N° Edição: 525 Texto: Ana Carolina Nunes
Desde que as primeiras máquinas começaram a atuar em fábricas, as queixas sobre a perda de postos de trabalho são constantes. Mas a consultoria internacional Deloitte revelou, em um estudo divulgado em 2015, que a tecnologia, na verdade, criou mais empregos do que eliminou.
“A tendência de reduzir postos de trabalho na agricultura e na indústria é compensada pelo rápido crescimento nos setores de serviços, criatividade e tecnologia”, dizem os economistas Ian Stewart, Debapratim De e Alex Cole, que analisaram dados dos últimos 144 anos para avaliar como os avanços na tecnologia afetaram o emprego na Inglaterra e no País de Gales. Eles falam em uma “mudança profunda” nas relações de trabalho.
Os dados confirmaram a ideia de que os robôs livram o homem de trabalhos pesados ou degradantes. As inovações tecnológicas reduziram os postos de trabalho em atividades maçantes, perigosas e repetitivas. O setor agrícola foi o primeiro a se beneficiar disso. No entanto, experiências recentes apontam que até áreas consideradas “criativas” podem ser ameaçadas pela inteligência artificial. Carl Frey, pesquisador da Universidade de Oxford (Inglaterra) que analisa o crescimento do trabalho automatizado, listou cerca de 350 atividades que poderiam ser computadorizadas. Entre elas, algumas serão dominadas pelos chamados softwares bot, capazes de simular ações humanas.
No último Festival Internacional de Cinema de Tóquio, críticos chegaram a saudar a atuação da androide Geminoid F., estrela da ficção científica Sayonara (escrita e dirigida por Koji Fukada). Na primeira “interpretação” de um robô, Geminoid F. vive Leona, em um cenário pós-guerra nuclear no qual há somente duas sobreviventes, ela e Tânia – esta última interpretada pela atriz Bryerly Long. Os âncoras dos telejornais da BBC também tiveram de se adaptar aos novos colegas de trabalho quando robôs passaram a operar as câmeras. Essas máquinas já haviam invadido o jornalismo em 2015, quando o diário inglês Financial Times passou a usá-las como repórteres do mercado financeiro.
Cuidadores de idosos
Com a população mais velha do mundo e a menor taxa de natalidade, o Japão viu nos robôs a solução para tomar conta dos idosos. As máquinas ajudam os mais velhos a se mover, levantar-se, deitar e, num extremo de humanização, fazem companhia a eles.
Kate Darling, pesquisadora do Massachusetts Institute of Technology (MIT) especialista nas relações humanos – robôs, é menos alarmista em relação à perda de postos para as máquinas. “A automação pode até ter substituído os humanos em algumas áreas, mas a tecnologia atual ainda não é suficiente para o trabalho totalmente sem humanos. Isso significa que boa parte do desenvolvimento hoje vai na direção de termos robôs criados para trabalhar com os humanos, em vez de substituí-los”, afirmou a PLANETA.
Valdemar Setzer, professor do departamento de Ciência da Computação da USP, preocupa-se com uma troca de mão de obra. “Os robôs deveriam substituir o trabalho humano apenas em duas condições: na medida em que o trabalho degrada o ser humano e na medida em que se dê um trabalho mais digno para a pessoa substituída”, avalia. Para ele, há risco de as pessoas tratarem colegas como máquinas.
Pesam ainda contra os androides casos contrários à lógica de que máquinas não erram. Um robô de uma fábrica da Volkswagen na Alemanha matou acidentalmente um funcionário em 2015. Este ano, um acidente com um carro autônomo da montadora Tesla fez uma vítima fatal na Flórida. Kate lembra que já existem máquinas que simulam emoções, característica que deverá melhorar em breve. “Como lidar quando eles atingirem um grau de manipulação das emoções?”, pergunta-se.
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