sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Eles fazem a cabeça dos jovens

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Professores universitários de formação e intelectuais com respeitável currículo, Clóvis de Barros Filho, Leandro Karnal e Mário Sérgio Cortella se tornaram os maiores pensadores contemporâneos do Brasil, com uma legião de seguidores nas redes sociais e milhões de livros vendidos

Fabíola Perez -  30.09.16 - 18h00 - Atualizado em 30.09.16 - 18h45

Eles têm um desafio complexo: transformar as ideias de Sócrates, Friedrich Nietzsche e William Shakespeare em pílulas de conhecimento para milhões. 
Essa é a missão que o professor Clóvis de Barros Filho, o historiador Leandro Karnal e o filósofo Mario Sergio Cortella têm cumprido com bom humor e ironia, despertando o interesse de pessoas em todo o País. Em projetos conjuntos, ou separados, eles lançam livros e lotam auditórios com palestras sobre ética, religiosidade, felicidade e morte. 
Atualmente, são os mais requisitados pensadores para democratizar o conhecimento filosófico, antes restrito a uma parcela da população e agora abordado com graça e ousadia até mesmo nas redes sociais.

Cortella publicou mais de 30 livros e vendeu mais de um milhão de exemplares. 
Mario Sergio Cortella à IstoÉ: “Ninguém em sã consciência seria feliz o tempo todo”


Karnal é conhecido como “o pensador pop” e se reveza entre as aulas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entrevistas a programas de televisão e conversas com seus mais de 500 mil seguidores na internet. 
Leandro Karnal à IstoÉ: “Quando envelhecemos, criamos a sensação de que o passado era idealizado”


Barros Filho decidiu levar o conteúdo de ética que ministrava na Universidade de São Paulo a diferentes públicos em empresas de todo o País e do exterior. 
Clóvis de Barros Filho à IstoÉ: “A canalhice é uma tentação permanente”


“Queremos abalar um pouco nossas certezas cristalizadas, balançar nossas estruturas para pensar sobre a vida”, diz Cortella. “As pessoas estão desejosas de compreenderem as coisas sem necessariamente serem adestradas em uma só direção.”
Mas o que os três pensadores têm em comum? Clóvis, Karnal e Cortella saíram das salas de aula das universidades para falar para públicos cada vez maiores sem a ajuda de grandes aparatos tecnológicos. 
A habilidade com a palavra e com os gestos os ajuda a traduzir a filosofia clássica para milhões de brasileiros e ainda passear por temas atuais como intolerância, corrupção, gestão do conhecimento e preconceito. 
Para se ter ideia do alcance desses escritores, Barros Filho e Karnal lançaram, em junho, o livro “Felicidade ou Morte” e três meses depois já ocupam o terceiro lugar entre os mais vendidos, com 6,8 mil exemplares. 
No Youtube, trechos em que os autores comentam a obra já alcançaram quase 300 mil visualizações. Há algumas semanas, Cortella, Karnal e outros filósofos lançaram o “Verdades e Mentiras: Ética e democracia no Brasil”, com o objetivo de debater a política e o papel do cidadão na sociedade. 
Com temas diversificados, os três filósofos percorrem o Brasil – e, às vezes, até em outros países – para dar conta de uma agenda de em média 20 a 30 palestras ao mês, centenas de entrevistas e participações em programas de televisão e a divulgação de lançamentos editoriais. Na esteira de tantas produções, o objetivo desses pensadores é estimular o público a pensar sobre questões da atualidade com independência.
“A iniciativa privada e o setor público também
descobriram o poder de comunicação do trio”
As palestras, os vídeos e as obras de Clóvis, Karnal e Cortella vêm encontrando cada vez mais eco na sociedade. O público não se restringe somente aos universitários. Hoje, os três são convidados para falar a empresários de diversos setores. 
Clóvis, por exemplo, passou 11 anos se dividindo entre salas de aulas e conferências. Agora, há mais de seis meses, começou a se dedicar somente às palestras, que chama de inspiracionais. “Talvez esteja faltando a busca pela compreensão da vida como ela é, no trabalho, no cotidiano e na esfera familiar”, diz ele que rejeita a alcunha de pensador e prefere se definir como alguém que faz e incita reflexões sobre o mundo do trabalho. 
Não raro, Clóvis, Karnal e Cortella veem alguns de seus livros serem chamados de literatura de autoajuda. Isso ocorre porque, entre os temas que abordam, estão assuntos relacionados ao indivíduo, como felicidade, medos, morte, religião, trabalho e liderança. 
Os três autores concordam que o nicho de autoajuda no Brasil pode ser renovado e é a isso que se propõem. Para os filósofos, as pessoas precisam ser incentivadas a pensar sobre o mundo em que vivem. E é nesse gargalo editorial que o trio ganha força.
“Cada um faz, em média, mais de 300 palestras por ano”
ROTINAS ESPARTANAS
Leandro Karnal, 53 anos, é o mais pop entre os três. Mas está longe de manter uma rotina de celebridade. Ele tem por hábito acordar às 4h30 para ir à academia. Na sequência, já começa a se dedicar às aulas de história na Unicamp. Gaúcho nascido em 1963, na cidade de São Leopoldo, ele se mudou para a capital paulista aos 24 anos e concluiu o curso de doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Apesar de ter se tornado um especialista em religiões, ele transita bem por diferentes áreas do conhecimento e se define apenas como um professor que ganhou mais alunos. “Não quero discípulos, quero ter gente que se inquiete comigo e pessoas pensem, formulem seus próprios conceitos e busquem embasamento para eles.” São pensamentos como este que transformaram a admiração pelo pensador em uma espécie de “Karnalmania” e fazem mais de 500 mil pessoas pararem alguns instantes para lerem seus textos nas redes sociais.
Nascido em Ribeirão Preto, em São Paulo, o professor Clóvis de Barros Filho, 50 anos, vem falando sobre felicidade, confiança, motivação, ética e amor pelo trabalho a milhões de brasileiros. Em apenas alguns meses de dedicação exclusiva às palestras, o professor e jornalista já é ouvido em países da América Latina e da Europa. Em um de seus livros mais vendidos, “A vida que vale a pena ser vivida”, que alcançou a marca de 200 mil exemplares e mais de 300 mil visualizações no YouTube, Barros Filho reúne pensamentos sobre o sentido da existência. “A vida acontece de segunda a sexta, com angústias e alegrias. É preciso ocupar espaços em que nos alegremos”, afirma. Cada palestra de Barros Filho reúne, em média, 500 pessoas, mas quando ocorrem em espaços abertos ao público esse número já chegou a três mil.
Paranaense de Londrina, Mario Sergio Cortella, 62 anos, divide seu tempo de um jeito metódico. Acorda todos os dias às 4h30 para escrever. Professor e educador há mais de 30 anos, ele leva no bolso do paletó a agenda de compromissos do dia e da semana. Além das mais de 300 palestras anuais, gosta de fazer churrasco para a família nas horas livres. 
Quem conversa com ele por alguns instantes, logo percebe o prazer que sente em ajudar a formar opiniões. “Preciso fazer uma reflexão sobre a filosofia, sem banalizá-la. Isso exige de mim um esforço que muito me agrada.” Com 19 anos, Cortella viveu a experiência de viver em um convento. 
Na Ordem dos Carmelitas Descalços, desenvolveu a disciplina que o rege até os dias de hoje. Aos 22 anos se tornou professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Hoje, mais distante das salas de aula, revela que os dois temas mais procurados em suas palestras são referentes à ética, no âmbito privado e na política. “As pessoas têm a necessidade de estar sempre de prontidão para uma formação e, especialmente, descobrir como lidar com cenários turbulentos”, diz ele. Um de seus recordes de audiência em público ocorreu neste ano, em Belo Horizonte, em Minas Gerais, quando uma palestra sobre felicidade reuniu cinco mil pessoas em um espaço para 1,5 mil participantes. 
Com esse talento único, Cortella, Clóvis e Karnal estão reinventando a filosofia e levando uma legião de brasileiros a outro patamar de conhecimento.
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Como será o robô que vai pegar o seu emprego

