sábado, 5 de novembro de 2016

Atualidades - Para Onde o Brasil manda Sua M.... .

Texto Marcelo Soares e Giuliana de Toledo | Reportagem no Pará por Gabriela Azevedo | Design João Pedro Brito e Fernanda Didini | Ilustrações Marcus Penna

 Em mais de 40% das cidades do país, a internet já chegou aos celulares, mas não existe rede de esgoto — um atraso de um século e meio
Londres – Inglaterra (1854)
 (Foto:  )
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Pretos: Tem esgoto
Vazios: Não tem esgoto
Brancos: Cidade não informou

1. Ananindeua - PA
População com coleta: 0%
A segunda cidade mais populosa do Pará aparece em todos os rankings do Trata Brasil como a pior entre as cem maiores do país.

2. Santarém - PA
População com coleta: 0%
Com quase 300 mil moradores, a terceira cidade com mais habitantes do estado está empatada com Ananindeua em 0% de rede de esgoto.

3. Porto Velho - RO
População com coleta: 2%
A rede existente é antiga, quase toda instalada junto com a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no início do século 20.

4. Macapá - AP
População com coleta: 5,5%
Em 2013, segundo o Jornal Nacional, os hospitais atendiam 400 pessoas por dia com doenças relacionadas ao saneamento.

5. Jaboatão dos Guararapes - PE
População com coleta: 6,6%
Boa parte do esgoto é despejada no mar, em valões que correm pela areia da praia e tornam a água imprópria para banho.

6. Manaus - AM
População com coleta: 9,9%
Alguns condomínios têm estação de esgoto particular. Em julho deste ano, uma delas explodiu, ferindo pessoas que faziam um churrasco.

7. Belém - PA
População com coleta: 12,7%
Pesquisa da UFPA estima que seriam necessários R$ 2,5 bilhões para dar água tratada e coleta de esgoto a toda Grande Belém.

8. Teresina - PI
População com coleta: 19,1%
No ano passado, a prefeitura da capital do estado culpava o governo federal pela situação, por ter passado anos sem investir em saneamento básico.

9. Juazeiro do Norte - CE
População com coleta: 21,1%
Para diminuir a falta de saneamento na região foi lançada, em 2013, a Carta do Cariri, que incentiva obras para evitar a poluição de mananciais.

10. Rio Branco - AC
População com coleta: 21,2%
Além da falta de rede coletora de esgoto, a capital do Acre carece de água encanada. Apenas 50,2% da população é atendida com água em casa.

Consulte como está sua cidade em GALILEU.GLOBO.COM

VAMOS POR PARTES

Em proporção ao número de municípios, o Sudeste e o Centro-Oeste são as regiões do Brasil com mais cidades que têm rede coletora de esgoto.



Norte
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Nordeste
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Sudeste
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Sul
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Centro-oeste
 (Foto:  )Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 2014 (Ministério das Cidades); Ranking do Saneamento 2016 (Instituto Trata Brasil)


FALTA DE CONTRATO COM EMPRESAS DE ESGOTO É MAIS COMUM NAS CIDADES MENORES. DOS 3.828 MUNICÍPIOS COM MENOS DE 20 MIL HABITANTES, 60,7% NÃO TÊM REDE COLETORA

TRANCOS E BARRANCOS

A porcentagem da população que tem esgoto melhorou. Só que melhorou mais onde já estava melhor
 (Foto:  )Fontes: *Censo; **SNIS

