domingo, 27 de novembro de 2016

Ler notícia ajuda a passar no vestibular, diz pesquisa do Datafolha

 DE SÃO PAULO

Estudantes que acompanham o noticiário se saem melhor no vestibular. O que já se intuía aparece agora em números de uma pesquisa Datafolha realizada com jovens de 17 a 22 anos da Grande São Paulo.

Entre os aprovados na Fuvest, o vestibular mais concorrido do país, 85% são leitores de sites jornalísticos. Essa proporção cai para 78% entre os reprovados no exame.

Feita uma divisão por classe social, a importância do fator noticiário aparece mais claramente. Considerando-se só estudantes da classe C, tem-se que 90% dos aprovados leem notícias na internet, contra 76% dos reprovados do mesmo nível social.

Comparando-se estratos sociais diferentes, nota-se que o consumo de notícia faz diferença: no grupo dos calouros da classe C, 90% seguem o noticiário, enquanto entre os mais ricos que foram reprovados esse número cai para 78%. "Acesso à informação de qualidade pode ser um vetor de inclusão, um fator de superação da desvantagem econômica", diz Alessandro Janoni, diretor do Datafolha.

O levantamento indica que é mais proveitoso seguir o noticiário por sites ou pelo jornal na plataforma digital do que pela televisão: o grupo dos que assistem a telejornais é maior entre os reprovados (74%) do que entre os aprovados (65%) na Fuvest.

O Datafolha ouviu 3.020 jovens, distribuídos em quatro grupos: aprovados na Fuvest, reprovados na Fuvest, os que não prestaram a Fuvest e aprovados em outros vestibulares. A pesquisa, feita em fevereiro, tem margem de erro máxima de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95%.

Segundo o pesquisador Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, a leitura, de forma geral, pode ajudar. "Muitas vezes, a grande dificuldade está em ler e entender as questões. Quem lê mais tem mais facilidade para isso."

Para a economista Fernanda Estevan, pesquisadora da USP, o Datafolha mostra que existe correlação entre leitura de jornais e desempenho na Fuvest –ou seja, as duas variáveis se movimentam na mesma direção. Ela ressalta, porém, que o resultado não é suficiente para comprovar relação causal, segundo a qual a leitura mais frequente de notícias levaria o vestibulando a se sair melhor.

"É bastante provável que alguma outra variável não observada na pesquisa esteja correlacionada tanto com a leitura dos jornais quanto com o desempenho na Fuvest. Pode ser, por exemplo, o nível de educação dos pais, o hábito de ler livros, o interesse pelo mundo. Tudo isso pode levar um aluno a ler mais jornal, mas também ter influência no seu desempenho no vestibular", afirma.

LER O MUNDO

A educadora Anna Penido, que coordenou uma pesquisa com 132 mil alunos do ensino médio para o Instituto Inspirare, afirma que "só ler a mídia não ajuda a passar no vestibular necessariamente", mas completa: "Estar bem informado ajuda na vida".

Penido diz sentir falta de um esforço das instituições, como família e escola, para convencer o aluno a "ler criticamente o mundo". "A mídia também poderia saber melhor como interagir com essas novas gerações", diz.

Para estudantes da USP ouvidos pela reportagem, foi importante acompanhar o noticiário durante os estudos para o vestibular. Muitos acrescentam, contudo, ser difícil manter o hábito agora que estão na faculdade.

"Lia notícias online, o que me ajudou, porque entendia temas que foram cobrados na parte de atualidades. Depois que comecei o curso, leio mais notícias do mundo acadêmico, de tecnologia, mas acompanho o noticiário político pela Folha", diz Lucas Dias, 21, do terceiro ano de computação da USP.

Vitoria Gaio, 20, caloura de arquitetura, lia o noticiário online da Folha, de "O Estado de S. Paulo" e da "Carta Capital". "Eu acompanhava para o exame, os professores comentavam no cursinho. Não me orgulho, mas não mantive o hábito depois de passar no vestibular."


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