
Roberto Dias
Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998.
O paulistano que chega à catraca do ônibus com dinheiro na mão corre o risco de pregar um susto involuntário no cobrador. Fazê-lo trabalhar na era do Bilhete Único expõe ainda mais a obsolescência da profissão —só 6% das viagens envolvem cédulas e moedas.
Apesar da obviedade, sucessivas administrações fracassaram em acabar com a função. Como mostrou a Folha, a atual gestão faz novo ensaio, com uma transição: as viagens em dinheiro ficariam mais caras.
Os cerca de 20 mil cobradores de São Paulo representam 10% do custo do sistema. Mais dia, menos dia, perderão o emprego. As corporações podem até retardar, mas não barrar o avanço tecnológico. Isso é ruim?
Para quem fica sem trabalho, claro que sim. Mas a tecnologia não é necessariamente esse ceifador de empregos que tanta gente pinta.
Fez barulho um trabalho da consultoria Deloitte que defendeu o contrário. Ao olhar mais de um século de dados de emprego na Inglaterra, os autores concluíram que "a tendência de contração do emprego na agricultura e na manufatura tem sido superada pelo rápido crescimento nos setores de cuidados médicos, economia criativa, tecnologia e negócios". Nessa transição, as máquinas assumem só as tarefas mais repetitivas.
A variável chave dessa troca é a educação, capaz de reverter a resultante da força tecnológica, evitando que ela impulsione o desemprego e a desigualdade. Por trabalhoso, esse aspecto acaba frequentemente sublimado no debate.
Um exemplo: apenas alguém preparado pode se valer da explosão das ferramentas de produção e transmissão de fotos e vídeos para criar um negócio.


Mas esse conhecimento técnico não era pré-requisito para o despertador humano, sujeito que, antes da disseminação do aparelho, ia de casa em casa cutucando as pessoas pela janela para acordá-las. Hoje nem nos piores pesadelos alguém deve sentir falta desse profissional.
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