O PAÍS ESTÁ NA FOSSA

Formas precárias de descarte de dejetos, como fossa rudimentar e vala, ainda são comuns em diversos estados do Brasil; veja como a população se vira em cada local
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Rede de esgoto É a maneira mais adequada de coletar dejetos. É caro e trabalhoso fazer uma rede, por isso são menos comuns nas zonas rurais.
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Fossa rudimentar Não há qualquer tentativa de tratamento dos dejetos, que são lançados diretamente em um buraco na terra, sem isolamento.
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Fossa séptica Os dejetos passam por filtragem antes de chegarem à natureza. É adequada a zonas rurais, onde o resultado pode virar adubo.
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Não tinham É basicamente isso mesmo, as pessoas disseram ao Censo que não tinham esgoto em casa. Em 2010, isso era mais comum no Piauí.
 (Foto:  )Outro tipo A criatividade do brasileiro não conhece limites. Em alguns estados, parcela pequena da população citou outras formas de descarte.
 (Foto:  )Rio, lago ou mar Acontece principalmente em favelas, por improviso. Os problemas da Baía de Guanabara na Olimpíada vieram daí.
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 (Foto:  )Vala É o famoso esgoto a céu aberto. Ocorre, em geral, em áreas irregulares e expõe os moradores a diversos tipos de doenças.
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 (Foto:  )Fonte: IBGE, Censo 2010; os dados refletem a média do uso de cada modalidade nos municípios do estado
O CHEIRO DO MUNDO

Compare o acesso da população a sistemas que separam dejetos do contato humano
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Porcentagens da população que usa algum tipo de instalação para isolar excrementos
Vazios: 81 - 100%
Brancos: 61 - 80%
Cinzas: 41 - 60%
Listrados: 21 - 40%
Pretos: 1 - 20%
Fonte: Banco Mundial, 2015

CAMINHO DAS ÁGUAS

O abastecimento de água é mais eficiente no Brasil do que a coleta de esgoto; observe a porcentagem da população atendida
Linha branca:  Água encanada
Linha preta:  Esgoto
 (Foto:  )Fonte: IBGE, Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, 2001-2009 e 2011-2014

CADÊ O NOSSO URBANISMO?

Ligada ao Ministério da Saúde, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) é referência na história do saneamento brasileiro. A instituição estuda questões importantes de saúde pública, como o vírus da zika. GALILEU conversou com o engenheiro Marcelo Araújo, pesquisador do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, localizada no Rio de Janeiro.

Por que o saneamento ainda é um desafio tão grande em 2016?

As cidades brasileiras cresceram muito nas últimas décadas, com a migração do meio rural para o urbano. Isso foi bastante intenso no Brasil e em alguns países da Ásia e da América Latina. Não houve tempo de criar uma estrutura de saneamento adequada. Na Europa ocorreu o mesmo, mas foi há 120, 150 anos, na primeira Revolução Industrial.

A falta de saneamento tem “endereço”?

Todo mundo acha que os problemas de saneamento do Brasil estão só no Nordeste. Não é verdade. Menos de 40% da população brasileira tem acesso a esgoto coletado e tratado. O abastecimento de água potável atinge basicamente 90% da população, em todas as regiões, inclusive no Nordeste. Mas mesmo nas grandes cidades, mesmo em São Paulo, a metrópole mais rica do país, grande parcela da população não tem seu esgoto e seu lixo coletados adequadamente.

O problema está mais perto do que parece então?

O grande problema está no planejamento urbano. As cidades deveriam crescer com base em projetos em que os bairros fossem criados com infraestrutura de saneamento, mesmo que a habitação em si não fosse ideal. Mas o mínimo necessário é acesso à água potável e integração à rede de esgoto. A fossa séptica é adequada à região rural, mas não funciona em áreas de alta densidade, como as favelas. A fossa pode contaminar o solo e invadir os lençóis freáticos, transformando os corpos hídricos das regiões urbanas em valas de captação de esgoto não tratado.

“MESMO EM SÃO PAULO, A METRÓPOLE MAIS RICA DO PAÍS, GRANDE PARCELA DA POPULAÇÃO NÃO TEM ESGOTO E LIXO COLETADOS ADEQUADAMENTE”

NO BRASIL, O TEMPO MÉDIO PARA PROJETAR E APROVAR OBRAS DE SANEAMENTO É DE DOIS ANOS

TORNEIRA FECHADA

Total de municípios com e sem serviço de água, por região
Listrado: Tem água
Preto: Não tem água
Amarelo: Governo não sabe
 (Foto:  )Fonte: SNIS

E A FILA AUMENTA...

