex Wright, que trabalhou para o Facebook e hoje comanda sua própria agência de publicidade.
A mídia social é povoada por monstros gigantes. O Facebook, por exemplo, tem 1,7 bilhão de usuários por mês. Monstrinhos pequenos, como a Social Chain, devem pisar com cuidado para não incomodar os grandões.
"Eles (o Facebook) com certeza estão de olho (na Social Chain). Se, de repente, o que a Social Chain estiver fazendo começar a ter impacto negativo sobre o Facebook, e se os usuários começarem a se retirar, antes disso acontecer, o Facebook vai intervir", prevê Wright.
Não que Bartlett esteja muito preocupado.
"O que me tira o sono é a empolgação, não o medo", diz o jovem empresário.
Mas e se o Facebook mudar suas regras, ou o Twitter fechar? E se os jovens se esconderem em pequenos grupos fechados na mídia social, nos quais anunciantes e pais não podem vê-los?
"Na mídia social, a única coisa que você pode realmente prever é que vai haver mudanças", diz Bartlett.
"E porque estamos acostumados às mudanças e as abraçamos com tanta força, não tenho essa preocupação, de que a mudança possa nos exterminar", completa.
Segundo o Ofcom, órgão independente que regula as indústrias de comunicação no Reino Unido, 99% dos jovens com idades entre 16 e 24 anos usam mídias sociais pelo menos uma vez por semana no país.
O documentário foi transmitido pela BBC Radio 4.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

30 Minutos





Não entendemos de plantas, muito menos de orquídeas.

Compramos fertilizante no supermercado numa seção diminuta de jardinagem, o irmão do morador do condomínio que é dono de um sitio e lida com fertilizantes disse que é o mais fraquinho e que existe melhores, quem somos nos para contraria lo, acabamos de abrir a segunda caixa, assim que estiver no final vamos a uma casa especializada comprar o fertilizante indicado.

As orquídeas foram presentes, depois que perdem as flores os moradores as descartam, o zelador as recolhe  e pendura nas arvores e coqueiros.

Quando começaram a florescer os moradores começaram a perguntar quem estava cuidando, pois havia orquídeas que a anos não floresciam. 




Houve comentários de todos os tipos, como:

Nem proprietários vocês são.

Tempo desperdiçado, assim que vocês pararem de cuidar vão morrer.

Ninguém olha, porque não tem tempo, todo mundo anda apressado.

Qual o interesse de vocês?

Vaidade, querem Elogios é isso!!!







30 Minutos.

Dedicamos 30 minutos por semana as orquídeas.

Se as pessoas dedicassem 30 minutos para si por semana, desconectando do mundo, sozinho com seus pensamentos, viajando pela alma, longe dos compromissos, dos medos e das expectativas.

30 Minutos por semana para a família, só escutando.prestando atenção a cada palavra, a cada gesto, até o momento que cada um da família se torne transparente, tão transparente que é possível ver suas almas.

30 Minutos por semana para os filhos, se for pequeno pegar no colo, dar cocegas, dar muitas risadas.

Se o filho for um pouco maior abraça lo, rolar, brincar.

Se o filho for grande, lembrarem juntos das brincadeiras, dos bons momentos e principalmente que um dia fomos criança, e nesses 30 minutos voltarmos a ser jovens como eles.


Descartada duas vezes por acharem que estava morta, restou somente um ramosinho sem raízes, que precisou de 30 minutos de atenção por semana para ganha vida novamente.














Brasil é o país mais depressivo da América Latina, diz OMS

Índices de transtornos de ansiedade são o triplo da média mundial; transtornos mentais geram perdas de US$ 1 tri por ano para a economia global

