quarta-feira, 30 de novembro de 2016

"Agora tenho diploma. E aí?". Ou o Brasil está desperdiçando capital humano ou não está conseguindo formar um número suficiente de profissionais qualificados no ensino superior. Provavelmente, uma combinação dos dois.

érica fraga
Èrica Fraga
É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação.


O Brasil pode estar jogando capital humano no lixo

Ou o Brasil está desperdiçando capital humano ou não está conseguindo formar um número suficiente de profissionais qualificados no ensino superior. Provavelmente, uma combinação dos dois.

Milhares de profissionais com ensino superior foram empurrados para ocupações de menor qualificação em 2015, como mostrou reportagem publicada na Folha neste domingo

O movimento foi efeito da recessão. Mas uma análise dos dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) revela que, embora tenha se acentuado, a tendência é anterior à crise.

DESPERDÍCIO DE DIPLOMA

Aumento de vagas ocupadas por profissionais com ensino superior (entre 2008 e 2014)
Embalador a mão
35.081
Vendedor de comércio varejista
14.015





Recepcionista em geral
10.337
Almoxarife
7.872
Operador de caixa
7.804
Faxineiro
4.620
Vigia
3.536
Porteiro de edifícios
3.204
Cobrador interno
2.261
Babá
1.662
Varredor de ruas
1.305
Servente de obras
1.015
Contínuo
914
Garçom
521
Frentista
346
Embalador a mão


Entre 2008 e 2014, o mercado de trabalho formal brasileiro estava em franca expansão. A tabela abaixo mostra que, nesse período, 15 profissões de baixa e média qualificação - como vendedor de comércio, faxineiro, vigia, servente de obras, varredor de rua e babá - criaram 94.493 vagas para profissionais com ensino superior (considerando admissões menos demissões).

Comparada à geração total de mais de três milhões de posições para trabalhadores com diploma universitário no mesmo período, esse crescimento pode parecer pequeno; equivale a pouco menos de 3% do total.

Mas o aumento de vagas para essas 15 profissões acende um sinal amarelo quando examinado sob outros ângulos.


Ele equivale, por exemplo, a quase o dobro das 53.146 vagas de engenheiro com ensino superior geradas entre 2008 e 2014 (incluindo os 67 diferentes tipos de engenharia recenseados pela Rais).

Enquanto as 15 ocupações da tabela acima registraram um avanço de 0,5 ponto percentual em seu peso no total de trabalhadores com diploma universitário ocupados, a fatia dos engenheiros encolheu quase nessa mesma proporção.

Outra ponderação é que há muitas outras ocupações de baixa e média qualificação que ampliaram sua participação no estoque de brasileiros empregados no mercado formal com ensino superior. Essas 15 representam apenas uma seleção feita a título de ilustração.

É claro que muitas profissões tipicamente de ensino superior - como médicos, enfermeiros, administradores, farmacêuticos e contadores - também ampliaram a oferta de vagas nos últimos anos. Isso é positivo.

Mas era de se esperar que, num país onde empregadores e especialistas apontavam um apagão de mão de obra qualificada, não tivesse ocorrido uma alocação tão expressiva de graduados em ocupações menos sofisticadas.

Essa tendência provavelmente tem várias explicações. A baixa qualidade de muitos cursos de ensino superior criados nos últimos anos é uma delas.

A outra é o descasamento entre o que o mercado de trabalho brasileiro demandava no auge de sua expansão (engenheiros, por exemplo) e o que o mercado de graduados ofertava (muitas ocupações na área de humanas).

Com a profunda recessão que ainda vivemos, é provavelmente melhor para esses profissionais estar em vagas de menor qualificação do que entre os milhões de desempregados brasileiros.

Mas isso não significa que o país (governo, universidades, empresas) não deva parar e pensar seriamente sobre essa questão.

Vale a pena formar universitários que terminarão fazendo faxina? A intenção dessa reflexão não é, de forma alguma, desmerecer os importantes profissionais que executam essa e outras funções de menor qualificação e que também contribuem para o desenvolvimento do país.

Mas é preciso aumentar a transparência em relação às possibilidades de mercado oferecidas por cada carreira, em cada instituição de ensino superior, para que as pessoas individualmente e a sociedade como um todo possam decidir no que querem investir.

A coluna de quatro semanas atrás falou sobre estudos que mostram que, no Chile e na Colômbia, muitas pessoas com ensino superior nunca recuperam o investimento feito para cursar uma faculdade.

A pedagoga Patrícia Ferreira Perote - que hoje faz faxina enquanto procura uma vaga de professora ou babá - se pergunta se esse será o seu caso.

"Não é vergonha ter diploma universitário e limpar casa como estou limpando, mas fico me perguntando se valeu a pena tanto esforço", afirma ela que ainda não terminou de pagar a graduação terminada em 2013.

Patrícia perdeu o emprego de professora em agosto passado. Ela conta que se desdobrou para aumentar sua escolaridade depois de ver a família passando por sérias necessidades na sua infância e escutar as pessoas dizerem: "sem estudo, você não consegue nada".

"Agora tenho diploma. E aí?". 

Abandono escolar de jovem tem custo igual a gasto do país com ensino médio

O problema é que, a cada ano no país, o número dos que não avança é enorme.

érica fraga
Érica Fraga
É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação.


O trabalhador que tem ensino médio consegue renda bem maior do que aquele que para no fundamental.

Cada brasileiro que conclui todo o ciclo da educação básica acumula ao longo da vida, aproximadamente, R$ 15 mil (trazidos a valores de hoje) a mais do que seus pares que ficam para trás.

O problema é que, a cada ano no país, o número dos que não avança é enorme.

Cerca de 900 mil jovens de 17 anos —espantosos 25% do total— fogem do script todos os anos, pelas mais variadas razões, e não completam o ensino médio.

Se somarmos o que todos eles deixam de ganhar, temos que o custo privado total da evasão na última etapa do ensino básico é de quase R$ 14 bilhões por ano.

Os cálculos são do especialista Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper. E ele vai além.

Com base no que indicam pesquisas internacionais, Paes de Barros também estimou o chamado "custo social do abandono" no ensino médio.

O jovem que sai da escola prematuramente tem mais chance de se envolver com violência. O gasto público com um adolescente encarcerado é muito maior do que com um aluno de ensino médio.

Esse jovem tem maior probabilidade de usar drogas, o que pressiona as despesas com saúde pública.

Ele acaba pagando menos impostos. E assim por diante.

Tudo isso entra na conta do custo social do abandono escolar pelo jovem.

Segundo Paes de Barros, se a adição de todos esses fatores como percentual da nossa renda per capita for semelhante ao verificado em outros países, temos um prejuízo de cerca de R$ 35 bilhões por ano.

Somando, portanto, o custo do abandono escolar pelo jovem para as pessoas individualmente e para a sociedade como um todo, chegamos a um prejuízo de quase R$ 50 bilhões por ano no Brasil.

Paradoxalmente, esse é o valor que o setor público do país investe anualmente no ensino médio.

