COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os resultados do exame internacional Pisa mostram uma esquizofrenia nacional. Os alunos por aqui gostam mais de ciências do que quem estuda em países desenvolvidos, mas, em comparação internacional, o desempenho brasileiro é bem menor.
De acordo com o Pisa, 40% dos estudantes do país declaram que querem seguir carreiras ligadas à ciência e à tecnologia –taxa maior do que a encontrada nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é de 24%.
Mais: metade dos alunos brasileiros afirma ter interesse por ciências –foco do Pisa deste ano. Os estudantes por aqui disseram que até se divertem com conteúdos científicos.
O problema é, na hora da avaliação, quem estuda no Brasil acerta só 30,6% das questões de ciências. Para se ter uma ideia do que isso significa, na Finlândia, país referência na educação mundial, o índice de acerto nas mesmas questões chega a 56,4%.
Menos da metade de nossos estudantes sabe o básico de ciências. Em Estados como Alagoas, o pior do país no exame, os brasileirinhos erram três de cada quatro questões de ciências.
Estamos no final da fila na avaliação de ciências, em 63º lugar, de um total de 70 países. É basicamente um desastre.
Gostar de ciências, como declaram os estudantes brasileiros no Pisa, não é difícil.
A ciência explica a vida em todas as suas formas e trata do mundo de uma escala milhares de vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo até o tamanho do Universo.
Quem é curioso gosta de ciências. Jovens são curiosos.
A forma como o conteúdo científico chega aos alunos, no entanto, faz com que ninguém aprenda nada.
Faltam professores de ciências: uma pesquisa da ONG Todos pela Educação que acabou de sair do forno, por exemplo, mostra que há mais matemáticos ensinando física nas escolas brasileiras do que licenciados em física.
Dá para falar de Universo –um dos tópicos preferidos pelos alunos brasileiros, de acordo com o Pisa,– sendo formado em matemática? Não.
O Pisa mostra também que faltam laboratórios nas escolas. A pontuação dos alunos sobe significativamente na rede federal de ensino, que basicamente é composta pelas escolas profissionalizantes. São instituições ricas em espaços de experimentação.
Nessas escolas, os alunos chegam a 517 pontos no exame, contra 401 pontos da média nacional. É uma pontuação maior do que a dos países da OCDE (493 pontos).
Também falta investir em educação não formal de ciências, que é feita fora da escola, por exemplo em museus. Esse tipo de atividade é fundamental para despertar os alunos para a ciência, ajudam a entender a prática científica, a formular perguntas, estimulam os estudos.
A última pesquisa nacional de percepção pública da ciência, de 2015, mostra que só 12% dos brasileiros –jovens e adultos– foram a um museu de ciência no ano anterior. É muito pouco.
O Pisa não mostra tudo e, inclusive, tem sido alvo de uma série de questionamentos. Finlândia e Brasil, por exemplo, são extremos quase incomparáveis em um mesmo exame.
Neste ano, a prova inovou ao avaliar a capacidade de o aluno trabalhar em grupo –algo fundamental na ciência–, mas ainda não capta aspectos não cognitivos importantes para a formação, inclusive, de um cientista. Caso de resiliência, por exemplo.
Dentro de suas limitações, o exame mostra, de novo, que o problema não está nos jovens, mas sim no ensino. Sem professores formados em ciências, sem laboratórios e sem ciência explorada em museus, não há interesse e nem curiosidade que garanta o aprendizado.
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