Jamil Chade , 
Correspondente de O Estado de S. Paulo

GENEBRA - O Brasil tem a maior taxa de pessoas com depressão na América Latina e uma média que supera os índices mundiais. Dados publicados nesta quinta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 322 milhões de pessoas pelo mundo sofrem de depressão, 18% a mais do que há dez anos. O número representa 4,4% da população do planeta.
Foto: Yukiro Nakao/Reuters
Brasil tem maior taxa de depressão na América Latina e supera média mundial
A depressão é a principal causa de mortes por suicídio
No caso do Brasil, a OMS estima que 5,8% da população nacional seja afetada pela depressão. A taxa média supera a de Cuba, com 5,5%, a do Paraguai, com 5,2%, além de Chile e Uruguai, com 5%. 
No caso global, as mulheres são as principais afetadas, com 5,1% delas com depressão. Entre os homens, a taxa é de 3,6%. Em números absolutos, metade dos 322 milhões de vítimas da doença vivem na Ásia. 
De acordo com a OMS, a depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade no mundo, em cerca de 7,5%. Ela é também a principal causa de mortes por suicídio, com cerca de 800 mil casos por ano. 
Ansiedade. Além da depressão, a entidade indica que, pelo mundo, 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade, uma média de 3,6%. O número representa uma alta de 15% em comparação a 2005. 
Uma vez mais, o Brasil lidera na América Latina, com 9,3% da população com algum tipo de transtorno de ansiedade. A taxa, porém, é três vezes superior à média mundial. Os índices brasileiros também superam de uma forma substancial as taxas identificadas nos demais países da região. No Paraguai, a taxa é de 7,6%, contra 6,5% no Chile e 6,4% no Uruguai.
Em números absolutos, o Sudeste Asiático é a região que mais registra casos de transtornos de ansiedade: 60 milhões, 23% do total mundial. No segundo lugar vêm as Américas, com 57,2 milhões e 21% do total. 

No total, a OMS ainda estima que, a cada ano, as consequências dos transtornos mentais gerem uma perda econômica de US$ 1 trilhão para o mundo. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Ensinando alunos a meditar em SP

Estadão Conteúdo

A pergunta que os professores mais ouviam das crianças durante as atividades era "o que faremos depois?" Além disso, muitas delas já manifestavam dificuldade de concentração, falta de paciência para esperar e interrompiam atividades para começar outras, sem nunca concluí-las.
Esse padrão de comportamento era ainda mais comum entre as crianças de 4 a 10 anos que estudam em período integral no Colégio Mary Ward, no Tatuapé, zona leste paulistana. Preocupada com o desenvolvimento dos alunos, a professora Alexandra Grassini decidiu adotar técnica americana, o mindfulness, para que eles conseguissem "desacelerar" e reduzir a ansiedade.
"Vivemos em uma sociedade que exige que todos estejam sempre conectados, ligados, fazendo alguma atividade. E isso provoca a ansiedade. Não só em adultos, mas repercute também nas crianças", disse. Segundo ela, os alunos do período integral demonstravam ainda maior ansiedade já que ficam muito tempo na escola e têm muitas atividades.
Ela contou que as crianças tinham dificuldade de terminar as tarefas escolares e sempre estavam ansiosas com as futuras atividades, sem conseguir aproveitar o que faziam no momento. "Era um padrão que os prejudicava, porque eles não curtiam o que tanto esperaram. E, futuramente, as implicações poderiam ser ainda maiores." Por isso, desde o começo do ano os 29 alunos do período integral passaram a fazer atividades ligadas à técnica americana para melhorar a concentração.

Meditação

São exercícios de respiração e meditação voltados para crianças. Em uma das atividades, as crianças ficam em silêncio para perceber os sons externos que os rodeiam. "No começo, eles ficavam agitados e falavam todos ao mesmo tempo. Depois, foram ficando mais relaxados, mais sensíveis ao que acontecia em volta e ficaram felizes de conseguir perceber tudo isso", disse Alexandra.
Ela contou que a atividade também aproximou as crianças uma das outras, já que a maioria dos exercícios é feita em grupo. "É uma técnica que favorece o desenvolvimento de habilidades sociais, saber escutar o colega, prestar atenção no outro e no mundo. Também se sentem mais confiantes em compartilhar o que descobriram com os amigos."
Para ela, a técnica trouxe benefícios no curto prazo, mas deve ajudar os alunos ainda mais nos próximos anos, quando vão vivenciar ainda mais situações de estresse, como provas, cobranças em casa, vestibular. "É uma forma de ensiná-las a lidar com situações de grande pressão. Futuramente, elas poderão recorrer às habilidades que aprenderam aqui para lidar com a frustração." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ideb do ensino médio irá abranger todas as escolas públicas e privadas

PAULO SALDAÑA
DE SÃO PAULO

A próxima edição do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica ) contará com notas de todas as escolas de ensino médio do país, incluindo públicas e particulares. Atualmente, o ensino médio não tem notas por escola. Só há um índice geral da etapa, por amostragem.

