domingo, 4 de dezembro de 2016

Professor brasileiro é contrário ao que deu certo em Cuba na educação

samuel pessôa
Samuel Pessôa
É físico com doutorado em economia, ambos pela USP, sócio da consultoria Reliance e pesquisador associado do Ibre-FGV.

A morte de Fidel Castro é momento oportuno para a avaliação dos impactos dos mais de 50 anos de ditadura no país.

Os que apoiam o regime argumentam que os ganhos sociais mais do que compensam os custos de redução de liberdade.

Sem entrar no complexo debate sobre a possibilidade de negociar ou não a liberdade nesses termos, aqueles que são seduzidos por suas conquistas sociais precisam se lembrar de que Cuba, já no período anterior à revolução, apresentava indicadores sociais muito melhores do que a média da América Latina.

A renda per capita em 1955 era 27% da renda americana quando a média da América Latina (AL) era de 15%; a mortalidade infantil era de 33 por mil nascidos, ante 105 na AL e 26 nos EUA; a expectativa de vida ao nascer era de 64 anos, ante 50 na AL e 69 nos EUA; e a taxa de analfabetismo era de 21%, ante 42% na AL e 1% nos EUA.

Diante do início favorável, as conquistas da revolução empalidecem. Tudo indica que Cuba poderia ter, organizada como economia de mercado com democracia política, trajetória melhor ou igual à da Costa Rica. O custo em consumo não foi pequeno: hoje o consumo per capita de Cuba é 72% do observado em 1955 e aproximadamente 50% do consumo per capita da Costa Rica.

Evidentemente esse custo precisa ser ponderado com a melhor igualdade. O coeficiente de Gini (o índice varia de 0 a 1; quanto maior, mais desigualdade) para Cuba é da ordem de 0,3, ante 0,4 para Costa Rica. O custo de perda de eficiência econômica e de redução de liberdade em Cuba parece ser extremamente elevado para um ganho de 0,1 no índice de Gini.

Uma área em que os ganhos foram muito bons foi a educação. Apesar do início relativamente elevado, havia fortíssima desigualdade na distribuição da escolaridade. O mesmo não pode ser dito dos serviços de saúde, em que a desigualdade no acesso era menor na Cuba pré-revolução.

A revolução cubana conseguiu algo que a sociedade brasileira não tem conseguido: ofertar às crianças que nasceram em ambientes familiares culturalmente pobres o mesmo aprendizado daquelas que nasceram em famílias com melhor background cultural.

O livro de Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, publicado no Brasil em 2007 pela Fundação Lemann, apresenta os principais ingredientes para o sucesso do sistema público cubano.

Efeito colateral de uma sociedade sem mercados, é possível remunerar muito bem o professor em termos relativos, visto que os salários são em média muito baixos e o talento não é devidamente remunerado no mercado de trabalho cubano. Um professor em Cuba ganha um pouco menos do que um médico. Os melhores alunos do secundário escolhem ser professores.

O currículo é pouco extenso e é o mesmo para todas as escolas da ilha. A formação do professor é centrada em técnicas de transmissão de conhecimento ligadas ao currículo padronizado.

O professor é muito supervisionado pelo Estado, não pode faltar e, se o desempenho dos alunos não for bom, poderá perder a posição.

Há poucas interrupções na aula e na maior parte do tempo os alunos trabalham em grupo sob supervisão do professor resolvendo problemas e questões. Não se perde muito tempo copiando coisas do quadro.

Infelizmente, em geral os sindicatos de professores das redes públicas brasileiras apoiam aumentos de salários, mas são contrários a todas as demais iniciativas que deram certo em Cuba.

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