'Três, dois, um... estejamos preparados ou não, achemos bom ou ruim, já estamos navegando na Era da Inteligência Artificial

RICARDO NEVES É empreendedor, consultor, autor de seis livros sobre estratégia, usados em workshops e atividades in-company. Entre eles, destaca-se Tempo de pensar fora da caixa. Adora conversar sobre inovação e mudança.

30/09/2016 - 20h12 - Atualizado 30/09/2016 20h12

Doravante, a regra é: todo trabalho humano que puder ser descrito por um algoritmo e traduzido em linhas de código de programação será em algum momento executado por uma máquina. Muitas delas serão aparentemente pensantes e ainda por cima terão a capacidade de interagir com humanos de forma bastante “natural”, digamos assim. Descrente? Quer uma pequena amostra de como esse futuro já chegou e cabe até na palma de sua mão? Faça um teste!
Abra no seu smartphone a tela do Google. Aperte o ícone do microfoninho que aparece na barra em que você digita texto. Agora diga naturalmente ou até mesmo imitando um sotaque regional qualquer a expressão “Ricardo Neves colunista de ÉPOCA”. Voilá! O sistema de busca ativado pela voz vai trazer você aqui para a página de minhas colunas.
Isso é só uma pequena amostra de que os elementos estão praticamente todos aí disponíveis. A tecnologia está madura. Agora depende da humanidade, isso é de cada um de nós, brincar com ela, assim como as crianças brincam com Lego.
É assim que nos próximos anos indústrias inteiras terão os empregos implodidos, principalmente aqueles rotulados como “mão de obra”. Nessa primeira onda de implosão temos call centers, que hoje no Brasil ocupam mais de 400 mil pessoas oferecendo postos de atendentes que não encantam ninguém, nem o cliente nem o empregado.
Da mesma forma, minguam todos os segmentos de ocupações que de alguma forma são condutores de transporte de passageiros ou carga. É dessa forma que virarão história, nos próximos 20 anos, caminhoneiros, motoristas de ônibus, metrôs, trens e mesmo pilotos de avião. Essas categorias vão desaparecer aos poucos, da mesma forma que caixas de banco, substituídos por caixas eletrônicos e internet banking. Talvez cheguem a se extinguir, como datilógrafos, apagadores de lampiões, ferreiros, cocheiros e condutores de diligências e carroças.
Adeus, caixas de supermercados. O checkout de mercadorias nos EUA e em vários estabelecimentos na Europa já é feito na base do autosserviço devidamente supervisionado por circuito de vigilância por TV. Mais rápido e eficiente.
Adeus, burocratas funcionários de atendimento ao público que tediosamente inspecionam documentos só para carimbar e dar instruções. Máquinas que escaneiam, conectadas a bancos de dados e com sistema de voz, podem muito bem substituir burocratas sem nenhum prejuízo para o cidadão.
Empregos industriais, sobretudo aqueles denominados tipicamente como “chão de fábrica", repetitivos, mecânicos, estafantes? Aqui temos um potencial de mais de 90% de substituição por máquinas-ferramentas – robôs! – que trabalham no escuro, 24 horas, sete dias por semana. Eles não fazem greve nem operação tartaruga, não adoecem e em geral se contentam com manutenção preventiva ou upgrade.
Pelo mesmo caminho vai a construção civil, que assistirá a uma onda sem precedentes de robotização. Centenas de operários podem ser substituídos com muito mais vantagem pelo trabalhador que pilota por um joystick. O canteiro de obras tipo formigueiro humano vai seguir caminho similar aos terminais de carga e descarga marítimos, nos quais foi virtualmente extinta a ocupação de estivador, com o advento do contêiner.
A década de 2020 será inexoravelmente por um lado a década da androidização do trabalho e por outro o da marginalização dos seres humanos que se recusarem a se preparar para enfrentar proativamente a megatendência da Inteligência Artificial.
Existe o outro lado da moeda para quem quiser ver. O trabalho humano será principalmente aquilo que algoritmos, programas, robôs e androides ainda não fazem: a capacidade de inventar e de inovar. 