Ou seja, a mesma quantia que é gasta de um lado, é perdida de outro.

Esses números ajudam a dimensionar a gravidade e a urgência do tema no Brasil.

Temos demorado —e falhado— tanto que chegamos a um ponto em que precisamos entender melhor as causas do abandono e apontar soluções para saná-las ao mesmo tempo.

Em um estudo que está conduzindo, apoiado por Instituto Unibanco, Insper, Instituto Ayrton Senna e Fundação Brava, Paes de Barros tenta identificar o que está por trás da elevada evasão escolar no Brasil.

O objetivo da pesquisa, ainda em fase preliminar, é munir os gestores educacionais com evidências que ajudem a orientá-los sobre os caminhos mais eficazes.

Até agora, Paes de Barros e sua equipe identificaram 124 práticas pedagógicas distintas que vêm sendo aplicadas pelo Brasil afora no ensino médio.

É um sinal claro de que estamos atirando para todos os lados, com muito pouca evidência comprovada da eficácia do que está sendo feito nas escolas.

Isso ajuda a explicar por que temos falhado miseravelmente com nossos jovens e por que o custo dessa falha é tão alto para o país.


Por que você não faz nada?

Gustavo Ioschpe
Vencedor do Prêmio Jabuti 2005, pelo livro “A ignorância custa um mundo – o valor da educação no desenvolvimento do Brasil”, o economista Gustavo Ioschpe é fundador e presidente da G7 Investimentos, empresa que atua na área de produção de conteúdos, e articulista da revista “Veja”. Foi colunista da “Folha de S. Paulo”, “Gazeta Vargas” e revista “Educação”. É autor dos livros: “Como passar no vestibular da UFRGS” (Artes e Ofícios, 1995) e “Vestibular não é o bicho” (Artes e Ofícios, 1996). Formado em Ciência Política e Administração Estratégica pela Universidade da Pensilvânia, Ioschpe fez mestrado em Economia Internacional e em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Yale, nos EUA.

