Por Ligia Guimarães
SÃO PAULO Além de ter desempenho bem pior que a média de países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), os indicadores de educação do Brasil em ciências, matemática e leitura retratam
um sistema de ensino extremamente concentrado, em que só uma parcela muito pequena dos alunos tem a oportunidade
de obter preparação adequada, afirma Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas
Educacionais (Ceipe) e professora visitante na Faculdade de Educação da Universidade de Harvard.láu
Os dados do Pisa mostram também um quadro estagnado nos últimos anos, embora o país tenha elevado o investimento
em educação.
“Não estamos melhorando nem piorando de forma importante. E o Brasil aumentou o gasto por aluno nesse período”, diz
Cláudia. “Eu fiquei tão brava que tive vontade de chorar quando vi os resultados”, diz a especialista, que também é exsecretária
municipal de Educação do Rio de Janeiro exdiretora global de Educação do Banco Mundial.
O gasto do Brasil por aluno acumulado entre as idades de 6 e 15 anos (US$ 38.190) corresponde a menos da metade, 42%,
da média por aluno dos países da OCDE (US$ 90.294); em 2012, o montante brasileiro representava 32% na comparação
com o bloco.
“O Brasil aumentou o gasto total de educação, mas grande parte do gasto foi para a universidade. Os países da OCDE
gastam menos na universidade que nós e gastam mais nos mais jovens”, diz. “Os países mais ricos fazem assim. Nós
fizemos uma decisão errada no passado e assim ficou.”
Para Cláudia, a razão para a estagnação do ensino no país é que faltou coragem, até agora, de investir na melhoria da
formação dos professores na universidade, o que exigiria uma reforma no currículo e no modo de ensinálos. Cláudia diz
que países bemsucedidos em educação, como a Finlândia, tiveram no investimento nos professores a chave para o
sucesso. “Até agora não estamos mudando isso de verdade”, afirma.
Cláudia destaca que a desigualdade de ensino no Brasil só não é maior porque, mesmo na rede privada, a formação dos
professores limita o desempenho do aprendizado. “Eu acho que tem que mudar a forma como a universidade forma
professores ao mesmo tempo que se reforma o ensino médio, diz Cláudia.
Outro ponto a ser melhorado é a capacidade de atrair jovens qualificados para a carreira de professor, o que envolve
valorização de salários, diz a especialista, que demonstra preocupação com os efeitos nocivos que a PEC 55, que limita os
gastos públicos e foi aprovada em primeiro turno no Senado, terá sobre essa política. “A PEC cortou possibilidades de
incremento de recursos para a educação. A educação tem muita coisa em que não se precisa gastar muito, mas se você
quer tornar a profissão de professor mais atrativa, você tem que pagar mais”, diz.
“Você tem que tornar a profissão valorizada e atraente para que os jovens que saem do ensino médio queiram essa carreira.
E nisso a PEC atrapalhou. Espero que ela seja revista”, afirma.
Cláudia cita também que entre os alunos da OCDE, o desempenho do aluno de nível socioeconômico mais elevado é 38
pontos superior ao do aluno pobre. No Brasil, essa diferença é menor, de 27 pontos. “Isso quer dizer que não temos tanta
desigualdade de ensino como se imaginaria, porque os mais ricos são igualmente fracos”, diz Cláudia, que atribui a
proximidade a um ponto fraco comum: a qualidade da formação de professores. “O que a escola privada e a pública têm
em comum? Os professores, que aprenderam a mesma coisa na faculdade”, diz Cláudia
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