Num mundo onde as máquinas são a mão de obra, cabe aos humanos resolver questões e problemas e, mais do que qualquer outra coisa, Pensar e Criar.
Henry Ford profeticamente já prenunciava no início do século passado que “o mais duro dos trabalhos é pensar", que talvez por isso tão pouca gente se dedicasse a ele. 

Por causa disso, de agora em diante nossas escolas de adultos e adolescentes vão ter de ser reinventadas. Vão ter que deixar de ser as fábricas de zumbis procuradores de emprego.
Ainda bem que já existe um modelo bem-sucedido para nos inspirar. Isso mesmo. A pré-escola e a creche – claro que não todas e especialmente aquelas públicas – já experimentaram com sucesso desde meados do século passado fórmulas, metodologias, ferramentas e brincadeiras com o fim de acelerar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos pequenos seres humanos.
A educação de adolescentes e adultos terá de ser reinventada, inspirada pela visão generosa e otimista de um dos maiores pedagogos da história, Jean Piaget, que entendia que “nasceu gente, é inteligente”. Para ele, o principal objetivo da educação é "criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.” Prepare-se para usar os robôs, em vez de ser substituído por eles.

Reforma na educação não valoriza professor

30/09/2016 ­ 05:00 

Por Monica Gugliano 

No dia 22, o presidente Michel Temer (PMDB) enviou ao Congresso Nacional uma Medida Provisória sobre a reforma do ensino médio. A MP prevê a flexibilização do currículo e uma especialização dos alunos: metade das aulas serão comuns a todos os estudantes, e as demais, escolhidas entre disciplinas organizadas por áreas de interesse do aluno ­ linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino técnico. 

Havia ainda uma polêmica proposta de acabar com a exigência de aulas de artes e educação física no ensino médio, mas a ideia não prosperou. Essa regra passará a valer a partir do segundo ano letivo depois da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 


Desde então, a mudança que, segundo o governo, ajudaria a combater a evasão escolar e aumentaria o interesse pelos estudos, vem gerando acirradas discussões. Embora seja consensual a ideia de que o número de disciplinas e o conteúdo inserido nelas é inviável, especialistas contrários às propostas observam que não está claro como o novo modelo funcionará. 


Para Marieta Ferreira, doutora em história, diretora da Editora FGV e coordenadora do projeto FGV­Ensino Médio, alerta: também é preciso valorizar o professor. "Enquanto isso não acontecer, o Brasil não dará o salto de qualidade que a educação necessita", diz. "Deixar o aluno escolher as disciplinas, como está proposto, não vai impedir que ele abandone a escola ou fará com que o estudo seja mais atrativo.


" Lei, a seguir, trechos da entrevista: 


Valor: A senhora aprova a proposta do governo para reforma do ensino médio? 


Marieta Ferreira: Há bastante tempo é clara a necessidade de o ensino médio passar por modificações. Isso não surgiu com a Medida Provisória. Há um consenso de que se trabalha com um volume muito grande de disciplinas e de conteúdo e isso já vem sendo discutido na Base Nacional Comum Curricular que está em construção. Sou a favor da proposta de pensar em um projeto que torne mais acessível o ensino médio. O grande problema é que não está claro como isso será feito, o que seria ensinado, quais disciplinas serão oferecidas, como será essa flexibilização. 


Valor: A flexibilização do currículo, como está proposta, é factível? 


Marieta: É problemático abrir a escolha plena dos créditos, como se faz na universidade. Há muitos riscos na gestão desse modelo. Em boas escolas privadas e públicas, que funcionam muito bem, talvez seja possível implementar o modelo. Mas como isso será feito em escolas isoladas, no meio rural, por exemplo, sem infraestrutura alguma? De que forma essas escolas vão conciliar seus recursos com os interesses e as necessidades individuais dos alunos? Como essa escola vai atendê ­los e gerir isso? E nossos professores como vão trabalhar desse modo? Quais trilhas e roteiros seguirão? É preciso entender que não se trata apenas de uma escolha, mas da maneira como essa escolha será conduzida. 


Valor: A senhora acha que os professores estão preparados para a mudança tal qual ela está na MP? 


Marieta: Essa reforma do ensino médio, como outros projetos que a antecederam, esquece daquele que é o ponto crucial na educação brasileira: o professor. O governo mais uma vez deixa de lado o maior problema da educação, que é a mudança no papel e na valorização do professor. Enquanto isso não acontecer, o Brasil não dará o salto de qualidade que a educação necessita. Deixar o aluno escolher as disciplinas, como se propõe, não vai impedir que ele abandone a escola ou fazer com que o estudo seja mais atrativo. Como diria Antônio Nóvoa [reitor honorário da Universidade de Lisboa e candidato independente à Presidência em Portugal nas eleições deste ano], nada substituiu um bom professor. 


Valor: Porque os professores, em sua maioria, não são valorizados? 


Marieta: Esse cenário começa ainda na formação dos professores. A licenciatura é uma opção secundária mesmo quando é a primeira opção. O aluno que entra em um curso de licenciatura não pensa em ser professor. Ele se forma para fazer depois um mestrado, uma pós ­graduação. Muitos se formam para ter um título superior e prestar um concurso. A carreira de professor, apesar de tudo que se fala, não recompensa financeiramente quase ninguém. A formação continuada para os professores é ineficiente. Os professores sequer sabem como utilizar recursos de novas tecnologias em salas de aula. Desconhecem como transformar esses recursos em instrumentos atrativos que estimulem os alunos. 


Valor: E o que é preciso fazer? 


Marieta: Sabemos, por exemplo, que nossos alunos saem das escolas sem conseguir interpretar, sem entender o que leem. Não sabem pesquisar, distinguir entre todo o conteúdo que lhes é oferecido pela internet aquilo que vale ou não. Pode­se até ter muita informação. Acontece que informação não é conhecimento. É preciso que nossos alunos saibam transformar informação em conhecimento. Conheço muitos professores que, por semana, trabalham com 500 alunos. Como pode esse professor ler, corrigir esses textos regularmente, ajudar seus alunos a se transformarem? Precisamos refletir sobre qual a inserção e a compreensão do mundo que damos a esses alunos. E não é a eliminação de disciplinas que dará esse melhor entendimento. 