O grupo que publica a revista The Economist tem um braço de pesquisas, chamado Economist Intelligence Unit. Um dos seus produtos é um indicador conhecido como Democracy Index, que anualmente analisa quase 200 países e quantifica, com base em dezenas de indicadores, a força da democracia de cada país.
Na edição de 2014 (disponível em twitter.com/gioschpe), o Brasil aparece em 44º lugar entre 167 países (o campeão é a Noruega, e a Coreia do Norte é a lanterninha). O resultado nos coloca na segunda categoria, das Democracias Falhas. Abaixo das Democracias Plenas, mas acima dos Regimes Híbridos e dos Regimes Autoritários. O ranking olha para cinco atributos.
O cidadão apático é o viabilizador dos maus líderes
O curioso é que, em três dos cinco, temos notas condizentes com as das melhores democracias do mundo: processo eleitoral, liberdades individuais e funcionamento do governo. Por que, então, vamos para a segunda divisão? Porque em participação política, de zero a 10, nossa nota é 4,44, a mesma de Mali, Zâmbia, Uganda e Turquia, e abaixo da de países como Iraque, Etiópia, Quênia e até Venezuela.
Este é o paradoxo da democracia brasileira: lutamos tanto por ela, e não a usamos. Uma geração inteira brigou pelo retorno da democracia representativa, mas levou a substitutiva. Em uma democracia representativa, a cidadania ativamente demonstra suas vontades, e elas são canalizadas por seus representantes. Na versão brasileira, a democracia não começa na urna: termina nela. Parece que apertar uma tecla a cada quatro anos é a nossa concepção de governo “do povo, pelo povo e para o povo”. Verificado o desastre, voltamos às urnas, quatro anos depois, para eleger a mesma combinação de ineptos e corruptos. E, mesmo sabendo do insucesso do modus operandi, nós o repetimos. Alguém já disse que um dos sinais da loucura é continuar fazendo a mesma coisa e esperar que o resultado seja diferente…
E o melhor é quanto reclamamos, furibundos, das pessoas que nós mesmos colocamos no poder. Muita indignação e pouca ação, os males da nossa democracia são.
Até entendo que em algumas questões mais etéreas e distantes, como pedaladas fiscais e comissões em sondas petrolíferas, pareça mais complicado fazer algo. Também entendo que algumas camadas da população – aquelas que nem bem alfabetizadas são e que precisam trabalhar de sol a sol apenas para garantir a sobrevivência – não tenham compreensão, tempo nem energia para se engajar nas causas públicas. Mas não consigo entender como é que gente instruída e preparada, que frequentemente já passou algum tempo em países desenvolvidos e rapidamente identificou neles as virtudes que nos faltam, aqui parece achar que o problema não é com ela. E, apesar de pesquisar o assunto há uns quinze anos, confesso que entendo menos ainda essa apatia quando o tema é a educação nacional, que tem um papel tão importante na preparação para a vida dos nossos maiores tesouros (nossos filhos). Como podemos deixar que nossas escolas sejam as porcarias que são, produzindo iletrados ignorantes aos milhões, todo ano? A propósito, o problema não se restringe às escolas públicas. Como já mencionei aqui diversas vezes, 80% a 90% da diferença de desempenho entre nossas escolas públicas e particulares é explicável pela condição sociocultural do alunado. Se você colocasse o seu filho em uma escola pública, o desempenho dele cairia só 10% a 20%, portanto. Claro que temos, em um país com as dimensões do Brasil, excelentes escolas particulares e públicas também. Mas, em geral, as escolas públicas são péssimas e as privadas, apenas um pouco menos ruins.
O único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é o dicionário
O que me leva a você. Por que você não faz nada? Certamente você se importa com a qualidade da educação que seu filho vai receber, não? Sei, você não tem tempo. Trabalho, casa, correria etc. Agora me diga uma coisa: você vê novela? Seriado americano? Acompanha o seu time de futebol? Dorme mais de sete horas por noite? Se respondeu “sim” a alguma dessas perguntas, desculpe, mas tempo você tem. Até porque, como veremos abaixo, não precisa de muito tempo, não. Eu sei, ninguém é de ferro, todo mundo precisa relaxar. Mas primeiro o trabalho, depois a diversão. Como se divertir quando o país está claramente indo para o buraco? Você planeja mandar seus filhos para a Suíça ou eles morarão no país que você construir? Caso o plano seja continuar por aqui, que tal arregaçar as mangas?
Ah, talvez a sua discórdia seja conceitual. Você acha que já paga imposto que chega e que não pode fazer o seu trabalho e o do político também. Concordo. Mas, como diz o ditado, na prática, a teoria é outra. Tenho más notícias para você: é a sua inércia que permite que os seus eleitos não façam nada (ou, pior, que façam a coisa errada). Louis Gerstner, ex-CEO da IBM, dizia que “people don’t do what you expect, but what you inspect“: não adianta esperar, é preciso inspecionar, conferir, pressionar. O cidadão apá­tico é o viabilizador dos maus líderes. Eles vivem em uma relação simbiótica em que todo o resto do país é parasitado. Por que nos­­sos líderes não implantam, por exemplo, um sistema que consiga alfabetizar todos os alunos no 1º ano? É simples: porque, para fazê-lo, vão precisar se incomodar com os professores e os sindicatos da categoria. Precisarão fixar metas, exigir empenho e resultados, olhar para processos, mudar material didático, coibir faltas, idealmente conseguir que as faculdades de sua região formem um profissional decente em vez do repetidor de slogans e teorias que produzem hoje. Isso dá trabalho e conflito. Por que o fariam? Porque a população deveria reconhecer o esforço e valorizá-los. E aí a contrariedade de meia dúzia ficaria irrelevante em relação ao aplauso de milhares. Mas, no Brasil, esse aplauso não vem. Porque os pais e alunos nem sabem quão ruim é sua escola e, quando descobrem, deixam por isso mesmo. Há muitos casos, que nem Freud explica, em que pais e alunos defendem greves absurdas de professores, que prejudicam enormemente o aprendizado de nossos jovens. A mensagem para os líderes bem-intencionados é clara: convém não fazer nada. Ninguém vai reclamar. Se o seu prefeito ou governador soubesse que você valorizaria uma ação mais incisiva, a maioria deles tomaria as suas dores, não tenha dúvida.
“Mas fazer o quê?”, você se pergunta. A primeira coisa é fazer o dever de casa. Escolha a escola do seu filho de forma a maximizar o aprendizado dele, não o seu conforto. Escola boa não é a escola perto de casa: casa boa é a casa perto da escola, isso sim. Como saber se a escola do seu filho é boa? O primeiro bom indicador é o Enem, e, para as públicas, também o Ideb. Depois, é importante visitar a escola, conversar com pais de alunos. Peça para conversar com o diretor da escola. Diretor que recebe os alunos no portão de entrada, diariamente, e está aberto ao diálogo com os pais é um bom sinal. Diretor que visita as salas de aula com frequência também. Procure uma escola que tenha a infraestrutura em dia (salas limpas e arrumadas, com cadeiras, carteiras e quadro-negro), não aquelas que investem em balangandãs tecnológicos, a maioria dos quais não tem eficácia comprovada. Veja também como a escola seleciona professores (o ideal é que ela faça com que o candidato a lecionar dê uma aula a uma banca examinadora e que privilegie os que vêm de boas universidades; o modelo a ser evitado é aquele que só se preocupa com o resultado de uma prova/concurso). Pergunte também se a escola diferencia seus professores, se procura saber quem são os melhores e os piores, e se faz alguma coisa para reter os melhores (nas escolas privadas, o salário é a ferramenta óbvia; mas mesmo nas públicas é possível e desejável que os melhores professores sejam acompanhados e estimulados. Fuja das escolas que tratam os desiguais de forma igual). Veja também se a direção da escola estabelece e comunica metas claras de aprendizagem. O ideal é que todos saibam os conteúdos e habilidades que os alunos precisam dominar em cada matéria, de cada bimestre, de cada série. Escolas opacas, na linha do “fica tranquilo, nós é que entendemos disso”, costumam ter os piores resultados.
Em segundo lugar, escolhida uma escola boa, os pais não devem relaxar e terceirizar. Precisam ter certeza de que o filho está recebendo dever de casa, diariamente, e que seus deveres estão sendo corrigidos. É importante que haja avaliação permanente (a boa e velha prova) e que o aluno tenha de estudar constantemente. É difícil absorver um conhecimento e levá-lo à memória de longo prazo sem repetição contínua, e a prova é que garante que o mesmo material será revisto com cuidado (além de servir de termômetro para que o professor calibre sua didática quando nota que muitos alunos não aprendem bem). Evite escolas com muita avaliação “moderna”, tipo autoavaliação, trabalho em grupo etc. Já disse um sábio que o único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é o dicionário. Na vida e na escola. Certifique-se de que seu filho só falta à escola por motivos realmente sérios (se você faz com que ele perca uma semana de aula para levá-lo à Disney em época conveniente para você, depois não vá querer que ele aprecie a importância da educação… Se você diz uma coisa e faz outra, seus filhos replicarão aquilo que você faz). Certifique-se também de que seu filho trata professores e colegas com respeito. E compareça às reuniões de pais da sua escola.
Depois de fazer isso pelo seu filho, faça-o por alguém que terá dificuldades de fazer o mesmo. Uma empregada, um colega de trabalho, um amigo mais perdido na vida: tem muita gente que passou poucos anos na escola ou se sente inferiorizada socialmente, a ponto de não ousar questionar a escola do filho. Precisamos quebrar essas barreiras. Todo mundo paga pela escola do filho, quer via mensalidades, quer via impostos. A escola pública é nossa, não de seus funcionários. Eles devem nos prestar contas, não o contrário. Ajude aqueles que têm mais dificuldades para entender isso. E dê aos filhos dessas pessoas chances parecidas com as do seu filho.
Se você realmente não tem tempo, doe dinheiro a boas instituições. Há dezenas. Fundação Lemann, Roberto Marinho, Estudar, Instituto Ayrton Senna, Insper, Todos pela Educação… Essas eu conheço e recomendo, mas procure aquela que se encaixa na sua filosofia.
Indo do privado para o público: faça pressão nos seus representantes locais. Cada cidade terá o seu problema; tenha apenas a preocupação de pressionar por algo que melhore o aprendizado dos alunos, não a infraestrutura da escola ou algo secundário. Recomendo uma lei que obrigue que os resultados de cada escola sejam divulgados publicamente. Está tudo pronto no site www.idebnaescola.org.br. Pode acreditar: às vezes não é preciso mais do que dez pessoas que liguem ou mandem e-mails a um vereador para que o projeto seja aprovado.
Finalmente, vote direito. Escolha prefeitos e governadores que melhoraram os indicadores de aprendizado dos seus alunos. Não nos que investem mais, que distribuem laptops, que falam de planos mirabolantes ou mostram vídeos em que beijam criancinhas na época de campanha. Vote em quem entrega resultado, medido pelo Ideb. Para deputados, veja se o candidato fala de meios – salário de professor, investimento, ensino integral – ou de fins. Prefira os que falam de fins (aprendizado) e que não presumem que aquilo que é bom para o professor é bom para o aluno.
Eu sei, você não é especialista. Há muito mais coisas que você poderia fazer se fosse. Mas não precisa ser. Na maioria de nossas escolas, nem o básico do óbvio é feito; se você ajudar com esse pequeno empurrão, e ajudar alguém a se ajudar também, pode ter certeza de que fará uma enorme diferença.
Fonte: Veja, 27/06/2015.

A utopia sufoca a educação de qualidade

Gustavo Ioschpe
Vencedor do Prêmio Jabuti 2005, pelo livro “A ignorância custa um mundo – o valor da educação no desenvolvimento do Brasil”, o economista Gustavo Ioschpe é fundador e presidente da G7 Investimentos, empresa que atua na área de produção de conteúdos, e articulista da revista “Veja”. Foi colunista da “Folha de S. Paulo”, “Gazeta Vargas” e revista “Educação”. É autor dos livros: “Como passar no vestibular da UFRGS” (Artes e Ofícios, 1995) e “Vestibular não é o bicho” (Artes e Ofícios, 1996). Formado em Ciência Política e Administração Estratégica pela Universidade da Pensilvânia, Ioschpe fez mestrado em Economia Internacional e em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Yale, nos EUA.

