segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Especialistas veem risco de aumento da desigualdade

 "Os jovens mais pobres tendem a examinar seus colegas; um tentou medicina, outro engenharia, e não passou, por exemplo. Tendem a ajustar projetos em função do que ocorre com seus pares".

26/09/2016 ­ 05:00

Por Ligia Guimarães

A depender da maneira como sairá do papel, a implementação da reforma do ensino médio, anunciada na semana passada pelo governo, poderá elevar ainda mais a desigualdade de oportunidades na educação brasileira, na opinião do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). 

Antônio Augusto Gomes Batista, coordenador da organização que defende que a educação pública seja igual para todos, afirma que a possibilidade de os alunos escolherem áreas de ensino e a oferta reduzida de escolas em tempo integral podem reforçar restrições já presentes na vida dos alunos de baixa renda. 

"Você cria dois tipos de rede: uma de tempo integral e outra parcial. Quem pode ir para a integral são os alunos que não precisam trabalhar enquanto fazem o ensino médio", afirma Batista, com base em estudos que o Cenpec fez das experiências de ensino em tempo integral de São Paulo, Ceará e parte de Pernambuco. 

Segundo ele, isso aumenta a separação: escolas de tempo integral concentram alunos mais ricos, atraem melhores professores e elevam o desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). 

Já os alunos mais pobres vão para as de tempo parcial, onde o Ideb tende a cair. "Os melhores professores e quadros vão ficando para as escolas de tempo integral", diz. Para que os alunos de baixa renda pudessem ter o mesmo acesso a escolas integrais, Batista diz que o caminho seria, por exemplo, criar programas de estágio que garantissem renda e aprendizado aos alunos, em trabalho reconhecido pela escola. 

Embora considere positiva a flexibilização do currículo, Batista afirma que é preciso garantir conhecimento e informação para que alunos de baixa renda escolham áreas de estudo com base em seus talentos e aspirações, e não por restrições de renda e origem.

 "Os jovens mais pobres tendem a examinar seus colegas; um tentou medicina, outro engenharia, e não passou, por exemplo. Tendem a ajustar projetos em função do que ocorre com seus pares".

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