Valor: Muitos dos críticos das propostas assinalam que o governo não discutiu as ideias e editou uma Medida Provisória. Essa crítica está correta? 


Marieta: Há dois pontos: o conteúdo da MP, talvez de outra forma, vem sendo discutido há anos com especialistas e outros atores envolvidos no processo educacional e está em linha com os debates que levaram ao Plano Nacional de Educação e à Base Nacional Comum Curricular, em construção. Não há dúvida de que mudanças são necessárias. É consenso que é impossível seguir com o atual número de disciplinas e todo o conteúdo inserido nelas. Quanto a isso, não discordo.

Menos armas, mais educação

30/09/2016 ­ 05:00
A educação dos jovens em todo o mundo oferece o caminho mais seguro, ­ na verdade, o único ­ para um desenvolvimento mundial sustentável. 

Por Jeffrey Sachs

Os EUA precisam transferir seus gastos militares para a educação, de mudanças de regime apoiadas pela CIA para um novo Fundo Mundial para a Educação (FME). Há centenas de milhões de crianças em todo o mundo fora da escola ou em escolas com professores de baixa qualificação, escassez de computadores, salas de aula com número excessivo de alunos e sem eletricidade ­ e por isso muitas regiões do mundo caminham para uma situação de enorme instabilidade, desemprego e pobreza. 

O século XXI pertencerá aos países que educam adequadamente seus jovens para uma participação produtiva na economia mundial. O atual desequilíbrio americano entre gastos com a educação mundial e programas e investimentos militares é impressionante: US$ 1 bilhão por ano para educação e cerca de US$ 900 bilhões para defesa. Programas relacionados a fins militares incluem o Pentágono (cerca de US$ 600 bilhões), a CIA e agências similares (cerca de US$ 60 bilhões), Segurança Interna (cerca de US$ 50 bilhões), sistemas de armas nucleares não controlados pelo Pentágono (US$ 30 bilhões) e programas para veteranos de guerras (US$ 160 bilhões). 

Como que é que políticos e formuladores de políticas podem, em sã consciência, acreditar que a segurança nacional americana será melhor garantida por uma relação de 900 para 1 entre gastos militares e investimentos em educação mundial? 

Claro, os EUA não estão sozinhos nisso. A Arábia Saudita, o Irã e Israel desperdiçam, todos, enormes somas numa aceleração da corrida armamentista no Oriente Médio, onde os EUA são o principal financiador e fornecedor de armas. Estamos, ao que parece, cortejando uma nova corrida armamentista entre as grandes potências, num momento em necessitamos efetivamente uma corrida pacífica focada em educação e desenvolvimento sustentável. 

Desde 2000, os EUA e outros países desperdiçaram trilhões de dólares em guerras e armamentos. Chegou o momento de uma nova abordagem para elevar os investimentos em educação e ao mesmo tempo reduzir os gastos com guerras, golpes de Estado e armamentos. 

Vários relatórios internacionais recentes, entre eles dois publicados neste mês ­ pela Unesco e pela Comissão Internacional para Financiamento Mundial da Educação, presidida pelo ex­ primeiro ­ministro Gordon Brown ­, mostram que a ajuda anual ao desenvolvimento mundial para educação primária e secundária deve aumentar de cerca de US$ 4 bilhões para cerca de US$ 40 bilhões. 

Somente este aumento de dez vezes poderá permitir aos países pobres implementar uma educação primária e secundária universal (tal como definido pela Quarta Meta das das Metas de Desenvolvimento Sustentável).

Diante disso, os EUA e outros países ricos deveriam agir, neste ano, criando o FME, provendo os recursos necessários mediante uma transferência dos atuais orçamentos militares. Se Hillary Clinton, provável próxima presidente dos EUA, acredita verdadeiramente em paz e desenvolvimento sustentável, ela precisa anunciar sua intenção de apoiar a criação da FME, assim como o presidente George W Bush foi, em 2001, o primeiro chefe de Estado que aprovou o então recém­proposto Fundo Mundial de Combate à AIDS, à tuberculose e à malária. Hillary deveria exortar a China e outros países a aderirem a esse esforço multilateral. 

A alternativa ­ continuar gastando enormes somas com defesa, em vez de educação mundial ­ seria condenar os EUA ao status de Estado imperial em declínio, tragicamente viciado em centenas de bases militares no exterior, dezenas de bilhões de dólares em vendas anuais de armas e guerras perpétuas. 

O desafio orçamentário básico é o seguinte: num país pobre, para educar uma criança são necessários pelo menos US$ 250 por ano, mas os países de baixa renda podem arcar, em média, com apenas cerca de US$ 90 por criança por ano. Há um déficit de US$ 160 por criança, para cerca de 240 milhões de crianças em idade escolar, ou cerca de US$ 40 bilhões por ano. 

As consequências do déficit de recursos para a educação são trágicas. As crianças deixam a escola prematuramente, muitas vezes sem serem capazes de ler ou escrever em um nível básico. 

Essas crianças muitas vezes passam a fazer parte de gangues, de grupos de traficantes de drogas e até mesmo jihadistas. Meninas casam se e começam a ter filhos ainda muito jovens. As taxas de fertilidade permanecem elevadas e os filhos dessas mães (e pais) pobres e pouco instruídos têm poucas perspectivas realistas de escapar da pobreza. 

Os custos da não criação de bons empregos baseados em boa escolaridade são instabilidade política, migração em massa para os EUA e para a Europa, e violência relacionada com a pobreza, drogas, tráfico de seres humanos e conflitos étnicos. Logo, chegam os drones americanos para agravar a instabilidade subjacente. 

Em suma, precisamos mudar o foco ­ da CIA para o FME, dos caros fracassos americanos em tentativas de mudança de regime (como as focadas contra os taleban no Afeganistão, contra Saddam Hussein no Iraque, Muamar Kadafi na Líbia e Bashar al­ Assad na Síria) para investimentos em saúde, educação e empregos decentes. 

Alguns dos que criticam a ajuda argumentam que os recursos para a educação serão simplesmente desperdiçados. No entanto, os críticos disseram exatamente o mesmo sobre o controle de doenças em 2000, quando eu propus uma ampliação do financiamento à saúde pública. 