"Se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho"

Um dos males que assolam nossa educação é a esperança vã de pensadores e legisladores de que uma escola que mal consegue ensinar o básico resolva todos os problemas sociais e éticos do país. Eles criaram um sistema com um currículo imenso, sistemas de livros didáticos em que o objetivo até das disciplinas científicas é formar um cidadão consciente e tolerante. Responsabilizaram a escola pela formação de condutas que vão desde a preservação do meio ambiente até os cuidados com a saúde; instituíram cotas raciais e forçaram as escolas a receber alunos com necessidades especiais. A agenda maximalista seria uma maneira de sanar desigualdades e corrigir injustiças. O Brasil deveria questionar essa agenda.

Primeira pergunta: nossas escolas conseguem dar conta desse recado? A resposta é, definitivamente, não. Estão aí todas as avaliações nacionais e internacionais mostrando que a única igualdade que nosso sistema educacional conseguiu atingir é ser igualmente péssimo. Copiamos o ponto final de programas adotados nos países europeus sem termos passado pelo desenvolvimento histórico que lhes dá sustentação.

Segunda pergunta: esse desejo expansionista faz bem ou mal ao nosso sistema educacional? Será um caso em que mirar no inatingível ajuda a ampliar o alcançável ou, pelo contrário, a sobrecarga faz com que a carroça se mova ainda mais devagar? Acredito que seja o último. Por várias razões. A primeira é simplesmente que essas demandas todas tornam impossível que o sistema tenha um foco. Perseguir todas as ideias que aparecem -- mesmo que sejam todas nobres e excelentes -- é um erro. Infelizmente, a maioria dos nossos intelectuais e legisladores não tem experiência administrativa, e acredita ser possível resolver qualquer problema criando uma lei. No confronto entre intenções e realidade, a última sempre vence. A segunda razão para preocupação é que, com uma agenda tão extensa e bicéfala -- formar o cidadão virtuoso e o aluno de raciocínio afiado e com conhecimentos sólidos --, sempre é possível dizer que uma parte não está sendo cumprida porque a prioridade é a outra: o aluno é analfabeto, mas solidário, entende? (Com a vantagem de que não há nenhum índice para medir solidariedade.) E, finalmente, porque quando as intenções ultrapassam a capacidade de execução do sistema o que ocorre é que o agente -- cada professor ou diretor -- vira um legislador, cabendo a ele o papel de decidir quais partes das inatingíveis demandas vai cumprir. Uma medida que deveria estimular a cidadania tem o efeito oposto: incentiva o desrespeito à lei, que é a base fundamental da vida em sociedade.

Terceira pergunta: mesmo que todas essas nobres intenções fossem exequíveis, sua execução cumpriria as aspirações de seus mentores, construindo um país menos desigual? Eu diria que não apenas não cumpriria esses objetivos como iria na direção oposta. Deixe-me dar um exemplo com essas novas matérias inseridas no currículo do ensino médio -- música, sociologia e filosofia. A lógica que norteou a decisão é que não seria justo que os alunos pobres fossem privados dos privilégios intelec-tuais de seus colegas ricos. O que não é justo, a meu ver, é que a adição dessas disciplinas torna ainda mais difícil para os pobres se equiparar aos alunos mais ricos nas matérias que realmente vão ser decisivas em sua vida. A desigualdade entre os dois grupos tende a aumentar. A triste realidade é que, por viverem em ambientes mais letrados e com pais mais instruídos, alunos de famílias ricas precisam de menos horas de instrução para se alfabetizar. É pouco provável que um aluno rico saia da 1ª série sem estar alfabetizado, enquanto é muito provável que o aluno pobre chegue ao 3º ano nessa condição. O aluno rico pode, portanto, se dar ao luxo de ter aula de música. Para nivelar o jogo, o aluno pobre deveria estar usando essas horas para se recuperar do atraso, especialmente nas habilidades basilares: português, matemática e ciências. É o domínio dessas habilidades que lhe será cobrado quando ingressar na vida profissional. Se esses pensadores querem a escola como niveladora de diferenças, se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho. O que, por sua vez, presume uma educação desigual entre pobres e ricos, fazendo com que a escola dê aos primeiros as competências intelectuais que os últimos já trazem de casa. Estou argumentando baseado em uma lógica supostamente de esquerda (digo supostamente porque, nesse caso, é transparente que as boas intenções dos revolucionários de poltrona só aprofundam as desigualdades que eles pretendem diminuir).

O mercado de trabalho valoriza mais as habilidades cognitivas e emocionais não porque os nossos empregadores sejam mesquinhos, mas porque, em um mercado competitivo, precisam remunerar seus trabalhadores de acordo com sua produtividade. Essa é a lógica inquebrantável do sistema de livre-iniciativa. Não adianta pedir ao gerente de recursos humanos que seja “solidário” na hora da contratação e leve em conta que os candidatos à vaga vêm de origens sociais diferentes, porque, se o recrutador selecionar o funcionário menos competente, o mais certo é que em breve ambos estejam solidariamente no olho da rua. Não conheço nenhum estudo que demonstre o impacto de uma educação filosoficamente inclusiva sobre o bem-estar das pessoas. Mas há vários estudos empíricos sobre a desigualdade no Brasil. O que eles informam é assustador: o fator número 1 na explicação das desigualdades de renda é, de longe, a desigualdade educacional (disponíveis em twitter.com/gioschpe). Ao criarmos uma escola sobrecarregada com a missão de não apenas formar o brasileiro do futuro mas corrigir as desigualdades de 500 anos de história, nós nos asseguramos de que ela se tornará um fracasso. A escola não pode fracassar, pois é a alavanca de salvação do Brasil.

O tipo de escola pública que queremos é uma discussão em última instância política, e não técnica. É legítimo, embora estúpido, que a maioria dos brasileiros prefira uma educação que fracasse em ensinar a tabuada mas ensine bem a fazer um pagode. Acrescento apenas uma indispensável condição: que a população seja informada, de modo claro e honesto, sobre as consequências de suas escolhas. Quais as perdas e os ganhos de cada caminho. O que é, aí sim, antidemocrático e desonesto é criar a ilusão de que não precisamos fazer escolhas, de que podemos tudo e de que conseguiremos obter tudo ao mesmo tempo, agora. Infelizmente, é exatamente isso que vem sendo tentado. Nossas lideranças se valem do abissal desconhecimento da maioria da população sobre o que é uma educação de excelência para vender-lhe a possibilidade do paraíso terreno em que professores despreparados podem formar o novo homem e o profissional de sucesso. Essa utopia, como todas as outras, acaba em decepção e atraso. Essa pretensa revolução, como todas as outras, termina beneficiando apenas os burocratas que a implementam.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Gastar mais melhora o desempenho em educação, mas, após um certo nível, os ganhos vão se tornando marginais

Prioridade na formação inicial 

Nicola Calicchio e Marcus Frank são, respectivamente, presidente da McKinsey para a América Latina e consultor sênior da McKinsey em SP

O Brasil atravessa uma das piores crises econômicas de sua história e, com isso, temos desafios imensos, em especial no que tange a educação. Se, por um lado, o orçamento não fecha e são precisos ajustes, por outro, a qualidade da educação pública no país é baixa e a necessidade de investimentos na área é premente. Desse modo, a principal pergunta a fazermos é como melhorar a educação pública no Brasil em um ambiente de restrição fiscal? 

