quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Jovem psicóloga larga carreira, faz cursinho e passa em medicina na Famerp

Bruna Souza Cruz
Do UOL, em São Paulo

Estudar "até a bunda ficar quadrada" e mentalizar diariamente o mantra "paciência e determinação" foram duas práticas adotadas por Thaís Albuquerque Pimentel, 30, para conseguir sua aprovação nos vestibulares de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (que usa a prova da Fuvest) e da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), em 2014.
E, para quem pensa que a maior dificuldade foi passar no vestibular, a jovem brinca que os obstáculos apenas "começaram" com a aprovação. Desde o início do curso, no ano passado, Thaís tenta superar a adaptação à nova cidade (ela saiu de São Paulo para estudar na Famerp), a saudade da família e amigos e a rotina puxada de disciplinas. Sem falar no desafio mais recente, conciliar as aulas do curso com o tratamento de um câncer de mama nos próximos seis meses.
Apesar da quimioterapia, a estudante decidiu continuar frequentando a faculdade, sempre que possível. Para ela, algumas aulas têm ajudado como válvulas de escape. "Diria que estou fazendo uma imersão na medicina e no SUS [Sistema Único de Saúde] na prática", brincou em postagem numa rede social.
Thaís cursa o 2º ano de medicina na Famerp
Diante de todas essas "surpresas da vida" é que Thaís reforça que quer incentivar as pessoas a não desistirem dos sonhos, mesmo que a idade seja um fator que pese na decisão. "A doença agora é mais um desafio. Depois que passar essa fase mais difícil eu tenho muita esperança que eu consiga retomar o sonho da medicina e exercitá-la muito bem. Quero cuidar do meu paciente da melhor forma possível", disse.

Psicologia, adeus!

Arquivo pessoal
Aluna em seu aniversário de 30 anos
Um ano de cursinho, muitas horas de estudo e dedicação para passar em medicina. O percurso que Thaís fez até sua aprovação parece se confundir com o de muitos vestibulandos, mas a decisão de tentar medicina foi considerada "radical" por muita gente.
Em meados de 2014, meses depois de se formar em psicologia pela USP (Universidade Federal de São Paulo) -- vestibular que passou em primeiro lugar em 2008, a jovem decidiu se demitir do emprego numa consultoria para se dedicar à preparação para o vestibular.
"Antes de deixar minha carreira de psicóloga, claro que pensei: 'Será que não sou velha?'. Mas vi que ou era tentar ou era viver infeliz para o resto da vida", comentou a estudante, que na época tinha 27 anos.
Ela lembra que algumas pessoas chegaram a criticar e questionar sua escolha, mas sua necessidade de realizar o sonho de infância falou mais alto.
"Ainda é difícil lidar com a questão da idade. Poxa, aos 30 anos eu pensava que estaria bem-sucedida, casada, com filhos. Mas, não. Por um lado, entrei com a cabeça mais madura. Por outro, a questão cronológica influência", desabafa. "Deixar minha família também não foi fácil. Mas eles me apoiaram. Inclusive, meu marido [na época namorado] largou tudo também e se mudou comigo."
Outra forma encontrada para ajudar nas mudanças foi a criação de um perfil numa rede social sobre a rotina de uma estudante de medicina. Na página (com mais de 10 mil seguidores), Thaís publica fotos da "vida no interior", do curso de medicina e mensagens motivacionais – é no mesmo local que muitos "fãs" têm ajudado a estudante a lidar com a doença.

Dicas de uma ex-vestibulanda

Segundo aluna de medicina, algumas práticas adotadas durante o tempo de cursinho foram fundamentais para as aprovações – tanto na USP quanto na Famerp.
Além das muitas horas de estudos diárias, a jovem separava um tempo para fazer os simulados e as provas anteriores dos vestibulares que iria prestar na época. Para se ter uma ideia, durante os estudos em 2014, ela refez as provas da Fuvest dos seis anos anteriores.
A estratégia ajudou a jovem a relembrar o conteúdo da prova e ainda organizar o tempo para responder as questões. "Foi um ano de 'faca na caveira'. Não queria perder mais tempo e dividi bem meus estudos. Li todos os livros da Fuvest no trajeto de casa para o cursinho. Na volta, ia ouvindo podcasts com aulas de história", acrescentou.

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