Valor.
"Nossa fotografia não é boa, mas o nosso filme é muito bom", disse o então ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a
respeito do desempenho dos estudantes brasileiros de 15 anos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(Pisa) de 2012, exame realizado globalmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
a cada três anos. O teste referente a 2015 mostrou que ele estava errado. Nem o filme se salvou. "É uma tragédia", afirmou
o atual ministro, Mendonça Filho.
Em 2012, o Brasil ainda pôde comemorar ter obtido o maior avanço em matemática entre os países analisados. Agora, o
desempenho dos estudantes brasileiros voltou atrás não só em matemática, mas também em ciências e leitura, as outras
duas disciplinas avaliadas pelo Pisa. Entre os 70 países analisados, o Brasil caiu do 58º para o 65º lugar em matemática;
do 59º para o 63º em ciências; e do 55º para o 59º em leitura. O Pisa não deixa de ser coerente com o resultado de outros
exames de avaliação da educação no país, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A pontuação
dos estudantes brasileiros é 23% inferior à média internacional em matemática, 18,7% inferior à média em ciências e
17,4% menor do que a média em leitura.
O quadro fica pior em uma avaliação qualitativa, que revela o despreparo e a dificuldade de aproveitar oportunidades e
exercer sua cidadania, de acordo com a OCDE, com reflexos diretos na eficiência da mão de obra e na capacidade do país
de competir no cenário internacional. Foi o primeiro recuo em matemática, que vinha mostrando melhorias tímidas a
cada teste desde 2003; e esse resultado mostra que sete em dez alunos têm dificuldade em raciocinar, avaliar problemas e
utilizar linguagem e operações simbólicas.
Em ciências, o Brasil estava estagnado em 405 pontos desde 2009 e agora recuou, em consequência da dificuldade de
interpretar dados e evidências cientificamente e de escolher respostas abertas e múltiplas. Os estudantes brasileiros estão
atrasados em relação ao desempenho médio global de jovens da mesma idade em ciências o equivalente a três anos de
estudos. E em leitura, que é o ponto mais forte dos brasileiros, houve a segunda queda consecutiva desde 2009, com o
despreparo para interpretar documentos oficiais e até notícias.
Uma acusação recorrente é que o Brasil gasta pouco com educação e precisaria investir mais. No entanto, o Pisa mostrou
que o país triplicou o orçamento da educação a partir de 2003, de R$ 40 bilhões para a R$ 130 bilhões, mas sem reflexo
significativo na melhoria dos resultados no exame. Mesmo pelo critério de gasto médio por aluno houve aumento
também, de US$ 26.765 em 2012 para US$ 38.190. O valor é 42% abaixo da média registrada na OCDE de US$ 90.294 por
aluno, número que inclui países ricos. Coreia do Sul, cujos resultados na educação são sempre elogiados, e a Finlândia,
investem três a quatro vezes mais, respectivamente. Mas gastam menos do que o Brasil e estão à frente no ranking
Colômbia, México e Peru. O Chile gasta ligeiramente mais, US$ 40.670 por aluno, e obteve 477 pontos em ciências, bem
mais do que os 401 pontos do Brasil e perto dos 493 pontos da média global.
Fica evidente que dinheiro não explica tudo, embora seja desejável que o governo amplie os investimentos na educação. A
questão é saber gastar melhor. Para o ministro Mendonça Filho, a melhoria do desempenho na educação, tão importante
para a competitividade do país, passa pelo fortalecimento da alfabetização, da implementação da Base Nacional Comum
Curricular, da melhoria da formação de professores e da reforma do ensino médio.
O diagnóstico do governo coincide em boa parte com a avaliação dos especialistas independentes. É indiscutível que tudo
começa com uma alfabetização ampliada e qualitativa, o alicerce para sustentar a edificação posterior. Mas dois pontos
são relevantes. Um deles é a valorização dos professores com salários atraentes e planos de carreira, de modo a atrair bons
profissionais, especializados nos temas a respeito dos quais darão aulas. O outro ponto é rever os métodos e currículos,
temas bastante discutidos recentemente no lançamento da reforma do ensino médio. Novamente nessa questão há um
razoável consenso. Mas colocar as mudanças em prática é que são elas.
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