quinta-feira, 22 de setembro de 2016

90% dos estudantes brasileiros não estão satisfeitos com suas aulas, diz pesquisa

Atividades práticas e tecnologia estão entre os quesitos mais pedidos pelos 132 mil alunos ouvidos

BEATRIZ MORRONE (TEXTO) E FLÁVIA YURI OSHIMA (EDIÇÃO)
22/09/2016 - 08h00 - Atualizado 22/09/2016 08h00

Apenas um em cada 10 alunos está satisfeito com as aulas e os materiais pedagógicos de suas escolas. É o que diz a pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, que ouviu 132 mil estudantes de 13 a 21 anos, de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal. A iniciativa é do portal educacional Porvir, um programa do Instituto Inspirare, em parceria com a ONG Rede Conhecimento Social.

O objetivo da pesquisa foi aferir qual é a escola que os jovens querem ter – e o que falta para seus desejos se tornarem realidade.As questões foram divididas em diversas etapas. As duas primeiras foram chamadas de “como eu avalio a minha escola” e “o que eu falaria sobre a minha escola”. Os resultados mostraram que, quando julgam atividades, estrutura e interações interpessoais na escola, os alunos adotam postura mais crítica: 69% deram notas abaixo de 3 para suas instituições, numa escala de 1 a 5.

Por outro lado, ao refletirem sobre como descreveriam o ambiente escolar, demonstram um vínculo afetivo com o espaço. As notas abaixo de 3 foram dadas por cerca de 30% dos estudantes ouvidos. Para Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, isso é motivo de esperança: “Os resultados mostram que os alunos gostam da escola, mesmo que a critiquem. Ela ainda é um espaço que desperta afetividade”, diz ela. “É aí que mora nossa chance de resgatar o interesse do estudante”.

A tentativa de resgatar esse interesse sempre foi um dos objetivos da pesquisa. O levantamento foi participativo, ou seja, envolveu jovens em todas as suas etapas – da elaboração do questionário à análise das respostas.  Essa é, segundo Anna, uma forma de dar voz e ouvidos aos alunos, que raras vezes são consultados sobre questões educacionais. “A educação está muito distante da realidade dos estudantes deste século. O fato de a pesquisa ter sido elaborada por eles os tornou protagonistas do processo”, afirma.

Uma lista de perguntas foi colocada na internet, entre abril e julho deste ano, para que qualquer estudante pudesse colaborar. Parcerias com instituições de ensino públicas e privadas garantiram que o questionário chegasse a algumas salas de aula.  O objetivo foi ouvir a maior quantidade de jovens possível.

Agora, todas as escolas e redes que tiveram mais de 50 alunos respondentes receberão um relatório próprio. Assim, a instituição terá informações como base para propor mudanças que atendam às expectativas de seus alunos. Para que outras escolas possam fazer o mesmo, o questionário da pesquisa ficará disponível na internet. 

A seguir, está parte dos dados aferidos pelo levantamento.

A realidade
Metade dos estudantes considerou inadequados o prédio e a estrutura de suas escolas. Para oito em cada 10 jovens, as relações entre os alunos e o convívio deles com a equipe escolar precisam melhorar. Entre os 11 itens pesquisados, as atividades artísticas conseguiram a melhor avaliação, com  média de 2,9, numa escala de 1 a 5. Ainda assim, 70% dos jovens não têm atividades e oficinas culturais na escola.

O uso de tecnologia, ainda que classificado como regular ou ruim por 69% dos jovens, ficou em segundo lugar entre os itens contemplados, com a pontuação 2,8. A pior nota média, de 2,2, foi recebida pelos quesitos aulas e disciplinas e material pedagógico.

Entre os jovens ouvidos, 70% afirmaram gostar de estudar em seus colégios; 62% consideram o ambiente escolar favorável para a aprendizagem; e 72% disseram que lá aprendem coisas úteis para a vida. Os índices caem quando o assunto são aulas dinâmicas, interessantes e divertidas: apenas 5 em cada 10 alunos assim as consideram. Metade dos jovens afirma estudar em um o espaço democrático, mas 72% dizem não participar das decisões tomadas no dia a dia da escola.
A expectativa
Quando o assunto foi a estrutura física das escolas, os quesitos considerados fundamentais pelos estudantes foram tecnologia (51%) e área verde (44%). A opção menos defendida, mencionada por apenas 19% dos alunos, foi o espaço que garanta a privacidade de todos.  O resultado mostra que há um desejo pela abertura do espaço escolar para além de seus muros. Para seis em cada 10 jovens, a escola ideal precisa promover visitas, passeios e trabalhos fora dela. Cerca de 40% deles acreditam que o ambiente escolar deve interagir com a comunidade do entorno.

O objetivo do levantamento foi expandir seus resultados para além da estrutura física. Para identificar as demais características que os jovens mais prezam quando idealizam uma escola, a pesquisa avaliou critérios em quatro diferentes cenários: a escola para aprender mais, a escola que respeita a individualidade de todos, a escola inovadora e a escola que deixa mais feliz. Os alunos tiveram que apontar as características imprescindíveis em cada um desses casos (confira a tabela abaixo).

Em todos eles, a maioria dos estudantes afirmou que o principal objetivo da escola ideal deve ser preparar seus alunos para exames como o Enem, vestibulares e para o mercado de trabalho. A organização curricular foi outro critério que apresentou o mesmo primeiro lugar nos quatro cenários: ter disciplinas obrigatórias e poder escolher outras foi a opção mais defendida pelos alunos. Eles gostariam de poder escolher o que aprender de acordo com seus objetivos e interesses. 

Ao avaliarem o jeito de aprender que mais os agrada, duas opções foram as mais votadas nos quatro casos. Os estudantes prezam pela presença da tecnologia nos processos de aprendizagem e defendem que atividades práticas estejam mais presentes no cotidiano escolar. “Fica claro que os jovens de hoje em dia querem aprender com a mão na massa. Aprendem melhor fazendo, se engajando em práticas, do que só teorizando”, diz Anna. O mesmo aspecto foi observado quando alunos foram questionados sobre recursos educacionais. Para a maioria, a escola ideal não pode deixar de integrar projetos e rodas de conversa à realidade da sala de aula.


O tradicional modelo de salas com carteiras enfileiradas já não agrada mais a maioria. Ambientes com móveis variados – como pufes, almofadas, bancadas e sofás – deixariam 30% dos estudantes mais felizes. Grande parte deles também pediu que as aulas aconteçam em ambientes internos e externos. No quesito “o jeito da sala de aula”, ambos os pedidos foram os mais citados nos quatro cenários de escola ideal.
Tabela (Foto: Porvir)

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