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do Ministério da Educação, anunciou pelas redes sociais nesta quinta-feira (23) que a avaliação de português e matemática –feita até hoje apenas por uma amostra de escolas– será ampliada para todas as escolas. Todos os alunos do 3º ano do ensino médio deverão fazer a avaliação federal neste ano.

Dessa forma, será possível ter um Ideb de cada unidade, como já ocorre nos anos iniciais e finais do ensino fundamental.

Ainda não há definição oficial, mas a Folha apurou que o Ideb do ensino médio deve substituir a divulgação dos resultados por escola do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Para Reynaldo Fernandes, professor da USP e presidente do Inep quando o Ideb foi criado, em 2007, a decisão é positiva. "Com uma prova universal no ensino médio, as escolas vão ganhar [recebendo os dado]", diz.

Fernandes conta que, na época da criação do Ideb, a aposta do MEC era que o Enem cumprisse o papel de oferecer dados sobre as escolas, embora nunca tenha sido descartado ampliar a Prova Brasil para essa etapa. "Mas acho que o Enem, com os desafios logísticos, acabou tomando a discussão dentro do Inep", diz.

A divulgação de dados do Enem por escola causaram críticas de especialistas porque o exame não tem a função de avaliar a unidade. Além disso, os critérios de divulgação das médias por escola deixam um grande percentual de unidades sem informações.

Na última edição do Ideb, 60% das escolas públicas brasileiras ficam fora da lista do Enem. Só têm a média divulgada escolas em que ao menos metade dos alunos fizeram o Enem têm suas notas divulgadas. Também é necessário um mínimo de dez alunos participantes.

O professor Francisco Soares, também ex-presidente do Inep, acredita que o Enem seria capaz de oferecer um bom retrato das escolas. "Seria ainda mais interessante que mais escolas particulares do ensino fundamental participassem da Prova Brasil", diz ele.

A mudança ocorre após o governo Michel Temer (PMDB) conseguir aprovar a reforma do ensino médio. O MEC também planeja mudanças no formato do Enem, tanto para cortar custos com a realização da prova como para adequar a prova ao previsto na nova estrutura do ensino médio.

Com a ampliação, é prevista a participação de mais de 7,5 milhões de estudantes, segundo o Inep. Desses, 2,4 milhões são alunos do 3º no do médio em unidades públicas e privadas. O restante, do ensino fundamental (fazem a avaliação alunos do 5º e 9º anos).

Ainda não há informações sobre custos para uma aplicação censitária da Prova Brasil (avaliação federal que compõe o Ideb). Também não está certo como o governo vai convencer as escolas particulares a participarem do processo.
Além do desempenho na prova, o índice leva em conta taxas de aprovação escolar. 

A avaliação é realizada a cada dois anos.

Universidades globais, combatendo o risco do isolacionismo

claudia costin
Claudia Costin
É professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

No elevador da Fundação Getúlio Vargas no Rio, encontro um professor com sotaque de Portugal e nos falamos brevemente, sob o olhar atento de outra professora que me esclarece ser albanesa.

Ao sair, lembrei-me da reunião do Conselho Consultivo da USP, dias antes, quando vi, do prédio da reitoria, um laboratório novo quase pronto, resultante de investimento alemão, nesta que é a melhor universidade do país, ranqueada como a 47ª do mundo em pesquisa científica.

Vivi esse clima também ao atuar como professora visitante em Harvard. Meus alunos eram dos mais variados países, assim como meus colegas professores e pesquisadores.

A universidade deve voltar-se para a promoção de ideias que iluminem a experiência humana e tragam um desenvolvimento mais inclusivo para os países. Para tanto, atrair talentos e ampliar o acesso conta muito.

Garantir, de um lado, que a universidade não ignore as necessidades de seu país e não se limite aos conhecimentos ou reflexões aí presentes. Por outro, ampliar o acesso a seus cursos, assegurando diversidade entre seus alunos.

