Daniela Amorim, Nathália Larghi,
O Estado de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
30 Agosto 2016 | 05h00
Aos 17 anos, Luciano Cipriano decidiu trocar a sala de aula pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Há um mês, o adolescente começou a vender acessórios eletrônicos com um amigo na região central da cidade, contrariando a vontade da mãe. A justificativa é conhecida: ele queria ajudar em casa. “Minha mãe não gostou que eu largasse, mas preferi trabalhar.” Cipriano é o primeiro entre seis irmãos a abandonar os estudos.
A realidade que obrigou o adolescente a deixar de frequentar a escola para ajudar em casa tem afetado também outras famílias. A taxa de participação dos jovens entre 14 e 17 anos na força de trabalho vem crescendo desde o terceiro trimestre de 2014, o que mostra que cada vez mais jovens estão trabalhando. Como no segundo trimestre de 2016 a taxa de desemprego nessa faixa etária foi a que mais cresceu na comparação com um ano antes (atingindo 38,7%), isso significa que um número ainda maior de adolescentes têm procurado emprego.
Aos 17 anos, Cipriano vende pen drive
Ana Carolina dos Santos, de 16 anos, nunca trabalhou. Mas há cerca de seis meses, quando o pai perdeu o emprego de soldador, ela decidiu abandonar os estudos e buscar uma ocupação. A procura, no entanto, não tem sido fácil. “Ainda não fiz nenhuma entrevista. Mando currículos, mas nunca me chamam.”
O pesquisador Sandro Sacchet, da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que o aumento na evasão escolar para que os jovens possam trabalhar e complementar a renda da família é um fenômeno temporário, motivado pela crise. “Assim que as condições melhorarem e que o emprego se recuperar, as pessoas mais jovens voltam a estudar”, afirmou Sacchet.
Ele diz, no entanto, que ainda não é possível dizer quando o mercado de trabalho brasileiro começará a mostrar recuperação. Sacchet espera que a taxa de desemprego, atualmente em 11,3%, deve se aproximar de 12% antes de mostrar reação, provavelmente ao longo de 2017. “A taxa de desemprego deve continuar piorando um pouco até o fim do ano, mas num ritmo menor do que vinha acontecendo até então.”
‘É o que mais tem’. Apesar de ter se acentuado em 2016, a taxa de desocupação entre os jovens já vinha crescendo desde 2014. Foi nessa época que Pablo Santos, de 17 anos, saiu da escola. O jovem de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, abandonou os estudos no 9º ano do Ensino Fundamental porque “queria ter suas coisas”.
Essa foi a mesma justificativa usada por Tiago Júnior,de 17 anos, para explicar o abandono da escola no último ano do Ensino Fundamental. “Essa foi a saída que eu encontrei para ter o que eu queria, sem fazer coisa errada”, disse. Morador de Padre Miguel, ele diz que em sua comunidade, adolescentes que abandonam a escola para trabalhar, “é o que mais tem.”
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