Dezesseis anos depois, os resultados estão aqui: a incidência de doenças caiu acentuadamente e o Fundo Mundial provou ser um grande sucesso (os doadores, hoje, também concordam, e recentemente renovaram suas contribuições). 

Como primeiro passo para estabelecer uma contrapartida exitosa no campo educacional, os EUA e outros países deveriam reunir sua ajuda num novo fundo unificado. O fundo, então, convidaria os países de baixa renda a apresentar propostas para candidatarem­se a receber ajuda. 

Uma comissão técnica ­ e não política ­ avaliaria as propostas e recomendaria os candidatos a serem financiados. As propostas aprovadas receberiam, então, ajuda, com monitoração e avaliação de implementação a cargo do FME, permitindo que os governos com bom desempenho estabeleçam históricos e reputações de gestores responsáveis. 

Desde 2000, os EUA e outros países desperdiçaram trilhões de dólares em guerras e armamentos. Chegou o momento de implementar uma nova abordagem sensata, humana e profissional para incrementar os investimentos em educação e, simultaneamente, reduzir os gastos com guerras, golpes de Estado e armamentos. 

A educação dos jovens em todo o mundo oferece o caminho mais seguro ­ na verdade, o único ­ para um desenvolvimento mundial sustentável. 

(Tradução de Sergio Blum) 

Jeffrey D. Sachs é diretor do Instituto Terra, na Universidade Colúmbia, e diretor da Rede de Soluções para Desenvolvimento Sustentável da ONU. 

opyright: Project Syndicate, 2016. www.project­syndicate.org

Comentário do Comentário.


Ter dois diplomas não é o mesmo que diploma duplo (Diploma duplo: Um curso, duas universidades-Neste tipo de programa, o aluno faz parte de seu curso em uma universidade estrangeira afiliada à brasileira. Depois, volta para concluir os estudos na instituição de origem)

Ter dois diplomas não é o mesmo que uma Pós Graduação (O objetivo dos cursos de pós-graduação é formar profissionais mais especializados em determinadas áreas de atuação, tanto a nível acadêmico, como profissional.)

Ter dois diplomas de Cursos Ruins, de Instituições Ruins, não é o mesmo que Ter Um diploma de um bom curso, de uma boa Instituição. Tem muita propaganda "Faça uma graduação e ganhe outra de graça ou com desconto de 50%" nem preciso dizer que são de Universidades Particulares....

Ter Um... dois ... três diplomas não diz nada para o mercado , diploma deixou de ser diferencial há muito tempo.  





SEXTA, 30/09/2016, 07:50

'Concluí duas faculdades e não consigo um emprego que condiz com meu currículo'

Se você demonstrar o seu descontentamento com serviço que tem, pode ficar sem ele. Procure ser uma vendedora exemplar e um dos seus clientes pode te servir de referência para conseguir um emprego condizente com suas aspirações.


Segunda sugestão seria você fazer uma autoavaliação, quais são suas reais competências? Tenha em mente que o diploma não é uma competência, é um atestado de capacitação teórica que precisará será comprovada com execução prática. Escute seus amigos sobre suas habilidades. Aos descobrir seus reais pontos fortes, aprimore-os.

Aluna de medicina cria projeto para aproximar alunos da pesquisa

Kawoana na Intel ISEF 2011 (Feira Internacional de Ciência e Engenharia)
Kawoana na Intel ISEF 2011 (Feira Internacional de Ciência e Engenharia)

Desde o ensino médio, o universo científico atrai Kawoana Vianna, 24, estudante de medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A paixão foi tão grande na adolescência que a jovem, premiada em eventos nacionais e internacionais, desenvolveu um projeto para estimular estudantes do ensino médio a se aproximarem da ciência.
"Ouvimos muito falar em pesquisa na universidade e não muito no ensino médio ou técnico. Fiz curso técnico em química [na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha] e lá pude aprender muito sobre pesquisa científica. Por isso, criei o Cientista Beta", explica Kawoana.
"Quero levar a experiência que tive para os estudantes mais jovens, mostrar que eles são capazes e dar uma base para que eles realizem suas pesquisas", acrescenta a jovem, que ganhou o 4º lugar na feira internacional Intel ISEF 2011 (Feira Internacional de Ciência e Engenharia, em tradução livre), na categoria medicina e ciências da saúde.
Seu projeto na época foi a criação de uma meia que evita a proliferação de bactérias e fungos e melhora a cicatrização de lesões e amputações em pacientes diabéticos.
"Mais do que falar, queremos que os jovens façam mesmo ciência, coloquem na prática. Minha trajetória foi modificada pela pesquisa, abriu portas. Ao fazer projeto científico, o estudante desenvolve um papel maior na sociedade, cria soluções, é estimulado a resolver um problema de forma protagonista", ressalta a universitária, que recebeu apoio da Fundação Estudar, instituição que concede bolsas de estudos e orientação de carreira para jovens estudantes de destaque nacional.

Guia para os alunos

Em outubro, o Cientista Beta completa um ano e todo o trabalho acontece de forma voluntária. Ao todo, 25 projetos têm recebido ajuda dos chamados mentores, universitários, mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos que se colocaram à disposição para ajudar os jovens pesquisadores.
Arquivo pessoal
João e Letícia têm ajuda dos mentores
"Os mentores aconselham, ajudam na parte burocrática das pesquisas, incentivam. Eles são como guias para os estudantes do ensino médio [ou técnico]", afirma Kawoana. 
Segundo ela, 45 alunos recebem atualmente a monitoria. Entre os projetos, estão os dos alunos Luiz Serravalle e Dani Pereira (Fortaleza – CE). Eles criaram um dispositivo eletrônico que ajuda as pessoas a economizarem água por meio de um aplicativo.
Outra pesquisa, feita por Letícia Pereira de Souza e João Gabriel Antunes, envolve um método de purificação da água com o uso da semente de uma planta, chamada moringa. A ideia surgiu após o desastre ambiental de Mariana e o projeto foi reconhecido com o 1º lugar em Impacto na Comunidade no Google Science Fair.

