Adolescentes deixam escola para buscar emprego
Alunos de escola estadual do Rio de Janeiro: evasão escolar está
aumentando
Daniela Amorim e Nathália Larghi, do Estadão
Conteúdo
Rio de Janeiro - A deterioração no mercado de trabalho levou a um
aumento na busca de adolescentes por emprego, o que está ajudando a piorar a
evasão escolar no País.
A taxa de desemprego na faixa etária entre 14 e 17 anos foi a que
registrou maior aumento no segundo trimestre de 2016 ante o mesmo período do ano
anterior: passou de 24,4% para 38,7%. Os dados são da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, a deterioração na taxa de desemprego entre adolescentes
- e na média do mercado de trabalho como um todo - começou um ano antes, em
2015.
O resultado coincide com uma queda mais acentuada nas matrículas do
ensino médio, apontada pelo último censo do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
No ano passado, o número de jovens matriculados no Ensino Médio
teve uma queda de 2,7% em relação a 2014, quase três vezes mais do que a taxa
registrada em anos anteriores. Desde 2007 essa variação não chegava a 1%. O
resultado da evasão registrada na passagem de 2014 para 2015 equivale a 224 mil
adolescentes a menos na escola.
"À medida que as pessoas de mais importância no domicílio perdem o
emprego, a tendência é que os outros moradores busquem um trabalho ou ajudem um
parente em alguma atividade para complementar a renda da família. Durante a
crise, a perda do emprego tem esse efeito de abandono escolar, de queda nas
matrículas", explicou Sandro Sacchet, pesquisador da Diretoria de Estudos
Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea).
O aumento na taxa de desemprego entre os adolescentes acompanha a
deterioração no mercado de trabalho como um todo. No segundo trimestre de 2014,
a taxa de desocupação entre os adolescentes estava em 20,9%, enquanto a taxa de
desemprego na economia como um todo era de apenas 6,8%.
A exemplo do que ocorreu entre os adolescentes, um ano depois, a
taxa de desocupação no País tinha saltado para 8,3%. Em 2016, alcançou
11,3%.
O aumento no número de jovens em busca de uma vaga acompanha,
sobretudo, a perda do emprego pelos chefes de família, grupo majoritariamente
formado por pessoas entre 40 a 59 anos.
Segundo avaliação do coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE,
Cimar Azeredo, a redução no número de postos com carteira assinada e a queda na
renda do trabalhador são os fatores que levam a maior busca por uma
vaga.
Os demais integrantes da família, que não trabalhavam, passam a
procurar um emprego para ajudar a compor a renda e estabilidade
perdidas.
"A recessão, que reduziu a renda familiar, obriga pessoas a
voltarem o foco para o mercado de trabalho. Às vezes, as pessoas não conseguem
estudar e trabalhar ao mesmo tempo e vão só procurar emprego. Agora é um momento
em que falta dinheiro em casa, então o filho também vai buscar trabalho",
explicou Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador de Economia Aplicada do
IBRE/FGV.
As duas principais razões para a evasão escolar são o mau
rendimento e o trabalho infantil, de acordo com um relatório do Unicef, citado
pela secretária Executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil (FNPETI), Isa de Oliveira.
"A Pnad não mede a qualidade do trabalho que está sendo procurado.
O único trabalho permitido legalmente para adolescentes de 14 a 17 anos é o de
aprendiz. Em geral, as outras formas de ocupação de adolescentes são
degradantes, penosas e perigosas", alertou Isa.
Demografia e alta taxa de reprovação afetam o
resultado
Para Carlos Eduardo Moreno Sampaio, diretor de estatísticas
educacionais do INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira, a queda na taxa de matrículos no ensino médio pode ter relação
com fatores demográficos e "imprevistos" na vida escolar.
A queda na taxa de fecundidade tem impacto direto na população, o
que faz com que o número de jovens diminua e reduza a taxa de
matrículas.
Entretanto, a Pnad Contínua aponta um crescimento na população em
idade de trabalhar - que engloba todas as pessoas acima de 14
anos.
"Como há um gargalo na porcentagem de jovens matriculados no ensino
médio, o ideal é que aumente o número, mesmo se a população jovem diminuir", diz
Barbosa Filho, pesquisador do IBRE/FGV.
Além do fator populacional, Sampaio destaca as taxas de aprovação
nas últimas séries do ensino fundamental: como há mais reprovados, menos jovens
estariam aptos a ingressar no ensino médio. "Este é o problema mais grave:
muitos reprovam no nono ano", diz Sampaio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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