Nenhum conhecimento é totalmente autóctone; a humanidade sempre teve interações que proporcionaram o avanço das ciências, mesmo que, em muitos casos, isso tenha se associado a formas de dominação. O isolacionismo ou a busca de uma pesquisa "genuinamente nacional" certamente não são respostas a esse risco.

A construção de uma universidade global que contribua com um projeto de nação passa basicamente por três fatores. O primeiro diz respeito à relevância dos currículos para garantir, para além do avanço de diferentes campos de pesquisa, empregabilidade e empreendedorismo para seus egressos.

Outro fator é um sólido controle da qualidade de sua produção e contribuição para a sociedade. O cuidado, nesse caso, é evitar que, em governos não democráticos, o controle de qualidade inclua censura ao labor científico. Há que se garantir liberdade de ensino e pesquisa, sob pena de se perder justamente o que a universidade traz de mais rico.

No entanto, em sociedades democráticas, não cabe à universidade perceber-se só como centro de resistência. As ditaduras levam instituições de ensino superior a se colocar em trincheiras, mas manter-se eternamente entrincheirado mata a possibilidade de dotá-las de um papel mais propositivo.

Finalmente, a universidade deve ser permeável tanto aos interesses da sociedade em que atua quanto aos desafios que o tempo traz para o planeta. Para tanto, ela deve contar com um sistema de governança que não seja autorreferenciado. A universidade não será global vivendo numa torre de marfim!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Brasil tem maior taxa de transtorno de ansiedade do mundo, diz OMS

Índice de depressão também é um dos cinco mais elevados do planeta. No total, transtornos mentais geram perdas de US$ 1 tri por ano para a economia global

Jamil Chade ,
O Estado de S. Paulo

GENEBRA - O Brasil tem a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade do mundo e o quinto maior com depressão. No total, 18,6 milhões de brasileiros viviam com algum transtorno de ansiedade em 2015 e 11,5 milhões de pessoas, com depressão no País.
Dados publicados nesta quinta-feira, 23, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 322 milhões de pessoas pelo mundo sofrem de depressão, 18% a mais que há dez anos. O número representa 4,4% da população do planeta.
No dia 7 de abril, para marcar o Dia Mundial da Saúde, a OMS escolheu a depressão como o tema a ser alvo de uma campanha internacional. Para a entidade, governos ainda não dão uma atenção suficiente a esse problema de saúde.
No caso do Brasil, a OMS estima que 5,8% da população nacional é afetada pela depressão, o que coloca o País no quarto com a maior prevalência do problema de saúde. O ranking é liderado pela Ucrânia, com 6,3% da população em depressão. Estônia, Estados Unidos e Austrália estão na segunda posição, com 5,9%. 
A taxa média brasileira supera ainda a de Cuba, com 5,5%, a do Paraguai, com 5,2%, além de Chile e Uruguai com 5%. 
No caso global, as mulheres são as principais afetadas, com 5,1% delas com depressão. Entre os homens, a taxa é de 3,6%. Em números absolutos, metade dos 322 milhões de vítimas da doença vivem na Ásia. 
De acordo com a OMS, a depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade no mundo, em cerca de 7,5%. Ela é também a principal causa de mortes por suicídio, com cerca de 800 mil casos por ano. 
Além da depressão, a entidade indica que, pelo mundo, 264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade, uma média de 3,6%. O número representa uma alta de 15% em comparação a 2005. 
O Brasil lidera na América Latina e no mundo, com 9,3% da população com algum tipo de transtorno de ansiedade. A taxa é três vezes superior à média mundial. Os índices brasileiros também superam de uma forma substancial as taxas identificadas nos demais países da região. No Paraguai, a taxa é de 7,6%, contra 6,5% no Chile e 6,4% no Uruguai.
Em números absolutos, o Sudeste Asiático é a região que mais registra casos de transtornos de ansiedade: 60 milhões, 23% do total mundial. No segundo lugar vem as Américas, com 57,2 milhões e 21% do total. 
No total, a OMS ainda estima que, a cada ano, as consequências dos transtornos mentais geram uma perda econômica de US$ 1 trilhão para o mundo. 
Ao Estado, o especialista da OMS para saúde mental, Dan Chisholm, indicou que é difícil indicar um fator isolado que explicaria a alta taxa de transtornos de ansiedade no Brasil e mesmo a depressão. "Ao contrário de outras doenças, existem muitos fatores que atuam de forma conjunta para criar esse cenário", explicou. 
Em sua avaliação, os principais fatores de risco que podem pesar no caso brasileiro incluem a situação econômica do país, os níveis de pobreza, desigualdade, desemprego e recessão. Além disso, existem fatores ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades. 
"Trata-se de uma combinação da situação socioeconômica e a realidade da vida de uma população", indicou. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Quanto menos se merece, menos se é grato