O primeiro passo é analisar se os atuais gastos do país com a área são adequados. O Brasil investe hoje cerca de 6% do PIB em educação pública, o que, em termos relativos e comparados a outros países, é um percentual significativo. Alemanha, Japão, e Coreia, por exemplo, países que possuem sistemas educacionais públicos de boa qualidade, investem respectivamente menos de 4% do seu PIB. A média da OCDE, grupo que reúne os países com maior nível de desenvolvimento do mundo, é de um pouco menos que 5%. 

No entanto, isso não significa que o Brasil invista o suficiente em educação. Como nosso PIB per capita é muito baixo (estamos na 70ª posição no mundo), o valor que de fato redunda em investimentos na área também é baixo. Somos um país grande, mas pobre, essa é a verdade. Desse modo, acreditamos que para quebrar o círculo vicioso do baixo desenvolvimento, precisamos, sim, ampliar os gastos públicos em educação. 

Para um salto na qualidade de ensino, é preciso professores mais bem preparados e líderes com capacidade de gestão 

E há um caminho paralelo para melhorar a educação pública: fazer mais com o que já gastamos, investindo de forma inteligente e eliminando desperdícios. Recentemente, conduzimos um estudo em que comparamos o desempenho de sistemas de educação no mundo todo, medidos por um índice que combina resultados em provas internacionais aplicadas em diferentes idades do ciclo de educação básica, com os gastos por aluno, ajustado para o custo de vida do país. Os resultados são inequívocos. 

Primeiro, gastar mais melhora o desempenho em educação, mas, após um certo nível, os ganhos vão se tornando marginais. Ou seja, simplesmente colocar mais dinheiro não resolve. Xangai, por exemplo, que ocupa o primeiro lugar, gasta menos da metade do que os Estados Unidos e tem um desempenho 20% superior. O Brasil gasta 25% a mais que o México e tem desempenho similar. Segundo, dentro de uma mesma faixa de gasto, o desempenho varia muito. A Rússia tem um resultado muito melhor que o Brasil com o mesmo gasto. 

Que dá para fazer muito mais com o mesmo, está claro. A questão é o que precisamos fazer. Não temos a pretensão de ter as respostas prontas, mas temos algumas crenças: 1­ temos que focar os investimentos nos anos iniciais, garantindo que as nossas crianças aprendam a aprender; 2­ os investimentos que geram mais impacto não são focados em infraestrutura ou em tecnologias por vezes caras, mas sim no apoio ao desenvolvimento dos professores e diretores das escolas. 

Existem inúmeras evidências de que o investimento em pré ­escola é crítico, pois o ser humano desenvolve a maior parte de sua capacidade cognitiva, emocional e social entre zero e seis anos. Investir fortemente na alfabetização e na lógica básica de matemática é fundamental. Se a criança não é bem alfabetizada, como ela vai continuar a aprender à medida que vai crescendo? Parece óbvio que esse deveria ser um preceito básico em qualquer sistema educacional, mas no Brasil isso não é uma verdade absoluta. 34% dos alunos que concluíram o ensino fundamental, ou seja estudaram até a nona série, são considerados analfabetos funcionais. 

Se olharmos a população como um todo, 27% são considerados analfabetos funcionais e somente 8% atingem um grau de proficiência adequado. 

Se assegurar investimentos nos anos iniciais é importante, outra reflexão relevante é em que tipo de investimento temos maior impacto. Acreditamos que apoiar o desenvolvimento dos nossos professores e líderes escolares é a melhor alternativa. Sem dúvida que assegurar uma infraestrutura básica digna é condição necessária para termos um aprendizado de qualidade. Mas, para darmos um salto na qualidade de ensino, precisamos de professores mais bem preparados, que saibam o conteúdo e a metodologia de como ensinar bem, e líderes escolares com boa capacidade de gestão. 

Diversos estudos acadêmicos comprovam essa tese. Um estudo nos EUA, por exemplo, selecionou estudantes de 8 anos que estavam na média de desempenho e acompanhou a evolução de desempenho deles até os 11 anos. Os que tiveram excelentes professores foram para os top 10%, enquanto os que tiveram professores ruins caíram para a faixa dos 40% piores. 

No Brasil, temos diversos exemplos de sucesso dessa estratégia focada em apoiar o professor a ser cada vez melhor. Talvez a iniciativa com maior abrangência foi o programa de intervenção pedagógica que a rede estadual de Minas Gerais massificou a partir de 2007, atingindo mais de 3600 escolas e 2 milhões de alunos. O Estado, que estava em 5º lugar no ranking nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para os estudantes do ensino fundamental anos iniciais, saltou para primeiro lugar em 2009, tendo mantido essa posição até 2013. Um estudo da Fundação Lehman em 2013 apontou que 50% das 215 escolas públicas do Brasil que melhor ensinam mesmo em condições socioeconômicas adversas estão no Estado. 

Acreditamos que esse exemplo demonstra o que podemos alcançar em nível nacional, pois Minas Gerais é um Estado com o maior número de municípios do Brasil e que resume bem as nossas diferenças regionais. Além de ser uma iniciativa de grande escala e representativa da realidade brasileira, esse caso também mostra que é possível ter impacto rápido e com investimento reduzido. Apesar de ter atingido esse resultado de destaque em nível nacional, o custo do aluno da rede estadual de Minas Gerais está abaixo da média das redes estaduais no Brasil. 

Faria bem ao país aproveitar a oportunidade trazida por uma das piores crises econômicas de sua história e transformar a realidade da educação pública brasileira, promovendo uma gestão escolar que mire a melhoria da qualidade dos professores. Precisamos investir mais em educação pública, mas também precisamos investir melhor. 

Mudar a si mesmo é difícil, mas, às vezes, necessário

mirian goldenberg
Mirian Goldenberg
É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.


Comportamentos, hábitos e manias que cultivamos durante toda a vida se tornam profundamente enraizados e passam a ser considerados como parte da nossa própria natureza. No entanto, também é natural querer mudar tudo aquilo que é um obstáculo para a nossa felicidade.

Confesso que gostaria de conseguir mudar a minha natureza. Tenho um "defeito" considerado grave pelas pessoas que me cercam. Todas as minhas amigas e (ex) namorados/maridos sempre me criticaram: "você só gosta de trabalhar", "você não tem vida social", "você acha um verdadeiro sacrifício ter que sair da sua toca".

