quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Escolaridade dos pais influencia diretamente ascensão social e profissional do brasileiro

Conclusão de estudo do IBGE reflete o alto nível de desigualdade no País

Educação
Alto índice de dependência dos pais é um indicativo de que a sociedade oferece poucas oportunidades de crescimento aos jovens

Mariana Durão

RIO - A possibilidade de ascensão social e profissional do brasileiro ainda tem forte dependência de sua estrutura familiar, um reflexo de sociedades com alto nível de desigualdade.  No Brasil, a escolaridade dos responsáveis tem influência decisiva na dos filhos, revela a investigação complementar sobre mobilidade sócio-ocupacional realizada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  
Filhos de pais que nunca frequentaram a escola dificilmente conseguem terminar o ensino médio. Em 2014, 78,2% dos filhos de pai sem instrução, ou 20,7 milhões de pessoas, estavam nessa situação. Apenas 4% completaram o nível superior e 23,6% repetiram a história, ou seja, não estudaram. A maior dependência da situação dos pais é um indicador de que a sociedade oferece poucas oportunidades de crescimento por meio da educação.
Uma pequena melhora na escolaridade paterna já é capaz de representar um salto. Para pais com o ensino fundamental incompleto, 51,8% dos filhos atingiram o ensino médio completo ou chegaram ao ensino superior. Entre pais com nível superior completo praticamente não há filhos sem instrução (0,5%) e os filhos que completaram a graduação somam 69,1%. Os dados levam em conta pessoas de 25 anos ou mais de idade, que moravam com o pai aos 15 anos e o nível de instrução do responsável naquela época.
O alto índice de dependência dos pais é um indicativo de que a sociedade oferece poucas oportunidades de crescimento aos jovens, característica comum a países da América Latina. "A dependência da origem dos pais está ligada a uma desigualdade maior, porque você não tem oportunidades iguais para todos em termos de capital econômico, cultural e pessoal. Então as desigualdades vão se perpetuando nas próximas gerações", diz Flávia Vinhaes Santos, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento (Coren) do IBGE.
A boa notícia da pesquisa é que 51,2% dos filhos tiveram ascensão educacional em relação aos pais e apenas 3,9% tiveram uma formação pior. No caso daqueles que moravam com a mãe na idade escolar, a mobilidade chegou a 55,3%. Uma parte significativa da população permaneceu estagnada, sem melhorar ou piorar na comparação com o responsável.   
"O nível de instrução dos filhos ainda depende muito do nível de instrução dos pais, mas isso não impediu que houvesse uma mobilidade de mais de metade da população", diz Flávia. 
A pesquisadora destaca que a dependência de origem familiar pode ser minimizada pelo crescimento ao longo da carreira (intrageracional). "Se consigo reduzir essa desigualdade ao longo da vida profissional, a próxima geração já começa de outro ponto de partida", afirma. 

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