Cada R$ 1 investido no fornecimento de água limpa e esgoto economiza R$ 4 que seriam gastos para tratar doenças, segundo a Organização Mundial da Saúde

MAPA DA HEPATITE A

A infecção do fígado é causada por água e comida contaminadas.
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MAPA DA LEPTOSPIROSE
É transmitida pela urina de animais, como ratos, onde não há saneamento.
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Consulte como está seu estado em GALILEU.GLOBO.COM

Fonte: Datasus (Ministério da Saúde)


MORTE NA INFÂNCIA

Total de crianças com menos de 5 anos mortas por diarreia ou infecção intestinal no Brasil
 (Foto:  )Fonte: Datasus (Ministério da Saúde)

FALTA TRABALHO SUJO

Cidades tratam pouco o seu esgoto; conheça as dez piores entre as mais populosas
 (Foto:  )
Metros cúbicos (1.000 litros) tratados por habitante no município em 2014

Vazios: 0 - 26 m3
Pretos: 26,1 - 52 m3
Brancos: 52,1 - 78 m3
Amarelinhos: 78,1 - 104 m3
Cinzas: 104,1 - 130 m3
Listrados: 130,1 - 156 m3

1. Ananindeua · PA
Quanto trata de esgoto coletado: 0%
O município da Grande Belém não tinha rede coletora até o levantamento, logo o número de tratamento também é zero.

2. Governador Valadares · MG
Quanto trata de esgoto coletado: 0%
A cidade de quase 280 mil habitantes coleta quase todo o seu esgoto (97,4%  da população tem o serviço), mas não trata nada.

3. Porto Velho · RO

Quanto trata de esgoto coletado: 0%
A capital já não é um exemplo em coleta: 2% dos moradores são atendidos. Do pouco coletado, nada tem tratamento.

4. Santarém · PA
Quanto trata de esgoto coletado: 0%
Desde que foi feito o levantamento, a cidade começou a testar, em 2015, suas primeiras estações de tratamento.

5. São João de Meriti · RJ
Quanto trata de esgoto coletado: 0%
O município da Baixada Fluminense coleta o esgoto de 48,9% da população, porém, não trata nenhuma parcela.

6. Nova Iguaçu · RJ
Quanto trata de esgoto coletado: 0,05%
Também na Baixada, a cidade trata os dejetos de uma fração mínima. Há coleta para 45,1% dos moradores.

7. Belém · PA
Quanto trata de esgoto coletado: 2,3%
A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) coleta esgoto de 12,7% da população e trata uma parte pequena.

8. Mauá · SP
Quanto trata de esgoto coletado: 2,7%
A cidade do Grande ABCD, apesar de ter rede de esgoto que atende 90,1% da população, tem baixo índice de tratamento do material coletado.

9. Itaquaquecetuba · SP
Quanto trata de esgoto coletado: 3,7%
Dos dejetos coletados de 64,6% da população da cidade, na Região Metropolitana de São Paulo, pouco chega a ser tratado.

10. Bauru · SP
Quanto trata de esgoto coletado: 3,8%
Existe coleta para 93,6% dos habitantes do município do interior paulista. Uma estação de tratamento está em construção.

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 2014 (Ministério das Cidades); Ranking do Saneamento 2016 (Instituto Trata Brasil)

SOMENTE 40% DO ESGOTO COLETADO NO BRASIL, QUE JÁ É POUCO, PASSA POR TRATAMENTO PARA RETORNAR À NATUREZA

JOGA FORA NO LIXO

Municípios com e sem coleta de lixo, por região
Listrado: Tem coleta de lixo
Preto: Não tem coleta de lixo
Amarelo: Governo não sabe
 (Foto:  )Fonte: SNIS

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