Mario Sergio Cortella | Academia CBN

O escritor espanhol Francisco de Quevedo, contemporâneo a Miguel de Cervantes, escreveu que poucas vezes quem ganha o que não merece, agradece o que ganha.

'Adolescente que você vai ter é o que você plantou'


Petria Chaves | Revista responde: como criar seus filhos

De acordo com o doutor em psicologia clínica Luiz Alberto Hanns, pais devem criar os filhos com diálogo e limites.

Capacidade crítica faz reparos na nossa conduta


Mario Sergio Cortella | Academia CBN

De forma construtiva, a característica nos faz bem no ambiente de trabalho, na escola e no casamento. Às vezes, o que é unânime acaba dissimulando alguns defeitos que se possa ter.

O que é ser conservador? É preferir o fato ao mistério, o atual ao possível', disse o filósofo Michael Oakeshott

COLUNISTA

Leandro Karnal


Decidi atender a um pedido de algumas pessoas para tentar definir o que viria a ser um conservador. O campo é gigantesco e, claro, daria espaço para um texto mais desenvolvido do que esta crônica. Pretendo apenas indicar algumas linhas e bibliografia sobre o conservadorismo e despertar o interesse pelo conhecimento do campo. Você que é conservador e quer aprender mais sobre sua posição, você que está mais à esquerda e deseja conhecer a cabeça do outro time e, por fim, você que ainda não tem bem certeza do que é politicamente: todos podem aproveitar estas curtas linhas.
Poderia voltar mais no tempo, mas inicio o conservadorismo político pela obra de Edmund Burke: Reflexões Sobre a Revolução na França. Situemo-nos: o ano é 1790. A Revolução mal completou um ano e o autor do outro lado do Canal da Mancha já vê nela uma sementeira de problemas. 
Primeira lição: o conservador desconfia de saltos, de rupturas, de processos violentos que destruam o consuetudinário, ou seja, a tradição dos costumes. Burke acredita que a França (que ainda era uma monarquia quando ele escreveu) substituiria a tirania de um rei pela opressão de um grupo político.

Para Burke, a sociedade é um contrato entre os habitantes do presente e os do passado e futuro. Não tenho direito de destruir tudo que recebi e não tenho direito de violar o futuro com uma ruptura revolucionária. Segundo o irlandês, a tirania gerada pela revolução seria baseada mais na inveja dos bens alheios do que no sentimento de justiça. O conservador crê na conservação: a tradição, o sistema jurídico e a evolução lenta das leis e dos costumes. A desigualdade entre os humanos seria um dado natural e nunca poderia ser eliminada completamente. O conservador pouco acredita na perfectibilidade do humano. Ninguém pode se dizer um conservador de verdade sem ter analisado a obra de Edmund Burke.

Falei de um clássico, mas recomendaria iniciar a jornada com um pequeno livro de João Pereira Coutinho: As Ideias Conservadoras Explicadas a Revolucionários e Reacionários (Ed. Três Estrelas). O autor português estabelece uma crítica a dois polos: o reacionário que inventa uma ordem perfeita no passado para a qual deve retornar, e o revolucionário, que cria uma ordem perfeita à frente para a qual deve avançar. Importante: o conservador pode ser conservador politicamente e liberal (ou até vanguardista) em termos de liberdade pessoal. Assim, um conservador que, tradicionalmente, resiste à interferência do Estado na economia ou no controle do cidadão, pode defender a união civil de pessoas do mesmo sexo. O conservadorismo, indica Coutinho, volta-se à defesa do indivíduo e da sua liberdade. 
Nesta direção, o livro Por Que Virei à Direita (Ed. Três Estrelas) reúne textos de João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield e é uma boa leitura introdutória sobre o pensamento conservador.