Reconheço que eles têm razão. Gosto de ficar em casa, quieta, tendo ideias para os meus projetos, preparando aulas e palestras, lendo, escrevendo, vendo um bom filme. Preciso de muita concentração e silêncio para trabalhar.

Consegui controlar a minha ansiedade e superar a minha introversão, insegurança e timidez na vida profissional. Mas na vida pessoal sou um verdadeiro desastre.

Já fiz um enorme esforço para mudar a minha natureza: tentei sair mais, encontrar mais frequentemente os amigos, ir a festas. Mas, por mais que eu me esforce, nunca é o suficiente. Sempre acabo recebendo a mesma acusação: "você não é uma pessoa sociável". Tudo fica pior ainda quando sou comparada (ou me comparo) com mulheres que são naturalmente mais sociáveis e sabem como receber os amigos e a família.

Quanto mais eu tento corresponder ao modelo de mulher sociável, mais me sinto inadequada, imperfeita e culpada por ser do jeito que eu sou.

No início de uma relação amorosa, naturezas diferentes são toleradas em função de um desejo maior: construir uma vida em conjunto. Com o passar do tempo, os desejos individuais se tornam mais fortes, as insatisfações aumentam e as cobranças para mudar se tornam constantes e até mesmo cruéis.

Algumas características pessoais podem provocar conflitos que parecem sem solução. Mudar, só para se ajustar aos desejos dos outros, pode se tornar uma violência contra a própria natureza.

Em algum momento da vida, pode ser na juventude ou até mesmo na velhice, descobrimos uma triste realidade: precisamos mudar!

Eu quero (e preciso) mudar. Mas será possível mudar a própria natureza? 

"Falta pensar quem é responsável por isso aqui".

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O Brasil precisa de uma instituição que seja responsável pelo avanço da educação e preste contas desse processo à sociedade, o que incluiria a perda do emprego de seus gestores em caso de falha. Essa é a opinião do economista Ricardo Paes de Barros: "Falta pensar quem é responsável por isso aqui".

Folha - Que principais problemas vocês identificam no ensino médio e quais as melhores soluções para atacá-los?
Ricardo Paes de Barros - Trazemos a evidência científica e tentamos deixar essa conclusão para o gestor público. Se eu falasse diretamente para ele apostar em uma solução A, B ou C, seria um erro. Embora, se eu fosse um dos gestores, eu teria minha opção.

E qual seria?
Apostaria muito mais na flexibilidade, no significado do clima escolar. A qualidade da escola não é tão importante quanto ela ter significado e ser acolhedora.

Quando o sr. fala em qualidade, se refere ao professor, à infraestrutura, à tecnologia?
Não precisa ter um professor tão bom assim quando ele tenta te ensinar algo que tem significado. O aluno não vai prestar atenção até perceber que o professor se importa com ele. O professor pode ser supergenial, mas se não se importa com o aluno, ele não vai se conectar. A conexão e a interação são muito importantes. Você dá um jeito na qualidade depois.
Você tolera um cantor que não seja tão bom desde que ele esteja cantando o que você quer que ele cante.

Há evidências de que isso funciona na prática?
Não, a gente tenta juntar evidências. Dada as que existem, que são bastante limitadas, não tem nada que diga que isso é a solução, isso é em que eu apostaria, a minha aposta.

Parece haver um excesso de opiniões sobre educação no Brasil. Isso atrapalha?
Eu acho que nosso problema com educação é, como no futebol, muitas pessoas querendo ser técnicas da seleção e um número muito pequeno de fatos, interpretados de maneiras completamente diferentes.
E a gente, às vezes, se perde, não sabemos se estamos debatendo as interpretações ou os fatos.
O que falta para o Brasil é uma autoridade com governança bem definida, responsável por fazer a educação avançar. Que seria o "técnico da seleção" de verdade.
Nós temos o Ministério da Educação e o Inep [instituto ligado ao MEC], mas temos crise de governança.

Falta pensar quem é responsável por isso aqui. Todo mundo ter sua opinião sobre como a seleção deveria jogar não é um problema, o problema é não ter ninguém responsável por ganhar o jogo. O que quero dizer é, "se eu não ganhar, eu peço demissão".

O que o sr. acha da proposta do governo para reformar o ensino médio?
Acho que aponta na direção certa porque fala da necessidade de maior flexibilidade e maior engajamento.

Os anos finais do ensino fundamental, em que os problemas começam, não deveriam ser reformados antes do médio?
Logicamente sim, mas tem o caso de Pernambuco e outros Estados que conseguiram mexer primeiro no médio maravilhosamente bem. Talvez isso sirva para mostrar para o jovem: "Olha, tenho uma boa escola de ensino médio", vale a pena insistir.

Lidando com o 'mimimi', enfrentar as adversidades da vida fortalece

rosely sayão
Rosely Sayão
Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

Quase todo mundo conhece a expressão "mimimi" da linguagem informal. Levei um tempo sem me interessar por seu uso, mas ela passou a ser tão presente em nosso cotidiano que decidi investigar.

Minha curiosidade: de onde ela surgiu. Eu me espantei ao saber que ela surgiu do personagem Chaves, de um seriado antigo que terminou em 1980 e exaustivamente reprisado, cultuado até hoje. Chaves, um moleque órfão, sempre que contrariado, emitia esse som "mimimi" para indicar seu choro.

Essa expressão passou a ser usada, sempre de modo pejorativo, para indicar reclamações sem justa causa, frescura, manha etc. Até em uma peça publicitária ela já apareceu e provocou muitas reclamações das mulheres porque chamou de "mimimi" as reclamações das dores e do mal-estar provocados pelo período menstrual.

Agora, professores e pais têm usado a expressão com bastante frequência para nomear diversos comportamentos dos mais novos. Tudo agora virou mimimi. Então, vamos conversar a respeito dessa questão.

Sim: nós, educadores formais e informais, temos dado atenção a muitas reclamações de filhos e alunos, o que emperra e/ou paralisa o processo de crescimento e de aprendizagem deles, e não apenas no aspecto cognitivo.

Filhos reclamam das tarefas domésticas que devem realizar, do tamanho ou da dificuldade das lições que precisam fazer ou estudar, dos colegas que se comportam desta ou daquela maneira, das festas para as quais não foram convidados etc. E, quase sempre, os pais atendem, ou seja, dão importância a tais reclamações, e interferem.

O problema é que dar conta sozinhas de suas obrigações –todas possíveis– e enfrentar as adversidades da vida fortalece as crianças porque permite que elas criem mecanismos pessoais de defesa e, principalmente, de resiliência.

Em todas essas situações a interferência dos pais prejudica o desenvolvimento dos filhos em vez de ajudar! O que eles podem fazer de melhor nesses momentos é acolher as reclamações como legítimas, mas incentivar e encorajar o filho a realizar o que precisa, mesmo que isso exija muito esforço e dedicação.

