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Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena
Acredito muito no project-based learning (PBL), a metodologia de ensino que instiga os alunos a construírem o próprio conhecimento. Mas não descarto a necessidade de aulas estruturadas para completar o leque de conhecimentos necessários que toda criança deve aprender
Como uma criança aprende mais sobre a Segunda Guerra Mundial? Ouvindo um adulto relatar o episódio de forma clara, organizada e apaixonada? Ou sendo desafiado a montar um jogo no qual diferentes times, que representam os países envolvidos no conflito e seus interesses, se movimentam para ganhar poder e territórios?
Tenho dúvidas. Acho que se o primeiro professor for realmente inspirador e souber contar a história com imparcialidade, com uma lógica interessante e com clareza, e o segundo apresentar o jogo de forma mecânica, sem explicar o contexto da época, acredito que o primeiro terá mais sucesso em engajar as crianças.
Ou seja: nem toda a aula ministrada por meio de projetos é boa, assim como nem toda aula expositiva e sequencial é ruim.
Tudo depende do professor!
Recentemente, tive a oportunidade de participar da concepção do novo modelo de escolas de Educação Integral do Governo do Estado de São Paulo, desenhada dentro do Programa Educação Compromisso de São Paulo. Trezentas escolas de ensino médio, fundamental 2 e mais 17 escolas de fundamental 1 experimentam um modelo que tem como fio condutor o projeto de vida das crianças. É uma metodologia bastante robusta, inspirado no ICE de Pernambuco, uma ONG que desenvolveu uma metodologia de desenvolvimento integral para crianças com a filosofia do educador Antonio Carlos Gomes da Costa.
No encerramento deste primeiro semestre letivo de 2016, eu participei de uma apresentação de Culminância de uma das escolas do Estado adotada por mim, a Escola Costa Manso, de ensino médio, na zona sul de São Paulo. A Culminância é um momento muito especial, onde os alunos mostram as suas realizações das aulas que escolheram como eletivas. São aulas de Robótica com Sociologia, de Arquitetura com Desenho e História, de Física com Artes Plásticas.
Um dos trabalhos que mais me encantou foi uma análise profunda das obras de Escher, o pintor holandês mestre em desenhos com ilusão de ótica, na qual os alunos se utilizaram de diversos conceitos de Física, Geometria e até Neurociência para entender como o artista realizava seus trabalhos.
Nesta eletiva, assim como nas outras, tenho certeza, os alunos aprenderam muito mais do que nas aulas formais, principalmente pelo envolvimento deles com os temas escolhidos. A forma curiosa como investigaram e buscaram o conhecimento e a necessidade de se expressar sobre as suas descobertas e contá-las para os outros com certeza fizeram com que eles mergulhassem de maneira única no assunto e se preparassem melhor, responsabilizando-se pelo o que aprenderam e expuseram.Tudo isso faz com que o conhecimento e as experiências fiquem marcadas para sempre em suas memórias.
No processo de aprendizado de conhecimento estruturado já existe uma intenção concreta do que precisa ser ensinado. Sabe-se onde se vai chegar ao final, mas não dá para garantir que o aluno vai incorporar o conhecimento e realmente aprender. No processo de aprendizado por projetos, parte-se de um tema de interesse dos alunos ou de uma situação problema. Não se sabe exatamente aonde eles vão chegar, pois os interesses podem ir se sobrepondo um ao outro e a rota de aprendizado pode se alterar e se desviar ao longo do processo.
Numa escola paulistana, a aula sobre a Segunda Guerra Mundial citada no início deste texto começou com o interesse dos alunos pelo tema, passou para a história de Anne Frank, por Malala e terminou no problema atual dos refugiados sírios. Os alunos discutiram todas essas questões de forma profunda e entusiasmada e construíram suas opiniões sobre os temas com riqueza e propriedade.
Eu acredito muito nesse método. Mas não descarto a necessidade de aulas de conteúdo estruturado para completar o leque de conhecimentos necessários que toda a criança deve aprender.
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