quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Ensino privado no Brasil fica abaixo da média de países ricos em ranking

PAULO SALDAÑA
DE SÃO PAULO

NATÁLIA CANCIAN
DE BRASÍLIA

Os alunos da rede particular no Brasil apresentam resultados superiores à média nacional no Pisa 2015, mas ainda ficam abaixo dos países ricos em matemática e ciências. Em leitura, a nota é a mesma da média da OCDE (entidade que reúne países desenvolvidos e que organiza a avaliação internacional).

A rede particular tem 487 pontos em ciências e 463 em matemática, contra 493 e 490 dos outros países, respectivamente. Em leitura, a média das escolas privadas no Brasil e a dos países da OCDE é de 493.

Os dados por rede foram divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do Ministério da Educação responsável por aplicar o Pisa no Brasil.

O Pisa é considerado a mais importante avaliação internacional da educação básica. A prova é aplicada a estudantes com idade entre 15 e 16 anos de 70 países.

A comparação entre os alunos brasileiros mais pobres e os 10% mais ricos -que geralmente estão em escolas privadas de ponta- é também desfavorável.

A diferença em ciências é de 27 pontos, o que equivale aproximadamente ao aprendizado de um ano letivo.

Na média da OCDE, essa distância é de 38.

O nível socioeconômico dos alunos é um dos fatores mais relevantes no sucesso escolar, de acordo com vários estudos. Para Cláudia Costin, professora visitante da Universidade de Harvard e colunista da Folha, essa menor diferença no Brasil indica que nem os mais ricos têm tido uma formação adequada.

"Isso reforça a tese de que o problema no país é a qualidade do professor. Esse aluno mais rico provavelmente está em uma escola privada, de melhor qualidade", diz.

"As escolas podem ter uma série de diferenças, mas o que elas têm em comum são professores com a mesma estrutura de formação."

Cláudia afirma ainda que o Brasil precisa tornar a carreira docente mais atrativa. 
"É óbvio que aumentar salários não vai impactar dois anos depois. Mas o efeito do aumento é tornar a profissão mais atraente. Uma nova geração de jovens vai querer fazer faculdade, é coisa de longo prazo."

A secretária executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, também ressaltou a necessidade de melhorar a formação dos professores.

Ela cita ainda a criação da Base Nacional Comum Curricular -que definirá o que será ensinado em todas as escolas do país e está em discussão no Conselho Nacional de Educação- como uma das medidas que podem trazer resultados.

"Os dados revelam a necessidade primeiro de terminar logo a base nacional comum, que é essencial para melhorar a qualidade das aprendizagens e dar mais equidade ao sistema", diz ela.

"Em segundo lugar, investir fortemente na formação de professores e nos materiais de apoio, que são importantes para melhorar a qualidade da escola", afirma.

A secretária também defendeu a reforma do ensino médio -em trâmite no Congresso Nacional por meio de uma medida provisória- como uma forma de melhorar os resultados na educação.

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