Ana Maria Diniz
A educação que vale a pena
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Que tipo de relação devemos desenvolver com os nossos filhos para que eles sejam adultos realizados, cordiais e bem-sucedidos? Como criar e estimular um diálogo verdadeiro e transparente, capaz de criar a cumplicidade necessária para se estabelecer um relacionamento onde o amor impera e as diferenças são respeitadas?
Boa parte dos pais e mães passam com seus filhos, de maneira proveitosa, seis minutos por dia. Isso mesmo, seis minutos, segundo pesquisa feita na Inglaterra. Para o psicólogo australiano Steve Biddulph, um dos mais renomados terapeutas familiares da atualidade, autor dos best-sellers O Segredo das Crianças Felizes e Criando Meninos, este é um ponto chave.
Convenhamos, quando se trata de filhos, seis minutos são absolutamente nada!
Não é necessário ser especialista em comportamento para saber que a falta de atenção aos filhos tem repercussões negativas no desenvolvimento da criança, do ponto de vista mental e emocional. É senso comum: toda e qualquer relação, para ser frutífera, precisa de empenho, dedicação e, acima de tudo, de diálogo. Entre pais e filhos, a construção de um canal genuíno de comunicação é crucial para a segurança e autoestima da criança.
Todo ser humano precisa ser percebido, precisa de atenção para florescer. Como dizia Paulo Freire, “o diálogo é a base da colaboração”. Ele é essencial no desenvolvimento do ser humano ao longo de toda a vida e indispensável no processo educacional.
É por meio das conversas que os pais têm a oportunidade de transmitir aos filhos valores e crenças, expressar opiniões e ensinar sobre coisas importantes da vida. Também é por este canal que os pais conhecem seus filhos de verdade, entendem o que pensam, o que almejam e o que temem e, assim, podem auxiliá-los a serem bem-sucedidos na escola e na vida.
Então, não basta alimentar, levar na escola, presentear ou mesmo passar horas ao lado dos filhos se não houver uma atenção sincera e a intenção de percebê-los de maneira plena. Se, nos momentos com os filhos, os pais não desviarem os olhos do celular, não devem esperar deles cumplicidade e empatia, pois o vínculo verdadeiro não se cria só pela simples presença.
Vários estudos já comprovaram que nenhum outro fator tem tanto impacto no progresso de um aluno quanto a participação da família na rotina estudantil. Mas entendo que, muitas vezes, os pais se sentem paralisados, sem saber como se conectar com a criança. Essas pesquisas mostram que medidas simples, como incentivar o filho a fazer a lição e ir às reuniões de pais, podem aumentar as notas do aluno em até 15%, segundo estudo do economista Naércio Menezes, do Insper. Apenas conversar sobre a escola e mostrar interesse pela vida escolar pode elevar em até 40% as chances de uma criança ser um bom aluno, diz uma compilação de estudos feita pelo órgão de Educação do governo americano.
Diversas justificativas são encontradas para o abismo no relacionamento de muitos pais e filhos, como excesso de trabalho, trânsito, problemas de dinheiro. Mas, na minha opinião, a falta de jeito e a inabilidade em lidar com as emoções é o maior empecilho para que as famílias tenham uma comunicação fluida. Levante a mão quem, ao perguntar, com toda boa intenção a e entusiasmo do mundo “filho, como foi na escola hoje”, nunca obteve lacônicos “tudo bem”, “igual” ou “normal” como respostas. Acontece em 99% das famílias!
Segundo especialistas em Educação, o problema é a forma que se pergunta: de um jeito genérico, desinteressante. Na maioria dos casos, com pequenas modificações na abordagem, o diálogo acontece. Aqui vai uma lista para estimular o diálogo entre pais e filhos, tanto sobre a escola quanto sobre outros aspectos da vida, elaborada pelo movimento Todos pela Educação que, em maio, lançou a cartilha 100 perguntas que vão dar o que falar. Vejam e testem essas perguntas:
Quem é ou foi seu professor preferido? Por quê?
O que você mais gosta de fazer junto com as outras crianças?
Você leu na escola hoje? O quê?
O que você mais gosta de fazer na escola?
Do que você tem mais medo?
De tudo o que você aprendeu na escola, o que você acha que foi mais importante?
O que você pensa sobre o fato de as pessoas serem diferentes umas das outras?
Como você acha que será o mundo daqui a cem anos?
Qual profissão você acha mais legal? Por quê?
Eu recomendo fortemente esse exercício. Afinal, não há recompensa maior do que estabelecer com os filhos uma relação fundamentada na confiança e na empatia. E saber que, dessa forma, está contribuindo para que ele aumente suas chances de se dar bem na vida!
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