sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

AUGUSTO CURY - “Vivemos a Era do pesadelo, não dos sonhos”

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Augusto Jorge Cury, Dr. - é um escritor de psiquiatria e libertação do EU para se tornar diretor da sua própria história. Seus livros já venderam mais de 25 milhões de exemplares somente no Brasil, tendo sido publicados em mais de 70 países.

Ele é o autor mais lido no Brasil na última década. Com uma marca que supera os trinta milhões de leitores, 47 livros publicados e cerca de cem pedidos de palestras mensais, Augusto Cury é um fenômeno. Menosprezado pela crítica literária, figurou até julho por 141 semanas consecutivas na lista dos mais vendidos de livros de autoajuda e esoterismo com “Ansiedade – o Mal do Século”. Avesso a entrevistas, o psiquiatra e psicoterapeuta leva uma vida pacata no interior de São Paulo. 
À ISTOÉ, revelou que se inspira nas histórias que ouviu dos cerca de 20 mil atendimentos psiquiátricos que fez em quase três décadas de consultório. Um de seus maiores best-sellers, “O Vendedor de Sonhos”, tem sua versão para o cinema em cartaz atualmente. “Construí uma saga que retrata a alma, a dor, as lágrimas choradas e que nunca tiveram a coragem de ser encenadas no teatro do rosto.” O filme, dirigido por Jaime Monjardim, conta a história de Júlio César (Dan Stulbach), um psicólogo prestes a cometer suicídio e resgatado por um mendigo (César Troncoso). Apresentando-se como um vendedor de sonhos, o morador de rua oferece ao psicólogo um dos seus mais preciosos bens – o sonho de recomeçar.

O que achou do filme?
Me levou às lágrimas. Ele nos desarma, nos leva a encontrar a mais importante direção, que poucas pessoas encontram ao longo do traçado de sua própria história, que é o endereço dentro de si mesmo. Os telespectadores farão uma imersão na própria vida.
Qual a principal crítica que seu livro, agora no cinema, apresenta?
A sociedade moderna tornou-se um manicômio global. Estamos vivendo num grande hospital psiquiátrico. Um exemplo dessa loucura é que metade das crianças nunca conversou com os pais sobre quem elas são, seus conflitos, como a angústia e o bullying. Raros são os pais que sabem se seu filho se sente diminuído entre seus pares. Um desastre sem precedentes. Sete em cada dez jovens têm sintomas de insegurança e baixa autoestima. Vivemos a era do pesadelo, não dos sonhos.
As crianças e jovens estão tão infelizes assim?
Nunca tivemos uma geração tão triste. Estamos vendo um trabalho escravo infantil legalizado. É aula de línguas, de esporte, de computador, de música, disso e daquilo. Eles têm tempo para tudo, menos de serem crianças, de brincar. Por isso, entendo que é o assassinato coletivo da infância. O diálogo está asfixiado.
Por que o sr. afirma isso?
O diálogo está morrendo dramaticamente. As famílias modernas se tornaram um grupo de estranhos, próximos fisicamente e muitos distantes interiormente. Milhões de filhos no Brasil e no mundo são órfãos de pais vivos. Eles dão muitos presentes para os filhos, quando têm condições colocam numa boa escola e os enchem de bens materiais, mas erram ao não dar aquilo que o dinheiro não pode comprar, que é a sua própria biografia.
Os pais devem trabalhar a dor e o fracasso com os filhos de que maneira?
Temos que fazer uma revolução sócio-familiar. Pais que não sabem falar de suas lágrimas, para os filhos aprenderem a chorar as deles, não os ensinarão a ter resiliência. Pais que não transferem sua biografia para seus filhos estão gerando jovens frágeis. Aliás, pais que dão muitos presentes estão viciando o córtex cerebral dos filhos a precisar muito mais para sentir migalhas de prazer. Por isso temos que aprender a vender sonhos. Ou seja, entregar aquilo que o dinheiro não pode comprar.

