sábado, 17 de dezembro de 2016

Luz e sombra sobre a tecnologia e a passagem do tempo

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Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé é um filósofo e escritor brasileiro, doutor em filosofia pela Universidade de Paris e pela FFLCH da USP, pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv.

Deuses antigos, novas tecnologias e a passagem do tempo. Leia o texto do filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé ;-)

Ao ver alguém mexendo em sua conta bancária ou falando com a pessoa que ama a 15 mil quilômetros de distância pelo celular, você não lembra, imediatamente, que ali está uma cena, de uma longa história, que marca a vitória de homens e mulheres sobre o tempo e o espaço. A tecnologia, como o ar que respiramos, torna-se quase invisível com o passar do tempo. Só percebemos sua existência quando ela falta. O tempo não foi sempre humano, como muitos pensam.


Desde a Grécia antiga, berço da filosofia e da ciência, o homem teme a técnica. O fogo, metáfora mais antiga para técnica, ciência e tecnologia, era considerado fora do poder humano. Só podíamos receber o fogo num raio, mas jamais produzi-lo. A suspeita era que com o conhecimento do fogo destruiríamos tudo. A sombra do medo sempre acompanhou nossa história. De um lado o medo, do outro, a ousadia e a coragem. 

Se o medo projeta sua sombra sobe nosso uso da técnica, a ousadia e a coragem projetam sua luz sobre este mesmo uso. Assim sendo, o tempo histórico sempre uniu técnica e mito, numa luta entre luz e sombra, castigada ou amada pelos deuses. Neste contexto mítico antigo, o tempo era, pois, obra dos deuses, e determinado por eles.



Com o advento da modernidade, o tempo tornou-se humano. Esse processo é chamado por muitos de “a morte dos deuses”. A modernidade é a aposta na ousadia e na coragem de termos a vida em nossas mãos. E para termos a vida em nossas mãos, precisamos ter o tempo ao alcance de nossos sonhos. A tecnologia é a grande ferramenta que une tempo, vida e sonhos no mundo contemporâneo. O medo da técnica permanece (sendo mítico, habita o inconsciente coletivo de todos, lugar em que os deuses se esconderam), mas, muito mais associado a uma espécie de controle preventivo de danos, do que a alguma forma sombria de maldição. Não mais medo, mas, sim, cuidado e atenção.

Roubamos o fogo e o tempo da mão dos deuses. Se vencemos o espaço quando amamos a 15 mil quilômetros de distância, a vitória é maior ainda quando o fazemos depois dos 50 anos. Informação, tecnologia e ciência se unem para ampliar nossa experiência de tempo e espaço. Nosso corpo e nosso espírito se expandem, atravessando o mundo e sua história, deixando sobre ele a marca de uma espécie que combate suas sombras com a ousadia e coragem de fazer luz ali, onde, antes, não havia.

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