Na obra de João Pereira Coutinho está citado um pensamento basilar de Michael Oakeshott: “Ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, o testado ao nunca testado, o fato ao mistério, o atual ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, o riso presente à felicidade utópica”. (OAKESHOTT, Michael. Rationalism in Politics and other essays). Em resumo, o conservador não crê que os seres humanos possam ser perfeitos em sociedades harmônicas e igualitárias. Para ele, a realidade contraria a utopia. Reafirmando Burke, nossa desigualdade seria estrutural e só superável por processos lentos, metódicos, sem rupturas. Ao Estado caberia, no máximo, evitar o inferno, nunca garantir o paraíso.

Para acompanhar essas ideias, o livro The Conservative Mind: From Burke to Eliot (obra de 1953) faz uma lista dos pensadores e das suas ideias conservadoras. Completam bem esse campo os textos de Isaiah Berlin: Estudos Sobre a Humanidade e também o clássico Ideias Políticas na Era Romântica. 
No curso que dei na Unicamp sobre Conservadorismo, também analisei a obra de Thomas Sowell: Os Intelectuais e a Sociedade. O autor norte-americano faz uma pesada crítica aos intelectuais, especialmente os de esquerda, alegando que falam sobre todos os temas sem os conhecerem de fato. Os intelectuais, ao contrário de engenheiros e médicos, não precisam verificar suas ideias e, no fundo, dizem o que a maioria ressentida desejaria ouvir. Economista e negro, Sowell representa a tradição de desconfiança do Estado. Sowell deve ser acompanhado do texto O Que É Conservadorismo, de Roger Scruton (The Meaning of Conservatism), aqui traduzido pela É Realizações Editora. O enfoque de Scruton é mais sobre leis e impostos e menos sobre cultura.
Há muitas outras obras. Não tenho espaço para destacar a excelente análise de Gertrude Himmelfarb ou o pensamento de Alexis de Tocqueville e Thomas Hobbes sobre Estado e indivíduo. Lendo estas e muitas outras fontes, refletindo e criticando, você poderá definir sua postura e aprofundar seu viés político. Observe o mundo ao seu redor, analise pessoas e ideias, leia muito e defina sem preconceitos, por você mesmo, o que é um conservador e por que ele é diferente de um reacionário ou de um revolucionário. Ler e pensar dá um pouco mais de trabalho do que berrar palavrões em rede social. Boa semana para conservadores e revolucionários. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O excesso de cursos universitários

Se colocar na rede a receita de pudim da minha avó, serei processado por não ter faculdade de gastronomia?

