domingo, 25 de dezembro de 2016

Otimismo e alegria para viver mais


Jairo Bouer  é um médicoeducadorpalestranteescritor e apresentador de televisão brasileiro. Médico psiquiatra formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e pelo Instituto de Psiquiatria da mesma universidade

As pessoas mais otimistas correm menos risco de morrer por qualquer doença

O ano não foi fácil para ninguém! Virar a página do calendário, embora simbólico, é um desejo autêntico de muitos brasileiros. Mas o que esperar de 2017? Se a ciência pode contribuir com essa resposta, ela nos brinda com dois estudos recentes que trazem uma boa notícia: otimismo e alegria são ingredientes fundamentais para quem quer viver mais e melhor.
O primeiro trabalho, realizado pela Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA), mostrou que ter uma atitude mais otimista em relação à vida ajuda as mulheres a viverem mais. Foram avaliadas mais de 70 mil enfermeiras de 2004 a 2012 e os resultados, publicados no periódico American Journal of Epidemiology.
As mais otimistas tiveram um risco 30% menor de morrer por qualquer doença quando comparadas às menos otimistas. Essa probabilidade foi 16% menor em relação ao câncer, 38% menor por doenças cardíacas, 39% menor por um acidente vascular cerebral (AVC), 38% menor por doenças respiratórias e 52% menor por infecções.
Para os pesquisadores, essa “proteção” não acontece apenas por eventuais hábitos mais saudáveis que os otimistas adotam em suas vidas. O fator psicológico é que teria um impacto direto sobre os processos biológicos que regulam nossa saúde.
Para quem quer “ir mais longe”, além de trabalhar os fatores clássicos de um estilo de vida mais saudável, como controle de peso, pressão e glicemia, alimentação adequada, sono reparador, atividade física regular e não fumar, desenvolver técnicas que reforcem o otimismo das pessoas pode fazer toda a diferença.
O outro estudo, realizado pela Universidade College de Londres (UCL), no Reino Unido, avaliou mais de 9 mil homens e mulheres dos 50 aos 60 anos e concluiu que as pessoas mais felizes têm um risco até 24% menor de morrer nos sete anos seguintes. As informações são do jornal britânico Daily Mail. Foram pesquisados fatores como o quanto as pessoas curtem sua vida, quanto apreciam a companhia de outras e, por último, o engajamento em atividades cotidianas prazerosas.
A aposta dos cientistas, que publicaram seu artigo no British Medical Journal, é que o humor das pessoas pode interferir na produção e na liberação de hormônios que controlam fatores de risco e de proteção para o corpo. Por exemplo, estar alegre pode reduzir o estresse e a ansiedade (baixando adrenalina e cortisol), o que pode contribuir para a melhora da pressão arterial. Além disso, as pessoas mais felizes tendem a adotar um estilo de vida mais saudável. Assim, elas vão beber e fumar menos, tendem a se exercitar mais, seguir uma dieta mais saudável e dormir melhor.
A sensação subjetiva de se sentir bem se correlaciona com concentrações diárias mais baixas do hormônio cortisol, que afeta o desenvolvimento de processos inflamatórios crônicos. Com menos inflamação, há benefícios para nosso sistema imunológico (de defesa), para a integridade dos nossos vasos sanguíneos e, também, para nosso metabolismo.
Os estudos sugerem que uma atitude mais positiva em relação à vida pode contribuir tanto biologicamente como emocionalmente para uma saúde melhor. Mas é importante também que não se crie uma ditadura do “tem de estar bem o tempo todo, custe o que custar”. Do ponto de vista prático, todos nós oscilamos.
Alguns trabalhos até apontam que ficar mal de vez em quando não faz para ninguém! Crises pessoais podem até servir como motivação para uma tentativa de mudança de hábitos de vida. Só é preciso atenção para que essas sensações negativas não passem a predominar na vida a ponto de produzir sintomas depressivos e ansiosos ou a comprometer o jeito de vermos o mundo.
Nessa balança diária dos nossos sentimentos, olhar para frente com um pouco mais de otimismo, buscando felicidade e realização pessoal, parece garantir mais saúde e tempo de vida. Em momentos críticos como o que vivemos, essa postura pode ser de vital importância.
Aproveito a última coluna do ano para desejar um 2017 com muita alegria, otimismo e saúde para todos. Que venha um ano melhor!
*É PSIQUIATRA

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