terça-feira, 27 de setembro de 2016

Brasil despenca para o 81º lugar em ranking de competitividade e perde para Ruanda em competitividade

Trata-se do pior desempenho do país desde 2007, quando a atual metodologia do ranking foi criada
ANA CLARA COSTA
27/09/2016 - 19h05 - Atualizado 27/09/2016 20h33

Brasil perdeu seis posições no ranking de competitividade doFórum Econômico Mundial entre 2015 e 2016, ficando em 81º lugar de um total de 138 países. O Relatório de Competitividade Global, divulgado nesta terça-feira (27), avalia os principais pilares das economias mundiais, como estabilidade macroeconômica, educação e solidez das instituições públicas, e os traduz num índice. Segundo o levantamento, o desempenho do Brasil foi impactado pela recessão econômica, pela deterioração dos pilares da política fiscal e pelo recuo do mercado de capitais. De uma forma geral, a sofisticação do ambiente de negócios no Brasil piorou no último ano, fazendo o país recuar para a 63ª posição, ante a 56ª verificada no mesmo período do ano passado. Os organizadores da pesquisa apontam que este é o pior desempenho do Brasil desde que a atual metodologia do ranking foi criada, em 2007.
ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial (Foto:  )
Ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial 

Na comparação com os outros países emergentes, o desempenho do Brasil também piorou. No caso dos Brics, a China continua encabeçando a lista, em 28º lugar, enquanto a Índia avançou 16 posições, para o 39º lugar, superando Rússia (43º) e África do Sul (47º), que também melhoraram seus indicadores no último ano. A melhor classificação já obtida pelo Brasil no ranking foi em 2012, quando ficou em 48º lugar.
O resultado de 2016 fez o Brasil recuar para um patamar abaixo dos dez países mais competitivos da América Latina. A lista, liderada pelo Chile (33º), mostra ainda Panamá, México, Costa Rica, Colômbia, Peru, Barbados, Uruguai, Jamaica e Guatemala à frente do Brasil.
Os poucos pontos que obtiveram melhora de um ano para o outro foram a independência do Judiciário (aumento de 13 degraus, para o 79º lugar), a confiança nas decisões do governo (o país figura em 121ª posição, ante 135ª em 2016). Também houve avanço no quesito “educação superior”, em que o país saltou 9 degraus, para o 84º lugar.

Veja abaixo a trajetória do Brasil:
EdiçãoPosição no ranking
200666º
200772º
200864º
200956º
201058º
201153º
201248º
201356º
201457º
201575º
201681º

O Fórum Econômico Mundial define competitividade como o conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam o nível de produtividade de um país. O relatório analisa 118 variáveis em 12 pilares, dos quais o Brasil teve piora em seis. Neste ano, o levantamento foi feito com 138 países. 
As pioras mais acentuadas do Brasil foram nos pilares “desenvolvimento do mercado financeiro” —em que o país saiu da 58º posição em 2015 para o 93º lugar em 2016— e “inovação” (de 84º para 100º). 
Já os dois pilares em que o Brasil mais ganhou posições foram “educação superior e treinamento” (de 93º em 2015 para 84º em 2016) e “eficiência do mercado de trabalho” (de 122º para 117º) —ainda assim o país está bem distante das primeiras colocações nesses dois quesitos.
Clima ruim
Assim como em 2015, o que pesou bastante neste ano foi o clima negativo do país, já que grande parte das notas vem de um questionário respondido por empresários entre março e maio e que revelou uma postura bem crítica.
“Esse questionário é responsável por um terço da nota do país no levantamento”, disse Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e coordenador da pesquisa no Brasil. “Quando foi feito o questionamento, os empresários tinham um ponto de vista super negativo por causa da instabilidade política. Isso afetou a nota brasileira.”
Segundo ele, o desempenho do Brasil no ranking deve melhorar nos próximos anos. “As pessoas, hoje, já voltaram a acreditar mais no país, estão mais otimistas com as reformas que têm sido discutidas pelo governo e que devem sair do papel em breve”, afirmou.
Arruda defende que o desenvolvimento da competitividade brasileira só será possível a partir da incorporação de tecnologias, amadurecimento das empresas e empresários, aumento da produtividade e ganhos de comércio internacional, via uma agenda clara e transparente do governo.
Efeito global
No geral, a avaliação do professor é que de a perda de produtividade global é um dos maiores obstáculos para a competitividade e para o desenvolvimento dos países.
Para ele, o resultado do ranking deixa claro o fim do ciclo de produtividade baseado na microeletrônica e na automação, chamando a atenção para o crescimento da digitalização —a denominada Indústria 4.0 ou Smart Industry.
Outro ponto destacado é o menor nível de globalização. “O mundo passa por uma turbulência nacionalista. Há conflitos geopolíticos que desencadearam isso, como a Brexit na Europa e o ganho de espaço de Donald Trump nos EUA, por exemplo. Isso pode gerar um efeito em cadeia negativo, impactando também o Brasil, que teria mais dificuldade para desenvolver sua competitividade em um mundo menos aberto”, disse.

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