Como a pesquisa pode fazer a diferença?

Para comemorar o primeiro aniversário e aproximar os pesquisadores espalhados pelo Brasil, os voluntários do projeto estão organizando um encontro nacional para reunir estudantes, cientistas, parceiros e empreendedores.
"Os jovens podem chegar, contar seus projetos, compartilhar desafios. O foco será mesmo discutir como a pesquisa pode fazer diferença na sociedade", conta Kawoana.
O evento é gratuito e está previsto para acontecer nos dias 19 e 20 de novembro, em São Paulo. Alunos do ensino médio/técnico que não fazem parte do programa de mentoria também podem participar.
Apesar de não custar nada, os organizadores pedem doações – por meio de uma vaquinha virtual – para ajudar os participantes que não podem arcar com os custos das passagens e da estadia.
"Sabemos que muitos deles não têm dinheiro para essas viagens. Alguns não têm nem para as próprias pesquisas. Mas seria importante se eles pudessem participar do nosso encontro", explica a jovem.
"Muitos estudantes pelo Brasil têm um potencial enorme e não sabem disso. Nós queremos ajudá-los a descobrirem que são capazes", conclui.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Apesar de uso de internet em sala de aula, maioria dos professores não tem treinamento

A formação pedagógica insuficiente e a falta de infraestrutura ainda são barreiras encontradas para o uso da tecnologia em sala de aula. É o que revela uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, divulgada em São Paulo.

Apesar de 70% dos professores da rede pública de ensino usarem a internet para atividades pedagógicas em sala de aula, menos da metade das escolas públicas brasileiras tem pontos de acesso à rede em bibliotecas ou salas de estudo.
Somente 43% delas têm equipamentos com acesso a internet para os alunos do ensino médio e fundamental. Na rede particular esse percentual salta para 60%. O resultado está em uma pesquisa divulgada hoje em São Paulo pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. O estudo levantou de que maneira a tecnologia é usada nas salas de aula e ouviu instituições de todo o país.
O estudo ainda mostrou que, tanto na rede pública como particular, os pontos de acesso à internet estão concentrados nas áreas administrativas, como salas de diretores ou coordenadores pegadagógicos. Para o gerente do comitê, Alexandre Barbosa, a pesquisa evidenciou que, mesmo nas escolas onde há acesso em sala de aula, a velocidade da banda é tão baixa que impede a realização de atividades.
Quando há rede wi-fi na sala de aula das escolas públicas, somente 6% dos alunos têm acesso a senha. No caso dos professores, 46% deles disseram que levam os próprios computadores para dar aulas. O estudo ainda mostra que os docentes, tanto da rede pública, como privada, não estão preparados para aliar tecnologia e conteúdo no ensino. Metade deles admitiu que não teve esse treinamento na faculdade.
O poder público e as próprias escolas são os menores incentivadores da atualização dos docentes. Só 21% disseram ter alguma motivação dentro da instituição onde trabalham. A maioria busca cursos por conta própria.

Especial - guia das profissões

Futuro depende de profissionais inovadores o bastante para reinventar até a roda


Nada será como antes no mundo das carreiras. Até 2020, 35% das habilidades mais procuradas hoje na maioria das ocupações vão mudar completamente por conta de avanços tecnológicos e fatores socioeconômicos, segundo o relatório "O Futuro do Trabalho", do Fórum Econômico Mundial.
Entre as capacidades profissionais que serão mais buscadas nos próximos anos estão a inteligência emocional, o pensamento crítico, a empatia e a criatividade, é claro.
A economia criativa -entendida como mix de cultura, artes, economia e tecnologia ou, ainda, como o conjunto de atividades capazes de gerar mais valor agregado a um produto ou serviço- está em expansão rápida.
"Profissionais criativos geram produtos e serviços que fazem sentido para o consumidor, desde exposição em museu a carro com excelente design", ilustra Gabriel Pinto, gerente do programa Indústria Criativa da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
No mundo, o comércio de bens e serviços criativos somou US$ 547 bilhões em 2012, sendo que em 2003 foram US$ 302 bilhões, mostra estudo da ONU sobre o tema.
No Brasil, a área movimenta R$ 126 bilhões, ou 2,6% de tudo o que o país produziu em 2013, de acordo com os dados mais recentes da Firjan. Em 2013, eram quase 900 mil profissionais empregados na área, metade concentrados em São Paulo e no Rio.
"Todo setor precisa ter criatividade e inovação como parte do DNA ou não sobreviverá", diz a economista Lídia Goldenstein, para quem as ocupações criativas são as únicas que resistirão. "Estudos mostram que de 30% a 40% dos empregos vão desaparecer e serão substituídos pelo computador."
COMUNIDADE
Num olhar mais distante, o futurologista Daniel Egger prevê um cenário em que a carreira não terá um papel tão central na vida. "Poderemos morar em comunidades, nos educando em culturas diferentes, imprimindo comida, livros e objetos e mantendo-nos conectados ao mundo."
Egger diz que é preciso falar de "quais habilidades de futuro serão necessárias para você ser competitivo ou para realizar o propósito de viver -em vez de sobreviver."
Uma habilidade de futuro é a capacidade de inventar nichos de atuação e reinventar os existentes -já bastante praticada no presente, como mostram alguns exemplos de carreiras e de profissionais comprometidos com inovação nas fotos acima.

