Educação de melhor qualidade produz cidadãos capazes de gerenciar melhor sua vida e sua saúde
Por Olímpio Bittar
Olímpio J. Nogueira V. Bittar é médico especialista em Saúde Pública
No final de 2016 foram apresentados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes Pisa, com 72
países avaliados; posicionou o Brasil em 63º em Ciências, 59º em Leitura e 65º em Matemática com problemas em
interpretação de textos e cálculos matemáticos simples.
Para a Saúde, os níveis educacionais são fundamentais, pois, sem a capacidade de "obter, processar e compreender
informações básicas para tomar decisões apropriadas em relação à preservação de suas condições físicas e mentais",
torna se difícil a adesão dos indivíduos a práticas que promovam a saúde, previnam as doenças e possibilitem o correto
tratamento de doenças crônicas, cada vez mais prevalentes.
Indivíduos, comunidades e empresas, para sobreviverem saudáveis, necessitam de qualidade (de vida/de produção),
produtividade (pessoal/empresarial) e de custos compatíveis (viver dentro do orçamento pessoal/produzir dentro do
limite das receitas), sendo que a base para a conquista destes objetivos é a educação pessoal e da equipe.
Fatores de risco respondem por percentual elevado de causas de morbidade e mortalidade, refletindo em mais internações
e custo para o sistema de saúde. As primeiras 40 causas de internação no Sistema Único de Saúde, algo em torno de 50%
(de dois milhões e meio no SUSSP, nos últimos anos) relacionam se à: dietas inadequadas, sedentarismo, uso de drogas,
tabagismo, alcoolismo, sexo sem proteção, tratamento descontinuado, automedicação, causas externas (violência,
acidentes, doenças e riscos ocupacionais) e questões ambientais (poluição, lixo, esgoto, água não tratada, inundações,
vendavais e deslizamentos).
A ausência de controle destes fatores colabora com o aumento de doenças como as cardiopatias, neoplasias, diabetes,
doenças infectocontagiosas, nefropatias, neuropatias, doenças mentais e traumas, que causam limitações na qualidade
de vida, óbitos inclusive em idades precoces, internações, uso intensivo de medicamentos, órteses e próteses, reabilitação
física, social e ocupacional, alto custo para os sistemas de saúde e prejuízos socioeconômicos incluindo perda de
produtividade.
Para os profissionais de saúde, a educação tem papel fundamental em vários aspectos: são 14 as categorias de saúde (e
mais de 340 especialidades), trabalhando em equipes de forma integrada, enquanto proveem cuidados. Saúde não é feita
exclusivamente por profissionais "da saúde". Cada vez mais categorias profissionais estão envolvidas: arquitetos,
engenheiros, economistas, administradores de empresa, advogados, antropólogos, sociólogos, geógrafos, demógrafos,
estatísticos, atuários, profissionais de tecnologia da informação e comunicação, que precisam ser reconhecidos
igualmente.
Há uma série de fatores além da técnica, do método, do comportamento e do marketing, compondo um conteúdo
múltiplo para a assistência, que é a base para pesquisa e ensino. As diferentes carreiras devem em algum momento se
fundir no uso de conceitos claros sobre saúde e administração.
A capacidade dos profissionais em transmitir suas mensagens aos pacientes e demais profissionais requer
aperfeiçoamento nas técnicas de comunicação e compreensão dos problemas de assimilação, bem como do meio cultural
em que o serviço de saúde se insere e das dificuldades na obtenção dos resultados esperados. A educação do profissional
de saúde é fundamental para desenvolvimento das habilidades necessárias, principalmente na atenção primária, que
pode evitar cerca de 18% das internações sensíveis às ações desta modalidade de atenção
Gestores públicos e privados devem junto com os formadores de profissionais
de saúde alinhar o currículo das escolas com a demanda do mercado com
base na dinâmica das mudanças demográficas, epidemiológicas, geográficas
e econômicas. Educar para a valorização da anamnese e do exame físico é
ponto fundamental na prevenção de desperdícios, principalmente em exames
complementares, haja vista que, algo como 35% deles não são retirados pelos
pacientes ou pelos profissionais, sem contar aqueles com resultados normais
(ao redor de 60% em alguns serviços) que, provavelmente em parte, poderiam
ter sido evitados. A utilização da 'medicina defensiva', baseada em exames complementares traz aumento de custos e não
garante precisão diagnóstica.
A tecnologia presente de forma intensa nos estabelecimentos de saúde demanda formação específica de qualidade para a
operação de equipamentos complexos de alto custo. Tecnologias como as 'telessaúde' exigem profissionais preparados
para realizar o procedimento e diagnosticar, enfim, para trabalhar com máquinas e pessoas. A tendência é prevenir
internações e a tecnologia, utilizada adequadamente, é uma aliada.
Produtividade permite atender maior número de indivíduos mantendo se custos compatíveis com a necessidade local e
regional, e educação profissional é fundamental. Exemplificando: o número de operações por sala cirúrgica não passa da
média de duas por dia, porém, há hospitais de complexidade semelhante em que este número chega a cinco, ou até oito.
Qualidade é a base para produtividade e nela estão presentes a humanização, a coibição do desperdício de recursos e a
habilidade para lidar com equipamentos complexos de alta resolubilidade.
A gestão de saúde, setor complexo, complicado, de alto risco e alto custo, implica incorporar técnicas administrativas
tradicionais de saúde e de outros ramos de negócios, ênfase no conhecimento epidemiológico, informação de qualidade e
inovação (indústria 4.0). A abordagem política da saúde, sem viés ideológico, exige conhecimento que só a educação
permite analisar e sintetizar.
Educação de melhor qualidade produzirá cidadãos mais conscientes, bem preparados e menos dependentes do Estado,
com capacidade de gerenciar melhor a sua vida e consequentemente a sua própria saúde; assim como a melhoria da
formação dos profissionais envolvidos na prestação de programas e serviços de saúde refletirá na efetividade, eficácia e
eficiência da assistência, pesquisa, ensino e gestão de saúde.
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