WALCYR CARRASCO

Sofri protestos ferozes no Instagram. Tudo porque achei excessiva a briga contra a blogueira Gabriela Pugliesi e seu companheiro, Erasmo Viana. A moça, como outras, mostra seu estilo de vida e sua rotina de alimentação e exercícios físicos. Está sendo processada com a acusação de propor atividades de educação física sem curso universitário correspondente. Ele é apedrejado por ensinar mahamudra, uma prática que une ioga a exercícios físicos mais intensos. Já quis fazer, é praticado em parques. Os adeptos pulam em galhos. Desisti. E se um galho não suportasse meu peso?
As reações ferozes na internet partiram de profissionais da educação física. Não posso julgar o caso da blogueira. Se está sendo processada, compete à Justiça a palavra final. Mas achei as reações injustas. Nunca fui contra a educação física como curso universitário. Mas hoje, na internet, é comum que as pessoas mostrem seu estilo de vida. Não existe exigência de faculdade para que alguém faça demonstrações de judô, tai chi chuan, ioga ou dança. Todas essas atividades mexem com o corpo e podem machucar. Quem já viu o pé de um bailarino sangrando após uma apresentação sabe disso. O pilates, que virou febre,  não exige diploma. Por que o mahamudra seria diferente?
Na minha opinião, existe um número absurdo de cursos universitários. Para ser ator, é preciso o registro profissional, o DRT. É fornecido automaticamente após um curso de nível universitário. Mas há uma brecha: os sindicatos podem dar quando há comprovação de trabalhos. Acho a exigência do DRT descabida. Há talentos que surgem de forma surpreendente. Assim como diplomados que não conseguem interpretar uma linha. E os bons cursos de antigamente? Muitas moças (poucos rapazes) faziam a chamada Escola Normal, logo após o 8o ano. E podiam dar aulas do 1o ao 4o ano. Foi assim que muita gente custeou a faculdade. Muita professora ajudava na despesa da casa. Acabou. Meu irmão fez um curso técnico de químico industrial, de três anos. Viveu dele. Tornou-se um grande químico, participou de processos de transferência de tecnologia de outros países para o Brasil. Já se aposentou. Atualmente, teria de passar pela universidade. Na época, começou a trabalhar aos 18 anos e não parou mais. Por que tantos cursos técnicos viraram faculdades? No caso da medicina, engenharia, acredito que a universidade seja fundamental. Em Direito, não basta o curso. De diploma na mão, o jovem precisa passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Nada mais justo. Vale o mesmo para educação física, nutrição. Mas ator? Se um médico errar, coloca a vida de alguém em risco. Se o ator for ruim, só me deixa de mau humor. Fiz faculdade de jornalismo. Mas tem sentido exigir diploma de jornalismo? É um assunto controverso, com muitos vaivéns. Um economista que escreva sobre o tema certamente será muito melhor que eu, incapaz de somar dois e dois. O jornalismo se caracteriza por exigir profissionais de várias áreas, de repórter de política a crítico de moda. Precisam de diploma? Para quê?
Eu seria incapaz de listar todos os cursos universitários absolutamente ridículos existentes no Brasil. Por exemplo: um amigo fazia a faculdade de quiropraxia numa instituição paulista. Para quem não sabe, a quiropraxia é um tipo de massagem/manipulação do corpo, com ajustes nas articulações. Como paciente, já fui estalado várias vezes. O quiroprático estalava minhas vértebras e braços. Há manuscritos chineses de 2700 a.C. que se referem à manipulação articular. Tive um quiroprático velhinho, de origem nipônica, excelente. Nunca fez faculdade. Para que transformar em curso universitário? Óbvio, para depois regulamentar. Criar uma reserva de mercado. Expulsar dela todos os velhinhos orientais e botar na roda jovens universitários. Seria no máximo um curso de extensão para quem fez educação física. Mas daqui a pouco vão exigir diploma. Quem lucra? As universidades.
Está na hora de fazer o contrário. De tirar a exigência de formação universitária para tantos cursos que poderiam ser técnicos. A formação profissional custaria menos, as pessoas entrariam no mercado de trabalho mais depressa. Mas não, só inventam novos cursos. E criam-se nichos e nichos. Estou com medo. Minha avó fazia um maravilhoso pudim com queijo parmesão. Qualquer dia desses dou a receita nas redes sociais. Serei processado por não ter faculdade de gastronomia?

Você é o dono do seu tempo?

mirian goldenberg
Mirian Goldenberg
É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.

Uma das queixas mais frequentes dos homens e mulheres, de todas as idades, que tenho pesquisado é: "falta de tempo".

Eles dizem que gostariam de fazer cursos de filosofia e história, ler mais livros, escrever, dançar, praticar esportes, fazer musculação e pilates, aprender a tocar piano e cantar, estudar inglês e francês, sair com os amigos, namorar, viajar, ir ao teatro e cinema, conhecer lugares novos, caminhar na praia, participar de palestras, fazer um trabalho voluntário e muitas outras atividades interessantes, diferentes e prazerosas.

Por que, então, não fazem estas coisas que tanto desejam?

Escuto sempre a mesma resposta: "Eu não tenho tempo!". Muitas vezes acompanhada de: "Não tenho dinheiro!"

Alguns ainda dizem: "Quando eu ficar mais velho, quem sabe?", "Quando eu me aposentar", ou ainda, "Quando meus filhos forem independentes", o que revela que só em um futuro, talvez ilusório, eles conseguirão ter mais tempo para si mesmos.

Eles vivem uma espécie de escravidão: o tempo deles é regulado por demandas externas, não internas. Afirmam que não sobra tempo livre para eles, já que precisam responder a intermináveis obrigações sociais, profissionais e familiares. 

É um tempo para os outros, que pertence a outros. Eles gastam o tempo agradando, cuidando e atendendo às necessidades dos filhos, cônjuges, netos, pais, irmãos, amigos, colegas de trabalho. Sentem-se "sem tempo para mais nada, nem para dormir direito". Estão "cansados, exaustos, esgotados, sugados, vampirizados, massacrados".

