sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Para melhorar o aprendizado nas escolas

Naercio Menezes Filho, professor titular ­ Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, é professor associado da FEA­USP e membro da Academia Brasileira de Ciências. Escreve mensalmente às sextas­feiras. naercioamf@insper.edu.br


As crianças brasileiras que nascem em famílias mais pobres enfrentarão dificuldades de toda a sorte ao longo da vida. Isso faz com que grande parte dos jovens desista do caminho tradicional (escola ­faculdade - trabalho formal) e acabe transitando para sempre entre emprego informal ­desemprego ­inatividade, ou mesmo se envolvendo em atividades criminosas. Esse processo é cruel com esses jovens, diminui a produtividade do país, gera insegurança na sociedade e onera os cofres públicos. Assim, o nosso principal desafio é (e sempre foi) aumentar o capital humano dos jovens que nascem em famílias mais pobres antes que eles desistam. Mas como fazer isso? 

O melhor caminho é investir em políticas públicas corretas na infância e nas escolas públicas. Isso faria com que o Estado gastasse bem menos depois, quando essas crianças se tornam jovens, adultos e idosos. Mas o Brasil já gasta bastante com educação. Como fazer com que o gasto público em educação tenha o máximo retorno para a sociedade? 

A melhor maneira é desenhar políticas educacionais com base em evidências. É preciso cortar programas que não funcionam e avançar nos que comprovadamente aumentam o aprendizado dos alunos. No Brasil ainda há bastante resistência em avaliar o efeito de programas educacionais usando as melhores técnicas disponíveis, tanto nas secretarias de educação como no terceiro setor. Ainda estamos engatinhando por aqui. Mas podemos aprender com o que está sendo feito em outros países. 

Oferecer pré ­escolas de qualidade para as crianças mais pobres deveria ser a prioridade zero 

Nos países desenvolvidos as avaliações usando experimentos aleatorizados, com grupos de tratamento e controle, estão ganhando força. Um estudo recente, conduzido pelo economista Roland Fryer, de Harvard, analisou 196 experimentos aleatórios na área de educação em países desenvolvidos. Embora a situação da educação nesses países seja diferente da brasileira, vale a pena saber o que funciona por lá. Até porque muitos desses países também vêm enfrentando grandes dificuldades para elevar o aprendizado dos seus jovens mais pobres. O que mostram esses experimentos?

Em primeiro lugar, parece que existe um período crítico na vida para o desenvolvimento das habilidades relacionadas à leitura, o que não ocorre com a matemática. Assim, programas de alfabetização têm que ser implementados na idade certa, não podemos deixar passar essa janela de oportunidade. O segundo resultado é que programas educacionais implementados na infância são os que têm maior probabilidade de serem bem sucedidos. Esses programas tipicamente envolvem as crianças na pré escola, contam com educadores altamente especializados e costumam custar caro. Mas o retorno futuro de programas bem desenhados sempre vale a pena. 

Sabe se há muito tempo que a família tem um papel primordial no aprendizado das crianças. Seria possível melhorar o aprendizado das crianças melhorando as condições familiares? Nos países em desenvolvimento, há evidências mostrando que sim. Avaliações de programas como o "Bolsa ­Família" e "Progresa", no México, mostram efeitos significativos sobre a escolaridade dos jovens. Entretanto, nos países desenvolvidos os programas desenhados para aliviar a pobreza, incentivar o trabalho dos pais e até mudar o bairro de moradia das famílias para áreas menos violentas têm tido resultados decepcionantes sobre o aprendizado, ainda segundo Fryer. 

Políticas para aumentar a oferta de professores não certificados, como o famoso "Teach for America", por exemplo, também parecem ter impactos bem reduzidos. Além disso, programas de bônus para professores, que têm tido impacto relevante no aprendizado em alguns países em desenvolvimento, não parecem ter tido o mesmo efeito nos países desenvolvidos. Nesse caso, parece que o desenho específico de cada programa é fundamental. Por fim, programas de formação continuada de professores com conteúdo acadêmico e sem foco na sala de aula não conseguem melhorar o aprendizado dos alunos. Essa é uma das principais fontes de desperdício de recursos na educação. 

Por outro lado, programas de formação continuada com foco na sala de aula e com treinamentos específicos têm impactos elevados, assim como os programas intensivos de reforço escolar para crianças com dificuldades de aprendizado. Além disso, reformas que mudam a gestão escolar, utilizando dados de avaliações frequentes para monitorar o progresso dos alunos como base para formular políticas educacionais têm tido alto impacto. Por fim, alunos que frequentam "escolas charter" operadas pelo terceiro setor e com alto padrão de exigência também parecem aprender mais, especialmente nas grandes cidades. 

Enfim, com base nesses resultados o que os prefeitos deveriam fazer para melhorar o aprendizado dos alunos nas suas cidades? Em primeiro lugar, oferecer pré­ escolas de qualidade para as crianças mais pobres. Essa deveria ser a prioridade zero. Alfabetizar as crianças na idade certa. Aulas de reforço para crianças com dificuldades de aprendizado. Monitorar em tempo real as faltas dos professores e funcionários. Fechar programas de formação continuada que não funcionam. Fazer avaliações semestrais nos alunos para detectar rapidamente as escolas e os professores em que o aprendizado é mais lento. Focar novos programas nessas escolas. Com essas políticas seria possível acabar com a repetência em todos níveis, que causa estigma, evasão e aumento de gastos. Essa é a receita do sucesso.

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