segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Você provavelmente já caiu na armadilha da "falácia do apostador"

Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são os autores de 'Freakonomics' e 'Superfreakonomics'. O livro mais recente deles é 'When to Rob a Bank... and 131 More Warped Suggestions and Well-Intended Rants'.

Digamos que eu jogue uma moeda e dê cara. E que depois eu a jogue novamente, e dê cara de novo. Mais uma vez. Cara novamente. Se eu fosse jogar a moeda uma quarta vez, o que você acha que aconteceria? Muita gente diria coroa, definitivamente coroa --embora todos saibam que jogar cara ou coroa é um evento aleatório, e que cada lançamento é independente dos anteriores, e que portanto a probabilidade para cada lançamento é sempre de 50%-50%. Mas a maioria de nós não aceita bem isso; somos convencidos de que resultados anteriores aleatórios afetam resultados futuros aleatórios.
Isso é o que ficou conhecido como "falácia do apostador". O nome se refere a uma concepção errada que há entre apostadores novatos: de que quando uma máquina caça-níqueis não premia há algum tempo, ela deve premiar em breve. Experimentos mostram que nosso cérebro, ao buscar padrões, muitas vezes cai na falácia do apostador, o que nos leva a tomar decisões erradas --como enfiar um monte de dinheiro em uma máquina caça-níqueis.
Uma pesquisa realizada recentemente pelo economista de Yale Toby Moskowitz revela que a suscetibilidade das pessoas à falácia do apostador não se restringe a jogadores e a quem joga cara ou coroa; tomadores de decisões importantes em todos os tipos de situações cruciais podem cair em uma armadilha parecida. Eles permitem que suas decisões passadas afetem as do futuro, muitas vezes de forma inconsciente.
Veja os árbitros de beisebol, por exemplo. O artigo recente de Moskowitz, "Decision-Making Under the Gambler's Fallacy" ("Tomando decisões seguindo a falácia do apostador", escrita em conjunto com Daniel Chen e Kelly Shue) analisou dados de mais de 12 mil partidas de beisebol, que incluíam cerca de 1,5 milhão de arremessos em que o rebatedor não rebate, deixando que o árbitro decida se o arremesso foi válido ou não, e 127 árbitros diferentes. Ao focar em arremessos idênticos que caíam bem na divisão entre válidos ou não (ou seja, as decisões mais difíceis), Moskowitz descobriu que um arremesso precedido por uma decisão de válido tinha cerca de 3,5% menos chance de ser considerado válido, e que esse número era ainda mais alto se o arremesso em questão fosse precedido por duas decisões de válidos.
E os funcionários do setor de empréstimo, que decidem se os bancos devem ou não nos emprestar dinheiro? Ao usarem dados de um outro estudo feito por Shawn Cole e outros sobre empregados de um banco indiano, Moskowitz e seus colegas de pesquisa conseguiram demonstrar que, excluídos todos os outros fatores, a ordem na qual diferentes funcionários do setor de empréstimo analisavam o mesmo conjunto de pedidos de empréstimos influenciava na decisão deles. Por exemplo, um funcionário que analisasse três pedidos seguidos de forma positiva, teria uma probabilidade muito maior de negar o próximo.
Ainda que você nunca tenha assistido a uma partida de beisebol ou pedido um empréstimo na Índia, talvez você se importe com a forma como os Estados Unidos administram seus tribunais de imigração, e com se eles decidem conceder asilo aos solicitantes (especialmente com o presidente Donald Trump no comando). Como diz Moskowitz, a decisão de um tribunal "poderia significar a diferença entre a vida e a morte, ou entre a prisão e a liberdade."
Mas nem juízes federais estão imunes à falácia do apostador. A equipe de pesquisa de Moskowitz analisou 150 mil decisões sobre pedidos de asilo tomadas por mais de 350 juízes entre 1985 e 2013. Moskowitz conseguiu demonstrar que um juiz que tivesse aprovado um determinado pedido de asilo tinha uma probabilidade quase 1% menor de aprovar o próximo, e esse número saltava para quase 3% caso a segunda decisão fosse tomada no mesmo dia. E fica pior: se um juiz olhasse para três pedidos em um dia e aprovasse os dois primeiros, ele teria quase 5% menos chances de aprovar o terceiro.
Tudo isso pode fazer você pensar se não seria melhor se tivéssemos robôs tomando as decisões relativamente mais simples de nossas vidas, como sobre a validade de um arremesso. É claro, a natureza humana sendo como ela é --e como a maioria de nós pensa desmerecidamente em si mesmo como bons tomadores de decisões-- nós provavelmente não veremos uma automação geral desse tipo tão cedo. Afinal, tomar decisões é uma grande parte do que nos torna humanos.
Tradutor: UOL

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