Essa é uma grande lição que os pais podem dar, que colabora para a criança melhorar sua autoimagem. Ela percebe, ao realizar sozinha suas responsabilidades, seu potencial sendo colocado em ação, o que lhe dá mais confiança em si mesma. E tudo isso cabe também aos filhos adolescentes.

Dos jovens, falarei das reclamações que fazem aos professores, inclusive nas faculdades. É a data da prova, da entrega do trabalho, a quantidade de conteúdo a ser estudada etc., que eles querem adiamento e/ou redução ora porque é véspera de feriado ou de um jogo importante (!), ora porque o prazo é curto, ora pela quantidade do conteúdo indicado etc.

Quando os professores cedem, perdem sua autoridade e, principalmente, passam a ideia de falta de seriedade e de compromisso com a formação de seus alunos.

Pressionar e exigir são conceitos diferentes do conceito de cobrar. Os mais novos precisam ser cobrados a crescer porque esse é o destino deles. Muito melhor colaborar para que cresçam aprendendo, amadurecendo e se aprimorando pessoalmente do que permitir que cresçam apenas em idade e tamanho, não é?

Estudo não aumenta eficiência do trabalho no Brasil, diz pesquisa

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O avanço da escolaridade no país nas últimas décadas não foi acompanhado do aumento esperado de eficiência do trabalhador brasileiro.

A experiência internacional mostra que, à medida que acumulam mais anos de estudo, os profissionais de uma nação, normalmente, se tornam mais produtivos, contribuindo, com isso, para o crescimento da economia.

Dados preliminares de uma pesquisa feita por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, revelam que isso não parece estar ocorrendo no Brasil.
Entre 1980 e 2010, cada ano a mais de estudo no país foi seguido de um aumento extra de produção de apenas US$ 200 por trabalhador.

O número é irrisório se comparado ao que ocorreu em outros países. Cada ano a mais de escolaridade foi acompanhado de uma expansão de US$ 3.000 de produção por trabalhador no Chile e de US$ 6.800 na Coreia do Sul.
De acordo com Paes de Barros, é possível que a qualidade e o conteúdo do ensino nas escolas brasileiras expliquem por que o país tem sido um ponto fora da curva.

"Pode ser que esse aumento de educação não tenha significado econômico, por isso tenha muito pouco impacto sobre a produtividade", diz.

MENORES GANHOS

A piora na qualidade da educação no Brasil também pode ser uma das causas da rápida queda do ganho extra de renda que os trabalhadores conseguem ao aumentar sua escolaridade. Em 2004, cada ano a mais de estudo resultava em um salário 9,6% maior no país. Em 2014, esse retorno caiu para 7,2%.

Outro fator que contribuiu para essa redução, segundo Paes de Barros, foi o aumento do salário mínimo, que elevou a renda do trabalhador pouco escolarizado.

Uma terceira explicação para a queda do prêmio salarial foi a expansão da demanda da nova classe média por serviços menos qualificados, nos últimos anos.
"Nós nos tornamos uma economia intensiva em mão de obra pouco qualificada. Isso tem a ver com o tipo de estrutura de demanda que a economia brasileira gerou."

Embora esse movimento tenha contribuído para a redução da desigualdade de renda, ele também pode estar afastando o jovem brasileiro da escola: "Isso não ajuda a incentivar as pessoas a estudar mais".

EVASÃO ESCOLAR

Um dos principais focos da pesquisa conduzida pelo economista —que tem apoio do Instituto Ayrton Senna, do Insper, da Fundação Brava e do Instituto Unibanco— é entender as causas da elevada evasão escolar no Brasil.

O estudo mostra que, a cada ano, mais de um quarto dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos tem um dos seguintes destinos: nem se matriculam na escola (15%); abandonam os estudos (7%) ou são reprovados por falta (4%).

A meta oficial do governo de universalizar o acesso dessa faixa etária à escola até 2016 não foi cumprida.

Segundo dados divulgados na semana passada pelo IBGE, a parcela de jovens de 15 a 17 anos na escola chegou a 85% em 2015. Esse percentual tem aumentado em ritmo lento nos últimos anos. E os prognósticos de evolução não são positivos.

Pelas contas de Paes de Barros e sua equipe, o Brasil precisaria avançar a um ritmo 23 vezes maior que o atual para universalizar o acesso de jovens de 15 a 17 anos à escola em uma década.

Segundo o economista, o objetivo da pesquisa é ajudar os gestores educacionais a entender as causas do baixo engajamento do jovem com a escola e, com isso, adotar as medidas cabíveis.

No estudo, Paes de Barros e seus coautores explicam que há três grandes causas para o afastamento entre o jovem brasileiro e a escola.
O primeiro grupo de fatores está ligado a problemas como pobreza extrema, distância grande entre o domicílio do jovem e a escola e gravidez precoce.

O segundo motivo é o que eles chamam de "falta de interesse informada" do jovem pela educação formal. "Isso tem muito a ver, por exemplo, com a falta de flexibilidade do currículo do ensino médio", afirma o economista.

Por último, há o caso de jovens que têm pouco interesse pela escola por falta de informação adequada.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Desistentes da sociedade são desafio para economia do Japão

Embora o problema do hikikomori não seja uma novidade, primeiro-ministro planeja mobilizá-los como parte de campanha para dar apoio à força de trabalho


Economia japonesa: cerca de 541.000 pessoas entre 15 e 39 anos - ou 1,6% da população nessa faixa etária - foram consideradas hikikomori em um relatório (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

Tóquio – Nagisa Hirai era uma criança ativa que adorava jogar futebol com os meninos. Mas essa alegria inicial desapareceu no primeiro dia da escola primária, quando ela ficou assustada por não conseguir encontrar sua sala de aula.
Com o tempo, ela se tornou um “hikikomori”, um termo japonês usado para descrever mais de meio milhão de jovens no país que ficam em casa e evitam interagir com pessoas de fora da família.
Ela sofria ataques de ansiedade por qualquer situação que não fosse familiar — até mesmo esquecer coisas para o colégio lhe provocava pânico.
Ela se tornou cada vez mais incomodada em ir para a escola, o que levou seus pais rigorosos a obrigá-la a ir.
Agora com 30 anos de idade, ela diz que está se recuperando, mas ainda há dias em que ela não consegue sair da cama e ir para seu trabalho de meio período em uma universidade.
Embora o problema do hikikomori não seja uma novidade, o primeiro-ministro Shinzo Abe agora planeja mobilizá-los como parte de uma campanha mais abrangente para dar apoio à força de trabalho, que está envelhecendo.
Ele prometeu impedir que a população se reduza dos atuais 127 milhões a menos de 100 milhões e quer que todos os membros da sociedade contribuam ativamente para a terceira maior economia do mundo.
Não existe uma causa única para o fenômeno. O hikikomori pode surgir de fatores como provocações na escola ou no trabalho ou pressão dos pais ou de outros familiares para ser bem-sucedido em testes de admissão ou entrevistas de emprego.
Cerca de 541.000 pessoas entre 15 e 39 anos — ou 1,6 por cento da população nessa faixa etária — foram consideradas hikikomori em um relatório do Escritório do Gabinete publicado em setembro.
O governo define-as como pessoas que ficaram em casa e evitaram interagir com quem não é integrante de sua família durante pelo menos seis meses.
À medida que a sociedade envelhece, os hikikomori também se tornam mais velhos. Cerca de 53 por cento deles na prefeitura ocidental de Shimane tinham 40 anos de idade ou mais, e esse número é de 44 por cento em Yamagata, região Norte do Japão. Isso gera dúvidas sobre como os desistentes mais velhos vão se sustentar quando seus pais, que estão envelhecendo, morrerem.