Uma psicóloga de 62 anos disse: "A desculpa de falta de tempo é a prova do nosso medo de fazer aquilo que realmente desejamos. Não temos coragem de dizer não, queremos agradar a todo mundo e esquecemos que precisamos agradar, em primeiro lugar, a nós mesmos. Ser livre para priorizar as próprias escolhas e desejos, e usar o tempo para concretizá-los, é arriscado e dá muito trabalho. É mais fácil ser escravo do tempo dos outros do que senhor do próprio tempo".

Você já parou para pensar que o tempo é um capital, uma verdadeira riqueza? 

Como você gasta (ou desperdiça) seu tempo? Quem é o verdadeiro dono do seu tempo? Se você fosse o dono do seu tempo, o que faria (ou deixaria de fazer) agora?

O ensino das humanidades é essencial

rosely sayão
Rosely Sayão
Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

"Precisamos ensinar virtudes e empatia aos mais novos. Precisamos ensinar virtudes e empatia aos mais novos". Essa frase deveria funcionar como um mantra para todos os adultos que, direta ou indiretamente, convivem com crianças e jovens.

Nos tempos de hoje, julgar e acusar o outro tem sido muito mais comum do que respeitar, compreender, colaborar com ele de forma positiva. E, como sempre, os mais novos têm seguido os passos dessa cultura que nós, adultos, construímos e colocamos em prática com muita frequência.

"Como ajudar um adolescente de 14 anos a aceitar as pessoas que estão ao seu redor para que, em vez de julgar, faça algo para ajudar a melhorar?" Essa pergunta de uma leitora, somada à leitura do texto publicado na Folha"Que espécie de médico as escolas brasileiras estão formando?", de Cláudia Collucci, são ótimos pretextos para falarmos a respeito do assunto.

Já faz tempo que a educação, tanto a familiar quanto a escolar, tem adotado como meta o ensino –e, portanto, a expectativa do aprendizado– dos conteúdos escolares. É por isso que as famílias anseiam por boas notas escolares dos filhos, e escolas consideradas boas são aquelas que têm uma quantidade enorme de conteúdos que devem ser aprendidos pelos alunos, não importa como.

São poucas as escolas que escapam desse foco conteudista, e é, ainda, igualmente pequeno o número de famílias que procuram escolas chamadas alternativas, ou seja, que têm metas diferentes daquelas praticadas pelas escolas tradicionais.

O ensino das humanidades nas escolas tem ocupado lugar secundário na hierarquia das disciplinas, e a reforma do ensino médio oficializa essa posição. 

Um exemplo é o fato de as disciplinas da área de humanas serem ensinadas para que o aluno aprenda mais conteúdos em vez de aprender, com esse conhecimento, a contextualizar as situações, a compreender, a ser crítico, ético, cidadão, entre outras possibilidades.

A atuação de muitos jovens profissionais –não apenas da medicina, como visto recentemente– nos leva a constatar que o ensino das humanidades nos faz falta, muita falta!

Se queremos que nossos filhos e alunos possam colaborar para mudar a realidade para que tenham uma vida melhor, precisamos parar com essa história de que a escola deve estar sempre correndo atrás do que o mercado aponta buscar. Há um grande paradoxo nessa equação, porque primeiramente o mercado aponta, posteriormente constata a fragilidade da formação dos profissionais que contrata e, então, reclama.

O mundo só melhora se essa equação for invertida: é o mercado que deve correr atrás do conhecimento criado e recriado nas instituições educacionais de todos os níveis. Quando conseguirmos praticar isso, teremos grandes avanços, em todos os sentidos, nas ciências e na prática delas.

É justamente aí que entram o ensino da empatia, das virtudes, da ética, das humanidades em geral. E isso podemos e devemos fazer desde quando as crianças são bem pequenas, no cotidiano da vida. Na maioria das vezes, precisamos, apenas, oferecer as oportunidades às crianças.

Um vídeo poético, disponível na internet, nos mostra como uma jovem mãe realiza isso. Não me canso de assistir a ele e convido você, caro leitor, a se inspirar com o "Caminhando com Tim Tim".