“Milhões de filhos são órfãos de pais vivos. Eles dão muitos presentes, mas erram ao não dar o que o dinheiro não pode comprar, que é a sua própria biografia”
Por que o sr. prega o fim do excesso de estímulo?
Excessos de estímulos, de presentes e de atividades fazem com que a criança, o adolescente, até mesmo os adultos, voltem-se para fora e não para dentro de si mesmos. As pessoas não sabem se interiorizar, trabalhar perdas e frustrações e pensar antes de agir.
Como não ser tragado por essa atmosfera?
Temos de mudar a educação da “era da informação” para a era do “Eu” como gestor da mente humana. Da era do bombardeamento do córtex cerebral para a era do desenvolvimento das habilidades socioemocionais. Devemos ensinar as crianças e os jovens a desenvolverem sonhos e não desejos. Desejos são intenções superficiais, sonhos são projetos de vida.
Do que mais trata o filme?
Discute-se o ser humano com ele mesmo. Em especial, a gestão da emoção. Estamos vivendo uma situação de mendigos emocionais. Esse é o recado do filme.
O que sugere para gerenciar os sentimentos?
Existem ferramentas bem específicas, como não sofrer por antecipação. Quem sofre por antecipação esgota o cérebro, infecta o presente. Também não se deve combinar perdas e frustrações. Quem rumina esses dois sentimentos é refém do passado. Essas pessoas ou chafurdam na lama do futuro ou se tornam encarceradas do tempo que se foi, asfixiando o presente.
E em relação à cobrança excessiva imposta pelas próprias pessoas a elas mesmo?
Quem se cobra demais frequentemente torna-se carrasco de si mesmo. Ninguém muda ninguém. Temos o poder de piorarmos o outro e não de o mudarmos. Pressão, comparação e generalizações pioram os seres humanos.
De que maneira livrar-se disso?
Mapeando os nossos fantasmas mentais. Temos que perdoar e nos perdoar. O maior favor que se pode fazer ao inimigo é odiá-lo, rejeitá-lo e querer se vingar. Quem mais se beneficia do perdão inteligente, lúcido e coerente é a pessoa que perdoa. Ela reedita janelas traumáticas que financiam toda a raiva, a aversão, a rejeição, o ódio e a vingança.
O sr. diz ter identificado a Síndrome do Pensamento Acelerado. Do que se trata?
Ela é produzida por uma hiperconstrução de pensamentos, numa velocidade tão alta que estressa e desgasta o cérebro. É o resultado do excesso de atividades e de estímulos sociais ao qual somos submetidos diariamente e que impede o desenvolvimento de funções da inteligência, como refletir antes de reagir, expor e não impor ideias e colocar-se no lugar do outro.
Quais seus sintomas?
Ansiedade excessiva, irritabilidade, flutuação emocional, inquietação, intolerância a contrariedades, déficit de concentração, esquecimento, fadiga excessiva e cansaço ao despertar. A pessoa também sente constantemente dores de cabeça ou musculares, tem queda de cabelo e sintomas de gastrite. Se sua reposta for sim a mais de três desses sintomas, é bem provável que esteja sofrendo de SPA.
E sua dimensão?
Ela atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as idades, de alunos a professores, de intelectuais a iletrados, de médicos a pacientes.
Qual seu tratamento?
Organizar a vida priorizando o que realmente é importante. Somos rápidos em responder, mas não questionamos nossas convicções antes de falar. Não refletimos sobre o que é prioridade. Definir o que é importante nos traz benefícios tanto no presente quanto para o futuro.
Que papel exerce a competitividade para o desenvolvimento da síndrome?
A paranóia pelo sucesso a qualquer custo e a compulsão de ser o número um estão destruindo as relações e transformando as pessoas em escravas do triunfo. Alguém com a síndrome tem mais dificuldade para lidar com as perdas, administrar as decepções, refletir sobre as falhas. É preciso ter consciência de que a vida é cíclica, não há sucesso que dure todo tempo e nem fracasso que seja eterno.
“Para ficar longe dos excessos, critique os estímulos visuais e sonoros, não se torne escravo da tecnologia e diminua o ritmo”
Como fazer diferente?
Ser diferente é saber duvidar, criticar e determinar. Só assim será possível gerenciar a ansiedade, tornando sua qualidade de vida saudável perante as intempéries da vida.
Estamos mais ansiosos do que há três décadas, quando o sr. começou a escrever seus livros?
Vivemos em uma sociedade digital que bombardeia a mente com uma quantidade de informações que nunca foi tão grande na história.
De que modo ficar longe do excesso de informações?
Critique os estímulos visuais e sonoros, não se torne escravo da tecnologia e diminua o ritmo. Isso vale para crianças e adultos. O exagero de dados é registrado involuntariamente por um fenômeno inconsciente, o Registro Automático da Memória (RAM), transformando nossa mente em um depósito de informação, o que nos torna hiperativos.
Por que o sr. detesta ser chamado de escritor de autoajuda?
Sou um divulgador de informações científicas. Escrevi autor 47 livros, muitos deles usados em pós-graduação e doutorados. Meus textos são ferramentas utilizadas na psicologia, na sociologia ou nas escolas de medicina para que os leitores desenvolvam habilidades como a de se colocar no lugar do outro e a de pensar no doente e não na doença.
Com suas provocações, o sr. conseguiu estar no topo das listas dos escritores com obras mais vendidas no Brasil. A que atribui seu sucesso?
Gostei da palavra “provocações”. Provoco o leitor a fazer uma viagem para dentro de si mesmo, a questionar suas verdades. Sou crítico ao culto à personalidade.
O sr. é um vendedor de palavras?
(Risos… silêncio) Sou um artesão das palavras, com muita humildade.

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