Impacto econômico

Políticas adequadas, como assistência financeira e aconselhamento psicológico, poderiam ajudar a transformar oshikikomori em membros da força de trabalho, afirma Eriko Ito, consultora do Nomura Research Institute em Tóquio.
Isso aumentaria a produção econômica geral e também ajudaria a reduzir o gasto em bem-estar social.
“Deveríamos mudar nossa concepção em relação a sustentá-los”, diz Ito. “É um investimento, não um custo.”
O plano do governo é sustentar os hikikomori e outros jovens com dificuldades tornando-os mais “independentes”. O governo montou centros de aconselhamento psicológico em todo o país e conta com assistentes que visitam aqueles que relutam em sair de casa.

Cursos superiores podem ser 'desperdício' no Brasil, diz estudioso

"Muitos acabam sendo mais uma extensão do ensino básico e fundamental do que uma faculdade ou universidade propriamente ditas."

 BBC
09/10/2013 -18h41

Embora tenham proliferado no Brasil nos últimos anos, muitos cursos superiores acabam não formando profissionais de qualidade, por isso, podem até acabar sendo um desperdício para a sociedade, de acordo com um especialista ouvido pela BBC Brasil.

Para Tristan MacCowen, professor de Educação e Desenvolvimento da Universidade de Londres, que há pelo menos uma década estuda a evolução do sistema educacional brasileiro, alguns desses cursos "não aumentam a capacidade de inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade".

Aos poucos, segundo o especialista, estaria sendo consolidado no sistema de ensino superior brasileiro uma espécie de sistema "dual", no qual os cursos e universidades mais disputados - públicos e privados - continuariam a receber principalmente estudantes da elite, enquanto boa parte da população de baixa renda acabaria em faculdades de segunda classe, "nas quais a experiência de aprendizagem seria bem diferente".

"Em muitas das instituições de ensino superior acessíveis a essas classes não há estímulos para que os estudantes busquem conhecimento fora das salas de aula, nem oportunidades de pesquisa ou chances para eles expandirem sua experiência universitária", diz o especialista.

"Muitos acabam sendo mais uma extensão do ensino básico e fundamental do que uma faculdade ou universidade propriamente ditas."

Segundo a última pesquisa do Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope, divulgada no ano passado, quatro em cada dez estudantes do ensino superior no Brasil não são "plenamente alfabetizados" - ou seja, não conseguem interpretar um texto, gráficos ou tabelas, nem fazer contas matemáticas um pouco mais complexas - por exemplo, envolvendo porcentagens.

"O problema é que o domínio da linguagem e da matemática são ferramentas básicas para que se possa avançar na aprendizagem de conteúdos mais complexos", diz Ana Lúcia Lima, diretora do Instituto.

'De mentira'

A opinião de um ex-professor de arquitetura sobre a qualidade dos alunos e do ensino na faculdade em que ele deu aula por cinco anos dá a medida dos desafios que envolvem a expansão do acesso à universidade no Brasil: "Esses cursos dão a muitos jovens uma chance de conseguir empregos que pagam um pouco melhor, mas quem vive o dia-a-dia de algumas dessas faculdades privadas sabe que classificá-los como 'curso superior' é uma grande mentira", diz ele.

O ex-professor, de São Paulo, conta que alguns de seus alunos chegavam a sala de aula sem saber fazer uma equação de primeiro grau ou escrever um texto "que fizesse sentido" - e boa parte do trabalho do corpo docente da instituição era tentar suprir as carências de um ensino básico e fundamental deficiente.

"Havia alguns alunos bons e muitos problemáticos - e os professores eram pressionados a aprovar a maior parte dos matriculados mesmo que seu aproveitamento do curso fosse mínimo", diz ele.

Desde 2001, o número de instituições de ensino superior no país passou de 1.004 para cerca de 2,5 mil e a quantidade de matrículas mais que dobrou, chegando a 6,7 milhões no ano passado, segundo dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O relato do ex-professor, porém, não chega a ser uma surpresa para Tristan MacCowen.

"Não há como negar que o Brasil fez avanços significativos na expansão do acesso ao ensino superior - e isso é positivo - mas essa expansão precisava ser acompanhada de um controle sobre a qualidade das novas instituições e um desenvolvimento significativo dos mecanismos de regulação e supervisão do setor, o que parece não ter ocorrido", acredita MacCowen.

Segundo o especialista, na comparação com outros países, o caso brasileiro se destaca justamente pela falta de rigidez de sua regulamentação. "Chama a atenção a facilidade com a qual grupos privados que visam o lucro podem abrir instituições de ensino no país, por exemplo, - o que implica em riscos significativos", alerta.

O governo tem feito um esforço para ampliar a oferta em universidades públicas, principalmente no interior do país, mas 74,6% dos estudantes ainda estão matriculados em instituições privadas, segundo a última Pnad, que registrou um aumento de 1,4 pontos nesse porcentual de 2011 para 2012.
ProUni
Segundo especialistas, a expansão da educação superior no Brasil na última década foi o resultado de dois processos combinados.

De um lado, em um cenário de maior crescimento e menor desemprego, muitos jovens da classe C se sentiram estimulados a estudar mais que seus pais para ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho e perspectivas de rendimento. Também aumentou a quantidade de famílias com recursos para investir em educação - o que ampliou a demanda por cursos e serviços nessa área.

Simultaneamente, foram adotadas uma série de políticas públicas para garantir que tal demanda fosse atendida.

Desde 2007, o Governo Federal procurou ampliar a oferta de vagas na rede pública via Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e universidades federais começaram a adotar sistemas de cotas raciais ou para alunos de escolas públicas.

Para as instituições privadas, o maior estímulo foi o Programa Universidade para Todos (ProUNI), que tem financiado, com bolsas parciais ou integrais, milhares de estudantes de baixa renda em cursos superiores por todo o país.

Com tais impulsos, o ensino superior privado tornou-se um dos segmentos mais promissores da economia brasileira. Em 2012, empresas do setor estiveram entre as que mais se valorizaram na Bovespa e não demorou muito para que se estabelecesse uma dinâmica de formação de megagrupos para atender o filão.

Por todo o país, novas faculdades têm recebido jovens que recebem bolsa do governo ou trabalham de dia para pagar os cursos que frequentam à noite.

"Temos pela frente um grande desafio para expandir a qualidade desses cursos e da formação básica dos estudantes que chegam a suas salas de aula", diz Lima. "Isso é essencial para evitar que a escolaridade dos brasileiros avance apenas no papel."