21/09/2016 05:00
O rendimento médio real dos trabalhadores mais bem pagos continuou crescendo durante a recessão.
Por Camilla Veras Mota
Levantamento do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) Contínua mostra que a renda daqueles que estão entre os 10% mais bem remunerados no país aumentou 2,4% em
termos reais no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado.
Ao lado dos
trabalhadores que recebem exatamente um salário mínimo, esse foi o único grupo em que o rendimento cresceu nos
últimos 12 meses.
A divisão por decis mostra que as maiores perdas foram registrados entre os mais vulneráveis, que recebem menos que o
mínimo, e entre o penúltimo decil, com rendimento médio de R$ 2 mil. Nos três grupos, a queda média no intervalo de 12
meses foi de 8,8%. Os dados fazem parte da nova edição da Carta de Conjuntura do Ipea.
Diante do desempenho, o Gini da renda daqueles que continuam empregados
caiu de 0,492 no último trimestre de 2014, pouco antes do início da recessão
do mercado de trabalho, para 0,487 no segundo trimestre de 2016.
Para o
coordenador Grupo de Estudos de Conjuntura (Gecon) do Ipea, José Ronaldo
de Souza, a retração, pouco significativa, ainda não indica que tenha havido
aumento da desigualdade entre os ocupados.
Quando se aumenta o escopo,
contudo, a avaliação é diferente.
"Como muita gente perdeu o emprego, é provável que a queda do Gini tenha
sido maior levando em conta a população como um todo", pondera o economista.
O nível maior de qualificação dos trabalhadores com salários mais elevados e seu custo alto de demissão poderiam
explicar o ganho real na renda mesmo diante do cenário adverso, pondera Souza.
Para ele, as perdas nos salários
intermediários é, em parte, reflexo do volume expressivo de demissões na indústria e na construção civil, setores entre os
que mais sentiram a recessão.
A avaliação dos dados da Pnad Contínua mostrou que os grupos tradicionalmente mais suscetíveis ao desemprego foram
aqueles que viram maior deterioração dos indicadores jovens, mulheres, a região Nordeste, trabalhadores com ensino
médio incompleto e de regiões metropolitanas.
Entre o quarto trimestre de 2014, ponto mínimo de desemprego na maioria
dos grupos, e o segundo trimestre de 2016, a taxa avançou expressivos 11,5 pontos percentuais entre aqueles com até 24
anos, de 15,25% para 26,76%, ressalta Souza.
A principal surpresa, ele completa, foi o aumento de 132% do desemprego entre os trabalhadores com mais de 59 anos, de
2,05% para 4,75%.
"Isso mostra que nenhum grupo conseguiu escapar da crise", destacou.
Em apenas oito Estados a taxa de desemprego se encontra ainda abaixo dos 10% nos três do Sul, Rondônia, Roraima,
Piauí, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. As maiores taxas foram observadas no Amapá (15,8%) e na Bahia (15,4%),
seguidos de Pernambuco (13,9%) e Alagoas (13,9%).
Os números já conhecidos deste segundo semestre sinalizam que o fim do ano também será de deterioração dos
indicadores.
Com dados dos acordos e convenções coletivas com início de vigência em agosto, o boletim Salariômetro de
setembro, que será divulgado hoje, mostra que cresceu no período o volume de reajustes com perda real de salários.
O
boletim é uma publicação da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)
Os dados, extraídos do Sistema Mediador do Ministério do Trabalho, mostram que 51,8% das correções negociadas no
país não atingiram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses, proporção que chegou a
36,2% em julho e 22% no mês anterior.
Em agosto, o INPC acelerou de 9,55% e 9,62%.
Apesar da piora, a mediana dos ajuste negociados nos últimos 12 meses empatou com a inflação, assim como em julho.
Em junho, houve ganho real marginal de 0,2%.
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