Especial - guia das profissões

Profissão que não requer criatividade sofrerá mudanças dramáticas, diz pesquisador

Toda atividade que não envolve a resolução de problemas complexos e não depende de imaginação e criatividade será "dramaticamente" modificada, a ponto de os empregos desaparecerem. A previsão é do pesquisador Silvio Romero de Lemos Meira, referência no país em tecnologia e inovação.
Nesta entrevista à Folha, ele fala do futuro das profissões e dos avanços tecnológicos que estão transformando o universo do trabalho.
Folha - Quais profissões serão modificadas pela tecnologia?
Silvio Meira - Tudo que não envolver resolução de problemas complexos que precisem de imaginação, criatividade, do uso de matemática e de ciência, tudo que não precise de auto-interação humana e do entendimento de contexto será dramaticamente modificado por software e digitalização em geral, a ponto de os empregos desaparecerem.
Condução de veículos, por exemplo. Isso, que já foi altamente especializado, está sendo digitalizado numa velocidade grande. Provavelmente, em porcentagem global, virá a informatização da profissão de piloto de avião antes mesmo da do automóvel, porque é mais fácil.
E quais são as atividades mais ameaçadas de extinção?
As que podem ser informatizadas mais rapidamente. Boa parte do trabalho de advogados é pesquisar a jurisprudência e, a partir daí, preparar a síntese dos argumentos que serão usados para defender ou atacar. Já há softwares que fazem isso. É melhor do que pôr um time de advogados para fazer. Não é trabalho de alta complexidade cerebral, mas de busca, organização, correlacionamento. Não precisa ser ministro do STF para fazer.
Há profissões relevantes agora e que vão sumir. Se informatizarmos as ruas, não haverá placas, faróis. O carro não vai estacionar onde não pode, a rua o informará disso. O guarda de trânsito já era.
Imagine informatizar todo o dinheiro. Não há mais dinheiro físico circulando. Se é virtual, as transações ficam registradas. Minha contabilidade é sistêmica. Não tenho mais contador. Desaparece.
Hoje, qual área está mais avançada tecnologicamente?
A de software. As coisas que fazemos seriam inimagináveis há 15 anos. Por exemplo edição de DNA, faceta de engenharia de software aplicada a sistemas biológicos.
A área de inteligência artificial também. O software deve continuar definindo, no médio e no longo prazo, o que a humanidade faz de mais avançado. Se não tem software não faz sentido olhar como coisa avançada.
Que atividades serão imunes?
Segundo estudo da universidade de Oxford, a única profissão sem chance de ser informatizada nos próximos 25 anos é a de dentista. A resposta é sociotécnica: você teria coragem de abrir sua boca para um robô? Precisamos de um grau de confiança em quem vai fazer essa atividade.
Quais as profissões do futuro?
A profissão do futuro é escrever software. Veja a figura do professor criativo, que cria o material, o método. O que repete o material na sala de aula não está no futuro. O que cria, está. Simples assim.
A robotização vai gerar demissões. Há formas de evitar isso?
O que deve ser feito, não por governos, mas por cada um, é entender que a carreira é um longo processo de construção de conhecimento. Se você não estiver aprendendo como sua profissão vai mudar e ser substituída por novos exercícios, fatalmente vai bater no teto da carreira e não terá como ir para outro lugar.
Deve-se permitir em sala de aula o uso de dispositivos?
O problema nunca é a tecnologia, mas as práticas associadas a ela, que podem ou ser um vetor de destruição de tempo, de atenção, ou de engajamento e produtividade. Você está num sushibar e o sushiman faz sashimi na sua frente. Esse uso da faca é fantástico e belo. De repente ele pode surtar e degolar você, com a mesma faca. O problema não é a faca, mas o método, o processo, o fim.

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Alta tecnologia e muita curiosidade dão fôlego à saúde


O bom uso da tecnologia e da criatividade se traduz em diagnóstico e tratamento mais precisos e eficientes nos serviços de saúde. Para isso, é necessário unir boa formação, pesquisa e recursos de ponta, interativos e digitais.
"O profissional deve estar atento a esse universo, saber explorá-lo e entender como pode garantir ao paciente maior acesso à saúde de qualidade", diz José Otávio Costa Auler Jr., diretor da faculdade de medicina da USP.
Os aparelhos são sofisticados, como as impressoras 3D que criam próteses perfeitas e réplicas de órgãos e fetos, além de robôs que simulam reações, como dor e febre.
Óculos de realidade virtual transportam especialistas e pacientes para dentro do corpo humano e ajudam em exames e outros procedimentos. Aplicativos e jogos são tendência para a promover boas práticas médicas e engajar o paciente no tratamento.
INTERPRETAÇÃO
"É preciso se envolver com pesquisa, ir a congressos e ter muita curiosidade para compreender a fundo essas tecnologias", diz Jorge Lopes, coordenador do laboratório Next, da PUC-Rio, que desenvolve equipamentos e serviços médicos de ponta.
O desafio é interpretar a relevância de informações e equipamentos e traduzi-la em custo-benefício para a empresa de saúde e seus pacientes, na visão do radiologista Marcelo Félix, 45.
Consultor em novas tecnologias do Hospital Israelita Albert Einstein, Félix considera fundamental o estreitamento entre saúde e tecnologia. "A interface entre os dois mundos aumenta o valor médico dos produtos de inovação e possibilita o desenho de algoritmos para a melhoria da prática médica."
Além da medicina, o radiologista estudou física e processamento de dados. A formação híbrida em saúde e tecnologia, tendência fora do Brasil, começa a aparecer por aqui. "O especialista que fala as duas línguas encontra um terreno muito fértil para crescer, porque um técnico não sabe avaliar a importância médica de um produto inovador", diz.
O neurologista Enrico Ghizoni, professor da Unicamp, também vê a área de saúde cada vez mais multidisciplinar. "O profissional tem de estar preparado para lidar com outros setores e saber se comunicar com especialistas de diversas formações."
Ghizoni fez parte da equipe responsável pela primeira reconstrução de crânio feita no Brasil com peça de titânio impressa em 3D. A cirurgia ocorreu depois de seis anos de pesquisa de médicos, físicos e engenheiros.
O profissional pode complementar uma boa graduação em saúde com cursos de extensão ou especialização em exatas, como matemática e tecnologia de informação.
"Ainda na universidade, dá para visitar a física ou a engenharia e conversar com colegas em busca de boas soluções para a saúde", indica Ghizoni.
SAÚDE
ONDE ESTUDAR
Centro Universitário São Camilo, Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, PUC-PR, UnB, Unifesp, Universidade de Mogi das Cruzes
DURAÇÃO
De 1 a 2 anos
O QUE FAZ
O profissional de saúde focado em tecnologia analisa e interpreta dados para embasar decisões e procedimentos médicos, como a realização de alguns exames e condutas de tratamento. Também avalia custo-benefício de equipamentos e serviços que podem fazer parte do hospital
ou da clínica onde atua
SALÁRIO INICIAL
R$ 2.700 (enfermeiro responsável técnico) a R$ 12.000 (médico)
PERFIL DESEJADO PELAS EMPRESAS
Compreensão de dados da área e dos equipamentos disponíveis
ONDE HÁ VAGAS
Hospitais, grandes clínicas e indústria de equipamentos para saúde
VISÃO DE QUEM FAZ
"Sem profissionais de saúde com visão de tecnologia, as empresas ficam estagnadas. A medicina está sendo potencializada pelos algoritmos e pela inteligência artificial, que dão suporte para decisões sobre diagnóstico e tratamento, especialmente em casos complexos. Temos muita oferta de produtos e precisamos saber onde realmente há valor", Marcelo Félix, 45, consultor em novas tecnologias para o Hospital Israelita Albert Einstein

