Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena
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O medo de errar é o pior inimigo de uma aprendizagem prazerosa e eficiente. Quando um aluno é incentivado a tentar acertar por vários caminhos, sem se preocupar em falhar, ele aumenta sua confiança acreditando que chegará à resposta certa pela persistência
Como disse o filósofo francês Luc Ferry, nós, ocidentais, temos medo de tudo. “De altura, de velocidade, de sexo, de carne vermelha, da Europa, do efeito estufa, e por aí vai”. Mas o nosso maior medo, afirma Ferry, é o de falhar. A sociedade contemporânea tem aversão ao erro.
Em poucos ambientes essa condição fica tão evidente quanto nas escolas. Os estudantes vivem aterrorizados com a ideia de não corresponderem às expectativas dos professores, dos pais, dos colegas. Em uma pesquisa recente realizada pela instituição Stage of Life, 75,5 % dos estudantes americanos matriculados no ensino médio afirmaram que as notas baixas são o seu maior temor – nem o bullying ou a falta de perspectiva profissional os amedronta tanto.
“Essas crianças e jovens são ‘vítimas da excelência’, fruto de um sistema de ensino focado em resultados, que valoriza os acertos e as notas altas e condena o fracasso escolar, sem considerar o processo do aprendizado”, escreve a jornalista americana Alina Tugend no livro Better by Mistake: The Unexpected Benefits of Being Wrong, uma releitura das principais pesquisas sobre como o cérebro aprende e o papel do erro nesse processo.
Errar é fundamental. Trata-se de algo natural, que nos leva ao aprimoramento, tanto na escola quanto na vida. O desconforto causado pelo erro deveria ser o que nos desafia, o que nos incita a ir além, a encontrar outras soluções e alternativas para se atingir o objetivo desejado. “Quando um aluno é motivado a transpor os seus limites, sem se preocupar se irá falhar ou não, ele constrói o próprio saber. Dessa forma, o conhecimento deixa de ser apenas uma resposta padrão, pronta para ser repetida, e se torna uma lição completa”, pontua Alina Tugend.
Para a psicóloga americana Carol Dweck, da Universidade de Stanford, uma das expoentes nessa área de estudo, não existe relação direta entre a inteligência de um estudante e seu desempenho acadêmico. Em suas pesquisas, ela se deparou inúmeras vezes com alunos de QI altíssimo que temiam desafios e recuavam diante das dificuldades. Também encontrou estudantes com QI menor, mas que obtinham melhores resultados na resolução de problemas, pois eram obstinados, persistentes e não tinham medo de errar.
Diante desta constatação chocante, Dweck elaborou sua teoria sobre dois tipos de mentalidade: a fixa e a de crescimento. Essas duas maneiras de pensar diferenciam as pessoas ao determinar como elas reagem a obstáculos, derrotas e críticas. Quem tem a mentalidade fixa aceita os limites em vez de tentar transpô-los. São pessoas que, ao terminarem uma relação ou perderem um emprego, sentem-se derrotadas, incompetentes. As que têm a mentalidade de crescimento também sofrem com as falhas, mas entendem, mesmo que de forma inconsciente, que podem aprender com os erros e acertar da próxima vez, portanto continuam tentando, por caminhos diferentes, até atingirem seus objetivos.
O mais surpreendente na pesquisa de Dweck é que é possível ensinar as crianças sobre essas duas formas de pensar. Ao serem ensinados sobre os diferentes tipos de mentalidade, os estudantes sentem-se mais motivados e confiantes. Consequentemente, seus resultados melhoram.
Todos os pais deveriam dominar este conceito e ensinar seus filhos que o erro não é um bicho de sete cabeças. É um obstáculo que deve ser enfrentado com estratégias distintas para ser ultrapassado. Também deveria ser um ensinamento fundamental para todos os professores, que poderiam influenciar positivamente todos os seus alunos, mostrando a eles que são capazes de chegar a resultados excelentes a partir da tentativa e erro, por rotas alternativas.
Mas isso não é só um problema da sala de aula, e, sim, da sociedade. Trata-se de uma sementinha que tem de ser plantada desde já para mudar a cultura do nosso país!
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