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Indústria criativa associa tecnologia, sonhos e visão


A economia criativa cresce e salva. Oficialmente, as áreas que a integram são publicidade, arquitetura, design, moda, expressões culturais, patrimônio, música, artes cênicas, editorial, audiovisual, pesquisa, biotecnologia e tecnologia da informação.
Mas a tendência é libertá-la de áreas, ampliando o conceito, como faz João Figueiredo, coordenador de economia criativa da ESPM-Rio: "É um conjunto de atividades produtivas centrais no capitalismo do século 21, capazes de gerar mais valor agregado a um produto ou serviço".
Um exemplo é a start-up Quinto Andar: começou em 2013, com dois funcionários, e chega aos 200 graças à combinação "clássica" da indústria criativa: tecnologia, criatividade e visão de negócios.
A start-up conecta proprietários e inquilinos para facilitar a locação de imóveis. Também paga o seguro-fiança. "Temos menos custos que uma imobiliária tradicional. A estrutura permite investir no que tem mais valor ao cliente", diz Gabriel Braga, 34, formado em administração.
Braga e seu sócio tiveram a ideia durante um MBA nos EUA. Ele diz que criatividade ajuda a achar soluções, mas que só planejamento faz um projeto dar certo. Por isso, é bom aliar especialização em gestão à graduação eleita.
"Faltam profissionais que transitam bem entre o mundo criativo e o de negócios", observa Gabriel Pinto.
Criatividade não pode faltar ao administrador, para dominar ferramentas novas, entender de digitalização, aplicativos "e de como isso se aplica ao marketing e às finanças", diz Renato Ferreira, coordenador do centro de carreiras da FGV.
"O administrador precisa ser criativo num sentido amplo, que se traduz na capacidade de fazer novas leituras", diz Carolina da Costa, diretora da graduação do Insper.
A colaboração se torna essencial. Os criadores da Quinto Andar sabem: quem indica um imóvel no aplicativo recebe R$ 25 de prêmio. E, se o imóvel for alugado, leva mais 10% do primeiro aluguel.
ECONOMIA CRIATIVA
ONDE ESTUDAR
Centro Universitário Belas Artes, ESPM, FGV
DURAÇÃO DO CURSO
De 3 meses a 2 anos
O QUE FAZ
Gerencia bens e pessoas de uma empresa, define metas e estratégias para obter lucro
SALÁRIO INICIAL
R$ 2.800 a R$ 3.500
PERFIL DESEJADO PELAS EMPRESAS
Conseguir aliar bons projetos às demandas do mercado e saber viabilizá-las
ONDE HÁ VAGAS
Áreas de projetos e de inovação na indústria
VISÃO DE QUEM FAZ
"Não pode ter medo de inovar, ainda que o projeto faça pouco sentido no começo. É preciso enxergar oportunidades nas mudanças de comportamento do consumidor", Gabriel Braga, 34, fundador do site de locação QuintoAndar

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Dados das redes se tornam aliados dos publicitários


Se a publicidade já foi baseada na persuasão, hoje ela deve ser precisa e relevante.
Para entender o que vai motivar uma compra, o publicitário conta com o Big Data, conjunto enorme de dados não estruturados -encontrados em redes sociais, em fotos e vídeos e no comportamento do consumidor até concluir a compra on-line.
"Ao estudar essas informações, você cria arquétipos, entende se o cliente é conservador ou agressivo, por exemplo, e pode fazer uma comunicação personalizada até no tom de voz", diz Rodrigo Turra, diretor da agência de marketing digital iProspect.
A ação publicitária pode vir em aplicativo, site, e-book ou posts de redes sociais.
"Quando sabemos exatamente quem é o cliente e o que ele quer, podemos trazer uma ideia criativa que não é uma peça publicitária. Pode ser evento ou uma boa oferta", diz Paulo Cunha, coordenador do curso de publicidade e propaganda da ESPM.
Esse universo digital molda o novo profissional e amplia as possibilidades de trabalho. A publicitária Fernanda Snel, 26, entrou na faculdade pensando em criação e hoje é coordenadora de SEO, área que envolve otimização de conteúdo digital. "Sempre tive interesse em pesquisa e nos resultados de uma campanha. O trabalho de SEO envolve tudo isso", diz.
Mas compreender a miscelânea de dados e traduzi-la em comunicação é só uma parte da formação de um bom publicitário "As competências básicas não mudaram. É preciso ser muito criativo, ampliar as visões de mundo e conhecer outras culturas", diz Cunha.
PUBLICIDADE E PROPAGANDA
ONDE ESTUDAR
ESPM, PUC-MG, PUC-RS, UFG, UFPE, UFRGS, UnB, Unisinos, USP
DURAÇÃO DO CURSO
4 anos
O QUE FAZ
Pesquisa o público-alvo e define os meios de comunicação adequados para cada campanha
SALÁRIO INICIAL
R$ 1.500
PERFIL DESEJADO PELAS EMPRESAS
Capacidade de filtrar e interpretar informações variadas
ONDE HÁ VAGAS
Empresas especializadas em conteúdo corporativo
VISÃO DE QUEM FAZ
"É preciso ler muito e ter a inquietação de aprender sempre mais", Fernanda Snel, 26, coordenadora de SEO da iProspect